11 outubro 2024

"Tempestade Ácida" entrega abordagem superficial sobre crise climática

Uma família tenta se unir para escapar de uma chuva tóxica que está destruindo cidades na França e matando pessoas e animais (Fotos: Laurent Thurin)


Maristela Bretas


O longa francês "Tempestade Ácida" ("Acide"), de 2023, apresenta uma proposta promissora: explorar os impactos devastadores da crise climática em uma família comum. No entanto, a execução deixa a desejar. O enredo, fragmentado e repleto de incoerências, prejudica o envolvimento do espectador com a obra. 

A caracterização dos personagens é superficial, e suas reações diante da catástrofe soam infantis e pouco realistas. Além disso, a abordagem da crise climática é superficial, perdendo a oportunidade de promover uma reflexão mais profunda sobre o tema. 


Dirigido por Just Philippot, o filme começa de forma confusa e, entra, gradualmente na questão ambiental, a partir de uma forte onda de calor que atinge a França e outros países. A primeira a chamar a atenção para o problema é a mimada e rebelde Selma (Patience Muncehnbach), cujos pais estão divorciados. É ela quem tenta alertar a família para os riscos de uma chuva ácida que pode atingir sua cidade e o restante do país.

O pai Michal (Guillaume Canet, de “O Homem Que Elas Amavam Demais” - 2015) e a mãe da jovem, Elise (Laetitia Dosch) só se convencem de que as nuvens, mais escuras que o normal, estão trazendo uma chuva fatal quando esta começa a cair, provocando ferimentos e mortes de pessoas e animais. Inicia-se, então uma fuga da população para se proteger do líquido ácido.


Entre uma chuvarada e outra, "Tempestade Ácida" avança, com alguns efeitos especiais medianos e uma sucessão de decisões erradas da família que chegam a irritar o espectador. A filha dá chiliques e os pais passam a mão na cabeça dela, enquanto as opções de sobrevivência vão ficando cada vez mais escassas. 

Comparado a outros filmes do gênero catástrofe, como "Tempestade: Planeta em Fúria" (2017) ou "No Olho do Tornado" (2014), cujas histórias são clichês mas conseguem entreter, o longa de Just Philippot não apresenta elementos que aumentariam seu impacto e até desviariam a atenção do enredo fraco. 

Faltam grandes efeitos especiais e uma trilha sonora marcante. Até mesmo a questão da ética das pessoas nas tentativas de sobrevivência é mal explorada. Um bom exemplo de uma abordagem mais profunda do tema é o recente "Sobreviventes - Depois do Terremoto" (2024).


A ambientação ocorre principalmente no campo, com imagens mais escuras que reforçam o tempo fechado provocado pelas tempestades. Mais uma incoerência, uma vez que a chuva ácida (que ninguém explica porque se tornou assim) atravessa paredes. 

As pessoas também não podem consumir a água, especialmente a dos rios, que está contaminada, mas fogem para áreas alagadas. Semelhante ao que ocorre em alguns filmes de terror em que as pessoas entram numa casa mal-assombrada com as luzes todas apagadas.

Apesar dos pontos negativos, "Tempestade Ácida" foi produzido com práticas sustentáveis, o que rendeu reconhecimento com o Prix Ecoprod no Festival de Cannes. A equipe reduziu o uso de combustíveis fósseis e implementou soluções ecológicas para mobilidade e consumo de energia. 


Mas mesmo com propostas ecologicamente corretas e a boa intenção do diretor de abordar a destruição gradual do planeta, "Tempestade Ácida" deixa a desejar e entrega uma trama fraca do início ao fim. Nem o esforço do elenco, que conta com nomes de talento, consegue salvar. 

A produção é uma das 400 disponíveis do catálogo do streaming Adrenalina Pura, especializado nos gêneros ação, catástrofe, terror e suspense. Ela pode ser acessada pelos aplicativos Prime Vídeo, Apple TV e Claro TV+. ou no site www.adrenalinapura.com.


Ficha técnica
Direção: Just Philippot
Produção: Pathé Films, France 3 Cinéma, Bonne Pioche Cinéma
Exibição: Disponível no Prime Vídeo, Apple TV e Claro TV+ no site www.adrenalinapura.com
Duração: 1h40
Classificação: 16 anos
País: França
Gênero: drama

10 outubro 2024

“Inverno em Paris” aborda a busca adolescente por si em meio às dores da vida

Paul Kircher vive o jovem em busca de sua identidade (Fotos: Jean Louis Fernandez)


Eduardo Jr.


Juliette Binoche e Paul Kircher são os protagonistas de “Inverno em Paris” ("Le Lycéen"), longa que estreia nesta quinta-feira (10) nos cinemas, sob a direção de Christophe Honoré. Com distribuição da Pandora Filmes, a obra mostra o chacoalhar na vida de um jovem de 17 anos após a morte do pai.

Ao receber, no colégio interno, a notícia de que o pai sofreu um acidente, o jovem Lucas (Paul Kircher), de 17 anos, volta para casa, e antes que sua mãe Isabelle (Juliette Binoche) possa contar, ele descobre que o pai está morto.


Apesar de Lucas estar se envolvendo com um amigo da escola, a busca por identidade vai além durante o luto. É quando começa a viagem do jovem por seus sentimentos. Aquilo que antes era certeza, desmorona, e emergem dali revolta, doçura, posturas autodestrutivas e sentimentos caóticos.

As verdades duras que o adolescente lança e também recebe, a dúvida sobre viver no interior com a mãe viúva ou com o irmão mais velho que está conquistando a independência em Paris e as desilusões que precisam ser superadas se desenrolam na tela. E talvez justifiquem o comportamento do protagonista (que pode ser recebido com pena ou raiva, dependendo da percepção do espectador).


Seria uma leitura muito particular, mas a direção de Honoré é inteligente ao colocar mãe e irmão como apoio para Lucas, mas sem centralizem a trama. Nos deixa assim a ideia de que o autoconhecimento é uma tarefa solitária, que somos responsáveis por nossas escolhas.

Pode-se dizer que o resultado é coerência: tema e atuações demandam observação do espectador, convidam o público a analisar, sentir e interpretar. Tarefa que deixa de ser complexa se pensarmos que relações familiares, maturidade e entendimento dos próprios sentimentos são pautas comuns a todos nós.

Indicado a três categorias no Festival Internacional de Cinema de San Sebastián (2022), o longa, nas palavras do diretor é, “antes de tudo, uma história de amor”.


Ficha Técnica
Direção e roteiro: Christophe Honoré
Produção: France 2 Cinéma, Les Films Pelléas
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: sala 1 do UNA Cine Belas Artes e sala 2 do Centro Cultural Unimed-BH Minas
Duração: 2h03
Classificação: 18 anos
País: França
Gênero: drama