08 setembro 2019

"O Rei Leão" surpreende em computação gráfica, mas personagens perdem em emoção

Versão live-action conquista o público e se torna o novo sucesso de bilheteria da Disney no mundo (Fotos: Disney Studios/Divulgação)

Maristela Bretas


Uma das histórias mais lindas e emocionantes dos Estúdios Disney - "O Rei Leão" está prestes a atingir a marca mundial de um milhão de espectadores em todo o mundo com sua versão live-action lançada há algumas semanas, 25 anos depois do lançamento do desenho. A produção já quebrou vários recordes, incluindo maiores bilheterias de estreia de remakes da Disney e entre animações (mais de US$ 190 milhões). Tudo isso já seria um incentivo para ir conferir o novo sucesso dos estúdios.

Mas foi principalmente a sensação de nostalgia que levou muitos fãs ao cinema, na expectativa de reverem, com muita cor e música. A saga do leãozinho Simba e seus amigos e voltar a ser criança. Mas não é bem isso que acontece. Especialmente se a opção for pela versão dublada, por causa das crianças. Apaixonada pelas dezenas de animações Disney que vi pela vida em versões em português, foi essa minha opção. Quanto arrependimento! 


Os estúdios erraram feio na escolha dos "dubladores" brasileiros. Ficou muito ruim, tanto nos diálogos quanto nas canções.  Algumas chegam a doer no ouvido e transformam a trilha sonora em algo sofrível de ouvir. Outro erro em um dos pontos fortes da versão animada. Salva apenas e muito bem a eterna "Hakuna Matata".


Mesmo com números tão bons de bilheteria, outro ponto que tem sido muito questionado por espectadores e críticos é o excesso de tecnologia. Ao mesmo tempo em que a computação gráfica entrega imagens espetaculares, quase reais como num vídeo do Discovery Channel, os personagens perdem em emoção, as expressões são plastificadas e deixam a impressão de que a fala está sincronizada com o personagem. Temos a juba de Musafa balançando ao vento (um espetáculo) contrastando com a falta de brilho nos olhos dele numa conversa de pai pra filho com Simba. Bem diferente do desenho.


Simba (vozes de Donald Glover, em inglês, e Ícaro Silva, em português) não passa emoção nem mesmo quando vê o pai morto. Ou quando está flertando com Nala, mesmo ao som de "Can You Feel The Love Tonight", na bela voz de Beyoncé (que também dubla a leoa). Mas ainda fico com a versão original, composta por Sir Elton John para "O Rei Leão" de 1994 - acho mais bonita e romântica cantada por ele.



Além do pequeno herdeiro da selva, outro que não mete medo nem em criancinha é Scar, um vilão sem fúria nos olhos ou sarcástico e cruel como no desenho, apesar da versão original estar na voz de Chiwetel Ejiofor. A história corre morna. Até que surgem Pumba e Timão, a dupla pouco provável de amigos - um javali e um suricato - para quebrarem a monotonia e provocarem os momentos mais divertidos da animação. Nada como relembrar e cantar o famoso refrão: "Isso é viver, é aprender, Hakuna Matata"...(Isso é viver, é aprender, Hakuna Matata"...). Muita gente ao meu lado soltou a voz. Eles são as estrelas da nova animação. Para completar a turma divertida, Zulu, o pássaro que fica de babá de Simba pra todo lado.


E por falar em trilha sonora, que há 20 anos garantiu prêmios a Elton John e Hans Zimmer, no live-action ela é revitalizada e recebe novas vozes e boas interpretações, especialmente de Beyoncé. Se o compositor britânico deu vida e voz à savana com "Circle of Life", marca registrada da abertura de "O Rei Leão", Lindiwe Mkhize e Lebo M. não deixaram por menos e a nova versão chega a dar arrepio na apresentação de Simba ao reino e ao público no cinema, como na primeira vez. Destaque também para "The Lion Sleeps Tonight", com Billy Eichner (que faz a voz de Timão), "Spirit", com Beyoncé, "Never Too Late", de Elton John.


A história é a mesma do desenho: Simba é um jovem leão cujo destino é se tornar o rei da selva. Entretanto, uma armadilha elaborada por seu tio Scar provoca a morte de Mufasa, o atual rei, quando ele tentava salvar o filhote. Cheio de culpa, Simba deixa o reino e vai para um local distante onde faz novos amigos que vão lhe ensinar como encarar a vida com diversão e prazer e lutar para recuperar seu reinado.

"O Rei Leão"dirigido por Jon Favreau ("Vingadores: Ultimato" e "Homem-Aranha: Longe do Lar") merece ser conferido, apesar das falhas? Com certeza, é sempre uma produção Disney. Mas aconselho a quem não tiver assistido o desenho de 1994, deixe para fazê-lo depois em uma sessão caseira dublada com as crianças. Para evitar comparações (ou decepções). E se for ao cinema sem os pequenos, passe longe da  versão dublada do live-action.


Ficha técnica:
Direção: Jon Favreau
Produção: Walt Disney Studios Motion Pictures
Distribuição: Disney / Buena Vista
Duração: 1h58
Gêneros: Animação / Aventura
Nacionalidade: EUA
Classificação: 10 anos
Nota: 3,5 (0 a 5)

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05 setembro 2019

"It: Capítulo Dois": Pennywise retorna para se vingar do Clube dos Otários

Produção baseada na obra de Stephen King encerra a história explorando principalmente as fraquezas e superações dos personagens (Fotos: Brooke Palmer/Warner Bros Pictures)

Carolina Cassese


Após o sucesso de “It: A Coisa” (longa inspirado na obra de Stephen King), que em 2017 se tornou a maior bilheteria de um filme de terror da história, o argentino Andy Muschietti está de volta na direção de “It: Capítulo Dois” ("It Chapter Two") Dessa vez, ele apostou na abordagem de temas mais densos, como homofobia, relacionamentos abusivos e traumas de infância. “Agora o tom é menos juvenil. Vejo o primeiro filme mais ingênuo, mais leve. Afinal, é contado pelos olhos de crianças”, disse em entrevista publicada no jornal Folha de São Paulo. Nesta sequência, como no filme anterior e em outras obras do autor, o terror é usado como pano de fundo para explorar o lado emocional dos personagens.


Passaram-se 27 anos desde que o “Clube dos Otários”, formado pelos então adolescentes Bill, Ritchie, Beverly, Ben, Mike, Eddie e Stanley, derrotou Pennywise (Bill Skarsgård), um espírito demoníaco que pode assumir muitas formas - inclusive a de um palhaço assustador. Mike, que ainda vive na pequena cidade de Derry, é o único que de fato lembra tudo o que aconteceu. Ele resolve convocar os outros membros do grupo para um encontro quando se dá conta de que Pennywise provavelmente está à solta novamente, caçando crianças e pessoas vulneráveis. Ao se reunirem, os integrantes do clube percebem que a situação é muito mais grave do que eles imaginavam.


A primeira cena, provavelmente a mais assustadora do longa, já consegue passar essa mensagem: logo após saírem de um parque de diversões, um casal de homossexuais é agredido a socos e pontapés por alguns bullies de Derry. Pennywise (com Bill Skarsgård novamente no papel) até aparece no fim da sequência, mas fica em segundo plano: o preconceito do ser humano consegue ser mais assustador do que as horrendas criaturas sobrenaturais criadas pelo palhaço do mal.


Ao longo do filme, acompanhamos as batalhas internas de cada membro do Clube dos Otários. O arco mais emocionante é o de Bev (Jessica Chanstain), que se encontra em um relacionamento violento e ainda precisa lidar com os traumas causados por seu pai abusivo. Os outros personagens principais, interpretados por James McAvoy (Bill), Bill Hader (Ritchie), James Ransone (Eddie), Jay Ryan (Ben), Isaiah Mustafa (Mike) e Andy Bean (Stanley) também são construídos com complexidade e cuidado. 

O elenco se sai muito bem (destaque para Bill Hader e Bill Skarsgård, novamente), ao passo que a produção consegue equilibrar os momentos de tensão com alívios cômicos (algumas piadas soam repetitivas, mas a maioria funciona). Assista no making off abaixo o que Stephen King e os atores falam sobre o filme.


Há transições entre a vida adulta e a adolescência dos personagens. O espectador, então, mergulha na infância do Clube dos Otários a partir de flashbacks. Muitas cenas foram gravadas para o primeiro filme e inicialmente descartadas. O diálogo entre os dois tempos funciona bem, reforçando a conexão do público com os personagens. A duração do filme (quase 3 horas), no entanto, torna a experiência do espectador mais cansativa - e não parece muito necessária.


De certa forma é possível entender esse roteiro longo demais e exagerado, uma vez que as duas produções - "It - A Coisa" e "It - Capítulo Dois") são partes de uma mesma obra, de quase 1.200 páginas, escrita em 1986 por Stephen King. Intencional ou não, o livro, assim como os dois filmes, foi lançado em setembro e completa 33 anos desde sua publicação.


Não é à toa que boa parte da crítica chamou o longa de “um presente para os fãs de Stephen King”: há incontáveis referências à obra do autor (ele mesmo faz uma pontinha no filme). Muito mais do que um simples terror, “It: Capítulo Dois” é sobre amizade, autoconhecimento e superação - e fica difícil não se envolver com as bonitas histórias de cada um dos membros do Clube.


Ficha técnica:
Direção: Andy Muschietti
Produção: New Line Cinema / Lin Pictures / Vertigo Entertainment
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Duração: 2h50
Gênero: Terror
País: EUA
Classificação: 16 anos
Nota: 4 (0 a 5)

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