14 abril 2025

"Abá e sua Banda": música para discutir temas sociais importantes

Com uma preocupação evidente com a linguagem, o roteiro aposta numa fala acessível às crianças
(Fotos: Studio Z)

 

Silvana Monteiro

 
"Abá e sua Banda" é um desses projetos que parecem brotar de um desejo sincero de reunir gerações diante da tela. E, nesse sentido, acerta em cheio: crianças se encantam com o ritmo, as cores e o humor simples; adultos são fisgados pela estética que, de relance, evoca os desenhos das manhãs de sábado dos anos 1980.

Tem também a trilha sonora que aposta em músicos de verdade, como André Mehmari, Silvia Fraiha e Milton Guedes — nomes que não são apenas ornamentais, mas que emprestam textura e sofisticação à experiência sonora. 

A animação, dirigida por Humberto Avelar, estreia nesta quinta-feira (17) em salas de cinema de Belo Horizonte e Poços de Caldas, e de diversas cidades brasileiras.


A proposta do filme — que mistura 3D e 2D de forma fluida — é tão ousada quanto gentil. Um grupo de frutas-personagens forma uma banda em que o ritmo é ferramenta de inclusão, a harmonia é metáfora de democracia, e a diferença entre um caju e uma jabuticaba é justamente o que faz a música acontecer. 

Pode parecer simples (e é), mas essa simplicidade carrega uma inteligência visual e narrativa que surpreende em diversos momentos. Ao tratar de temas como luto, busca pela realização dos sonhos, diversidade, equidade e inclusão, o filme sai à frente com uma abordagem leve, porém efetiva. 


Há uma preocupação evidente com a linguagem: o roteiro aposta numa fala acessível, sem jamais subestimar a criança ou forçar piadas ao adulto. O humor está mais na situação do que no excesso de referências. 

E os dubladores — Robson Nunes, Filipe Bragança, Zezé Motta, Carol Valença, Mauro Ramos e Rafael Infante, entre outros — entregam personagens vivos, ainda que previsíveis. 

Esse talvez seja o ponto em que a animação menos ousa: os arquétipos estão todos ali — o sonhador, a sabichona, o teimoso, o inflexível— e seguem o trilho esperado.


Mas a previsibilidade não tira a força do conjunto. Ao contrário, em tempos de saturação de multiversos e piadas autoconscientes, "Abá e sua Banda" se apoia na ternura e na clareza de sua proposta. 

É um longa que acredita na escuta, no encontro e na beleza do coletivo. Talvez não reinvente a roda, mas certamente faz dela um bom tambor.

Portanto, a obra chega a ser nostálgica sem ser saudosista, animada sem ser atropelada e educativa sem ser doutrinadora, "Abá e sua Banda" é aquele tipo de produção que poderia tranquilamente ser exibida em praça pública — com gente de todas as idades assistindo, vibrando, cantando junto e refletindo.


Curiosidades

- A banda tem um Instagram que vale conferir -https://www.instagram.com/abaesuabanda/

- Assista aos vídeos dos bastidores clicando aqui

- Desde que estreou mundialmente no Festival de Gramado de 2024, o longa já conquistou três prêmios: Melhor Filme Oficial do Júri no Epic ACG Fest, nos Estados Unidos; Melhor Filme de Animação no Kids Festival em Málaga, na Espanha; e Melhor Filme no Festival Internacional de Cinema Ambiental (Ecocine), no Brasil. 

- A obra também participou de mais de 15 festivais e esteve entre os 10 finalistas do New York Animation Film Awards. 


Ficha técnica:
Direção:
Humberto Avelar
Roteiro: Silvia Fraiha, Sylvio Gonçalves, Daniel Fraiha
Produção: Fraiha Produções e coprodução Globo Filmes, Gloob e Rio Filme
Distribuição: Manequim Filmes
Exibição: Cineart Del Rey – sessão 14h40
Duração: 1h24
Classificação: Livre
País: Brasil
Gênero: animação

12 abril 2025

"Força Bruta: Punição" é pancadaria com toques de humor e denúncia contra os jogos online ilegais

Quarto filme da franquia traz de volta o detetive Ma Seok-do vivido pelo famoso ator sul-coreano Don Lee (Fotos: Sato Company)


Marcos Tadeu
Parceiro do blog
Jornalista de Cinema


"Força Bruta: Punição" ("Beomjoidosi 4") chegou ao cinema oferecendo uma explosão de ação de primeira linha e se consolidando como uma excelente porta de entrada para quem deseja conhecer o cinema sul-coreano. 

Dirigido por Heo Myeong-haeng, o quarto capítulo da famosa franquia traz de volta o detetive Ma Seok-do vivido por Don Lee, agora envolvido em uma nova investigação ligada ao submundo digital.


A trama começa com Ma Seok-do rastreando um aplicativo ligado ao tráfico de drogas, o que o leva a descobrir uma teia de crimes que se estende até as Filipinas, onde um desenvolvedor foi assassinado. 

A investigação coloca o detetive frente a frente com uma organização internacional de apostas ilegais, liderada pelo impiedoso Baek Chang-gi (Kim Mu-yeol). Ele é um ex-soldado de elite que domina o mundo dos jogos online com uma combinação de sequestros, chantagens e assassinatos.


Confesso que não conhecia a franquia antes, mas esse capítulo despertou em mim um interesse imediato em assistir os filmes anteriores. A narrativa é amarrada de forma envolvente e vai ganhando intensidade a cada revelação.

"Força Bruta: Punição" consegue equilibrar muito bem o ritmo de ação com momentos de crítica social, apontando para um submundo ainda pouco retratado no cinema: o das apostas ilegais digitais.


Heo Myeong-haeng, em sua estreia na direção da franquia, traz consigo anos de experiência como coordenador de cenas de luta e dublês. Isso se reflete nas coreografias precisas e brutais, com destaque especial para o duelo entre Ma Seok-do e Baek Chang-gi — uma pancadaria visceral, com pegada realista e forte influência do boxe.

Don Lee mais uma vez se impõe como protagonista. Seu personagem é uma força da natureza - e o ator entrega cenas que vão da tensão ao alívio cômico com habilidade. Do outro lado, Kim Mu-yeol constrói um vilão frio, calculista e profundamente irritante, o tipo de antagonista que provoca ódio desde a primeira aparição.


O grande mérito do filme é não se contentar apenas com a ação frenética. Ele mergulha de cabeça no universo das apostas online, escancarando como esse sistema opera em diversas camadas da sociedade: dentro de presídios, envolvendo menores de idade e manipulando figuras de alto escalão. 

A narrativa não hesita em denunciar a lógica perversa do dinheiro fácil, evidenciando práticas como as dos jogos “bets” e do famoso “tigrinho”, que se tornaram populares no Brasil.


"Força Bruta: Punição" funciona como uma denúncia embalada em entretenimento. É uma história que prende a atenção pela violência estilizada e ao mesmo tempo faz pensar sobre os bastidores sombrios do crime organizado digital. É pancadaria com propósito: crítica social embalada em golpes precisos.

Vale cada minuto, cada pipoca e, quem sabe, a curiosidade para maratonar os filmes anteriores. Os três primeiros filmes - "Cidade do Crime" (2017); "Força Bruta" (2022) e "Força Bruta: Sem Saída (2023) - este a maior bilheteria da história do K-Action na Coreia do Sul - estão disponíveis no Prime Video. Uma verdadeira aula de ação com a assinatura única do cinema sul-coreano.


Ficha técnica:
Direção:
Heo Myeong-haeng
Distribuição: Sato Company
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h44
Classificação: 16 anos
País: Coreia do Sul
Gêneros: ação, policial, suspense