10 agosto 2017

Longo e sem enredo, "Transformers - O Último Cavaleiro" deveria ter ficado no trailer estendido

Como nos outros filmes da franquia, efeitos visuais são ponto alto do filme (Fotos: Paramount Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


Michael Bay exagerou na duração, errou no roteiro (ou na falta dele) mas acertou pelo menos nos efeitos visuais de "Transformers - O Último Cavaleiro" ("Transformers: The Last Knight"), que são gigantescos, bem ao estilo do diretor. Mark Wahlberg está fraco, a história não se sustenta, cheia de furos, confusa, com mudanças bruscas e constantes de cenas que chegam a dar tonteira. 

Parece que o diretor quis aproveitar todo o potencial do sistema IMAX de uma vez, por sinal, o ponto alto do filme, e jogou tudo numa panela, Virou um grande mexidão, misturando Rei Arthur, os Cavaleiros da Távola Redonda, mago Merlin e Transformers dragões. O resultado não foi o esperado após a sessão do trailer estendido apresentada em abril deste ano, muito mais interessante que o filme completo.

O resultado não foi dos melhores, personagens dos filmes anteriores, como John Turturro e Josh Duhamel, voltam a participar mas sem expressão e até os robôs, que sempre foram o centro das histórias, ficaram perdidos. Bumblebee monta e desmonta como se fosse um brinquedo da Lego. Optimus Prime muda do bonzinho para o vilão sem que ninguém entenda direito o que foi que aconteceu - se está hipnotizado, se mexeram na caixa de marchas dele ou se é só o efeito do espaço em seu motor. A vilã é bem fraquinha, deveria deixar essa parte para Megatron, que também perdeu seu poder de fogo e convencimento.

Uma jovem de 15 anos, Izabella (Isabela Moner) entra na vida de rebelde de Cade Yeager (Mark Wahlberg), que a trata como filha. Novamente solteiro, está com o coração livre parra a entrada de uma nova não tão mocinha, a pesquisadora Vivian Wembley (Laura Haddock). Difícil foi ver Anthony Hopkins num papel muito aquém de sua capacidade de interpretação, como o herdeiro de um segredo milenar de família envolvendo os primeiros Transformers a chegarem à Terra.

Só para tentar entender: os humanos estão em guerra com os Transformers, que vivem se escondendo das forças militares sob a proteção de Cade Yeager. Eles moram em um ferro-velho desde que Optimus Prime deixou a Terra em busca de seu planeta-natal Cybertron, que foi destruído. Num dos confrontos com humanos, Cade adota Izabella, uma adolescente de 15 anos que luta para proteger um pequeno robô defeituoso.

Na Terra, Megatron volta a ser uma ameaça e prepara um novo retorno com seu grupo de Decepticons, prometendo acabar com humanos e Transformers. Enquanto isso, Optimus Prime descobre que foi responsável por destruir Cybertron e precisa retornar à Terra para recuperar um artefato que pode trazer o planeta de volta à vida.

Achou confuso? Pois fica ainda mais quando você tenta acompanhar a história e as cenas são trocadas freneticamente. Conselho: não sente nas cadeiras da frente no cinema, é enjoo na certa se a versão for 3D. Aí você fala, mas não tem nada de bom em "Transformers - O Último Guerreiro"? Claro que tem. Michael Bay se supera nos efeitos visuais, as lutas são bacanas, Os robôs estão mais bonitos, principalmente Optimus, mas nem isso salva o filme. Acho que vale para quem, como eu, quiser fechar o ciclo da franquia Transformers. Porque depois desta produção, o diretor precisa pensar melhor se deve apostar alto novamente em um novo filme.



Ficha técnica:
Direção: Michael Bay
Produção: Paramount Pictures
Distribuição: Paramount Pictures
Duração: 2h29
Gêneros: Ação / Ficção Científica
País: EUA
Classificação: 12 anos
Nota: 2,5 (0 a 5)

Tags: #TransformersOUltimoCavaleiro #MarkWahlberg #Transformers #LauraHaddock #AnthonyHopkins #Megatron #OptimusPrime, #Bumblebee #Cybertron #MichaelBay #IMAX #EspaçoZ #Cineart #ParamountPictures #CinemanoEscurinho

03 agosto 2017

"Planeta dos Macacos - A Guerra" aposta em primatas, grandes efeitos e fortes emoções

Último filme da trilogia peca apenas na batalha final que deixa muito a desejar (Fotos: Fox Film do Brasil/Divulgação)

Maristela Bretas


Entrei no cinema para uma sessão 3D com a expectativa de assistir o maior conflito entre humanos e macacos desde o filme anterior da saga. Por quase duas horas aguardei a tal batalha que aconteceria a qualquer momento e qual não foi minha surpresa quando pouco antes do final ela finalmente eclodiu. Bem fraca, ao contrário do que propunha o título de "Planeta dos Macacos - A Guerra" ("Planet of the Apes - The War"). No filme anterior, "Planeta dos Macacos - O Confronto" (2014), os combates foram bem mais fortes, frequentes e consistentes.


Mas a guerra é só um detalhe. O que importa é que o terceiro filme da franquia "Planeta dos Macacos" ficou excelente ao explorar as emoções de ambos os lados da disputa e colocar os macacos como o centro da história, preocupados com a preservação de sua espécie, defendendo suas famílias e princípios. Sentimentos como ódio, raiva, perda, vingança, preconceito, amor e orgulho se misturam e tomam conta dos personagens humanos e símios. O diretor Matt Reeves e o roteirista Mark Bombarck souberam usar bem isso, além de o filme apresentar uma fotografia e locações maravilhosas, que enchem os olhos.


O ator britânico Andy Serkis, que esteve no Brasil esta semana fazendo a divulgação de "Planeta dos Macacos - A Guerra" e enlouqueceu os fãs por onde passou, está novamente impecável como Cesar, o líder dos macacos, e reina único e absoluto. É de impressionar a evolução nos efeitos da tecnologia de captura de movimentos. Cesar está quase humano, com um olhar penetrante que transmite claramente os sentimentos que está vivendo a cada momento. Grande atuação de Serkis, que vem melhorando sua atuação desde 2011 quando a franquia foi relançada com "A Origem", seguido por "O Confronto" três anos depois.  Digno de ganhar um Oscar.


Os demais primatas, principalmente Maurice (interpretado pela atriz Karin Konoval), Lake (Sara Canning), Macaco Mau (Steve Zahn), Rocket (Terry Notary) e Luca (Michael Adamthwaite) completam a grande atuação deste filme proporcionada pelos símios. Os sentimentos afloram a todo instante, em demonstrações de fúria, de amor e respeito. Afinal "Apes together strongs" (Macacos unidos fortes) é o lema deles. Macaco Mau, responsável pelos momentos engraçados do filme, parece uma mistura de Dobby (personagem da franquia "Harry Potter") com Gollum (da saga "Senhor dos Anéis") que por sinal foi interpretado por Serkis.


Os humanos tiveram pouco destaque desta vez. Woody Harrelson faz o papel do coronel MC Cullough, um militar meio psicopata, sem piedade, que vê os macacos apenas como inimigos que transmitem o vírus que dizimou a maior parte da população humana. Cheio de paranoias, ele escolhe Cesar como seu principal alvo a ser eliminado. Algumas tomadas feitas de cima mostram a formação do exército do coronel semelhante a uma tropa nazista idolatrando seu líder. Perde em poder no entanto para Cesar, que tem menos armas mas conta com a união e a confiança de seu grupo.


Chama atenção a atuação da linda adolescente Amiah Miller, que ficou conhecida por sua participação no terror "Quando as Luzes se Apagam" (2016). Ela é a doce Nova, que não consegue falar e acaba sendo adotada pelo bando de Cesar. A jovem passa uma imagem convincente de menina abandonada que assimilou bem sua nova família.


"Planeta dos Macacos - A Guerra" dá sequência ao conflito entre humanos e símios, após a extinção de boa parte da população por um vírus transmitido pelos animais. Escondidos na floresta, eles são constantemente caçados e precisam sempre buscar novos esconderijos. Cesar é o líder respeitado e admirado por todos, tem sua família e tenta viver em paz, mas os humanos não vão permitir isso, principalmente o coronel. 



Uma tragédia faz Cesar abandonar o grupo e inverter os papéis, elegendo o chefe do exército humano seu objetivo de vingança e colocando a própria vida em perigo. Os amigos mais fiéis, como Maurice, Rocket e Luca, vão tentar evitar que ele vá até o fim em seu propósito. Durante a jornada, o grupo ganhará aliados importantes - Nova e Macaco Mau - que vão mudar a vida de todos.



A trilogia "Planeta dos Macacos" é bem concluída neste último filme ao reunir com precisão belas imagens, boa trilha sonora, ótimas interpretações e tecnologia sofisticada empregada de maneira correta, completando o ótimo roteiro. Os efeitos visuais não aparecem mais que a história, como acontece com muitos blockbusters de ação. Merece ser visto pela ação e pela abordagem que apresenta.



Ficha técnica:
Direção: Matt Reeves
Produção: 20th Century Fox / Chernin Entertainment (CE)
Distribuição: Fox Film do Brasil
Duração: 2h20 
Gêneros: Ficção científica / Ação 
País: EUA  
Classificação: 14 anos 
Nota: 4,7 (0 a 5)

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29 julho 2017

"Carros 3" e a hora de dizer adeus as pistas

Relâmpago McQueen vai viver sua maior aventura na disputa contra seu maior inimigo (Fotos: Walt Disney Studios / Divulgação)

Maristela Bretas


Um personagem que conquistou o público dos 8 aos 80. Chegou arrogante, cheio de "marra", se achando o melhor de todos. Aprendeu com muitos sustos e a orientação do ídolo Doc Hudson que a pista da vida ainda tinha muito a ensinar a ele. Foi parar em outros países para descobrir que o maior prêmio era ter seu grande e enferrujado amigo Tom Mate (voz de Larry The Cable Guy) sempre ao lado. Agora, Relâmpago McQueen (na voz original de Owen Wilson) volta em "Carros 3" ("Cars 3") para uma nova aventura que vai mudar sua vida por completo. E talvez afastá-lo do que mais gosta de fazer - correr.


Tudo começa numa corrida - e elas são mais frequentes que nos anteriores, como um reforço para explicar diversas situações do passado e do presente do carrinho. Relâmpago e seus concorrentes de pistas já são amigos, apesar da rivalidade. Mas a idade e o surgimento nas pistas de novos pilotos, usando o que há de mais sofisticado em tecnologia, começa a desequilibrar as disputas, fazendo com que muitos saiam durante a Copa Pistão.


McQueen não se conforma, nem mesmo quando um novo corredor, o possante Jackson Storm (voz de Armie Hammer) se torna estrela das pistas e ameaça sua hegemonia. Somente uma tragédia vai fazê-lo reavaliar sua vida e a forma de correr. É nessa hora que entra em cena Cruz Ramirez (dublagem em português de Giovana Ewbank)  a treinadora de McQueen contratada pelo novo patrocinador. Como acontece em todas as animações da Disney/Pixar, ela é a responsável pelas mensagens, que desta vez são motivacionais, como se estivesse dando uma palestra de Recursos Humanos.


Mesmo com visões diferentes de pista, nosso amiguinho laranja número 95 e Ramirez vão viver grandes aventuras e contar com a ajuda dos velhos amigos de Radiator Springs. O time ficará completo com a participação de veteranos que vão ensinar que o bom piloto é aquele que pensa e corre com o coração.



"Carros 3" tem uma história que emociona, reforça valores como amizade e respeito. E são eles que vão ajudar Relâmpago a decidir se vai retornar às pistas ou se contentar em ser apenas um Corvette aposentado nos boxes. A nova animação Disney/Pixar é muito bacana, ideal para a família, é divertida, principalmente quando Mate entra em cena e provoca boas gargalhadas. Também os efeitos visuais das corridas e pistas tornam as cenas quase reais. Merece ser vista.


Ficha técnica:
Direção: Brian Fee
Produção: Pixar Animation Studios / Walt Disney Pictures
Distribuição: Disney / Buena Vista
Duração: 1h49
Gêneros: Aventura /Animação / Fantasia
País: EUA
Classificação: Livre
Nota: 4 (0 a 5)

Tags: #Carros3 #Cars3 #Pixar #WaltDisneyStudios #corrida #DisneyBuenaVista #RelampagoMcQueen #JacksonStorm #OwenWilson #CruzRamirez #GiovanaEwbank #Cineart  #CinemanoEscurinho

28 julho 2017

"Dunkirk", um filme de guerra grandioso e excepcional do início ao fim

Cenas de resgate dos soldados no mar durante os ataques impressionam pela qualidade dos efeitos visuais (Fotos: Warner Bros. Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


O roteiro é perfeito, uma direção impecável, uma fotografia que explora todos os ângulos das belas locações e efeitos visuais que fazem os cabelos do braço arrepiar. "Dunkirk" é tudo isso e ainda conta com direção, roteiro e produção do grande Christopher Nolan, num de seus melhores trabalhos. Responsável por sucessos como "Interestelar", "A Origem" e "Batman, o Cavaleiro das Trevas", o diretor usou e abusou do que havia de melhor em tecnologia e pessoal para contar nesta grandiosa produção uma história real passada na 2ª Guerra Mundial, quando quase 400 mil soldados ingleses e aliados ficaram cercados por tropas inimigas e foram salvos por civis.

A história se passa em 1940, na praia de Dunquerque (em inglês, Dunkirk), localizada no lado francês do Canal da Mancha, e mostra batalhas aéreas, em terra e no mar. Os heróis são pessoas comuns e jovens soldados e, em momento algum, o inimigo tem um rosto, todos são vítimas de uma guerra sangrenta. Jovens despreparados tentando voltar vivos para casa, aguardando o socorro chegar pelo mar, enfileirados  no píer da praia sem qualquer proteção. A cada tentativa de resgate, um ataque arrasador do inimigo só aumenta a angústia e o número de corpos na areia e nas águas.

Comandantes e soldados tentam sobreviver, mesmo que isso custe deixar outros para trás. O roteiro se preocupa em mostrar o ser humano envolvido no conflito, o soldado que não quer ou não pode desistir, a frieza com relação à morte e os traumas que a guerra deixa em cada um. Grandiosidade nas cenas sem esquecer que as pessoas são o principal da história.


"Dunkirk" é um filme que segue uma cronologia a partir dos pontos de vista de diversos personagens. Um ataque aéreo, por exemplo, é mostrado de diversos ângulos, de uma forma incrivelmente realista, sem seguir uma linha de tempo linear. A cena pode ser vista de dentro do cockpit do avião, ou acompanhada pelos ocupantes de um dos barcos de resgate, ou pelos soldados que estão na praia. No início, o espectador pode ficar um pouco confuso com esta forma escolhida para narrar os fatos, mas o roteiro foi muito bem amarrado por Nolan.


Para dar maior realismo, o diretor combinou a sofisticada tecnologia IMAX e filme 65mm, obtendo um resultado é excepcional. Fica difícil dizer quais cenas chamam mais atenção, as de combates aéreos ou os ataques aos navios e aos soldados no píer. "Dunkirk" é uma produção que vale a pena pagar mais caro o ingresso para assistir no formato IMAX. Confira este vídeo especial mostrando como foram as filmagens usando estas câmeras especiais:


E o realismo da produção surpreendeu até mesmo atores tarimbados como Mark Rylance, ganhador do Oscar em 2015 por  "A Ponte dos Espiões", e Kenneth Branagh, que tiveram a oportunidade de ver aviões de caça como o Supermarine Spitfire, da 2ª Guerra Mundial, no ar, em plena ação. Além deles, estão entre os conhecidos Tom Hardy e Cillian Murphy. O elenco jovem não fica em nada a dever para os veteranos.

Destaque para o estreante Fionn Whitehead, no papel do soldado inglês Tommy, que conduz a história. De olhar expressivo, consegue passar para o espectador o desespero dos jovens soldados como ele em voltar vivos para casa.  Também com boas atuações os atores britânicos Jack Lowden, Harry Styles, Aneurin Barnard e James d´Arcy como militares ingleses, além do irlandês Barry Keoghan.

"Dunkirk" conta a história da Batalha de Dunquerque durante a 2ª Guerra Mundial que durou dez dias, quando quase 400 mil soldados ingleses e aliados ficaram encurralados na praia pelos alemães, com o mar em suas costas. Enquanto aguardavam o resgate pela Marinha,  aviões de combate da Força Aérea Real Britânica tentavam proteger os navios e os soldados indefesos na praia dos ataques do inimigo. Sem poder contar com a frota inglesa no socorro, moradores ingleses se unem e saem em pequenas embarcações para uma desesperada ação de resgate, na tentativa de salvar o maior número possível de militares.

Tenso, envolvente do início ao fim e com uma ótima trilha sonora, "Dunkirk" é imperdível, um dos melhores filmes de guerra da última safra. Merece ser um dos indicados na disputa por várias categorias do Oscar 2018. Filmado em locações na França, Holanda, Reino Unido e Los Angeles, está em exibição em diversos cinemas da cidade nos formatos 2D e IMAX, nas versões dublada e legendada.



Ficha técnica:
Direção roteiro e produção: Christopher Nolan
Produção: Syncopy / Warner Bros. Pictures
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Duração: 1h47
Gêneros: Guerra / Histórico / Drama
Países: EUA / França / Reino Unido / Holanda
Classificação: 14 anos
Nota: 5 (0 a 5)

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26 julho 2017

"De Canção em Canção" explora a alma humana com música e drama

Trama reúne Ryan Gosling e Rooney Mara como compositores e Michael Fassbender como o produtor musical da dupla (Fotos: Metropolitan FilmExport /Divulgação)

Jean Piter


Terrence Malick tem fama de fazer filmes sem sentido, meio loucos, e um tanto cansativos, monótonos. Do tipo que você vê, quando acha que está entendendo algo, muda tudo e parece que volta à estaca zero. Como “Arvore da Vida” (2011) e “Cavaleiro de Copas” (2015). Música instrumental quase constante, ângulos incomuns de enquadramento de filmagem, câmeras em movimento, cortes bruscos, frases soltas, diálogos curtos, e atemporalidade. Personagens que não chegam a serem apresentados, crises existenciais, filosofia, sentimentos, caos, calmaria, silêncio e banalidades. São muitos os ingredientes das obras complexas do diretor norte-americano. Mas há quem ame (e muito) esse formato tão singular de produção.

Toda essa peculiaridade pode ser vista no novo longa de Malick, “De Canção em Canção” ("Song to Song"), em exibição nos cinemas. O filme se passa em Austin, capital do Estado norte-americano do Texas. A trama traz os compositores BV (Ryan Gosling) e Faye (Rooney Mara) buscando um lugar ao sol. Quem abre as portas desse mundo para eles é Cook (Michael Fassbender), um magnata da música, o cara dos bastidores que faz as coisas acontecerem, que dá brilho às estrelas. Os três desenvolvem uma relação profissional e de amizade ao mesmo tempo, mas os conflitos chegam uma hora ou outra. Ainda mais quando a garçonete Rhonda (Natalie Portman) entra na história.

Estética

Assim como nas outras obras de Malick, "De Canção em Canção" tem diálogos incompletos, alguns bem despretensiosos. Expressões provocativas que, sozinhas, podem se tornar frases de efeito, como “qualquer experiência é melhor que nenhuma”. A câmera acompanhando o andar dos personagens, às vezes pelas costas, por outras de lado. A mudança constante de cenários, em cenas curtas. A música que começa em um instante e segue nos minutos seguintes, provocando um estranhamento, já que nem sempre se encaixam no ritmo dos acontecimentos. Há uma linha cronológica em andamento e, ainda sim, futuro e passado atravessam a narrativa sem o menor aviso prévio.

E nisso vem a relação de família, a amizade, e as paixões. O trabalho, a aceitação, a lealdade, o amor e as promessas. Loucuras, luxúria, ostentação e confissões contidas em pensamentos que a pessoa só diz a si mesma. Há questionamentos, arrependimento, dor, brincadeira de criança, decepção e vida que segue. É como se Malick tentasse traduzir toda complexidade da alma em imagens. Imagens que estão ali, tão nítidas, e que ainda assim a gente não consegue compreender. Como uma bela pintura expressionista, ou uma carta escrita em sumério. Há apenas uma sensação de encantamento, rara e difícil de descrever.

Atuações

Gosling é músico na vida real e se sente muito à vontade no filme. Rooney fala em silêncio, só com olhares e sorrisos. Os dois sobressaem, principalmente quando contracenam. Fassbender faz mais uma grande atuação de sua carreira. Natalie Portman aparece menos, mas não passa despercebida. Atua com precisão. O longa ainda se dá ao luxo de ter Cate Blanchett, Holly Hunter, Val Kilmer e a belíssima Bérénice Marlohe como coadjuvantes. Os músicos Patti Smith, Iggy Pop e Lykke Li também estão no elenco, assim como a banda Red Hot Chili Peppers e Johnny Rotten, vocalista do Sex Pistols, o que traz bastante realismo para a ambientação. E pra fazer jus ao título, a trilha sonora é muito bem acertada.

Sim ou não

O lado negativo do longa é a duração. Duas horas deixam a história entediante. Dá a impressão de que muita coisa poderia ficar de fora. Isso acontece em todo filme de Malick, é quase uma marca registrada. O ponto alto fica por conta da fotografia. Imagens com pouca cor, raios de sol bem capturados, em cenários lindíssimos. Mostra a beleza da cidade de Austin como nunca vista antes no cinema: casas luxuosas, cursos d’água, luzes, arranha-céus, e muita gente bonita. Há também passagens pelo México, não menos impressionantes. A soma de tudo isso é como um drink de Campari: lindo de se ver, difícil de descer. Ou você adora ou você odeia. Eu amei.



Ficha técnica:
Direção: Terrence Malick
Produção: FilmNation Entertainment / Waypoint Entertainment
Distribuição: Supo Mungam Films
Duração: 2h09
Gêneros: Drama / Romance / Musical
País: EUA
Classificação: 14 anos
Nota: 4 (0 a 5)

Tags: #DeCancaoemCancao, #SongtoSong ,#TerrenceMalick, #RyanGosling #RooneyMara, #NataliePortman, #MichaelFassbender, #CateBlanchett, #ValKilmer, #BéréniceMarlohe, #RedHotChiliPeppers  #SexPistols #drama, #romance, #musical, #SupoMungamFilms, #CinemanoEscurinho

25 julho 2017

Carregado de nonsense, "Perdidos em Paris" leva o público às gargalhadas com um humor ingênuo e terno

Comédia franco-belga pode ser conferida no Belas Artes e no Net Cineart Ponteio (Fotos: Potemkine Films/Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni


Mesmo que pareça um pouco fora de moda, vale a pena ver "Perdidos em Paris" ("Paris Pieds Nus"), nem que seja para relembrar e homenagear um tempo de mais romances e maior leveza. Quase nada no filme tem a ver com a realidade e talvez resida aí seu encanto. Para completar, o longa escancara uma Paris - linda, como sempre - florida, iluminada e cheia de charme. Precisa mais?


Uma série de coincidências - nem todas racionalmente aceitáveis - provoca o encontro, em Paris, de Fiona (Fiona Gordon) e Dom (Dominique Abel). Ela é uma jovem meio tonta, que deixa uma estação glacial no Canadá, onde trabalha, para tentar socorrer uma velha tia que lhe escreve da Europa, pedindo socorro, pois querem levá-la para um asilo. Ele, um vagabundo morador de rua que vive de pequenos golpes. A partir daí, as estripulias se multiplicam em dezenas de tropeções, tombos e desencontros e o espectador vai aceitando, devagar, que está diante de um filme de palhaços - no melhor sentido que essa expressão possa ter.


Desengonçados, feios e trapalhões, Fiona e Dom - que são Fiona Gordon e Dominique Abel, diretores, roteiristas e produtores do longa - levam o público a altas gargalhadas. Se, no início, há um estranhamento pelo excesso de nonsense, aos poucos o espectador entra no ritmo do humor ingênuo que, em muitos momentos, lembra Charles Chaplin ou Jerry Lewis. Nesse quesito, é impagável a cena da caixa de som no barco restaurante, cuja retumbância coloca em uníssono os movimentos dos clientes nas mesas.


Impagável também é a cena da dança, com a câmara focalizando apenas os pés de Martha e Norman, ambos interpretados por artistas veteranos do cinema francês. Ela, para quem não se lembra, é a excepcional Emmanuelle Riva, que viveu Anne, protagonista de "L'Amour", papel pelo qual foi indicada ao Oscar em 2013. Riva morreu em janeiro deste ano. Ele é Pierre Richard, comediante muito conhecido na França.


Nesses tempos duros de violência e conflitos, um pouco de ingenuidade faz bem à mente e ao fígado. O público agradece e aplaude. Cinema do bem. Classificação: 12 anos



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16 julho 2017

"Meu Malvado Favorito 3" mostra a força da família e os Minions ainda melhores

Gru ganha um irmão gêmeo e enfrenta seu pior inimigo nesta nova aventura (Fotos: Universal Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas

Eles já haviam provado, desde o primeiro filme, que seriam a atração especial da franquia. E não poderia ser diferente em "Meu Malvado Favorito 3" ("Despicable Me 3"), o quarto filme com os bonequinhos amarelinhos de macacão azul que adoram banana e falam uma língua incompreensível que todo mundo entende. A história é sobre Gru e seu irmão gêmeo Dru, mas os Minions (cujas vozes são novamente do diretor Pierre Coffin) fazem a grande diversão da nova animação. E são temidos até por grandes vilões.


"Meu Malvado Favorito 3" é muito divertido e novamente explora a relação de família. No primeiro, Gru, o maior vilão de todos os tempos, se rende a três lindas órfãs Edith, Agnes e Margo e deixa a vilania. No segundo, já mais caseiro, cuidando das filhas, ele se rende ao amor ao conhecer Lucy e ainda conta com um empurrãozinho das filhas. Mas a vilania não saiu do sangue do maior dos malvados e até seus fiéis ajudantes, os Minions, sentem falta do antigo patrão e fazem de tudo para que ele pratique alguma maldade. 



A notícia da existência de um irmão gêmeo pode mudar toda a vida de Gru e trazer de volta a alegria aos bonequinhos amarelos que não aguentam mais a vidinha pacata e sem graça do chefe. E são as cenas com os Minions as mais engraçadas, principalmente quando resolvem conversar em seu idioma "diferente" e partem para uma nova vida, longe da família e cheia de aventuras e até prisões.


A relação de família está presente durante toda a animação, desde o momento, tanto na união de Gru (dublado por Leandro Hassum) com os Minions quanto na ligação dele com o irmão recém-descoberto e com Lucy (dublada por Maria clara Gueiros) e as crianças. O tema é bem explorado pelos diretores, dando a dimensão esperada para cada situação. Agnes continua sendo a mais fofinha de todas e encanta com seu olhar apaixonante e sua obsessão por unicórnios.


A experiente agente secreta Lucy, agora esposa de Gru, quer se tornar uma mãe verdadeira e tenta de todas as formas conquistar as crianças. Ao contrário do irmão, Dru (também dublado por Hassum) é a imagem do sucesso - farta cabeleira loura, rico e adorado por todos, o que chega a despertar inveja em Gru. Para Dru, o irmão é seu modelo de vilão, como era o pai, e quer que Gru lhe ensine a ser do mal.


Além da questão de família é muito bem explorada no enredo, a escolha do inimigo não fica para trás. Balthazar Bratt (principalmente na dublagem de Evandro Mesquita) é um vilão que não evolui no tempo, tanto nas roupas quanto na música dos anos 80, que ele usa como trilha sonora em cada aparição ou luta. Ele nunca aceitou o fim do seriado com seu personagem Evil Bratt e para se vingar entrou para o mundo do crime. Gru, agora do bem, é seu maior alvo. Em sua primeira aparição anos depois, Gru e Lucy são chamados para capturar Bratt, mas acabam demitidos por deixá-lo escapar.


"Meu Malvado Favorito 3" é uma grande aventura, com momentos "fofiiiiiiiiinhos" e divertidos que garantem boas gargalhadas, muitas sacanagens dos Minions e mensagens bacanas da família Gru. Merece ser visto e curtido. Recomendo para toda a família e todas as idades.



Ficha técnica:
Direção: Pierre Coffin / Kyle Balda
Produção: Illumination Entertainment 
Distribuição: Universal Pictures
Duração: 1h30
Gêneros: Aventura /Animação / Comédia
País: EUA
Classificação: Livre
Nota: 4 (0 a 5)

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09 julho 2017

O Homem-Aranha que os fãs dos quadrinhos estavam esperando

Tom Holland foi a escolha acertada para o papel do mais novo super-herói a integrar o universo cinematográfico da Marvel (Fotos: Sony Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


Para quem pretende assistir "Homem-Aranha: De Volta ao Lar" ("Spider-Man: Homecoming") o primeiro conselho é: esqueça o personagem das versões passadas com Tobey Maguire e Andrew Garfield. Não espere rever a história da morte do tio Ben, a picada que transformou Peter Parker no cabeça de teia ou mesmo uma tia May idosa que faz bolinhos para o sobrinho. A reviravolta foi quase total. Só uma coisa não muda: os vilões continuam sendo pessoas próximas com histórias que justificam seus atos.


O Universo Marvel, em parceria com a Sony Pictures, traz para o mundo cinematográfico um super-herói totalmente diferente, como os fãs esperavam desde os quadrinhos. O Homem-Aranha desta vez é um estudante que se prepara para formar no Ensino Médio, com 17 anos, cheio de vitalidade, aprendendo a usar seus poderes de aranha e que teve seu primeiro e famoso contato com os Vingadores - até roubou o escudo do Capitão América em "Guerra Civil". Agora, ele só pensa em capturar bandidos e realizar mais missões ao lado de seus ídolos. Só que no dia a dia, Peter Parker precisa dividir seu tempo com as tarefas da escola e o amor platônico pela amiga de sala.

E a escolha de Tom Holland para interpretar esse jovem não poderia ser mais acertada. O ator, de 20 anos, está excelente, tem simpatia, carisma, bom humor e seu jeito de super-herói iniciante faz sucesso com o público dos 8 aos 80 anos. Ele casou perfeitamente com o personagem do "amigo da vizinhança". Não tem a beleza e o porte físico (de tirar o fôlego) do Thor e do Capitão América, a força descomunal do Hulk ou a presença sempre marcante e essencial do Homem de Ferro. Ou melhor, Robert Downey Jr, com seu humor ácido.

Mas foi só aparecer por alguns minutos em "Capitão América: Guerra Civil" para ganhar as graças do público e marcar a entrada do personagem no Universo Marvel. E é a partir desta participação que começa a história do novo Homem-Aranha, já com poderes e achando que está pronto para a luta. Cabe a Tony Stark guiá-lo e colocar um freio em tanta empolgação, exigindo que o jovem estude, se prepare primeiro e continue apenas como o amigo mascarado do bairro para depois se tornar um Vingador. 

Se Holland e Downey Jr. formam uma dupla que funciona e agrada, principalmente nos diálogos e na parceria de combate ao crime, Michael Keaton está ótimo como o vilão Abutre, um homem comum que se revolta com todo o estrago que os Vingadores fizeram em sua cidade, mas ao mesmo tempo vive dos escombros desta batalha. 

Marisa Tomei cumpre bem o papel da tia May, muito mais jovem e descolada, mas que também não sabe, como suas antecessoras, dos poderes aracnídeos do sobrinho. Jon Favreau volta a viver o agente Happy Hogan que tem de bancar a babá do jovem Homem-Aranha. No elenco de apoio outro que se destaca é Jacob Batalon, que faz o papel de Ned Leeds, o amigo nerd de Parker. O jovem garante os momentos mais divertidos de "Homem-Aranha", com suas trapalhadas e a idolatria pelo super-herói e os Vingadores. Muito bem também Tony Revolori, como o aluno  riquinho Flash Thompson que está sempre humilhando os colegas.

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"Homem-Aranha: De Volta ao Lar" também se destaca pela fotografia e os ótimos efeitos visuais, principalmente nas batalhas contra o Abutre e na cena do navio se partindo. Tudo funciona bem e já indica uma continuação, além da participação do nosso amigo Homem-Aranha nas produções dos Vingadores. Se alguém achou que Tom Holland era jovem demais para  o papel, essa dúvida deixa de existir ao assistir o filme dirigido por Jon Watts

O diretor se preocupou mais em mostrar o Peter Parker jovem, fazendo coisas da idade, como o vlog de sua participação na luta com os Vingadores e ao lado de Tony Stark. Ao mesmo tempo, o novo super-herói fica frustrado por ter de esconder sua identidade secreta das pessoas mais próximas, como a tia May e Liz Allan (Laura Harrier) por quem é apaixonado.

Chama atenção também a participação da atriz Jennifer Connelly, que empresta sua bela voz a Karen, o programa que ensina o Homem-Aranha a usar os dispositivos instalados em sua roupa. Enfim, são poucos os pontos negativos, que passam batido. "Homem-Aranha: De Volta ao Lar" é imperdível, um dos melhores filmes de super-heróis da Marvel dos últimos tempos. É leve, divertido e forte concorrente de "Mulher Maravilha" na disputa pela liderança das bilheterias mundiais.



Ficha técnica:
Direção e roteiro: Jon Watts
Produção: Marvel Studios / Sony Pictures
Distribuição: Sony Pìctures
Duração: 2h13
Gêneros: Ação / Aventura
País: EUA
Classificação: 12 anos
Nota: 4,4 (0 a 5)

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