22 janeiro 2025

"Conclave" - um jogo de poder, fé e reviravoltas

Ralph Fiennes interpreta o cardeal Lawrence, que vai comandar a reunião da cúpula da Igreja Católica para escolher o novo Papa (Fotos: Diamond Films)


Maristela Bretas


Um dos momentos mais importantes da Igreja Católica, retratado em várias produções cinematográficas e obras literárias, ganha mais uma versão nas telonas. Desta vez, cabe à ótima atuação, digna de Oscar, de Ralph Fiennes interpretar o coordenador da escolha do novo Papa em "Conclave".

O filme, dirigido por Edward Berger, estreia nesta quinta-feira (23) nos cinemas e tem recebido elogios por festivais e premiações onde foi exibido. O longa lembra outra produção, "Anjos e Demônios", de 2009, com Tom Hanks, por envolver uma investigação durante a escolha do novo Pontífice. 


Mas "Conclave" vai além, dando espetadas nada leves em questões como o papel da mulher no alto escalão da igreja, a visão religiosa sobre as áreas pobres ou em conflito e, especialmente, o jogo do poder para conquistar a liderança do Vaticano e dos países católicos. 

Além de Fiennes, a escolha acertada de Stanley Tucci, Isabella Rossellini, John Lithgow e Carlos Dienz fez toda a diferença. Sem contar a ambientação. Não espere conhecer Roma e o Vaticano por fora. No máximo a entrada da Basílica de São Pedro.


Mas mesmo a trama se passando em um ambiente fechado e austero (quase uma clausura de luxo), é possível ver um pouco do interior dos belíssimos ambientes do Vaticano, como a Capela Sistina, com seus afrescos, vitrais e pinturas das paredes e dos tetos. 

Tudo isso mostrado no momento certo, sempre associado a uma possível mudança na situação. Parece até que todos os envolvidos estão sendo vigiados pelos anjos.

A história começa a partir da morte do Papa e os cardeais do mundo todo são convocados para a escolha do sucessor do Pontífice. Assim como uma votação política para cargos públicos, o conclave divide os religiosos em aliados e inimigos velados, com campanha acirrada feita por seus apoiadores. 


Junto a isso, claro, estão as intrigas, os segredos comprometedores e as jogadas sujas para ver quem vai levar o trono. 

Ralph Fiennes interpreta o cardeal Lawrence, que por decisão do Papa falecido deverá comandar a escolha do sucessor e conduzir o Conclave. Ele só não esperava encontrar tanta sujeira por baixo dos tapetes do Vaticano. O que parecia uma eleição praticamente definida, vai ganhando novos contornos e candidatos.

Para piorar, Lawrence vive um momento de dúvidas sobre sua fé na Igreja Católica. O que pode colaborar em uma investigação mais afastada dos fatos e denúncias que vão surgindo a cada nova cena.


As mulheres, apesar de colocadas como simples serviçais dos cardeais, têm um papel importante na trama, provocando grandes reviravoltas. É o caso de Isabella Rossellini, que vive a Irmã Agnes.

A disputa no Vaticano vai contar com Stanley Tucci no papel do cardeal Bellini, John Lithgow, Sergio Castellitto e Lucian Msamati interpretando, respectivamente, os cardeais Tremblay, Tedesco e Adeyemi. Os quatro querem o lugar do Papa a qualquer custo.

A novidade do elenco é o ator estreante e arquiteto mexicano Carlos Dienz, como o cardeal Benitez. Ele é um religioso que atuou em áreas de grandes conflitos armados e conhece uma realidade que a maioria dos membros da igreja nunca se interessou em saber. 


"Conclave" é um filme de reviravoltas e detalhes, nem sempre sutis. Apesar de ser um longa previsível (todo mundo sabe que uma hora o Papa vai ser escolhido e a fumaça branca vai sair da chaminé da Basílica), entrega um bom suspense mesclado com drama. 

Fica uma pulga atrás da orelha do início ao fim sobre as reais intenções de todos os clérigos, especialmente o cardeal Lawrence. Um filme que vale a pena ser conferido nos cinemas. 

O longa pode garantir o primeiro Oscar de Melhor Ator para o britânico Ralph Fiennes, após duas indicações passadas como Melhor Ator Coadjuvante, em "A Lista de Schindler" (1993) e "O Paciente Inglês" (1996).

Fiennes e o longa começaram bem a temporada de premiações deste ano, conquistando seis estatuetas do Globo de Ouro, entre elas, a de Melhor Filme Dramático e a de Melhor Ator em Filme Dramático.


Ficha técnica:
Direção:
Edward Berger
Produção: FilmNation Entertainment e Indian Paintbrush
Distribuição: Diamond Films
Exibição: nos cinemas
Duração: 2 horas
Classificação: 12 anos
Países: EUA e Reino Unido
Gêneros: suspense, drama

20 janeiro 2025

"É Assim Que Acaba": sem emoção, sem força, sem profundidade

Blake Lively estrela romance adaptado da obra literária homônima de Colleen Hoover (Fotos: Sony Pictures)


Mirtes Helena Scalioni


Na grande maioria das vezes, a adaptação de uma peça literária para as telas resulta num comentário recorrente: gostei mais do livro. Só que esse nem é o caso de "É Assim Que Acaba", baseado no best-seller do mesmo nome da escritora americana Collen Hoover. 

Mesmo sem conhecer a história escrita, é possível cravar que trata-se de uma trama superficial e fraca como costumam ser os romances ditos de superação. 


Não se pode dizer que o filme, dirigido por Justin Baldoni - que também faz Ryle Kincaide, o galã protagonista - seja ruim desde o início. O longa começa até bem, com a chegada de Lily Bloom (Blake Lively) para o sepultamento do pai e seu reencontro com a mãe. 

As atitudes inesperadas da moça instigam e passam a ideia de que vem aí uma história forte, dramática e com algum suspense. Puro engano. 

O primeiro encontro de Lily Bloom com Ryle num terraço, e o improvável diálogo entre eles pode dar saudade de um filminho de sessão da tarde. Cheia de gracinhas, no mais óbvio estilo de sedução barata, a conversa, longa e chata, é desanimadora e - acreditem - brochante. 


Ela é linda e se faz de misteriosa e ele é simplesmente o máximo - uma espécie de príncipe encantado, bonito, sarado, inteligente e, como se não bastasse, é neurocirurgião, aquele que tem o poder e o talento de consertar cabeças com seu bisturi.

Como está em todas as sinopses, "É Assim Que Acaba" tem como tema central a violência doméstica. Natural, portanto, que o público fique na expectativa do momento em que os insultos e a pancadaria vão começar e como será a reação da protagonista. Mas até isso é mal construído. 


Lily Bloom muda para Boston e realiza seu sonho de abrir uma floricultura. E por uma dessas coincidências que costumam acontecer em filmes, sua primeira funcionária é Allysa (Jenny Slate), justamente a irmã boazinha do príncipe.

Outro detalhe difícil de aceitar no filme: Lily é recatada e faz questão de ser uma mulher muito, muito difícil. No auge dos beijos e amassos, ela afasta o rapaz e justifica que não faz sexo casual. Quase diz: não sou dessas, tá? Discurso mais antifeminista impossível. 


Para completar o roteiro de sessão da tarde num dia chuvoso, reaparece, do nada, o primeiro amor de Lily Bloom, espécie de salvador da moça em perigo, embora quase tão violento e possessivo quanto Ryle Kincaide. 

Atlas Corrigan (Brandon Sklenar), ex-morador de rua, surge, do nada, como proprietário de um dos melhores restaurantes de Boston. 

Haja flashbacks, agora com a atriz Isabela Ferrer como Lily jovem, para explicar tamanho milagre. Enfim, sobram clichês e superficialidades. "É Assim Que Acaba" é o tipo de filme que acaba em nada. 

O filme pode ser conferido nas plataformas de streaming por assinatura Max e Prime Video, ou por aluguel na Apple TV+, Google Play Filme e ClaroTV+.


Ficha técnica:
Direção: Justin Baldoni
Produção: Sony Pictures
Distribuição: Sony Pictures
Exibição: Max, Prime Video, Apple TV, Google Play Filme e Youtube, ClaroTV+
Duração: 2h11
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: romance, drama