08 outubro 2021

Diabolicamente, "Lucifer" se despede provocando lágrimas nos fãs

Tom Ellis e Lauren German formaram uma dupla afinada em todas as situações (Fotos: Netflix/Divulgação)


Maristela Bretas


Confesso que chorei muito nesta sexta e última temporada de uma das melhores séries exibidas pela Netflix. "Lucifer", que conta a história do diabo mais charmoso, sensual e divertido, vai deixar saudades. Interpretado de forma carismática pelo ator britânico Tom Ellis, a série, estreou em janeiro de 2016 pela Fox, mas foi cancelada em 2018. No mesmo ano, atendendo aos fãs, ela teve sua produção assumida pela Netflix, que garantiu mais quatro temporadas.

Mas o diabólico protagonista Lucifer Morningstar não teria conquistado uma legião de seguidores se não tivesse ao seu lado uma fiel parceira. E coube a Lauren German o importante papel da detetive Chloe Decker, que a cada episódio foi conquistando mais força na tela e no coração do coisa ruim (mas nem tanto). Confesso que não via muita graça nos primeiros episódios e a presença de Tom Ellis bem mais marcante que a participação dela.


A partir da segunda temporada, no entanto, a atriz ganhou espaço e mostrou que era a pessoa certa para o papel da "detective". A química entre os dois se tornou evidente e o romance demorou, mas aconteceu, como era esperado, em meio a homicídios, a arrogância e a luxúria do Diabo e traumas dos personagens, especialmente Lucifer, que não se dava muito bem com seu pai (no caso, Deus).

O elenco sincronizado também foi outro ponto positivo que garantiu a renovação da série. Todos ganharam destaque a cada episódio: a terapeuta Linda Martin (Rachael Harris), o bondoso anjo Amenadiel (D.B.Woodside), irmão de Lúcifer, a perita forense Ella Lopez (Aimee Garcia), a demoníaca Mazikeen (Lesley-Ann Brandt) e o detetive Daniel Espinoza (Kevin Alejandro), além de outros que entraram, saíram ou tiveram apenas participações especiais.


A série "Lucifer", para quem não viu, conta como o senhor do Inferno, cansado de sua vidinha "lá embaixo", veio curtir umas férias em Los Angeles, acompanhado de sua serva Mazikeen. Ele abre a boate Lux, e após ajudar a desvendar um crime, se torna consultor da polícia e passa a trabalhar com a detetive Decker. Uma parceria que será garantia de muito humor, ação e paixão. E vai provocar uma reviravolta na vida de todos aqueles ao redor do casal.


Após seis anos de ação, diversão, tensão, mortes chocantes e muito romance, essa turma se despede provocando muitas lágrimas nos mais emotivos (como eu), especialmente nos dois últimos episódios da sexta temporada. 

A trilha sonora ajudou a aumentar o chororô, relembrando sucessos como "Unchained Melody", dos Righteous Brothers, tema do filme "Ghost"; "Hungry Like The Wolf", da banda Duran Duran; "The Lady is A Tramp", com Ella Fitzgerald; "Bridge Over Troubled Water", de Simon & Garfunkel"; "Welcome to the Black Parade", da banda My Chemical Romance, além de várias outras canções devidamente bem inseridas. 

Destaque para, "Champagne Supernova", do Oasis, na versão do coral feminino belga Scala & Kolacny Brothers, que entrega uma das cenas mais bonitas da última temporada.


O sucesso da série, que atraiu públicos de diferentes idades desde o início, também se deve ao ótimo trabalho dos roteiristas que, apesar de alguns momentos de mormaço, conseguiram reparar nas últimas temporadas com um clima mais intenso. Eles souberam entregar um final do tipo "abraço de urso", para mexer com todos os fãs que acompanharam "Lucifer" ao longo dos últimos cinco anos. Ofereceram momentos de diversão, de emoção e até de sofrimento a cada despedida de um personagem, até nas mais chocantes.


A equipe do showrunner Joe Henderson menciona inclusive elogios a filmes e séries de TV de sucesso do passado, como "Bones" (estrelada por David Boreanaz, como o agente Seeley Booth, e Emily Deschanel, como a dra. Temperance Brennan). Para Lucifer, um erro ter sido encerrada. 

Também criou as mais diversas e inesperadas situações, com episódios em formato de musical, ou de um filme noir, em preto e branco (com ótima interpretação de Lesley-Ann Brandt). Lucifer e Chloe foram até mesmo transformados em personagens de desenho no estilo "Looney Tunes". Tom Ellis também pode mostrar, além dos dotes físicos, sua bela voz em algumas cenas ao piano.


A série abordou tabus que desagradaram aos mais religiosos, como apresentar um Deus negro, uma Eva que vai escolher uma mulher como sua companheira, um Adão pra lá de machista que tomou um fora e vai precisar de analista, anjos que se tornam pais. Até mesmo uma guerra entre anjos e demônios acontece na produção. E o mais importante: mostrou um Diabo apaixonado.


Mas se o humor predominou em "Lucifer", também assuntos sérios foram abordados, como o racismo da polícia contra a população negra, o movimento Black Lives Matter, o debate sobre traumas do passado e como o abandono afeta o comportamento de um adulto, a relação entre pais e filhos, os desejos ocultos (que só Lucifer era capaz de fazer com que fossem revelados) e a força da mulher contra o preconceito de uma sociedade machista.


Chegamos a um final, apesar de previsível, preencheu boas madrugadas com humor, emoção e um carismático elenco.  "Lucifer" deixa saudades e a marca de uma série que valeu a pena assistir desde o início e, mais ainda, o fim. Para quem não assistiu, recomendo muito. Mas prepare algumas noites de sono perdidas maratonando as seis temporadas e o lencinho para o final.


Ficha técnica:
Criador da série: Tom Kapinos
Exibição: Netflix
Duração: 6 temporadas (93 episódios) - tempo médio de 43 minutos
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: drama / comédia / policial / fantasia
Nota: 4,5 (de 0 a 5)

03 outubro 2021

"A Menina que Matou os Pais" e "O Menino que Matou Meus Pais" - o caso Suzane von Richthofen

Amazon Prime Vídeo apresenta as duas versões do bárbaro crime que chocou o pais em 2002 (Fotos: Divulgação)


Jean Piter Miranda 


Em 2002, Daniel Cravinhos (Leonardo Bittencourt) e seu irmão Cristian (Allan Souza Lima), assassinaram o casal Manfred von Richthofen (Leonardo Medeiros) e Marísia (Vera Zimmerman), pais de Suzane von Richthofen (Carla Diaz). O crime foi planejado por Suzane e Daniel, que eram namorados. Essa é uma história que chocou o país e que agora é contada em dois filmes que estão disponíveis na Amazon Prime: "A Menina que Matou os Pais" e "O Menino que Matou Meus Pais".  

A primeira pergunta que todo mundo vai fazer é: Qual a diferença entre os dois filmes? É simples. Um mostra a história contada pelo ponto de vista de Suzane, com base no depoimento dela. O outro é contado por Daniel, sob a ótica dele, feito a partir do que ele relatou à Justiça. Daniel joga a culpa em Suzane e ela joga a culpa nele.  


Em "A Menina que Matou os Pais", Daniel conta que era apaixonado por Suzane. Eles se amavam e queriam ficar juntos. Só que os pais dela não aceitavam o namoro por ele ser de família humilde. Na versão que ele conta, os pais de Suzane faziam de tudo para separá-los. Suzane se sentia triste e sufocada em uma família que era cheia de problemas. 

Suzane não era tão boazinha quanto ele pensava, era fria e calculista. E logo ele se viu preso em um relacionamento abusivo. Suzane estava disposta a tudo pra ficar livre e assim ela planejou a morte dos pais e, segundo depoimento de Daniel, o induziu a cometer o crime.  


No outro filme, "O Menino que Matou Meus Pais", a história é contada por Suzane. Ela conta que era apaixonada por Daniel e que queria ficar com ele. Relata que tinha uma ótima relação com os pais, mesmo eles sendo contra o namoro dela com o rapaz. Nessa versão, Daniel é abusivo e ela está presa no relacionamento. E no fim, para poderem ficar juntos, Daniel planeja matar os pais dela e a teria induzido a participar do crime.  


O fim da história é o mesmo nos dois filmes. E não há spoiler nisso. Os pais de Suzane são assassinados por Daniel e seu irmão. Ela é cúmplice. O crime foi premeditado e os três são presos. Tudo isso já foi mostrado dezenas de vezes em várias reportagens. 

A novidade apresentada nos filmes é justamente esses dois pontos de vista sobre quem cometeu o crime. Não apenas o relato do dia do duplo homicídio e as motivações, mas como toda essa história começou. Desde o dia em que Suzane e Daniel se conheceram até o dia em que foram condenados pela Justiça. 


As produções não tentam humanizar Daniel e Suzane, nem mesmo justificar o que eles fizeram. É quase uma reconstituição baseada nos depoimentos de ambos, destacando as contradições de suas versões. Os filmes são bem produzidos, usam cenas comuns e conseguem reproduzir bem a ambientação dos anos 2000 nas roupas, músicas e cenários. 


Carla Diaz é sim o destaque. Ela faz uma ótima interpretação. Leonardo Bittencourt não vai mal, mas também não convence. Ele soa mecânico em diversos diálogos. Os demais personagens são bem discretos. Não há uma ordem de qual filme deve ser assistido primeiro. Isso tanto faz. Ao mesmo tempo em que são independentes, os dois longas se completam. São bons e merecem ser vistos. 


Ficha técnica (válida para os dois filmes)
Direção: Maurício Eça
Roteiro: Ilana Casoy e Raphael Montes
Exibição: Amazon Prime Video
Produção: Santa Rita Filmes / Galeria Distribuidora
Duração: 1h25
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gêneros: drama / suspense