Mirtes Helena Scalioni
Houve quem dissesse que "Onde o Mar Descansa"
("Sea Without Shore") é hipnotizante. Pode ser. Mas é preciso dizer, Mas
é preciso dizer, antes de tudo, que se trata de um filme de arte na acepção da
palavra, no sentido mais genuíno que essa expressão possa ter. Ou seja: é um
longa metragem para poucos. Até porque foge de tudo o que convencionalmente se
considera como filme, no qual uma história é contada com imagens, situações,
diálogos.
Houve também quem considerasse "Onde o Mar
Descansa" como "um filme de dança". Pode ser. Afinal, foi
dirigido pela dupla André Semenza e Fernanda Lippi, criadores da Zikzira Teatro
Físico e da Maverick Motion e diretores também do primeiro longa de dança de
que se tem notícia, "As Cinzas de Deus", de 2003. Como se não
bastasse isso - ele cineasta suíço, ela bailarina brasileira - o filme é todo
coreografado e não possui diálogos. O que se ouve são trechos de música
instrumental e ruídos.
A sinopse esclarece: "Onde o Mar Descansa" trata
da interrupção brusca do relacionamento amoroso entre duas mulheres e do
desespero e sentimento de perda que isso provoca na outra. Para completar o
clima, o filme foi rodado na Suécia gelada, entre montanhas de gelo, vegetação
seca e pouca luz. É dor que não acaba nunca. E mais: como não tem diálogos, o
filme é todo entrecortado, quase narrado por uma voz feminina que derrama
recortes de poemas de amor de autores como Katherine Philips, do século XVI, e
de Renée Vivien e Algernon Charles, do final do século XIX. Haja erudição!
Resta falar do trabalho das atrizes/bailarinas Lívia Rangel,
Fernanda Lippi e Anna Mesquita, que não deixam dúvidas de que é sim possível
falar só com o corpo - por mais estranhamento que isso possa provocar nos
espectadores, digamos, mais tradicionais. O filme está em exibição do Cine Belas Artes.
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