31 maio 2022

"Romy, Femme Libre" mostra lado combativo de Romy Schneider, ícone do cinema europeu

Documentário foi um dos primeiros apresentados no 75ª edição do Festival de Cannes (Foto: Cannes Classic/Divulgação)


Carolina Cassese
Correspondente em Cannes


"Ao falar sobre Romy Schneider, geralmente as pessoas comentam sobre sua beleza. (...) Mas ela foi muito mais do que bonita". É esse comentário do narrador que abre o longa "Romy, Femme Libre" ("Romy, Mulher Livre"), um dos primeiros documentários a serem exibidos na 75ª edição do Festival de Cannes. “Eu queria me livrar da beleza de Romy Schneider. Por isso quis começar o documentário com a frase ‘Sempre começa com sua beleza.’ Uma vez que já colocamos isso, podemos entrar em nossa história”, explicou Lucie Cariès, que assina o filme junto com Clémentine Deroudille. 

As duas estavam presentes na pré-estreia do longa, que aconteceu em 18/5, no Palácio do Festival. Emocionada, Deroudille fez um agradecimento especial à emblemática Cinemateca Francesa, instituição que atualmente apresenta uma exposição sobre Schneider, idealizada justamente por ela. 

Lucie Cariès e Clémentine Deroudille (Photocall Cannes)

A diretora destacou que sentiu raiva ao realizar as pesquisas sobre a atriz. “Principalmente quando vi a maneira que a mídia falava sobre ela e a falsa leitura que apresentavam não apenas de Romy, mas de várias atrizes”. Para Deroudille, as narrativas veiculadas são muito focadas na aparência e apagam aspectos relevantes da trajetória das mulheres. 

Tanto o filme quanto a exposição, que fica em cartaz até 31 de julho, mostram um outro lado de Schneider, que foi um ícone do cinema europeu. Em primeiro lugar, o documentário privilegia uma visão de “Romy por ela mesma”, justamente por exibir inúmeros trechos, em sua maioria inéditos, de entrevistas da alemã que se naturalizou francesa. 


Ouvimos sobre suas angústias em tomar decisões, o tédio que a dominou depois de passar algum tempo como dona de casa, a frustração que sentiu com o cinema hollywoodiano. Fica evidente que a atriz tinha personalidade - e se arriscava com frequência.

Considerando que a proposta era se afastar do “olhar estereotipado dos outros” acerca de Schneider, o documentário acerta em mostrar primordialmente falas da própria atriz, e não de terceiros. Ao vermos ainda trechos de seus emblemáticos filmes, como "Sissi" (1955) e "As Coisas da Vida" (1979), temos a dimensão do talento da atriz e de como aqueles longas realmente marcaram uma época.

"Sissi" (Divulgação)

Inevitavelmente, a produção promove uma reflexão sobre o universo das celebridades e a pressão exercida em especial sobre as mulheres. Mesmo uma figura como Schneider, que era discreta e não fazia exatamente parte do universo hollywoodiano, foi alvo de muitos comentários acerca de seu corpo e de sua vida pessoal. 

A todo tempo, a atriz se esforçava para mostrar que poderia ser muito mais. Corria atrás de diretores, propunha projetos, topava se deslocar. “Romy era assim: uma mulher que não tinha medo de deixar lugares e homens para recomeçar sua vida em outro lugar”, conclui o narrador.

Exposição Romy Schneider (fotos Carolina Cassese)






A exposição em cartaz na Cinemateca Francesa também destaca o lado combativo da atriz. Um dos painéis mostra o seguinte pedido de Schneider para o diretor Claude Sautet: “Me faça um bom filme de mulher”. O que ela queria dizer com isso? Um filme em que as mulheres não são mais um objeto para os homens, mas sim estariam no comando da própria vida, decidiriam abortar, deixariam os homens com quem viviam porque querem ser livres. 

"Uma História Simples" (Divulgação)

O resultado de sua solicitação foi o longa "Uma História Simples", que inclusive lhe valeu o prêmio César de Melhor Atriz, em 1979. Na produção, Schneider contracenou com nomes como Sophie Daumier, Francine Bergé, Eva Darlan e Arlette Bonnard. Foi, definitivamente, um bom filme de mulher. 


 Ficha técnica:
Direção: Lucie Cariès
Roteiro: Lucie Cariès e Clémentine Deroudille
Duração: 1h31
País: França
Gênero: documentário

27 maio 2022

“Top Gun: Maverick” - Um ótimo filme com muita ação e nostalgia

Tom Cruise retorna 36 anos depois com continuação de sucesso que marcou sua carreira (Fotos: Paramount Pictures/Divulgação)


Maristela Bretas


A volta ao passado com o mesmo sorriso que enche a tela. “Top Gun: Maverick” é a consagração de Tom Cruise para um de seus maiores sucessos no início da carreira. Com um forte apelo ao filme original de 1986 – “Top Gun: Ases Indomáveis” – que marcou uma geração, da qual faço parte, o ator reforça na nova produção, em cartaz nos cinemas, seu estilo de filmes no gênero muita ação. Mas desta vez, deixou a nostalgia representar um importante papel.


O longa repete cenas que marcaram o primeiro filme, especialmente as do ator “voando” em sua motocicleta. Fora os closes no rosto de Cruise, realçando seu sorriso encantador. O homem é conservado em formol, não envelhece e não perde o charme. 

Em “Top Gun: Maverick” é o passado que conduz a trama, formando um ótimo equilíbrio com as cenas de ação. O diretor Joseph Kosinski não economizou nesse quesito, principalmente as que mostram o treinamento dos pilotos e os ataques. Trabalho excelente. Só isso já vale o filme. 


Tom Cruise, o ator de 1001 aptidões, é um dos produtores do filme, junto novamente com o premiado Jerry Bruckheimer, das franquias "Piratas do Caribe" (2003 a 2017) e "Bad Boys" (1995 a 2020) e séries de TV como "Lúcifer" (2016 a 2021) e todas as franquias C.S.I. (desde 2000). Não tinha como não dar certo. Cruise, que também é piloto, desenvolveu um programa de voo para os demais atores que interpretaram os pilotos. 


Eles tiveram meses de treinamento de fundamentos e mecânica de voo e de Força G. Se há 36 anos, Cruise filmou no cockpit de um F-14 Tomcat, desta vez foi na cabine de um caça F/A-18E/F Super Hornet, onde foram feitas as tomadas de toda a equipe, em pleno voo. A aeronave foi emprestada ao estúdio pela Marinha por uma "bagatela" de pouco mais de US$ 11,3 mil a hora de voo. Mas o resultado foi excelente e deu maior autenticidade às cenas.


Bem saudosista essa continuação de Top Gun traz, além do protagonista Pete “Maverick” Mitchell, vivido por Cruise, o ator Val Kilmer interpretando o ex-piloto e agora almirante Tom “Iceman” Kazanski, amigo de Maverick. E Ed Harris, como o almirante Rear, que detesta o indomável piloto. 

No entanto, deixa de lado personagens importantes do passado, como Kelly McGillis (a instrutora Charlotte “Charlie” Blackwood), que formou par romântico com o “mocinho” no primeiro filme. Para esta sequência foi convidada a bela Jennifer Connelly ("Anita - Anjo de Combate" - 2019), muito bem no papel de Penny Benjamin, dona de um bar que teve um romance com o piloto no passado. 


Nesta continuação, temos Maverick, um piloto à moda antiga da Marinha que coleciona muitas condecorações, medalhas de combate e grande reconhecimento pela quantidade de aviões inimigos abatidos. Mas mantém a fama de rebelde, que rompe limites, desafia a morte e não acata ordens, o que o torna um oficial pouco querido no alto escalão. 

Rebaixado a instrutor e de volta à Academia Top Gun, ele terá de treinar os novos melhores pilotos da Marinha para uma missão quase suicida e provar que o fator humano ainda é fundamental no mundo das guerras tecnológicas.


“Top Gun: Maverick” apresenta rostos novos que vão compor a equipe dos melhores pilotos de caça da Força Aérea dos EUA. Destaque para Miles Teller (da franquia “Divergente” – 2014 a 2016, e "Whiplash - Em Busca da Perfeição" - 2014), como Bradley “Rooster” Bradshaw, filho de Nick “Goose” Bradshaw (Anthony Edwards), ex-parceiro de Maverick. 

Destaque também para Glen Powell (“Os Mercenários 3”), como o arrogante Hangman, além de Monica Barbaro (Phoenix), Lewis Pulmann (Bob), Jay Ellis (Payback) e Danny Ramirez (Fanboy), além de Jon Hamm, como Cyclone, comandante da Academia Top Gun e do simpático Bashie Salahuddin, como o mecânico Coleman, amigo do Maverick.


A trilha sonora é um dos destaques do novo longa. Está de arrepiar. Se em 1987 "Take My Breath Away", interpretada por Berlin e composta por Giorgio Moroder faturou um Oscar de Melhor Canção Original para "Ases Indomáveis", agora é a vez de Lady Gaga entrar na corrida da estatueta com a belíssima "Hold My Hand", ao lado do premiadíssimo Hans Zimmer.


Também chama a atenção a música-tema "You've Been Called Back to Top Gun", com a participação de Harold Faltermeyer e Lorne Balfe, em duas versões, tocadas no início e no final do filme. Tem ainda One Republic com "I Ain't Worried" e o ator Miles Teller mostrando seu lado cantor ao interpretar "Great Balls of Fire". 

Até "The Who", com "Won't Get Fooled Again" está entre as tocadas no longa, possivelmente uma contribuição de Jerry Bruckheimer, que utilizou a mesma música como tema de abertura da série C.S.I. Miami, produzida por ele de 2002 a 2012.  A trilha sonora está de arrasar, assim como todo o filme. Vale a pena conferir.


Ficha técnica:
Direção: Joseph Kosinski
Produção: Paramount Pictures / Don Simpson/Jerry Bruckheimer Films / Skydance Productions
Distribuição: Paramount Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h11
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gênero: Ação