09 fevereiro 2025

"Acompanhante Perfeita" equilibra bem ficção, comédia e um terror brutal

Sophie Thatcher protagoniza a história, vivendo uma mulher dominada e submissa numa relação com Jack Quaid (Fotos: Warner Bros. Pictures)


Maristela Bretas


Escrito e dirigido por Drew Hancock, com distribuição da Warner Bros. Pictures, está em cartaz nos cinemas a comédia de terror (se é que posso chamar assim) "Acompanhante Perfeita" ("Companion"). 

Com boas atuações de Sophie Thatcher (de "Boogeyman: Seu Medo é Real" - 2023) e Jack Quaid ("Oppenheimer" - 2023), o filme, logo no início, dá um choque no espectador. E vai mantendo este ritmo ao longo de toda a narrativa.

A trama segue Iris (Thatcher) e Josh (Quaid) que vivem um relacionamento complexo, que vai da paixão à primeira vista à toxidade da manipulação, com cenas bem perturbadoras. 


Em entrevista, a atriz descreveu o relacionamento de sua personagem como intenso e codependente, com Iris disposta a fazer qualquer coisa para que Josh se sinta amado e cuidado. 

Do encontro ao acaso que dá início à relação a um fim de semana com os amigos de Josh - Kat (Mega Suri, de "Não Abra" - 2023), Sergei (Ruper Friend, de "Asteroid City" - 2023), Eli (Harvey Guillén, de "Besouro Azul" - 2023) e Patrick (Lukas Cage, de "Sorria 2" - 2024) -, o casal vai passando por diversas situações e mudanças nos planos. 

Até a surpreendente revelação de que um dos hóspedes é um robô de companhia com tendências assassinas, o que vai provocar uma reviravolta completa na trama. 


"Acompanhante Perfeita" se destaca por sua mistura de gêneros, ao conseguir equilibrar bem comédia, ficção e terror. O diretor usa a relação dominadora dos protagonistas para mostrar o quanto ela pode se tornar doente e abusiva e as consequências disso. 

Iris representa a mulher tratada como objeto, um simples acessório na vida de um homem (Josh) que usa e abusa dela como e quando quer. 

Drew Hancock também não economiza em cenas brutais, com variadas formas de mortes e torturas. Um filme de terror diferente, com toques de ficção graças ao androide que substitui um ser humano. 


O que nos leva a pensar sobre o uso da inteligência artificial e um futuro não muito distante do que vivemos hoje, com máquinas ocupando lugares de pessoas para suprir a solidão.

Para alguns, "Acompanhante Perfeita" pode desagradar, mas a produção vem caindo nas graças do público. Pelo menos dos norte-americanos, que garantiram o retorno do valor investido de US$ 10 milhões na primeira semana de bilheteria nas salas do país. 

Eu, particularmente gostei da abordagem. Confira na Semana do Cinema, com ingressos a R$ 10,00 e combos com valores promocionais. Depois conta aqui nos comentários o que achou.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Drew Hancock
Produção: New Line Cinema, Boudelirlight Pictures, Vertigo Entertainment e Subconscious
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h37
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: ficção, terror, comédia

04 fevereiro 2025

"Alma do Deserto" - com fotografia e registros pungentes, a obra é uma ode à resistência e à liberdade

Documentário coproduzido entre Brasil e Colômbia narra a história de uma mulher trans da etnia Wayúu
(Fotos: Retrato Filmes)


Silvana Monteiro


Dirigido por Mônica Taboada-Tapia, "Alma do Deserto" se destaca como um documentário que vai além da simples narrativa factual, transformando-se em uma profunda meditação sobre identidade, resistência e o direito à existência plena. 

Coproduzido entre Brasil e Colômbia, o filme narra a história de Georgina Epiayu, uma mulher trans da etnia Wayúu, cuja luta pela revalidação de sua identidade civil e pelo direito de votar se entrelaça com os desafios de pertencer a múltiplos mundos. 


Com uma fotografia que fala, a estética visual de "Alma do Deserto" é impactante. A cinematografia vibrante captura as cores e texturas do deserto colombiano, criando um contraste sensível entre a vastidão implacável da paisagem e a intimidade do cotidiano de Georgina. 

Cada enquadramento é meticulosamente composto para transmitir a beleza e a hostilidade do ambiente, refletindo a dualidade de sua existência: a liberdade da natureza versus as barreiras de uma sociedade excludente.


O documentário transcende a mera documentação de eventos. Ele mergulha na intensa luta de Georgina por reconhecimento, revelando relatos profundos e registros surpreendentes. 

Sua história se transforma em uma epopeia contemporânea. A reconstrução de sua identidade emerge como um ato revolucionário — um grito silencioso contra o preconceito e a violência. Georgina luta contra muitas mortes, a morte do seu corpo, de seu nome e de sua alma livre e destemida.


Ao registrar suas inúmeras idas a repartições públicas em busca de seus documentos civis, o documentário se mostra, em muitos aspectos, um manifesto político e social. 

Ao explorar a intersecção entre gênero e etnia, o longa revela as múltiplas camadas de opressão enfrentadas por comunidades marginalizadas. 

A narrativa de Georgina é, ao mesmo tempo, pessoal e coletiva, refletindo as lutas de muitas outras pessoas trans e indígenas que buscam espaço e respeito em sociedades marcadas por preconceitos históricos. 


Mônica Taboada-Tapia demonstra, com sensibilidade e ousadia, um compromisso profundo com a verdade e a dignidade humana. Sua direção equilibra a crueza dos fatos com a beleza poética do cotidiano. 

O uso de depoimentos íntimos e registros visuais vibrantes conferem ao filme uma dimensão quase lírica, onde cada silêncio e cada olhar carregam o peso de uma história de superação. 

Os dedos ágeis de Georgina moldando o barro, seus cabelos finos dançando ao vento, e sua maneira simples e serena de reivindicar o que lhe é constantemente negado é tocante e transformador. 


Exibido na Jornada dos Autores do Festival de Veneza e agraciado com o prêmio Leão Queer, o filme se consolida como uma obra indispensável para aqueles que buscam compreender as complexas interseções entre identidade, cultura e direitos humanos.

As inúmeras cenas de suas travessias pelo deserto revelam um contraste profundo entre sua liberdade — pessoal e corporal — e sua identidade de gênero, como se seu anseio indomável se dissolvesse na vastidão das dunas, fundindo-se à beleza árida e implacável da paisagem com a luta da protagonista por coexistência.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Mónica Taboada-Tapia
Produção: Estúdio Giz, Guerrero Films
Distribuição: Retrato Filmes
Duração: 1h27
Classificação: 12 anos
Países: Brasil, Colômbia
Gênero: documentário