05 novembro 2024

"Megalópolis", de Coppola - um filme audacioso sobre poder e utopia

Adam Driver e Nathalie Emmanuel protagonizam a mais nova obra do diretor, que aborda temas sociais e políticos (Fotos: Divulgação)


Marcos Tadeu
Texto cedido pelo blog Jornalista de Cinema


Considerado um dos projetos mais audaciosos da história do cinema e do diretor Francis Ford Coppola, está em cartaz nos cinemas "Megalópolis". O filme aborda temas sociais e políticos como só o diretor e também roteirista da produção, um mestre em retratar complexidades humanas, poderia alcançar.

Distribuído pela 02 Play Filmes, o longa é estrelado por Adam Driver, Giancarlo Esposito, Aubrey Plaza, Forest Whitaker, Nathalie Emmanuel, Shia LaBeouf, Jon Voight, Laurence Fishburne, entre outros nomes conhecidos do cinema. 


Na história, conhecemos César Catilina (Driver), um arquiteto visionário que propõe melhorias radicais para sua cidade com a ajuda de uma misteriosa descoberta, chamada Megalon. Contra ele está o prefeito Cícero (Esposito), um líder conservador que busca manter as tradições e frear a modernização. 

O pano de fundo é Nova Roma, uma metrópole que mistura elementos da civilização antiga com aspectos contemporâneos, refletindo a luta entre progresso e tradição. O filme também enfatiza o papel da arte, mostrando o que sem ela uma sociedade perde a alma.

O design de produção, liderado por Beth Mickle e Bradley Rubin, se destaca ao mostrar a divisão socioeconômica da cidade. O contraste entre áreas prósperas e desfavorecidas dá vida à distopia que se desenrola.


Coppola traz questionamentos importantes: como gastamos nosso tempo? E se pudéssemos pará-lo, o que faríamos? A busca por progresso e os dilemas éticos e políticos que o acompanham são discutidos de forma corajosa.  No centro da narrativa, a tensão entre César e Cícero é palpável. 

Adam Driver dá vida a um idealista obstinado por melhorias coletivas, enquanto Giancarlo Esposito representa a política tradicional, que resiste às mudanças. A dinâmica entre os personagens revela a eterna batalha entre inovação e conservadorismo.


Nathalie Emmanuel ganha destaque como Lucia, filha do prefeito. Sua personagem evolui de uma figura aparentemente mimada para uma voz ativa na disputa ideológica, unindo-se a César e confrontando o pai. Forest Whitaker, como Julius, também desempenha um papel intermediário, contribuindo para o debate político central.

Coppola enriquece o filme com simbolismos — como a Justiça cega em movimento — que pontuam suas críticas à sociedade moderna. A obra tem um tom shakespeariano, com temas familiares e ambições que remetem a Hamlet. 


As atuações, embora teatrais e caricatas em alguns momentos, contribuem para essa atmosfera. Até mesmo a franquia "Star Wars" é lembrada. Há uma referência rápida do personagem de Adam Driver, que interpretou Kylo Ren, segurando um objeto como se fosse um sabre de luz.

No entanto, "Megalópolis" peca em profundidade de personagens. A preocupação de Coppola em explorar subtramas políticas e sociais deixa de lado o desenvolvimento dos dramas pessoais. 

Os próprios personagens César e Cícero não interagem com as massas, evidenciando como líderes políticos muitas vezes priorizam ideais sobre o coletivo.


O filme faz uso de citações de figuras históricas como Voltaire e Marco Aurélio, ampliando a reflexão sobre poder e liderança. Ele explora como a sabotagem e a manipulação da verdade são usadas para minar o progresso e como o extremismo pode surgir em meio ao descontentamento popular.

Do próprio bolso  

Francis Ford Coppola financiou pessoalmente parte do projeto, investindo cerca de US$ 140 milhões, saídos da venda de sua famosa vinícola. Foram décadas de reescritas e adiamentos, que começaram em 1977. 

A visão autoral do diretor, rejeitada por estúdios por ser considerada arriscada e pouco comercial, foi levada adiante graças à sua determinação em manter o controle criativo.


Essa ousadia reflete o compromisso de Coppola com sua arte. Ele não buscava agradar ao mercado, mas sim concretizar uma visão artística que transcendesse as convenções cinematográficas.

"Megalópolis" é um exemplo raro de cinema autoral que desafia a lógica comercial da indústria. Comparável a "Duna: Parte Dois" (2023) em sua abordagem política e distópica, Coppola vai além ao explorar temas de maneira crua e direta. 

A escolha de Nova Roma como cenário (numa alusão do que seria Nova York como um novo império) reforça as temáticas de ambição e poder, em uma narrativa que, mesmo com suas falhas, promete ser lembrada por sua audácia e relevância.


Ficha técnica:
Direção e roteiro:
Francis Ford Coppola
Produção: American Zoetrope
Distribuição: O2 Play Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h18
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: drama, ficção

04 novembro 2024

Suspense "Não Solte!" propõe metáfora sobre a fé e traz o mal para a luz do dia

Halle Berry é a mãe que protege os filhos de uma entidade maligna que destruiu o mundo exterior e agora os persegue (Fotos: Lionsgate)


Eduardo Jr.


"A corda é sua linha da vida". Este é o mote do longa "Não Solte!" ("Never Let Go"), do diretor Alexandre Aja. O filme chega às telonas nesta quinta-feira (7), com distribuição da Paris Filmes. Na trama, uma mãe tenta proteger os filhos da entidade maligna que destruiu o mundo exterior e espreita a casa que os protege no meio da floresta. 

No elenco, a ganhadora do Oscar, Halle Berry ("John Wick 3: Parabellum" - 2019) é a protagonista June, mãe dos gêmeos Samuel e Nolan (vividos por Anthony B. Jenkins e Percy Daggs IV, respectivamente). Os três precisam se manter conectados à casa. Para sair, só com o uso de uma corda. Se soltarem a corda e forem tocados pelo mal, a tragédia é certa. 


A história vem dividida em três atos, e começa sendo narrada por um dos filhos. Só a mãe enxerga a ameaça sobrenatural, e reforça para os filhos que o mundo lá fora acabou, ao ser consumido pela maldade. A família, unida, obedece a um ritual religioso de proteção. Mas tudo começa a mudar quando um dos gêmeos questiona aquelas verdades. Quando esse elo familiar se enfraquece, começam os problemas. 

Aí está um dos méritos de Alexandre Aja. O diretor traz a representação do mal para a luz do dia. A tensão, que em muitos filmes se apoia em cenas escuras e sustos, aqui é representada nas aparições de criaturas sob formas humanas em ambientes abertos e claros. 


O diretor parece propor uma metáfora sobre a fé, onde duvidar é sinônimo de abrir a porta para que o mal se instale e domine o mundo. Por mais inovadora que seja a proposta, o desenvolvimento deixa questões em aberto. Talvez uma continuação traga as respostas. Em resumo, "Não Solte!" não é exatamente um filme de terror, mas um bom suspense, que aborda crença e dúvida, com um final interessante.


Ficha técnica
Direção: Alexandre Aja
Produção: Lionsgate e 21 Laps Entertainment
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h42
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: terror, suspense