28 novembro 2024

"Moana 2" aposta em trazer frescor à franquia, mas derrapa em alguns aspectos

Três anos depois, a personagem e seu amigo Maui partem para uma nova viagem ao lado de uma 
tripulação de marinheiros improváveis (Fotos: Disney Pictures)


Eduardo Jr.


Em 2017 a música perguntava: "o horizonte me pede pra ir tão longe; será que eu vou?" E Moana foi. Agora, a jovem navegadora da famosa animação, fará uma nova viagem, em busca de outros povos. "Moana 2" desembarca nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 28 de novembro, com direção de David Derrick Jr. e distribuição da Disney Studios. 

Derrick substitui John Musker e Ron Clements, diretores do primeiro filme, "Moana: Um Mar de Aventuras" (2016), e mantém a proposta de busca de identidade para a protagonista. Desta vez, Moana (novamente com a voz de Auli'i Cravalho) assume a responsabilidade (e as dores e alegrias) de ser a navegadora do seu povo. 


Após encontrar um artefato que indica a existência de outros povos, ela recebe um chamado de seus ancestrais. Em dúvida sobre sua capacidade de partir em busca de outras tribos e sobre o melhor momento de realizar essa tarefa, os conselhos da mãe atuam como incentivo. 

Mas desta vez não está sozinha. Nesta viagem, Moana seguirá acompanhada de uma tripulação - e do velho amigo semideus, Maui (voz de Dwayne Johnson). 

A entrada de novos personagens na aventura da protagonista deixou a animação mais dinâmica, refrescando o texto e as mensagens. O objetivo da vez é encontrar uma ilha, escondida por um vilão - Nalo, deus das tempestades -, que queria impedir que os diversos povos se conectassem entre si por meio deste lugar especial. 


Por se tratar de uma animação, obviamente esperamos um final feliz. E ele vem, mas deixa questionamentos sobre as escolhas aplicadas ao roteiro de Jared Bush. Durante uma hora e meia de filme, o espectador encontrará referências ao longa anterior, cenas com desenhos super realistas, músicas mais modernas acompanhando os mais diversos ritmos, magia...tudo isso. Exceto o vilão!   

Também chama atenção na jornada de Moana o encontro com Matangi. A nova personagem tem um desenvolvimento um pouco falho, e o desfecho de seu arco não se concretiza como prometido - o que deve acontecer apenas em "Moana 3". 


Não é possível dizer que se trata de um longa memorável. Até no material de divulgação na porta do cinema há deslizes. No totem de papelão colocado na entrada, se tirarmos o "2" do nome do filme, parece que se trata do primeiro longa, pois só as imagens da protagonista e do coadjuvante Maui estão ali. 

Outro ponto a se observar é que, nesta continuação, Moana ganha uma companheira de viagem, Moni. O que nos leva a pensar em um aspecto feminista - duas mulheres solucionando os problemas do percurso. No entanto, nem uma foto da integrante recém-chegada mereceu destaque na divulgação. 


Sendo um pouco mais rigoroso na análise, a motivação de Moana permanece rasa. É um pouco questionável que, só depois de três anos a protagonista se pergunte se há outras pessoas fora da ilha habitada por seu povo. Se ela já se incomodava com o que havia depois dos recifes, não seria um pouco óbvio esperar encontrar outros povos?   

Tecnicamente, como era de se esperar, a Disney entrega mais uma animação musical interessante. "Moana 2" é um longa infantil que dialoga muito bem com o público adulto. Trilhas, cores e desenhos enchem os olhos. 

Os traços da personagem principal e de seu pai foram cuidadosamente amadurecidos para destacar a passagem do tempo, já que a história acontece três anos depois da primeira aventura. Mas é um cuidado que não salva o todo. 

A música tema do primeiro filme permanece na lembrança, enquanto a atual eu já nem lembrava direito após sair da exibição. É um filme que diverte, porém, esquecível. 


Ficha técnica:
Direção: David Derrick Jr., Dana Ledoux Miller e Jason Hand
Roteiro: Jared Bush e Dana Ledoux Miller
Produção: Walt Disney Pictures, Walt Disney Animation Studios
Distribuição: Disney Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h40
Classificação: Livre
País: EUA
Gêneros: animação musical, aventura, família

26 novembro 2024

"Tesouro" é mais uma história das marcas deixadas pelo Holocausto

Stephen Fry e Lena Dunham são pai e filha numa viagem para reconstruir as raízes da família (Fotos: Divulgação)


Jean Piter Miranda


Voltar à terra dos antepassados e conhecer suas origens. Para muitos, isso é mera curiosidade. Para outros, é prioridade. Como é o caso da jornalista estadunidense Ruth (Lena Dunham). Ela viaja com o pai, Edek Rothwax (Stephen Fry), para a Polônia, a fim de reconstruir as raízes de sua família. 

Essa é a história contada em “Tesouro” ("Treasure"), filme alemão produzido em parceria com outros países europeus que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (28). 

O ano é 1990. Ruth e o pai saem de Nova York rumo à Varsóvia, na Polônia. Ela está empolgada para conhecer o lugar onde sua família viveu. Só que seu pai não. E tem um motivo. Edek é sobrevivente do Holocausto e as memórias que ele tem do lugar não são nada boas. Na verdade, ele nem quer relembrar. 


Esse conflito de expectativas cria situações engraçadas durante a estadia da dupla na Polônia. Ruth tem tudo planejado, roteiro de onde quer visitar e porque quer ir em cada lugar. Edek, por sua vez, tenta a todo custo sabotar os planos da filha para não ter que revisitar os lugares que lhe trazem lembranças ruins. 

"Tesouro" pode ser considerado um “Road movie”, um filme de estrada. Porque é isso que Ruth e Edek fazem. Eles vão de Varsóvia à Lódz, cidade natal de Edek, e visitam Auschwitz e outros lugares. 

A grande diferença é que, nos tradicionais filmes de viagem, as imagens são sempre amplas, abertas, para mostrar as cidades, os pontos turísticos. Em "Tesouro", as cenas são quase sempre feitas em ambientes internos. 


A escolha por filmagens em locais mais fechados é bem acertada, pois remete aos anos 1990. Isso somado a uma fotografia um tanto mais escura e com pouca cor, além dos cenários com móveis, roupas e carros da época. Dá o ar de que realmente estamos na Polônia de décadas atrás. 

O personagem de Edek é mais simpático, mais cativante. Ruth não tem o mesmo humor e isso fica compreensivo ao longo da história. Há o choque cultural de Ruth por não ter crescido na Polônia, principalmente com relação ao idioma. 

Ao contrário do que muitos imaginam, nem todo mundo na Europa fala o inglês. Isso é bem abordado no filme, assim como diferentes hábitos e costumes. 

Outro ponto interessante do longa é o não mostrar cenas de violência nos campos de concentração. Recurso que poderia ter sido utilizado nas lembranças Edek, mas que a direção optou por não empregar. 


A simples referência ao Holocausto já trás ao espectador essas imagens. Semelhante ao que foi feito em “Zona de Interesse” (2013), onde o tema é abordado, mas sem cenas explícitas do massacre dos judeus na Segunda Guerra Mundial. 

"Tesouro" tem momentos cômicos e dramáticos, com bons diálogos e pequenas surpresas. Provocam boas reflexões sobre família, filhos, casamento e outras coisas que dão sentido à vida. É um filme lento e, para muitos, pode até ser cansativo. Mas, no fim, cumpre seu propósito. Não promete muito e conta bem a história que propõe. 

O longa é uma adaptação do livro “Too Many Men”, da escritora australiana Lily Brett. Romance premiado de 1999, inspirado em fatos reais e que, infelizmente, até o momento, ainda não foi lançado no Brasil. Sendo assim, quem quiser conhecer essa história, ir ao cinemas ver "Tesouro" é uma boa pedida. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Julia von Heinz
Distribuição: California Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h51
Classificação: 14 anos
Países: França, Alemanha, EUA, Bélgica, Polônia, Hungria
Gêneros: drama, comédia