01 janeiro 2025

“Encontro com o Ditador” mistura drama, suspense e documentário para disputar o Oscar 2025

Obra é mais uma na filmografia do diretor Rithy Pahn para não deixar esquecer um período de sofrimento
da história do Camboja (Fotos: Pandora Filmes)


Eduardo Jr.


O diretor cambojano Rithy Pahn traz aos cinemas seu mais novo longa, “Encontro com o Ditador” (“Rendez-Vous Avec Pol Pot”, 2024). Situado entre o suspense político e o documentário, a obra é mais uma na filmografia de Pahn a esmiuçar e combater o esquecimento de um período da história do Camboja. A estreia acontece nesta quinta-feira (2), com distribuição da Pandora Filmes. 

O filme é parcialmente inspirado no livro de não-ficção da jornalista norte-americana Elizabeth Becker, intitulado “When the War Was Over”. No longa, três jornalistas franceses são convidados para reportar ao Ocidente as maravilhosas mudanças políticas do Camboja no final dos anos 1970, período em que vigorava o Khmer Vermelho, a ditadura implantada por Pol Pot. 


Nas incursões por acampamentos e espaços públicos, guiadas pelos agentes do ditador (que apresentam cenários fabricados e delimitam o que pode ou não ser filmado), vai ficando mais evidente o incômodo e o perigo de se aproximar das verdades omitidas pelo regime do líder cambojano.   

O tirano foi o responsável por levar, à força, moradores de áreas urbanas para trabalhos no campo, visando implantar uma espécie de agrossocialismo. O dinheiro foi abolido e os inimigos do regime, assassinados. 


A desnutrição também colaborou para inúmeros óbitos nesse período. Aproximadamente um quarto da população do Camboja morreu, entre 1975 e 1979. 

Um genocídio ocultado pelo discurso de uma sociedade igualitária. Até faz lembrar os tempos atuais, onde a maldade se disfarça de moral cristã, e o ódio é praticado em nome de deus, pátria e família. 

No grupo dos visitantes está o fotojornalista Paul Thomás (interpretado por Cyril GueÏ), a repórter Lise Delbo (Ìrene Jacob) e o intelectual Alain Cariou (Grégoire Colin), que estudou na faculdade com o ditador e manteve essa amizade se correspondendo com ele por meio de cartas. 


O espectador é desafiado a não se enfurecer com a passividade de Alain, que parece ignorar as evidências das atrocidades cometidas para não desagradar o velho conhecido. Uma boa atuação.  

Paul e Lise também não são personagens com histórias profundas, mas expõem o suficiente de suas personalidades para aquele contexto. Um mais explosivo e a outra mais dissimulada para “jogar o jogo” e, assim, obter relatos e fotografias que capturem o que realmente acontece no país. 

A direção consegue imprimir também sensações intimidatórias e quase claustrofóbicas. Em diversos momentos a tela é recheada de elementos, figuras armadas, em constante clima de ameaça. A tensão de um regime ditatorial fica quase palpável. E frequentemente a imagem do ditador compõe a cena, observando tudo. 


A direção opta por um jogo de luz e sombras para não revelar o ator que dá vida a Pol Pot. Cabe ao espectador captar os fragmentos, os atos cometidos por ele e criar a imagem daquele homem. 

Assim como a personificação do ditador é poupada, a violência explicita também. Não há sangue e carnificina na tela, mas o horror se faz presente.     

Vale destacar o desenvolvimento da história por meio de bonecos. Pahn adiciona ao filme cenários e personagens em miniatura, para ilustrar algumas situações. Mas não se trata de um stop-motion

É a câmera que se desloca e traz movimento (e apreensão) à cena. Um recurso criativo que casa bem com a narrativa, em alguns momentos. Em outros, são dispensáveis. 


Outro elemento a engrossar esse caldo é a trilha sonora. Os sons - e a ausência dele também - dão o recado na medida e levam o espectador por diálogos que ficam sem resposta e mesmo assim dizem muito. E por cenas mais longas (e tensas), que desembocam em um desfecho nada pacificador. 

O longa está selecionado como representante do Camboja no Oscar 2025. Mais um reconhecimento para um diretor que dedicou uma vida a filmar seu país e recebeu o prêmio Un Certain Regard, em Cannes, por “A Imagem que Falta” e o Urso de Ouro de melhor contribuição artística por “Everything Will Be Ok”. 


Ficha técnica:
Direção: Rithy Panh
Roteiro: Pierre Erwan Guillaume e Rithy Panh
Produção: CDP e Anupheap, TAICCA, Doha Film Institute, TRT Sinema, LHBx An Attitude, Obala Centar
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: Cinemark Pátio Savassi e Centro Cultural Unimed-BH Minas
Duração: 1h52
Classificação: 14 anos
Países: Camboja, Catar e Taiwan
Gêneros: documentário, drama


31 dezembro 2024

Cinco filmes de 2024 que o Cinema no Escurinho não indicaria



Nossa Redação


A equipe do Cinema no Escurinho preparou uma lista com os cinco filmes assistidos em 2024 que não recomendamos a nossos seguidores. Na postagem anterior indicamos as melhores produções deste ano. Para conferir, clique aqui. As duas listas respeitam a ordem de escolha dos colaboradores do blog.

A liderança disparada entre as produções que menos agradaram ficou para "Coringa: Delírio a Dois", musical estrelado por Joaquim Phoenix e Lady Gaga, que recebeu duras críticas do público e da imprensa especializada. Clicando nos links de alguns dos filmes é possível ler nossas avaliações sobre eles.

"Longlegs - Vínculo Mortal (Diamond Films)

Eduardo Jr.
- Terrifier 3
- Megalópolis
- O Dia da Posse
- Operação Natal
- Clube dos Vândalos

Filipe Mateus

Parceiro do blog Maravilha de Cinema
- Coringa: Delírio a Dois
- Longlegs - Vínculo Mortal
- Salamandra
- Arca de Noé
- Planeta Dos Macacos: O Reinado

"Salamandra" (Pandora Filmes)

Jean Piter
- Coringa: Delírio a Dois
- Amores Solitários
- Nosso Segredinho
- Silvio
- É Assim que Acaba


Marcos Tadeu
Parceiro do blog Jornalista de Cinema
- Coringa: Delírio a Dois
- Salamandra
- Arca de Noé
- Planeta dos Macacos: O Reinado

"Planeta dos Macacos: O Reinado" (20th Century Studios)

Maristela Bretas
- Mallandro, o Errado que deu Certo
- Planeta dos Macacos - O Reinado
- Não Fale o Mal
- Longlegs - Vínculo Mortal
- Silvio

A categoria em que foram incluídos alguns títulos pode agradar ou não vocês, seguidores do blog. Comentem aqui o que acharam de nossas escolhas, lembrando que não serão aceitas ofensas pessoais ou palavrões.