09 fevereiro 2018

Nostálgico e encantador: "Lady Bird – A Hora de Voar" tem tudo pra surpreender no Oscar

Diretora Greta Gerwig aposta na simplicidade e faz o expectador adulto se lembrar dos tempos de escola (Fotos:Universal Pictures/Divulgação)

Jean Piter Miranda


Um filme que faz a gente ter saudades da adolescência. Esse é "“Lady Bird – A Hora de Voar". O filme conta a história da jovem Christine McPherson (Saiorse Ronan), uma estudante do último ano do ensino médio que mora em Sacramento, na Califórnia. Aos 17 anos, ela vive seus conflitos com a família, a escola, os amigos, namorados, e os planos para a vida adulta que batem à porta.

Christine é uma jovem rebelde, que se deu o nome de "Lady Bird". É como gosta de ser chamada. Ela não se dá bem com a mãe, Marion, (Laurie Metcalf) e não é por falta de amor. Elas se amam, só não se entendem. Algo comum em muitas famílias. E, como em muitos lares, a menina é a preferida do pai, Larry (Tracy Letts), com quem as coisas são bem diferentes. Com o irmão Miguel (Jordan Rodrigues), a mocinha também não bate muito.


O principal ponto de discordância na família é o futuro de Christine. A história se passa em 2002, uma época de crise nos Estados Unidos. A mãe faz dupla jornada num hospital para tentar compensar o fato de o marido estar desempregado. Isso tudo dificulta em muito o sonho da mocinha ir para a faculdade. Sem contar que ela não é das melhores alunas, o que também deixa longe a possibilidade de conseguir uma bolsa de estudos.

Pra deixar tudo ainda mais complicado, "Lady Bird" não gosta da cidade onde vive. Ela quer se mudar para uma metrópole. Tem também os conflitos com as novas amizades, o baile de formatura, os amores... Tudo muito americano, mas ao mesmo tempo muito cativante. Um filme muito bem feito, bem construído, despretensioso e ao mesmo tempo genial. A jovem diretora Greta Gerwig tinha tudo para apostar em alguns clichês para não correr riscos, mas optou pela simplicidade e pela originalidade. E o resultado foi ótimo!


Ver "Lady Bird" faz o expectador adulto se lembrar dos tempos de escola. A imaturidade, as descobertas, o primeiro cigarro, o primeiro porre, a primeira transa, as brigas com os amigos, as decepções, os professores preferidos, a preguiça de estudar, as festinhas e tantas outras coisas. É uma barra pra quem tá crescendo. É um rito de passagem pra vida adulta. E quando já estamos grandes, meio que olhamos pra tudo isso com um ar de nostalgia. É o um filme que a gente vê com um meio sorriso no rosto, do início ao fim.

Oscar e outras premiações

Saiorse Ronan e Laurie Metcalf fazem atuações brilhantes. Ambas foram indicadas para os prêmios de Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante, respectivamente. Saiorse já havia sido indicada em 2016, pelo papel no ótimo filme "Brooklin". Ela parece estar cada dia melhor e faz agora, em "Lady Bird", o melhor trabalho de sua carreira. Concorre com ninguém menos que a gigante Meryl Streep ("The Post – A Guerra Secreta"). Mas, Saiorse tem tudo pra vencer e se levar, o prêmio estará em boas mãos.

"Lady Bird" também concorre nas categorias Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro Original. São cinco indicações no total, nas principais e mais importantes categorias do Oscar. O longa recebeu 76 prêmios, entre eles o Globo de Ouro de Melhor Filme Comédia ou Musical e Melhor Atriz Coadjuvante Comédia ou Musical. Outra curiosidade: o ator franco-americano Timothée Chalamet está presente em outro candidato ao Oscar, o belo "Me Chame Pelo Seu Nome".



Ficha técnica:
Direção: Greta Gerwig
Produção: IAC Films
Distribuição: Universal Pictures Brasil
Duração: 1h34
Gêneros: Drama / Comédia
País: EUA
Classificação: 16 anos
Nota: 5,0 (0 a 5)

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06 fevereiro 2018

"O Que Te Faz Mais Forte" é uma história de superação no estilo norte-americano


Jake Gyllenhaal e Tatiana Maslany vivem o casal Jeff e Erin que precisa superar um grande trauma que mudou suas vidas (Fotos: Divulgação)

Maristela Bretas


Jake Gyllenhaal estrela a produção "O Que Te Faz Mais Forte" ("Stronger"), uma história da superação do trabalhador Jeff Bauman, de 27 anos, que estava na Maratona de Boston, em 2013 para tentar recuperar sua ex-namorada Erin (Tatiana Maslany), participante da prova. Esperando por ela na linha de chegada, ele é atingido pela explosão de uma das bombas do atentado que deixou três mortos e mais de 260 feridos durante o evento, e perde as duas pernas. 

Depois de recuperar a consciência no hospital, Jeff pode ajudar o FBI a identificar um dos criminosos, mas sua própria batalha acaba de começar. Trata-se de um relato pessoal de Jeff sobre sua jornada de recuperação, sofrendo a forte influência da família, principalmente da mãe alcoólatra e fumante inveterada (a candidata ao Oscar, Miranda Richardson, muito bem no papel). E a tentativa de acertar seu relacionamento com Erin, que não o abandona depois da tragédia.

Poderia ser um filme de chorar com tanto drama, mas não é o que acontece. Trata-se de um relato frio, mas real, com excesso de exaltação ao nacionalismo norte-americano, transformando Jeff de vítima em herói da cidade, mesmo ele não querendo e não aceitando isso. Jake Gyllenhaal está excelente no papel, mesclando momentos de total apatia sobre o que se passa ao seu redor e fúria incontida por sua condição de deficiente. O lado psicológico está destruído pelos momentos de terror vividos após a explosão e ele tendo que participar de eventos com direito a bandeira e platéia em estádios.


Também Tatiana Maslany entrega uma boa interpretação da namorada sensata que vê o estado de Jeff como algo a ser tratado e não explorado pela mídia, ao contrário dos familiares destemperados que tentam tirar o máximo de proveito da situação, a começar pela mãe, que a vê como uma escolha ruim do filho.

Cheio de emoção crua, humanidade de alguns personagens e patriotismo exacerbado, "O Que Te Faz Mais Forte" é a história inspiradora da vida real do homem que se tornou personagem vivo do movimento "Boston Strong", que reergueu o moral e uniu a população  de uma cidade e do país após o atentado da Maratona. Para quem gosta do gênero, vale conferir.




Ficha técnica:
Direção: David Gordon Green
Produção: Lionsgate / Bond Films
Distribuição: Paris Filmes
Duração: 1h59
Gêneros: Drama / Biografia
País: EUA
Classificação: 14 anos
Nota: 3 (0 a 5)

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02 fevereiro 2018

Christopher Plummer prova que foi o melhor substituto para "Todo o Dinheiro do Mundo"

História conta o sequestro do neto do  maior bilionário dos anos 70 que se recusou a pagar o resgate (Fotos: Divulgação)

Maristela Bretas


Passados quase 45 anos, o diretor Ridley Scott reconta uma história que em 1973 movimentou os noticiários norte-americanos e internacionais: o sequestro de um dos netos do homem mais rico do mundo, que se negou pagar o resgate exigido. Se a história de "Todo o Dinheiro do Mundo" ("All The Money In The World") já não é tão impactante quanto foi à época, pelo menos os escândalos de assédio sexual de Kevin Spacey anunciados durante as filmagens que provocaram a sua troca por Christopher Plummer vão atrair público e indicações a prêmios. Como aconteceu com a indicação a Melhor Ator Coadjuvante no Globo de Ouro deste ano.

Excelente, como sempre, no papel do bilionário John Paul Getty. Christopher Plummer dá um banho de interpretação como o homem mais rico e sovina do mundo, que mantém família (e seus problemas) à distância; E que se recusa a pagar o resgate do neto que leva seu nome, John Paul Getty III, sequestrado na Itália em 1973 aos 16 anos. O diretor Ridley Scott precisou praticamente refazer o filme, uma vez que o papel era de Spacey trocado por causa das denúncias. E Plummer mostrou o grande ator que sempre foi, dominando as cenas cada vez que aparecia.


Por coincidência e nada de parentesco, o outro papel de destaque na história foi entregue a Charlie Plummer, o jovem ator que interpreta John Paul Getty III, o sequestrado. Não é nada excepcional, mas o ator dá conta do recado. Também no elenco estão Michelle Williams, no papel de Gail Harris, mãe de J. Paul Getty III, divorciada e que cria o filho sozinha.

Mark Wahlberg não está ruim, mas apenas completa o elenco, sem destaque, como Fletcher Chase, homem de confiança e segurança do magnata do petróleo. Papel que poderia ter sido feito por qualquer ator menos conhecido de Hollywood ou que Wahlberg talvez não tenha sabido aproveitar para mostrar que pode fazer mais que apenas o "bombadão" de blockbusters como "Transformers: A Era da Extinção" (2014) e "Transformers: O Último Cavaleiro" (2017).


A história se passa em 1973 na Itália, onde John Paul Getty III vive com a mãe, separada do pai dele, filho do bilionário. Considerado um jovem problemático, sem freio e vivendo uma vida desregrada, , ninguém dá atenção quando ele desaparece. Dois dias depois, a mãe Gail recebe um telefonema de que ele havia sido sequestrado e o pedido de resgate de US$ 500 mil. Ninguém acredita, uma vez que o jovem era herdeiro do homem mais rico do mundo.

Dias depois os sequestradores mudam de ideia e aumentam o valor para US$ 3 milhões. Gail pede ajuda ao octogenário patriarca da família que se recusa com um comunicado: "Tenho 14 netos, se pagar resgate, terei 14 netos sequestrados". Frio, manipulador e mesquinho, Getty irá encarregar o ex-espião Fletcher Chase, seu homem de confiança, de descobrir quem e o que está por trás do crime, solucionando o problema sem o desperdício de nenhum centavo de sua fortuna.

Após cinco meses em cativeiro, os sequestradores se cansam da história e enviam uma parte da orelha e cachos dos cabelos ruivos de Getty III à imprensa. O avô decide pagar parte do sequestro com seu dinheiro e empresta o restante ao filho, pai do jovem, cobrando juros, para que pague o restante. O jovem é devolvido à família.

Boa ambientação de época, boas locações, principalmente na Itália, "Todo o Dinheiro do Mundo" vale por Christopher Plummer e pela direção de Ridley Scott, além de contar uma história que aqueles que tem menos de 60 anos desconhecem e que marcou de tragédias a trajetória de toda uma família até os dias de hoje, a começar por Getty III.



Ficha técnica
Direção: Ridley Scott
Produção: STX International / Imperative Entertainment / Scott Free / TriStar Pictures
Distribuição: Diamond Films
Gêneros: Suspense / Drama
País: EUA
Classificação:16 anos
Nota: 3,5 (0 a 5)

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28 janeiro 2018

"Me Chame Pelo Seu Nome" é essencialmente belo


O Norte da Itália foi o cenário escolhido para o romance arrebatador entre Timothée Chalamet e Armie Hammer (Fotos: Sony Pictures/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Se fosse possível reduzir "Me Chame Pelo Seu Nome" em uma única palavra, bem que essa palavra poderia ser naturalidade. Muito já se falou que não se trata aqui de "mais um filme de trama gay" e essa é a mais pura verdade. E talvez o que o diferencie de outros longas, nos quais personagens vivem romances homoafetivos, seja exatamente a forma absolutamente espontânea e natural como as coisas acontecem. Um menino de 17 anos vive uma paixão por um jovem, de seus 24, 25 anos, mas poderia vivê-la por uma mulher de sua idade ou mais velha. Não há questionamentos. Não é isso que está em pauta.

Outra palavra que também poderia definir o filme dirigido por Luca Guadagnino é beleza. Como a história se passa no Norte da Itália, as paisagens insistentemente exploradas são deslumbrantes. Muito verde, muitos lagos. Tudo, aliás, é esteticamente perfeito. A casa de verão onde passam temporada o adolescente Elio (Timothée Chalamet) e seus pais - vividos por Michael Stuhlbarg e Amira Casar -, as meninas com as quais ele passeia, as comidas, as visitas constantes que o casal recebe, os temas das conversas sempre voltados para a arte e a literatura, tudo remete à perfeição, ao encaixe, ao equilíbrio.

Enquanto curte passeios e uma certa preguiça num daqueles verões da década de 1980, Elio se sente fortemente atraído por Oliver, mais um acadêmico que vem passar uma temporada com a família para ajudar o pai na sua pesquisa sobre a cultura greco-romana. Interpretado por Armie Hammer, Oliver chama a atenção exatamente pela beleza. Seu rosto apolíneo e seu porte elegante chegam para complementar e aguçar a beleza do filme. Armie está tão deslumbrantemente belo no longa que alguns chegaram a falar que sua interpretação esbarrou na canastrice. Um exagero.

Sutil e delicado, "Me Chame Pelo Seu Nome" torna-se levemente arrastado do meio para o final, como se não estivessem sabendo como terminá-lo. Mas nada que comprometesse o filme, que permanece sendo uma apologia à beleza e ao amor - seja ele em qualquer forma. O ator franco-americano Timothée Chalamet está presente também em um dos fortes candidatos ao Oscar de Melhor Filme - "Lady Bird - A Hora de Voar".
Classificação: 14 anos // Duração: 2h13


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26 janeiro 2018

"Maze Runner - A Cura Mortal" é o encerramento da trilogia que os fãs aguardavam

 
Dylan O´Brien e sua turma de fugitivos Clareanos se unem para acabar de vez com a organização criminosa C.R.U.E.L. (Fotos: 20th Century Fox/Divulgação)

Maristela Bretas


"Maze Runner - A Cura Mortal" ("Maze Runner: The Death Cure") completa bem a trilogia com muita ação, os atores jovens entregando interpretações bem melhores em seus papéis, especialmente Dylan O´Brien, e um cenário futurista catastrófico muito bem elaborado. Como era esperado, a saga retorna às origens para concluir e explicar o ciclo que começou no labirinto em ""Maze Runner - Correr ou Morrer" (2014).

E não adianta achar que assistindo o terceiro vai entender totalmente a história. Para quem não conhece a saga será uma boa opção de entretenimento nos gêneros ação e ficção científica. Mas o risco é grande de sair "boiando" no cinema e perguntando depois como tudo começou até chegar naquele ponto. Vi isso acontecer na pré-estreia em BH. O ideal é ter acompanhado desde o primeiro, seja no cinema ou pela coleção literária escrita por James Dashner, para poder entender a trilogia, o papel de cada personagem, suas ligações e o destino reservado para cada um deles na trama.

As cenas de ação e os efeitos visuais dominam o filme e compensam o ingresso. São tão bons quanto os anteriores da saga. Desde as primeiras cenas tudo acontece em ritmo bem acelerado, com resgates, perseguições e batalhas surpreendentes, a começar pela inquietante cena de abertura. Claro que há muitos diálogos clichês, que são tão previsíveis que poderiam ser eliminados de tão conhecidos. Mas nada que comprometa o bom andamento do filme.

Além de Dylan O´Brien (no papel de Thomas), também se destacam Kaya Scodelario, que interpreta Teresa, ex-integrante que traiu o grupo de fugitivos, Thomas Brodie-Sangster (Newt), Will Poulter (Gally), Rosa Salazar (Brenda) e Giancarlo Esposito (Jorge). Aidan Gillen, como o vilão Janson, continua mais convincente que Patrícia Clarkson, no papel da cientista Ava Paige, comandante da poderosa agência C.R.U.E.L.

O terceiro filme retoma a história de onde parou o segundo episódio da franquia, "Maze Runner - Prova de Fogo" (2015). Os atores originais são mantidos, com alguns retornos surpreendentes e necessários para a conclusão. 
Thomas vai tentar resgatar seu amigo Minho (Ki Hong Lee), levado pela C.R.U.E.L. para servir de cobaia na busca da cura para uma praga que está dizimando a humanidade. Em sua missão, ele vai reencontrar velhos amigos e inimigos e terá de contar com a ajuda de todos para impedir que a organização criminosa elimine todos que vivem fora dos muros de sua fortaleza, a lendária e mortal Ultima Cidade.

Com 2h22 de duração, "Maze Runner - A Cura Mortal" é longo demais e mesmo assim ainda deixa alguns buracos sem explicação. Acredito que os fãs dos livros (e da própria versão cinematográfica) vão gostar bastante da forma como o filme foi conduzido pelo diretor Wes Ball, que soube explorar e valorizar bem o perfil dos personagens de cada um dos jovens. Vale a pena conferir no cinema.



Ficha técnica:
Direção: Wes Ball
Produção: 20th Century Fox
Distribuição: Fox Film do Brasil
Duração: 2h22
Gêneros: Ficção científica / Ação /Aventura
País: EUA
Classificação: 12 anos
Nota: 3,8 (0 a 5)

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24 janeiro 2018

"O Destino de uma Nação", uma biografia que consagra a atuação de Gary Oldman

Winston Churchill é o grande primeiro-ministro britânico que deixou sua marca na história mundial (Fotos: Universal Pictures)

Maristela Bretas


Um Winston Churchill que mescla indecisão e prepotência, que recebeu uma grande interpretação de Gary Oldman. É o que apresenta "O Destino de uma Nação" ("Darkest Hour") um dos concorrentes ao Oscar deste ano. É o ator que dá vida e força ao filme, arrastado em alguns momentos, uma vez que foca nas negociações do então primeiro- ministro britânico indesejável Winston Churchill para um possível acordo de paz com a Alemanha nazista.

Gary Oldman está irreconhecível com a excelente maquiagem feita para o personagem (que pode levar uma estatueta) e assumiu tão bem o papel que chegou a ter problemas de saúde por causa dos inúmeros charutos que precisou fumar, como fazia Churchill. Ele é o centro de tudo, seu personagem é forte, prepotente, às vezes irônico e apaixonado pela mulher e filhos, quase um ser humano normal. Não sei se o original era assim, mas convenceu.

Muito diferente do apresentado por Brian Cox, que também viveu o estadista em "Churchill", filme britânico-americano dirigido por Jonathan Teplitzky, lançado em 2017, que eu recomendo assistir. Assim como "Dunkirk", de Christopher Nolan, do mesmo ano, que vai explicar o outro lado do conflito. Uma das melhores produções de guerra dos últimos anos e que também disputa o Oscar de Melhor Filme.

Como produção, "O Destino de uma Nação" brilha no roteiro, atuações e direção, com ótima reconstituição de época e locações, aprofundando mais nas negociações do conflito e nas estratégias do que na própria guerra. A preocupação em quem colocar no lugar do primeiro-ministro incompetente destituído e a escolha daquele que deveria descascar a batata quente do acordo é o tema principal.

Além de Oldman, Kristin Scott Thomas está muito bem no papel de Clementine, esposa do primeiro-ministro, apaixonada, companheira, mãe dos filhos e... só. Já Miranda Richardson, a mesma personagem em "Churchill" fez um papel mais intenso, não abaixava a cabeça para o poder do marido e o enfrentava quando era preciso, tanto nas questões do casamento quanto nas de estado. O restante do elenco de "O Destino de uma Nação" entrega ótimas interpretações e garantem um dos melhores filmes biográficos do ano.

A trama gira em torno de Winston Churchill (Gary Oldman) colocado no cargo de primeiro-ministro de uma Grã-Bretanha ameaçada de ser invadida pela Alemanha nazista. Com as tropas encurraladas em Dunquerque (França) e os aliados França e Bélgica dominados, ele deve definir se aceita ou não o acordo de paz com Hitler. Mas o grande estrategista é contra a rendição e provoca a ira dos inimigos políticos pela forma como pretende conduzir suas tropas e conquistar o apoio do povo britânico e dos demais aliados.



Ficha técnica:
Direção: Joe Wright
Produção: Focus Features / Perfect World Pictures / Working Title
Distribuição: Universal Pictures
Duração: 2h05
Gêneros: Drama / Biografia / Histórico
País: Reino Unido
Classificação: 12 anos
Nota: 4 (0 a 5)

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20 janeiro 2018

"Viva - A Vida é uma Festa" faz bem pra alma e pro coração

Miguel e Héctor, amigos de mundos diferentes que dividem o mesmo sonho (Fotos: Walt Disney Studios/Divulgação)

Maristela Bretas


A Pixar volta a brilhar em mais uma de suas animações, talvez a melhor dos últimos tempos que o estúdio produziu. "Viva - A Vida é uma Festa" diverte, encanta, emociona e, como sempre, tem uma linda mensagem para toda a família. As crianças vão adorar o colorido e os personagens simpáticos e trapalhões, mas são os adultos que saem surpresos e chorando com uma história que faz sacudir emoções.

"Viva" é pura lembrança, uma animação com cara de casa de vó, com direito a família grande, barulhenta, todo mundo dando palpite na criação dos filhos dos outros. E tendo como pano de fundo um dos feriados mais importantes do México - "El Dia de los Muertos" ("O Dia dos Mortos"), que acontece também em 2 de novembro, como no Brasil. Só que a data lá tem um significado diferente, ela é de celebração àqueles que partiram para o Mundo dos Mortos - amigos, parentes e até mesmo figuras ilustres. Tudo com muita cor, música, e dança.

Uma verdadeira festa, como cita o título brasileiro - único lugar que a Disney mudou o nome original, que é "Coco" - que não é explicado em momento algum na nossa versão dublada. Fica aqui, então, a explicação para quem não sabe: Coco é o apelido da bisavó do jovem Miguel e ela é a ligação do bisneto com todo o contexto da história. No Brasil, a "bisa" quase centenária recebeu o nome de Mamá Inês (????), ou seja, liga nada com coisa alguma e o expectador sai do cinema sem entender porque a mudança.

Mas voltando à história, o lencinho é essencial, não porque o filme seja triste. Ele provoca boas reações, sentimentos guardados na memória de brincadeiras da infância, saudade do colo da vó, o abraço apertado só pai ou da mãe sabem dar, histórias e experiências contadas pelos mais velhos mesmo quando já não têm mais a consciência do presente. "Viva" faz chorar com certeza, mas também é bem divertido, conta uma grande aventura familiar e deixa o coração da gente mais leve quando sai do cinema.

E estes sentimentos os diretores Lee Unkrich e Adrian Molina sabem provocar e demonstraram muito bem em sucessos como de "Toy Story 3", "Monstros S.A." e "Procurando Nemo". Em "Vida", duas gerações são unem todo o enredo - Miguel, um menino de 12 anos, que ama a família, especialmente Mamá Inês (Coco). Seu sonho é tocar como seu maior ídolo, o grande Ernesto de la Cruz (voz de Benjamin Bratt e dublagem nacional de Nando Pradho).


Mas sua família, principalmente a avó, guarda uma grande mágoa e a música é proibida em todos os sentidos na casa. Miguel, no entanto, não desiste e o encontro com Héctor (dublado por Gael Garcia Bernal e no Brasil por Leandro Luna) no Dia dos Mortos vai mudar sua vida. Héctor é um dos mais divertidos personagens da animação, sem falar no cão de Miguel e na versão "do outro mundo" da família dele. Personagens famosos da cultura mexicana também foram lembrados na animação, como a pintora Frida Kahlo.

Na versão original, a maioria da vozes foi emprestada por atores mexicanos, mas a dublagem brasileira ficou ótima (como sempre) e é feita também nas músicas, traduzidas por Mariana Elizabeth. Destaque para "Lembre de Mim" ("Remember Me"), cantada no filme em três situações, sendo a terceira a mais emocionante a terceira, com Miguel (voz original de Anthony Gonzalez e no Brasil do jovem Arthur Salerno) e a Mamá Inês (voz de Ana Ofelia Murguía e dublagem brasileira da atriz Maria do Carmo Soares).

A animação é linda e merece cada prêmio que ganhou até agora e as indicações para os próximos, ficando como a mais provável de levar o Oscar 2018 em sua categoria. Uma produção imperdível e emocionante. A classificação é livre, mas a idade ideal para as crianças curtirem e os pais também é acima de 5 anos.



Ficha técnica:
Direção: Lee Unkrich e Adrian Molina
Produção: Pixar Animation Studios
Distribuição: Disney/Buena Vista
Duração: 1h45
Gêneros: Animação / Família / Fantasia / Aventura
País: EUA
Classificação: Livre
Nota: 5 (0 a 5)

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16 janeiro 2018

Jackie Chan deixa o lado cômico para viver um pai em busca de justiça em "O Estrangeiro"

Intrigas, suspense e muita ação nesta produção chino-britânica ambientada em Londres e na Irlanda do Norte (Fotos: Universum Film GmbH/Divulgação)

Maristela Bretas


Um Jackie Chan de poucas palavras e muita ação, sem o lado cômico que marcou boa parte de sua carreira em Hollywood, inclusive nas dublagens de animações. Nem por isso perdeu o pique e ainda protagoniza as cenas de luta, não tão brutais e cheias de malabarismos como de alguns de seus antigos filmes. Até pela idade do ator, 63 anos. 

Em "O Estrangeiro" ("The Foreigner"), que também ajudou a produzir, Chan não dispensa uma boa quebradeira por onde passa, usando o que tiver na frente contra o inimigo - mesas, cadeiras, abajures e pedaços de pau. Desta vez, talvez para cansar menos, contou até com a "ajuda" de uma metralhadora e nitroglicerina para dar um clima diferente, mais explosivo.


Ele divide a atenção do público com o sempre charmoso ex-James Bond, Pierce Brosnan ("Horas de Desespero" - 2015), este sim, falando muito mais que a estrela principal e sem perder a pose de espião britânico. "O Estrangeiro", não foge dos clichês, reforça velhas diferenças entre o Exército Republicano Irlandês (IRA) e o governo britânico e tem poucas mas boas locações, principalmente em Londres e Belfast. No elenco se destacam também Orla Brady Charlie Murphy e Katie Leung.

Dirigido por Martin Campbell (o mesmo de "Cassino Royale"), o longa-metragem fica no meio termo - é um filme de ação, mas se perde no suspense, uma vez que muitas cenas são bem previsíveis. Jackie Chan faz um personagem sem expressão facial, até mesmo quando conversa com a filha no carro. E este lado sombrio (e justificável pela própria história) é mantido durante todo o filme, variando momentos de ódio, violência e dor. Nem parece o ator simpático de comédias como "A Hora do Rush", Mostrou que também é capaz de interpretar papéis sérios e entregar um trabalho bom.

"O Estrangeiro" é baseado no livro "The Chinaman", de Stephen Leather, com roteiro escrito por David Marconi, o mesmo de "Duro de Matar 4.0". Conta a história de Quan (Chan), dono de um restaurante chinês em Londres que cria sozinho a única filha. Um atentado a bomba tira a vida da jovem e o pai vai atrás das autoridades para cobrar que prendam os responsáveis. 

Como as investigações dependem de negociações políticas por ser um atentado terrorista, Quan resolve fazer sua própria caçada, indo atrás inclusive do vice-primeiro-ministro irlandês Liam Hennessy (Brosnan) para obter informações. E mostra a seus inimigos que ele é mais que um simples comerciante.

Como sessão da tarde passa e mostra que Jackie Chan ainda tem muito fôlego, mesmo lutando menos. Ele e Brosnan fazem uma boa dupla em lados opostos, o que ajuda a manter o ritmo do filme. Vale conferir para quem gosta de ação.



Ficha técnica:
Direção: Martin Campbell
Produção:  STX Films / H. Brothers /Wanda Pictures
Distribuição: Diamond Films
Duração: 1h54
Gêneros: Ação / Suspense
Países: Reino Unido / China
Classificação: 14 anos
Nota: 3 (0 a 5)

Tags: #OEstrangeiro, #TheForeigner, @JackieChan, @PierceBrosnan, @MartinCampbell, #acao, #suspense, @DiamondFilms, @cinemas.cineart, @cinemanoescurinho

14 janeiro 2018

Um simpático touro chamado Ferdinando que conquista corações

Ferdinando ama flores, a sombra de uma árvore e sua melhor amiga Nina (Fotos: 20th Century Fox/Divulgação)


Maristela Bretas


Crianças e adultos vão curtir demais "O Touro Ferdinando", a nova animação do diretor brasileiro Carlos Saldanha, responsável pelos grandes sucessos "A Era do Gelo" e "Rio". Com muita inspiração e simpatia, ele nos apresenta um enorme animal, que daria medo em qualquer um de sua espécie e seria a glória para qualquer toureiro vencê-lo numa arena. Mas ao contrário disso, Ferdinando é doce, cuidadoso, gentil e detesta briga.

Desde pequeno Ferdinando gostava de flores e da calma do campo e sonhava deixar a fazenda onde era preparado para as touradas. Ao contrário dos outros animais de sua espécie e de seu pai, um campeão respeitado. E foi o temperamento calmo e tranquilo que levou Ferdinando (dublado em português por Duda Ribeiro e na voz original pelo ex-lutador de WWE, John Cena) a fugir para um local onde tivesse paz e amigos, além de uma árvore onde pudesse ficar embaixo admirando a paisagem. 

Os anos se passaram e o pequeno bezerro se transformou num touro gigantesco que não tinha noção de seu tamanho. Ele era feliz ao lado de Nina, sua dona (dublada pela apresentadora do SBT, Maísa Silva), do pai dela e do rabugento cão Dos. Mas um incidente que o deixou descontrolado fez com que ele fosse capturado e levado de seu lar. Determinado a voltar para sua família, Ferdinando se une a uma equipe desajustada e muito divertida na maior de suas aventuras pela Espanha. 

Mais que uma simples animação, "O Touro Ferdinando" ensina que é possível ser diferente e que não se deve julgar ninguém pela aparência. A animação apresenta personagens belos, vistosos e cheios de si, como o cavalo Hans (na voz de Otaviano Costa), que não se preocupa com ninguém, apenas com sua aparência. E outros não tão belos, mas que são fiéis e incapazes de deixar um amigo para trás, fosse ele uma velha cabra desmiolada, como Lupe (dublada pela ótima Thalita Carauta) ou um touro que tem medo de tudo. 

Ferdinando é a força do grupo, porque acredita em cada um e quer que todos sejam livres e felizes como ele, longe das arenas e dos abatedouros. E será uma inspiração para todos que passarem por sua vida. O filme é uma linda lição para todas as idades, muito bem adaptado do livro infantil "A História de Ferdinando", escrito por Munro Leaf e ilustrado por Robert Lawson. A mesma história, que garantiu aos Estudios Disney um Oscar como Melhor Curta em 1938. A nova versão não ficou atrás e foi indicada em várias premiações na categoria, inclusive ao Oscar de Melhor Filme de Animação de 2018. 

"O Touro Ferdinando" diverte, emociona e faz as crianças chorarem e também torcerem por ele, como assisti na sessão. Elas se tornam suas aliadas e de seus amigos, com direito a aplauso e gritinhos de felicidade. Duas cenas são muito divertidas e já valem o filme: a da loja de louças e cristais (chega a dar aflição) e a disputa de dança entre os animais da fazenda. Vale a pena levar a meninada a partir de cinco anos.



Ficha técnica:
Direção: Carlos Saldanha
Produção: Blue Sky Studios / 20th Century Fox
Distribuição: Fox Film do Brasil
Duração: 1h49min
Gêneros: Animação / Comédia / Aventura
País: EUA
Classificação: Livre
Nota: 4 (0 a 5)

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11 janeiro 2018

"Lou" tem um roteiro aquém da personagem que ele retrata

Katharina Lorenz interpreta Lou Andreas-Salomé no período de 21 a 50 anos de sua vida (Fotos: Wild Bunch Germany /Divulgação)

Wallace Graciano


Filmes biográficos quase sempre conseguiram grande apelo junto ao público por levar uma faceta outrora não conhecida de um personagem. E esse era o mínimo que se esperava de “Lou”, película que retrata a vida da indomável Lou Andreas-Salomé, uma mulher à frente de seu tempo, que quebrou paradigmas ao buscar educação formal e galgar espaço entre os grandes intelectuais de seu tempo, como Paul Rée, Friedrich Nietzsche e Sigmund Freud. Porém, o que se vê durante boa parte das 1h53min de duração é a tentativa de embasar a obra em uma visão conservadora e convencional, que se distanciam da mente brilhante que encantou a todos nos séculos XIX e XX.

Releituras à parte, “Lou” traz a história de uma mulher russa, nascida em São Petersburgo, irmã de seis homens, e que cresceu em uma família tradicional da época. Já no final de sua vida, e vivendo no sombrio período em que a Alemanha Nazista se caminhava para a “Solução Final”, ela opta por contar suas memórias a um homem mais novo, que buscava seus ensinamentos para fugir de suas chagas. A partir desse momento, ela detalha toda sua construção intelectual, desde quando era uma adolescente ávida por aprendizado, que conseguiu, na marra, aprender filosofia, teologia e literatura alemã, até sua passagem para a universidade de Zurique, a única a aceitar mulheres no período.

A partir desse momento, cria-se uma narrativa em que foca no seu distanciamento sexual, mesmo convivendo com homens apaixonados por ela, como Rée e Nietzsche. Apesar de no espaço de tempo ela conseguir quebrar diversos tabus, como o de uma mulher não poder ser dona de seu próprio pensamento, entende-se de forma demasiada pelas paixões e amizades da personagem, mostrando suas mudanças de ideologia e conceitos, quase sempre com o apelo sentimental como pano de fundo.

Num espectro que a personagem merecia uma abordagem mais ampla e menos arraigada ao conservadorismo, “Lou” é um filme mal construído, que tinha tudo para ser uma belíssima película. A personagem é fascinante. Sua obra e biografia, mais ainda. A estética do filme, maravilhosa – incluindo belíssimas transições quando a personagem busca suas memórias em cartões postais e fotos. Porém, isso tudo se esvai pelo roteiro mal elaborado. Um pecado.



Ficha técnica:
Direção, produção e roteiro: Cordula Kablitz- Post
Produção: Avanti Media Fiction / KGP Kranzelbinder / Gabriele Production / Tempest Film
Distribuição: Cineart Filmes
Duração: 1h53
Gêneros: Drama / Biografia / Histórico
País: Alemanha
Classificação: 16 anos
Nota: 2,5 (0 a 5)

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