29 outubro 2024

"A Última Invocação" - um exorcismo da originalidade

Entidade maligna persegue casal em produção japonesa de terror (Fotos: Sato Company)


Maristela Bretas


“A Última Invocação” ("The Forbidden Play"), dirigido por Hideo Nakata, chega aos cinemas nesta quinta-feira (31) em um momento que promete tensão e sustos, mas entrega um resultado decepcionante. Apesar de sua data de estreia coincidir com o Halloween, o filme falha em evocar o medo que o gênero de terror deveria proporcionar. 

As situações bem previsíveis e a ausência de sustos genuínos frustram o espectador que busca uma experiência mais intensa. As expectativas criadas em torno do nome de Nakata, conhecido por obras como "O Chamado" e “O Chamado 2”, rapidamente se perdem.


Na trama, o protagonista Naoto Ihara (Daiki Shigeoka) vive feliz com a esposa Miyuki (First Summer Uika) e o filho Haruto (Shogaki Minato). Porém, quando ela morre em um acidente, Naoto fica inconsolável. Haruto, em negação, decide enterrar um dedo da mãe no jardim e tenta fazer um ritual de ressuscitação, rezando todos os dias. 

Mas o que retorna à vida da família é uma entidade maligna que começa a desencadear uma série de acontecimentos sombrios. Essa proposta, que poderia ser explorada de forma profunda, é tratada com superficialidade, resultando em uma narrativa que se perde na repetição de clichês do gênero.


Paralelo a isso, temos Kurasawa Hiroko (Kanna Hashimoto), ex-colega de trabalho de Naoto e que, no passado, foi apaixonada por ele. Com a morte de Miyuki, a jovem ainda carrega um trauma do passado causado por fenômenos sobrenaturais. Ela e as pessoas à sua volta passam a ser atormentados e perseguidos pela entidade que ocupa o corpo da falecida.

A falta de originalidade na construção dos sustos mina a eficácia do terror. O dedo enterrado no jardim, um símbolo carregado de significado, poderia ter sido explorado de forma mais profunda, conectando-se aos traumas dos personagens e à entidade maligna que os persegue.


No início, a impressão que passa é de que o filme está sendo gravado eme um salão. Depois a produção vai ganhando agilidade, mas pouca credibilidade, com uma narrativa que não surpreende e diálogos fracos.

Também o ambiente muito escuro em algumas cenas aumenta a dificuldade para visualizar detalhes importantes da trama. 

As decisões questionáveis dos personagens — como entrar em ambientes sombrios ou voltar a lugares perigosos — geram ainda mais frustração ao espectador. 

Especialmente aos fãs do terror que sempre esperam um susto ou um suspense de prender na cadeira. Isso ele não vai ver em "A Última Invocação", como tem acontecido em muitos filmes do gênero nos últimos tempos.


A postura machista, reafirmando uma característica da cultura japonesa, é abordada superficialmente, pelo protagonista Naoto Ihara. Ao mesmo tempo em que ele é contra o assédio a colegas, deixa claro em casa que quem cuida do filho e da arrumação do lar é a mulher. 

Quando a esposa ou a mãe dele não estão, o ambiente vira um lixão, ele se entrega ao álcool e o garoto fica sem controle e orientação sobre os riscos que está correndo ao invocar o mal.


O diretor Hideo Nakata traz para a tela muita perseguição sobrenatural a partir do desejo de vingança para justificar traumas provocados por traição, perda e luto. E apresenta como pontos positivos os efeitos visuais das aparições e a maquiagem da entidade maligna, que vai deixando um rastro de sangue e corpos por onde passa.

"A Última Invocação" é uma adaptação do romance de estreia de Shimizu Karma, “Kinjirareta Asobi”, de 2019, premiado em festival japonês. Mas apesar do talento do diretor e do esforço de todo o elenco, deixa muito a desejar.


Ficha técnica
Direção: Hideo Nakata
Produção: Toei Company
Distribuição: Sato Company
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h50
Classificação: 16 anos
País: Japão
Gêneros: terror, suspense

28 outubro 2024

"Terrifier 3" deixa o Halloween e transforma o Natal num banho de sangue

O diretor Damien Leone retorna com Art, o Palhaço às telonas no longa mais violento da franquia (Fotos: Diamond Films)


Eduardo Jr.


Para quem achava que todo o estoque de sangue e vísceras já havia sido gasto, se prepare: "Terrifier 3" traz de volta a violência que é marca registrada do diretor Damien Leone. O longa estreia nas telonas brasileiras dia 31 de outubro, em pleno Halloween. Mas desta vez, Art o Palhaço escolheu o Natal para realizar sua vingança contra os irmãos Sienna e Jonathan (personagens de Lauren LaVera e Elliott Fullam), sobreviventes do massacre do segundo longa.


Se a queixa era a falta de um roteiro que justificasse a motivação de Art na produção original de 2016, a continuação de 2022 apresentou uma tentativa de incluir uma história, trazendo elementos de uma ligação com o sobrenatural. Agora em "Terrifier 3", distribuído pela Diamond Films, essa abordagem ganha um pouco mais de força. 

Sienna sai de um hospital psiquiátrico para conviver com alguns familiares. Mas a jovem continua abalada psicologicamente e sente que Art está prestes a terminar o que começou determinado a transformar a alegria do Natal em um pesadelo. 

A intenção de se criar uma base para a história é apresentada logo nos minutos iniciais, por meio de passagens de tempo. Um corpo decapitado é encontrado no mesmo local onde se encerra o embate entre Art e Sienna em "Terrifier 2". Ali o palhaço renasce, e não está sozinho. Vicky (Samantha Scaffidi), a desalmada alma gêmea do assassino, é outra vilã do filme. 


Depois de muito sangue, visões enigmáticas da protagonista, ratos, mais sangue e referências a filmes natalinos e de suspense (como "Psicose" - 1960, por exemplo), vai se revelando uma possessão demoníaca e um possível confronto do bem contra o mal. 

O espectador vai se perguntar (depois de algumas reviradas no estômago) sobre alguns pontos não explicados na história. Fica aberta a possibilidade de um quarto filme para amarrar ou explicar esses pontos inseridos na trama. Um novo longa, inclusive, seria uma aposta óbvia, já que a arrecadação da saga do palhaço com referências a personagens do cinema mudo não para de subir. 


Bilheterias

A franquia de Art, o Palhaço (interpretado novamente por David Howard Thornton), começou modesta, em 2016, com "Terrifier" (que no Brasil recebeu o título de Aterrorizante"). Um financiamento coletivo colocou no bolso do diretor US$ 100 mil para realizar o primeiro longa. 

A continuação de 2022, com orçamento de US$ 250 mil. "Terrifier 2" viralizou por provocar vômitos e desmaios no público e atingir US$ 15,7 milhões nas bilheterias mundiais. Os dois filmes estão disponíveis no Prime Vídeo.


Agora, com o "robusto" orçamento de US$ 2 milhões, o novo longa de Damien Leone chega fazendo barulho, arrecadando nas duas primeiras semanas de lançamento quase US$ 55 milhões no mercado global. Segundo o diretor Damien Leone, "Terrifier 3" se consagra como a maior bilheteria de um filme sem classificação. 

Com mais dinheiro, fica perceptível para quem assistiu aos anteriores que houve maior investimento nos cenários e na produção. Mas a qualidade do roteiro não melhora tanto, já que se trata de um terror B, com braços decepados e motosserras e... (esquece, não daremos esse spoiler sobre a melhor cena). É um filme menos pior que o primeiro, mas é um prato cheio para quem gosta de sangue e mortes com requintes de crueldade. 


Ficha técnica
Direção: Damien Leone
Produção: The Coven
Distribuição: Diamond Films
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h05
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gênero: Terror