Durante o Festival de Cannes, Antonio Banderas disse que ‘teve que matar tudo o que era’ para fazer o filme (Fotos: Manolo Pavón/El Deseo/StudioCanal) |
Carolina Cassese
Correspondente no Festival de Cannes
Foi dessa maneira que a crítica definiu "Dor e Glória", o mais novo longa do aclamado diretor espanhol, lançado internacionalmente em maio, no Festival de Cannes deste ano. Com história centrada na vida de Salvador Mallo, diretor de cinema em declínio que relembra sua infância na cidade de Valência, a produção chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (13). A narrativa autobiográfica encerra uma trilogia que inclui "A Lei do Desejo" (1987) e "Má Educação" (2004).
O elenco é composto por astros como Antonio Banderas, Penélope Cruz, Asier Etxeandia, Leonardo Sbaraglia e Cecilia Roth. Em Cannes, Banderas recebeu, merecidamente, o prêmio de melhor ator. Em uma coletiva de imprensa, declarou que ‘teve que matar tudo o que era’ para fazer o filme: “Cheguei com uma bagagem hollywoodiana que o personagem não precisava. O que ele precisava era de um Banderas que eu não imaginava ter ainda dentro de mim. Tive de recuperá-lo então. E foi lindo", disse.
Em entrevista ao El País, Almodóvar não poupou elogios ao ator principal: “Antonio passou por três cirurgias de coração aberto, e essa experiência, embora ele não alardeie isso, fica marcada. Felizmente, é ator. E para um ator, assim como para um escritor, não existem as experiências ruins. Até a pior se transforma em outra coisa diante do computador ou em um palco”.
O protagonista, que passa por um prolongado bloqueio criativo, parece estar constantemente solitário e exausto. Quando uma cinemateca espanhola decide resgatar o seu principal longa, ele se vê obrigado a revisitar o filme e acaba retomando laços com o principal ator da produção, Alberto Crespo (Asier Etxeandia). Os dois mantêm uma relação repleta de altos e baixos.
Na trama são abordados temas como o processo de imigração para a Espanha, os primeiros amores, problemas de saúde e a relação com o cinema."Dor e Glória" é um jogo de espelhos: não se sabe bem onde começam e quando se encerram as semelhanças entre Salvador Mallo e Almodóvar. A autoficção, garante o diretor, foi o ponto de partida. Os flashbacks, que se passam na Espanha pós-Guerra Civil, são inegavelmente autorreferentes, mostrando um garoto “diferente dos demais”, apaixonado pela literatura e por cinema. Impossível não destacar a (sempre) marcante presença de Penélope Cruz, que interpreta Jacinta, a intensa mãe de Salvador.
A temática do despertar da sexualidade, sempre presente nos filmes de Almodóvar, é emblemática em "Dor e Glória". Também são dignos de nota outros elementos característicos do diretor, como a presença de figuras femininas fortes e as paisagens vivas do interior da Espanha. O diretor de fotografia José Luis Alcane e o desenhista Antxón Gómez conferem à produção uma riqueza de cores digna de aplausos.
O plano final apresenta um fechamento surpreendente para uma trama intensa, viva e passível de identificação pelo espectador. Depois de três anos de hiato, Almodóvar retorna, no seu melhor estilo, com uma história poderosa - e muito honesta.
Duração: 1h52Classificação: 16 anos
Distribuição: Universal Pictures
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