10 outubro 2024

“Inverno em Paris” aborda a busca adolescente por si em meio às dores da vida

Paul Kircher vive o jovem em busca de sua identidade (Fotos: Jean Louis Fernandez)


Eduardo Jr.


Juliette Binoche e Paul Kircher são os protagonistas de “Inverno em Paris” ("Le Lycéen"), longa que estreia nesta quinta-feira (10) nos cinemas, sob a direção de Christophe Honoré. Com distribuição da Pandora Filmes, a obra mostra o chacoalhar na vida de um jovem de 17 anos após a morte do pai.

Ao receber, no colégio interno, a notícia de que o pai sofreu um acidente, o jovem Lucas (Paul Kircher), de 17 anos, volta para casa, e antes que sua mãe Isabelle (Juliette Binoche) possa contar, ele descobre que o pai está morto.


Apesar de Lucas estar se envolvendo com um amigo da escola, a busca por identidade vai além durante o luto. É quando começa a viagem do jovem por seus sentimentos. Aquilo que antes era certeza, desmorona, e emergem dali revolta, doçura, posturas autodestrutivas e sentimentos caóticos.

As verdades duras que o adolescente lança e também recebe, a dúvida sobre viver no interior com a mãe viúva ou com o irmão mais velho que está conquistando a independência em Paris e as desilusões que precisam ser superadas se desenrolam na tela. E talvez justifiquem o comportamento do protagonista (que pode ser recebido com pena ou raiva, dependendo da percepção do espectador).


Seria uma leitura muito particular, mas a direção de Honoré é inteligente ao colocar mãe e irmão como apoio para Lucas, mas sem centralizem a trama. Nos deixa assim a ideia de que o autoconhecimento é uma tarefa solitária, que somos responsáveis por nossas escolhas.

Pode-se dizer que o resultado é coerência: tema e atuações demandam observação do espectador, convidam o público a analisar, sentir e interpretar. Tarefa que deixa de ser complexa se pensarmos que relações familiares, maturidade e entendimento dos próprios sentimentos são pautas comuns a todos nós.

Indicado a três categorias no Festival Internacional de Cinema de San Sebastián (2022), o longa, nas palavras do diretor é, “antes de tudo, uma história de amor”.


Ficha Técnica
Direção e roteiro: Christophe Honoré
Produção: France 2 Cinéma, Les Films Pelléas
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: sala 1 do UNA Cine Belas Artes e sala 2 do Centro Cultural Unimed-BH Minas
Duração: 2h03
Classificação: 18 anos
País: França
Gênero: drama

09 outubro 2024

"Robô Selvagem", uma animação comovente e forte candidata ao Oscar

Roz é uma máquina que terá que se reprogramar para conseguir sobreviver ao novo mundo e seus habitantes (Fotos: DreamWorks Animation)


Maristela Bretas


Lindo, comovente, cheio de aventuras e capaz de derreter muitos corações. Este é "Robô Selvagem" ("The Wild Robot"), animação que estreia nesta quinta-feira (10), nos cinemas e promete encantar crianças e adultos ao abordar temas universais como família, aceitação das diferenças e a importância da amizade.

A história reúne natureza e tecnologia num mesmo espaço e gira em torno da robô Roz (voz de Lupita Nyong'o, de "Nós" - 2019 e dublagem de Elina de Souza em português). Ela cai em uma ilha isolada e ao abrir os olhos pela primeira vez não tem a menor ideia de como foi parar ali.


Para sobreviver à vida selvagem, Roz precisará se reprogramar para o novo ambiente e conquistar a confiança dos habitantes locais, alguns até bem ferozes. Uma tarefa que se torna ainda mais complexa quando um acidente a transforma em "mãe" adotiva de um filhote de ganso, batizado de Bico Vivo (vozes de Boone Storme quando bebê e do ator mirim Vicente Alvite; quando adulto, Kit Connor e Gabriel Leone, de "Eduardo e Mônica" - 2022).

"Robô Selvagem" é baseado no best-seller infantojuvenil homônimo de 2016, do escritor e ilustrador Peter Brown, que originou duas sequências literárias - "The Wild Robot Escapes" (2017) e "The Wild Robot Protects" (2023). Ainda sem tradução no Brasil, as duas obras também se tornaram sucesso e ganhadoras de prêmios literários.


A narrativa é rica em metáforas sobre o amadurecimento e a construção de laços. Rozzum 7134, chamada de Roz, é uma robô, inicialmente vista como uma estranha, reflete a jornada de qualquer indivíduo que busca ser aceito em um novo ambiente. A direção e o roteiro são de Chris Sanders, três vezes indicado ao Oscar e responsável pela franquia "Como Treinar Seu Dragão" (2010 a 2019), também da DreamWorks Animation.

A relação que se desenvolve entre ela, o pequeno Bico-Vivo e a raposa Astuto (dublagens de Pedro Pascal, das séries "The Last of Us" - 2023 - e "The Mandalorian" - 2019 a 2023; e Rodrigo Lombardi) traz à tona a beleza da diversidade. Mostrando que a união entre diferentes espécies – e, por extensão, diferentes indivíduos – pode resultar em uma verdadeira família.


Visualmente, "Robô Selvagem" é um deleite. A animação apresenta um estilo vibrante e cativante, com cores vivas que tornam a ilha um lugar mágico, onde cada canto parece pulsar com vida. A trilha sonora, cuidadosamente escolhida, complementa a experiência, realçando os momentos de tensão e alegria.

A obra traz lições sobre aceitação e amor familiar abordadas de maneira sensível, que nos fazem rir e chorar. Inicialmente, Roz age como um robô de serviços gerais, mas ao longo da trama, a emoção vai ocupando lugar na programação automatizada, quase como se ele tivesse um coração de verdade.

A química entre os protagonistas é um dos pontos altos do filme. A dinâmica entre Roz, Bico-Vivo e Astuto traz humor e emoção, tornando a jornada deles não apenas uma busca por aceitação, mas também uma celebração das diferenças que nos tornam únicos.


No elenco de dubladores estão também outros nomes conhecidos do cinema: Catherine O'Hara ("Os Fantasmas Ainda Se Divertem - Beatlejuice, Beatlejuice" - 2024), como a gambá Pinktail; Bill Nighy ("A Livraria" - 2018) no papel do ganso Longneck; Mark Hamill (franquia "Star Wars" - 1977 a 2019 e "O Menino e a Garça"), como Thorn; Stephanie Hsu ("Tudo em Todo o Lugar ao mesmo Tempo" - 2022, e "O Dublê" - 2024), dando voz à robô Vontra; Ving Rhames (franquia "Missão: Impossível" - 1996 a 2025), e Matt Berry ("O Que Fazemos nas Sombras" (2014) e a franquia Bob Esponja).

A DreamWorks acertou em tudo. "Robô Selvagem" é uma animação encantadora que consegue transmitir mensagens valiosas e deixar a sensação de quero mais. É uma experiência que vale a pena ser vivida no cinema, especialmente por famílias que buscam um filme que reúne diversão e reflexões profundas. E não se esqueça de levar o lencinho!


Ficha técnica
Direção e roteiro: Chris Sanders
Produção: DreamWorks Animation, Universal Pictures
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h42
Classificação: Livre
País: EUA
Gêneros: animação, aventura, família, infantil