20 janeiro 2025

"É Assim Que Acaba": sem emoção, sem força, sem profundidade

Blake Lively estrela romance adaptado da obra literária homônima de Colleen Hoover (Fotos: Sony Pictures)


Mirtes Helena Scalioni


Na grande maioria das vezes, a adaptação de uma peça literária para as telas resulta num comentário recorrente: gostei mais do livro. Só que esse nem é o caso de "É Assim Que Acaba", baseado no best-seller do mesmo nome da escritora americana Collen Hoover. 

Mesmo sem conhecer a história escrita, é possível cravar que trata-se de uma trama superficial e fraca como costumam ser os romances ditos de superação. 


Não se pode dizer que o filme, dirigido por Justin Baldoni - que também faz Ryle Kincaide, o galã protagonista - seja ruim desde o início. O longa começa até bem, com a chegada de Lily Bloom (Blake Lively) para o sepultamento do pai e seu reencontro com a mãe. 

As atitudes inesperadas da moça instigam e passam a ideia de que vem aí uma história forte, dramática e com algum suspense. Puro engano. 

O primeiro encontro de Lily Bloom com Ryle num terraço, e o improvável diálogo entre eles pode dar saudade de um filminho de sessão da tarde. Cheia de gracinhas, no mais óbvio estilo de sedução barata, a conversa, longa e chata, é desanimadora e - acreditem - brochante. 


Ela é linda e se faz de misteriosa e ele é simplesmente o máximo - uma espécie de príncipe encantado, bonito, sarado, inteligente e, como se não bastasse, é neurocirurgião, aquele que tem o poder e o talento de consertar cabeças com seu bisturi.

Como está em todas as sinopses, "É Assim Que Acaba" tem como tema central a violência doméstica. Natural, portanto, que o público fique na expectativa do momento em que os insultos e a pancadaria vão começar e como será a reação da protagonista. Mas até isso é mal construído. 


Lily Bloom muda para Boston e realiza seu sonho de abrir uma floricultura. E por uma dessas coincidências que costumam acontecer em filmes, sua primeira funcionária é Allysa (Jenny Slate), justamente a irmã boazinha do príncipe.

Outro detalhe difícil de aceitar no filme: Lily é recatada e faz questão de ser uma mulher muito, muito difícil. No auge dos beijos e amassos, ela afasta o rapaz e justifica que não faz sexo casual. Quase diz: não sou dessas, tá? Discurso mais antifeminista impossível. 


Para completar o roteiro de sessão da tarde num dia chuvoso, reaparece, do nada, o primeiro amor de Lily Bloom, espécie de salvador da moça em perigo, embora quase tão violento e possessivo quanto Ryle Kincaide. 

Atlas Corrigan (Brandon Sklenar), ex-morador de rua, surge, do nada, como proprietário de um dos melhores restaurantes de Boston. 

Haja flashbacks, agora com a atriz Isabela Ferrer como Lily jovem, para explicar tamanho milagre. Enfim, sobram clichês e superficialidades. "É Assim Que Acaba" é o tipo de filme que acaba em nada. 

O filme pode ser conferido nas plataformas de streaming por assinatura Max e Prime Video, ou por aluguel na Apple TV+, Google Play Filme e ClaroTV+.


Ficha técnica:
Direção: Justin Baldoni
Produção: Sony Pictures
Distribuição: Sony Pictures
Exibição: Max, Prime Video, Apple TV, Google Play Filme e Youtube, ClaroTV+
Duração: 2h11
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: romance, drama

17 janeiro 2025

Com muita ação, “The Moon: Sobrevivente” coloca a bandeira da Coreia do Sul na Lua

O ator e cantor Do Kyung-soo (D.O.), do grupo Kpop E.X.O., é o astronauta que fica preso em solo lunar
(Fotos: Sato Company)


Jean Piter Miranda


O ano é 2029. A Coreia do Sul realiza uma missão espacial para mandar astronautas à Lua. Na reta final da operação, a tripulação enfrenta problemas. Hwang Sun-woo (Do Kyung-soo, do grupo Kpop EXO) fica sozinho em solo lunar. 

Esse é apenas um dos problemas que ele enfrenta. Isso, enquanto o governo de seu país faz todos os esforços para tentar trazê-lo de volta à Terra. Este é “The Moon: Sobrevivente” ("Deo Mun"), filme sul-coreano, dirigido por Kim Yong-hwa, que estreia nos cinemas brasileiros. 


A história tem dois personagens principais. Além do Hwang Sun-woo, quem tem muito tempo de tela é o ex-diretor do centro espacial sul-coreano, Kim Jae-gook (Sol Kyung-gu). Ele é chamado para integrar uma equipe remota de resgate.

Na Lua, Hwang mantém contato constante com a equipe do centro espacial. Tudo que ele passa é acompanhado no telão do comando de operação. Cenário o qual já vimos em muitos filmes norte-americanos: dezenas de pessoas sentadas em frente aos seus computadores, com headphones, uma tela gigante e diretores dando ordens. 


Por falar no que já foi visto, é inevitável a comparação com “Perdido em Marte” (2015), em que Matt Damon tenta voltar para casa. É bem verdade que “The Moon: Sobrevivente” reproduz um pouco do muito que já foi apresentado em filmes do gênero, sem nenhuma novidade. 

Falando em técnica, as imagens do espaço e da Lua são muito bem feitas. Uma produção de alto nível que não deixa nada a desejar. Os efeitos especiais são usados na medida certa e dão a impressão de que o astronauta realmente está fora da Terra.  As qualidades técnicas do longa garantiram a ele o troféu Blue Dragon Film Awards for Tecnical Award, premiação importante em seu país.


De roteiro, temos muitos coadjuvantes. É difícil memorizar nomes, funções e estabelecer as relações entre eles e a importância de cada um na história. Isso sem falar que filme toca em temas como a possível exploração Lua e a disputa tecnológica entre a Coreia do Sul e as outras nações. Mas nada disso se aprofunda. 

O desenrolar da história traz muitas reviravoltas. Hwang enfrenta vários problemas para tentar retornar à Terra. São muitos momentos de tensão. Ao mesmo tempo, a direção força bastante ao explorar as emoções e as ligações afetivas entre os personagens. 


Temos que considerar, no entanto, que tudo isso seja apenas um choque cultural. Obras com muitos coadjuvantes, sem que nenhum deles tenha um desenvolvimento significativo. O sentimentalismo exagerado, muitas reviravoltas e poucos cenários, entre outros pontos, talvez sejam características comuns do cinema sul-coreano, o que, por aqui, pode causar estranhamento. 

São duas horas e 10 minutos de filme e muita coisa para digerir. A impressão é que pegaram um roteiro de uma série de uns 10 capítulos e resumiram para caber em um longa-metragem. “The Moon: Sobrevivente” é um bom entretenimento e uma boa oportunidade para conhecer mais do cinema asiático. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Kim Yong-hwa
Distribuição: Sato Company
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h10
Classificação: 14 anos
País: Coreia do Sul
Gêneros: ficção, suspense