13 janeiro 2020

"O Caso Richard Jewell" - uma história sobre heróis e vilões fabricados por interesses

Sam Rockwell, Kathy Bates e Paul Walter Hauser formam o trio principal da trama, baseada em fatos reais (Fotos: Claire Folger/Warner Bros. Pictures)

Maristela Bretas


Poderia ser mais um filme sobre um herói comum norte-americano que sofre injustiça ao ser falsamente acusado de terrorismo. Mas nas mãos de Clint Eastwood, dirigindo seu 39º filme, a produção ganhou uma roupagem marcante. E ainda contou com as ótimas interpretações de Sam Rockwell ("Vice" - 2018 e "Três Anúncios Para um Crime" - 2017, que lhe valeu um Oscar), Kathy Bates ("Meia Noite em Paris" - 2011) e de Paul Walter Hauser ("Infiltrado na Klan" - 2018). A fotografia e o dilema do segurança que queria ser policial são bem explorados pelo diretor que gosta e sabe bem contar histórias de pessoas simples. 


No filme, baseado em fatos reais, além da ótima direção, o destaque é para Paul Walter Hauser, como Richard Jewell, o segurança de eventos que sempre sonhou em ser policial. Nada flexível quando o assunto era lei e ordem, para muitos que conviviam com ele, isso representava um problema. Um homem obeso, acima dos 30 e ainda vivendo com a mãe Bobi (interpretada por Kathy Bates), Richard era motivo de críticas e chacotas.


Como vigilante, não aceitava arruaça de jovens e coisas deixadas fora do lugar. Foi numa dessas situações que ele descobriu uma bomba e conseguiu afastar dezenas de pessoas antes da explosão, evitando uma tragédia maior durante as festividades dos Jogos Olímpicos de Atlanta (EUA) em 1996, quando morreram duas pessoas e 111 ficaram feridas. Ao mesmo tempo em que o comportamento submisso e inocente demais do personagem irrita em algumas situações (como um homem velho pode ser tão ingênuo), ele também se torna simpático e faz o público torcer por ele e para que consiga provar sua inocência.


De uma hora para outra ele se tornou herói nacional. E na mesma velocidade com que conquistou glória e fama, foi transformado em vilão nacional. Richard, um homem tranquilo e ingênuo que acreditava nas autoridades que um dia sonhava integrar, foi usado como bode expiatório para justificar os erros, a incompetência, os métodos escusos e a preguiça destas mesmas forças de segurança para buscar o verdadeiro responsável pelo atentado. 

O caso ainda contou com a participação de uma mídia sem ética, que só buscava o furo de reportagem que garantiria as manchetes, confiando apenas nas fontes, sem checar nada e acabando com a vida de uma família. É quando entra em cena o ótimo Sam Rockwell, no papel do advogado de Richard, Watson Bryant, que vai defender o segurança.


Clint Eastwood, com 89 anos, nos últimos tempos tem buscado em fatos marcantes ocorridos nos Estados Unidos para extrair personagens e suas histórias, transformando-os em heróis ou vilões. Os dramas diários ganham destaques que passariam despercebidos se não houvesse um “garimpeiro” como ele para identificar e transformar fatos simples em uma boa produção cinematográfica. Nem sempre isso dá certo, mas tem funcionado com o diretor e produtor. Um ponto negativo, no entanto, é o fato de, em "O Caso Richard Jewell", ele reforçar seu discurso armamentista, homofóbico e machista que sempre marcaram sua carreira. 

Paul Walter Hauser conversa com Clint Eastwood no set de filmagem

Um dos exemplos é o estereótipo criado para a repórter policial Kathy Scruggs (papel de Olivia Wilde) - a bela e sexy jornalista que só conseguia grandes furos indo pra cama com suas fontes. Mas na hora de escrever o texto precisava de um colega homem para redigir porque não teria competência para usar as palavras. Muito feia e dispensável essa colocação do diretor e do roteirista Billy Ray, mesmo que existam casos assim na imprensa americana. Olívia também tem boa interpretação e até merecia mais espaço na trama. 



O filme foca no drama de Richard Jewell em provar sua inocência e o que ele, sua mãe e seu advogado tiveram que passar. Considero um ponto falho na narrativa o intervalo de seis anos até a prisão do verdadeiro terrorista - Eric Rudolph, que ainda cometeu outros três atentados antes de ser pego. Não há informações se houve alguma reparação de danos ou indenização recebida por Jewell e sua mãe pelas acusações ou se foi só um "desculpa e tchau" do FBI. Nem que fosse nos créditos finais. Apesar dos pontos negativos, "O Caso Richard Jewell" é uma boa história e merece ser visto, especialmente porque expõe situações bem semelhantes de fatos atuais.



Ficha técnica:
Direção: Clint Eastwood
Produção: Warner Bros Pictures / The Malpaso Company / Applan Way / Misher Films
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Duração: 2h09
Gênero: Drama
País: EUA
Classificação: 14 anos
Nota: 3 (0 a 5)

Tags: #OCasoRichardJewell, #ClintEastwood, #PaulWalterHauser, #SamRockwell, #KathyBates, #OliviaWilde, #drama, atentadoterrorista, #Atlanta1996, #RichardJewell, #WarnerBrosPictures, @cinemaescurinho,@cinemanoescurinho

12 janeiro 2020

"O Irlandês" é o melhor filme sobre máfia desde "O Poderoso Chefão"

Joe Pesci e Robert De Niro, juntamente com Al Pacino, formam o elenco principal desta longa e excepcional produção da Netflix (Fotos: Netflix/Divulgação) 

Jean Piter


O que te passa pela cabeça quando se fala em filme sobre a máfia? Famílias poderosas, ricas, influentes, respeitadas... Chefões muito inteligentes, disciplinados, bondosos com seus amigos e afilhados e ao mesmo tempo cruéis com seus inimigos. É uma relação de amor e ódio. Você até questiona algumas ações desses mafiosos, mas não deixa de admirá-los. As histórias são cheias de traições e reviravoltas, planos bem articulados e, claro, muito sangue. Assassinos frios e precisos são personagens indispensáveis nessas tramas. "O Irlandês", de Martin Scorsese, tem um pouco de tudo isso aí. Mas vai além e trás um olhar mais humano sobre o mundo do crime.


"O Irlandês" é baseado no livro “I Heard You Paint Houses” (“Eu Ouvi Você Pintando As Casas”, em tradução livre), de Charles Brandt, que narra a história real de Frank Sheeran (Robert De Niro). Um veterano da Segunda Guerra Mundial que acaba se envolvendo com mafiosos nos Estados Unidos. Trabalhando como caminhoneiro, ele entra em um esquema de desvio de carga para vender a mercadoria no mercado clandestino. E nesse cenário que ele conhece um dos chefes da máfia, Russell Bufalino (Joe Pesci). Eles se tornam amigos. Sheeran vira então um “faz tudo” para os negócios, recebe várias missões e executa todas com precisão e muita discrição, inclusive a de matar pessoas.


O olhar humano que Scorsese trás para a história está nos erros que os personagens cometem. Erros que qualquer pessoa normal comete. Escolhas erradas, decisões precipitadas e atos que a gente se arrepende depois. Diálogos que chegam a ser engraçados de tão idiotas, a ponto de você se perguntar: Nossa, como um chefão desses consegue ser tão burro? O filme mostra o lado da vaidade desses personagens, o quanto vivem em função do poder e de sempre quererem mais e mais, como se nunca fossem envelhecer, como se fossem imortais. O quanto eles se ocupam com isso e que eles acabam deixando de viver ao escolher esse tipo de vida. É um filme sobre as conquistas dos mafiosos, mas que dá destaque aos fracassos, ao saldo negativo que sobra no fim da vida, ao conjunto de uma obra que traz o questionamento: Valeu a pena essa vida?

Computação gráfica usada para contar a história do personagem de Robert De Niro (Montagem sobre fotos/Netflix)
Vale destacar o uso de computação gráfica para rejuvenescer os personagens, algo que ainda não tínhamos visto nessa intensidade. O mesmo ator fazendo um papel que envelhece ao longo de décadas. Por vezes, é visível o uso dessa tecnologia, o que deixa a imagem meio artificial, como a de personagens de videogame. Mas nada que comprometa a obra. É o recurso disponível e que foi usado da melhor forma possível.


"O Irlandês" é uma obra para se assistir mais de uma vez, mesmo tendo três horas e meia de duração, que é um tempo suficiente e adequado pra contar essas histórias. É um filme muito bem feito, com uma narrativa leve, que não cansa. Tem atuações maravilhosas de De Niro, Pesci e Al Pacino. Um trio que talvez a gente não veja mais atuando juntos. Uma obra prima de Scorsese que já nasceu como clássico. É o melhor filme sobre máfia desde "O Poderoso Chefão".



Ficha técnica:
Direção: Martin Scorsese
Produção: Netflix / Sikelia Productions / Tribeca Productions
Distribuição: Netflix Brasil
Duração: 3h29
Gêneros: Suspense / Drama / Biografia
País: EUA
Classificação: 16 anos
Nota: 5 (0 a 5)

Tags: #OIrlandês, #TheIrishman, #Netflix, NetflixBrasil, #RobertDeNiro, #JoePesci, #AlPacino, #MartinScorsese, #drama, #máfia, #suspense, #biografia, #CharlesBrandt, #cinemaescurinho, #cinemanoescurinho

06 janeiro 2020

Globo de Ouro 2020 surpreendeu por algumas escolhas, um apresentador ofensivo e cerimônia corrida

"Era Uma Vez em... Hollywood", "Coringa" e "Parasita" confirmaram algumas de suas indicações (Fotos Divulgação)

Maristela Bretas


Com uma cerimônia mais corrida que o convencional, o 77º Globo de Ouro contou pela quinta vez com a apresentação do comediante Ricky Gervais. Fazendo piadas grotescas e comentários ofensivos aos convidados presentes, suas atuações e filmes ou séries, ele foi o ponto muito ruim da noite de premiações. Ele literalmente ligou o "foda-se" e metralhou geral, sem papas na língua e, em alguns casos, sem respeito. Totalmente dispensável e nem deveria ter participado desta edição, como havia prometido na edição passada.

Realizado em Los Angeles, o Globo de Ouro, promovido pela Associação da Imprensa Estrangeira em Hollywood (HFPA, na sigla original), premiou 25 categorias, 14 delas de cinema e 11 de TV e abriu a temporada de premiações deste ano. O grande vencedor da noite foi Quentin Tarantino, com "Era Uma Vez em... Hollywood", seu nono filme, que conquistou as estatuetas de Melhor Filme Cômico ou Musical, Melhor Roteiro e Melhor ator Coadjuvante (Brad Pitt).


A surpresa ficou para "1917", dirigido por Sam Mendes, ambientado na Primeira Guerra Mundial. Além do prêmio de Melhor Filme Dramático, levou também o de Melhor Diretor, entregue pelos atores Helen Mirren e Antonio Banderas. Sam Mendes agradeceu primeiramente a Martin Scorsese e dedicou o prêmio ao avô, que lutou na Primeira Guerra Mundial.

Com o mesmo número de estatuetas, "Coringa" confirmou duas de suas indicações; Melhor Ator - Drama, para Joaquin Phoenix, o que era mais que esperado por sua brilhante atuação, e Melhor Trilha Sonora Original para Hildur Guðnadóttir. Esta foi a sexta indicação do ator ao prêmio. Em seu discurso, ele agradeceu a todos que o aguentaram durante as filmagens.


Reese Witherspoon e Jennifer Aniston entregaram a primeira estatueta da noite para Melhor Ator em Série de TV - Musical ou Comédia, recebido por Ramy Youssef (“Ramy”). Elas continuaram no palco e anunciaram Russell Crowe (“The Loudest Voice”) como Melhor Ator em Série Limitada ou Filme para TV.

O prêmio de Melhor Ator Coadjuvante em Série, Série Limitada ou Filme para TV saiu para o ator sueco Stellan Skarsgård, de “Chernobyl”, da HBO, escolhida também como a Melhor Série Drama ou Filme para TV. Ted Danson e Kerry Washington anunciaram a vencedora do prêmio de Melhor Atriz em Série de TV - Musical ou Comédia - Phoebe Waller-Bridge (“Fleabag”). A atriz britânica subiu duas vezes ao palco para receber também o troféu de Melhor Série - Musical ou Comédia para “Fleabag”, criada, escrita e estrelada por ela.

Elton John, ao subir ao palco para anunciar "Rocketman" na disputa de Melhor Filme foi aplaudido de pé pela plateia. E teve a alegria dobrada ao confirmar a vitória em duas categorias do filme que conta parte de sua vida: Melhor Ator - Musical ou Comédia, para Taron Egerton, e Melhor Canção Original - “(I’m Gonna) Love Me Again”, composta por ele. O cantor comemorou muito a vitória e recebeu agradecimento de Tharon pelas músicas que compõe.


Kate McKinnon anunciou o prêmio Carol Burnett para Ellen DeGeneres, após fazer um breve resumo da carreira da atriz e apresentadora. Ela recebeu o prêmio de Excelência na Televisão por seu trabalho em defesa dos homossexuais e da Fundação que ela criou de proteção animal. Ellen elogiou Carol Burnett em seu discurso e falou que a atriz, presente à premiação, esteve presente em toda a sua vida. Disse que a TV inspirou tudo o que ela é hoje e que só quer fazer em seu programa com que as pessoas se sintam bem, sorriam e se inspirem para fazer o mesmo para outras pessoas.

"Parasita" confirmou seu favoritismo e vence como Melhor Filme em Língua Estrangeira. E o diretor Bong Joon-ho, acompanhado de uma tradutora, agradeceu em coreano a premiação e a oportunidade de estar junto a outros grandes diretores. E encerrou afirmando que "todos ali falam uma só língua, a do cinema".


“Succession” conquistou  o troféu de Melhor Série Dramática e garantiu também a Brian Cox o prêmio de Melhor Ator em Série de TV – Drama. Ele agradeceu aos participantes da disputa e à esposa.

Patricia Arquette nova prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante em Série, Série Limitada ou Filme para TV por “The Act”. Ela fez duras críticas ao presidente Trump e seus tweets sobre os ataques ao Irã, e lembrou o drama dos incêndios que estão devastando florestas na Austrália. Olivia Colman conquistou a estatueta de Melhor Atriz em Série de TV – Drama por “The Crown”.

“Link Perdido” desbancou grandes e caras produções como "Frozen 2", "Toy Story 4" e "Rei Leão" e conquistou a estatueta de Melhor Animação. Gwyneth Paltrow anunciou Laura Dern como Melhor Atriz Coadjuvante em Filmes por “História de um Casamento”.


Charlize Theron foi a escolhida para entregar o prêmio Cecil B de Mille a Tom Hanks por sua importância no cinema. A atriz fez grandes elogios à pessoa e ao colega de trabalho, seu primeiro incentivador na carreira. Em seguida houve a exibição de um clipe com os sucessos do ator em todos os anos de cinema. Ele foi aplaudido de pé pelo público, e agradeceu a todos os presentes e, principalmente ao amor e paciência de sua família.

Com mais de 40 premiações em sua carreira, Michelle Williams foi a escolhida para receber a estatueta de Melhor Atriz em Série Limitada ou Filme para TV por “Fosse/Verdon”. Ela fez um discurso feminista e pediu maior consciência e engajamento das mulheres na hora de eleger seus representantes.

“Chernobyl” foi reconhecida com o prêmio de Melhor Série Limitada ou Filme para TV e Melhor Ator Coadjuvante em série, minissérie ou filme para TV - Stellan Skarsgård. Chris Evans e Scarlett Johansson entregaram a premiação de Melhor Atriz em Filme - Musical ou Comédia a Awkwafina, por "A Despedida", primeira indicação que a atriz recebe no Globo de Ouro.

Ramy Malek anunciou Renée Zellweger como Melhor Atriz de Filme - Drama por sua interpretação de Judy Garland no filme "Judy: Muito Além do Arco-Íris", que conta um período conturbado da vida da estrela dos grandes musicais de Hollywood. A última premiação da noite, de Melhor Filme - Drama - foi entregue por Sandra Bullock a "1917" a Sam Mendes. A produção estreia dia 23 de janeiro nos cinemas brasileiros.



LISTA DOS VENCEDORES

CINEMA

Melhor Filme - Drama: 1917

Melhor Atriz - Drama: Renée Zellweger ("Judy: Muito Além do Arco-Íris")
Melhor Ator de Filme – Drama: Joaquin Phoenix (“Coringa”) - https://bit.ly/2s1y1Io
Melhor Filme - Musical ou Comédia: Era Uma vez em... Hollywood
Melhor Diretor : Sam Mendes (“1917”)
Melhor Roteiro: Quentin Tarantino (“Era uma Vez em... Hollywood”)
Melhor Atriz  - Musical ou Comédia: Awkwafina (“A Despedida”)
Melhor Ator - Musical ou Comédia: Taron Egerton ("Rocketman")
Melhor Ator Coadjuvante: Brad Pitt ("Era uma Vez em... Hollywood")
Melhor Atriz Coadjuvante: Laura Dern (“História de um Casamento”)
Melhor Filme em Língua Estrangeira: Parasita” (Coreia do Sul) - dirigido por Bong Joon-ho
Melhor Animação:“Link Perdido”
Melhor Canção Original: “(I’m Gonna) Love Me Again” (“Rocketman”)
Melhor Trilha Sonora Original: Hildur Guðnadóttir (“Coringa”)

TV

Melhor Série – Drama; “Succession”
Melhor Atriz em Série de TV – Drama: Olivia Colman (“The Crown”)
Melhor Ator em Série de TV – Drama: Brian Cox (“Succession”)
Melhor Série - Musical ou Comédia:“Fleabag”, criada, escrita e estrelada por Phoebe Waller-Bridge
Melhor Atriz em Série de TV - Musical ou Comédia: Phoebe Waller-Bridge (“Fleabag”)
Melhor Ator em Série de TV - Musical ou Comédia: Ramy Youssef (“Ramy”)
Melhor Série Limitada ou Filme para TV: “Chernobyl”
Melhor Atriz em Srie Limitada ou Filme para TV: Michelle Williams (“Fosse/Verdon”)
Melhor Ator em Série Limitada ou Filme para TV: Russell Crowe (“The Loudest Voice”)
Melhor Atriz Coadjuvante em Série, Série Limitada ou Filme para TV: Patricia Arquette (“The Act”)
Melhor Ator Coadjuvante em Série, Série Limitada ou Filme para TV: Stellan Skarsgård (“Chernobyl”)

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04 janeiro 2020

Perturbador e impactante, "Parasita" é a perfeita tradução de uma obra de arte

Uma família miserável de Seul que não gosta de trabalhar e vive de explorar da boa fé de outras pessoas (Fotos: The Jokers / Les Bookmakers)

Mirtes Helena Scalioni


Entre os filmes de 2019 que tratam da desigualdade social - "Coringa" e "Bacurau" são alguns exemplos - o sul-coreano "Parasita" ("Gisaengchung") talvez seja o mais bem cotado e comentado por público e crítica. Mistura de comédia, drama, suspense e tragédia, a história de uma família miserável que se infiltra na casa de um milionário em Seul tem fascinado plateias no mundo todo. O mérito, claro, é do diretor Bong Joon-ho, que, com maestria, transformou o roteiro em uma farsa perturbadora e impactante. É impossível sair incólume do longa, repleto de imprevistos e viradas.


A família Kim - pai, mãe, um rapaz e uma moça - vive no submundo da capital da Coreia do Sul como se fossem ratos ou baratas. O apartamento é abaixo do térreo e lembra esgoto. Mas os moradores não parecem preocupados com a pobreza e não se vê nenhum sinal de que alguém ali pretende trabalhar para mudar de vida. Até que o jovem chega em casa com uma ideia: falsificar documentos para ocupar o lugar de um amigo universitário e se candidatar ao emprego de tutor de uma menina rica. 


Aos poucos, Ki-Woo (é esse o nome do filho vivido pelo ator Choi Woo-sik) vai ganhando a confiança dos moradores da mansão e, devagar, sempre na base de golpes e falcatruas, coloca sua mãe, seu pai e sua irmã como empregados da casa. Por mais estranhos que possam parecer ao ocidente, convém registrar que estão ainda no elenco, cada um com seu brilho: Song Kang-ho, Cho Yeo-jeong, Park So-dam, Lee Sun-kyun, Lee Jung-eun, Chang Hyae Jin, Jeong Hyun-joon e Park Myeong-hoon. Talvez seja o momento de ir se acostumando com esses nomes.


Do outro lado está a família Park, riquíssima, com a mesma formação dos Kim - pai, mãe, uma menina e um menino - talvez ingênuos demais para perceber as intenções dos golpistas que vão ganhando a confiança de todos como verdadeiros parasitas. Há momentos, no desenrolar da trama, que os acontecimentos e encaixes são tão impossíveis que pode até comprometer a verossimilhança do enredo. Só que o que vem a seguir sempre surpreende e assusta, como a revelação de que pode sim existir alguém que habita num submundo ainda mais baixo do que os Kim.


Não é por acaso que "Parasita" tem sido premiado por onde passa: levou a Palma de Ouro em Cannes em 2019, recebeu três indicações ao Globo de Ouro 2020 - Direção, Roteiro e Filme Estrangeiro - e outras quatro indicações à Academia Australiana de Cinema, Televisão e Arte (AACTA) para Melhor Filme, Diretor, Roteiro e Ator Coadjuvante. O que começa como comédia num porão de Seul e termina em violência e tragédia se revela ao espectador como uma obra de arte na sua mais perfeita tradução.


Ficha técnica:
Direção: Bong Joon-ho 
Produção: Barunson / CJ Entertainment
Distribuição: Pandora Filmes
Duração: 2h12
Gênero: drama
País: Coreia do Sul
Classificação: 16 anos

Tags: #Parasita, #PandoraFilmes, #BongJoon-ho, #drama, #filmesulcoreano, @cinemaescurinho, @cinemanoescurinho

02 janeiro 2020

Mais maduro e melancólico, "Frozen 2" deve repetir o sucesso da primeira história de Elsa e Anna

Animação vem com os ingredientes necessários a cair no gosto do público de todas as idades (Fotos: Walt Disney Pictures/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


A julgar pelos números astronômicos alcançados até o momento nos países onde estreou dia 29 de novembro, "Frozen 2" vai ser um sucesso também no Brasil a partir desta quinta-feira quando entra em cartaz nos cinemas. A nova produção dos Estúdios Disney já ultrapassou 1,2 bilhão de dólares e é a terceira maior bilheteria de animação do cinema, ficando atrás apenas de seu antecessor, "Frozen - Uma Aventura Congelante" (2013), e "Os Incríveis 2" (2018), ambos do mesmo estúdio.


O filme, como tal, vem com todos os ingredientes necessários a cair no gosto de todo mundo: muitas canções, romance, poderes, paisagens, lutas e, principalmente, magia. Já garantiu inclusive uma indicação como "Melhor Animação" no Globo de Ouro 2020. E são tantas e tão variadas aventuras numa floresta encantada, onde não faltam seres monstruosamente feios e assustadores, que é bem possível que crianças menores sintam medo. Há certo exagero nos sustos.


Quem assistiu o primeiro, "Frozen - Uma Aventura Congelante" (2013), talvez veja o segundo com mais intimidade. Quem não viu, vai ficar sabendo, por meio de um flashback, que as irmãs Elsa e Anna perderam os pais no naufrágio de um navio quando elas ainda eram crianças. E que isso se tornou um trauma difícil de ser superado. Vai descobrir também que, numa mágica volta à infância, as garotas tomam conhecimento de uma história sobre o pai, quando ele era ainda o Príncipe de Arendelle. 



Aí entra a tal floresta encantada regida pelos quatro elementos: terra, fogo, água e ar, cada um com seu mistério e missão. Meio enfeitiçada e atraída por uma espécie de canto-lamento, Elsa - sempre ela - desafia tudo e todos para, quem sabe, reescrever a história do pai. De quebra, o público descobre - ou redescobre - como foi que a atrevida rainha conseguiu seus poderes. Quanto à Anna, ela continua gente boa como sempre, eterna coadjuvante da irmã corajosa e destemida.



Uma diferença marcante entre os dois longas é a canção tema. Se, no primeiro filme, "Let It Go" caiu no gosto de crianças e adultos e fez sucesso em todos os idiomas onde foi traduzida (todos se lembram da versão "Livre estou"), desta vez pode ser que o fenômeno não se repita. Ainda é cedo para falar - e não convém duvidar do talento e do feeling dos produtores da Disney - mas a música de "Frozen 2" , "Into The Unknown", na voz de Idina Menzel, embora seja bonita, não tem o mesmo apelo. Mas, acreditem, é uma das indicadas ao Globo de Ouro 2020 como "Melhor Canção Original", disputando com "Speechless", tema de outra produção Disney - "Alladin" - interpretada por Naomi Scott.


Apesar do exagero dos mistérios e sustos, é bem provável que o público goste da continuação da história de Elsa e Anna. Há toda uma delicadeza na forma como o filme trata a amizade entre as irmãs, uma cumplicidade construída e mantida sem competições ou ciúmes. "Frozen 2" talvez possa ser considerado mais maduro do que o primeiro. Há momentos melancólicos, principalmente vividos por Elsa. 


O humor, muito inteligente por sinal, fica por conta de Olaf, o boneco de gelo medroso, piadista e engraçado. Sempre questionando e filosofando, o personagem deve ganhar muita força e se destacar no Brasil, onde novamente é dublado pelo humorista Fábio Porchat que, como no primeiro filme, imprimiu toda a sua experiência e timing de comediante.


Mais um detalhe: "Frozen 2" é uma animação extremamente bonita. As cores da floresta, das águas e até das roupas dos personagens parecem ter sido detalhadamente estudadas para encantar e emocionar. As nuances beiram à perfeição. As cenas em que Elsa galopa mar adentro, enfrentando ondas gigantes montada no seu cavalo de gelo, são de arrepiar.


Ficha técnica:
Direção: Jennifer Lee e Chris Buck
Produção: Walt Disney Pictures
Distribuição: Disney/Buena Vista
Duração: 1h44
Gênero: Animação
País: EUA
Classificação: Livre

Tags: #Frozen2, #IntoTheUnknown, #ElsaEAnna, #Olaf, #FabioPorchat, #GloboDeOuro, @WaltDisneyPictures, @DisneyAnimation, #espaçoz, cineart_cinemas, @cinemaescurinho, @cinemanoescurinho

01 janeiro 2020

Paramount Pictures divulga o trailer oficial de "Um Lugar Silencioso - Parte II"

(Crédito:Paramount Pictures/Divulgação)

 

Da Redação


Com estreia prevista para 19 de março no Brasil, "Um Lugar Silencioso - Parte II" ("A Quiet Place Part II") tem seu primeiro trailer oficial divulgado pela Paramount Pictures. O suspense é novamente dirigido e roteirizado por John Krasinski, que repetiu a parceria na produção com Michael Bay, Andrew Form e Bradley Fuller. A história começa a partir dos acontecimentos mortais do primeiro filme - "Um Lugar Silencioso" (2018), um dos melhores de terror/suspense dos últimos tempos.

A família Abbott - a mãe Evelyn (Emily Blunt) e os filhos Reagan (Millicent Simmonds), Marcos (Noah Jupe) e o recém-nascido - precisa agora encarar o terror mundo afora, continuando a lutar para sobreviver em silêncio. Obrigados a se aventurar pelo desconhecido, eles rapidamente percebem que as criaturas que caçam pelo som não são as únicas ameaças que os observam pelo caminho de fuga. No elenco estão ainda Cillian Murphy e Djimon Hounsou.


Tags: #UmLugarSilencioso2, #AQuietPlacePart II, #EmilyBlunt, #JohnKrasinski, #MichaelBay, #suspense, #terror, #ParamountPicturesBrasil, @cinemanoescurinho

31 dezembro 2019

Os melhores filmes de 2019 pela turma do Cinema no Escurinho


Da Redação


Colaboradores e seguidores do @cinemanoescurinho viram vários filmes ao longo de 2019 e cada um fez a sua lista dos dez que foram seus preferido no ano. Do diretor Joon-ho Bong, o sul-coreano "Parasita" predomina entre as indicações como uma produção que merece ser assistida. O suspense "Bacurau", dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, mostra um novo cinema nacional, cada vez melhor e despontando nos festivais internacionais. 

Também entre os mais indicados está "O Irlandês", com direção de Martin Scorsese e um grande elenco formado por Robert De Niro, Joe Pesci e Al Pacino. Se você deixou passar algum deles, seguem abaixo as dicas do blog com os links das críticas publicadas por essa turma que curte cinema. Curta, compartilhe e boa diversão!

Wallace Graciano
- Parasita - (Coreia do Sul) - suspense
- Coringa (EUA/Canadá) - drama
- Dor e Glória (Espanha) - drama
- Era uma Vez em… Hollywood (EUA) - drama / comédia
- Cafarnaum (Líbano) - drama
- Bacurau (Brasil) - suspense / drama
- Nós (EUA) - terror / suspense
- Rocketman (Reino Unido) - musical / biografia
- Toy Story 4 (EUA) - animação / aventura
- A Vida Invisível (Brasil) - drama


Jean Piter
 - Vingadores Ultimato (EUA) - Ação / Aventura / Fantasia
- O Irlandês (EUA/Canadá) - drama
- Coringa (EUA/Canadá) - drama
- Dois Papas (Reino Unido/Itália/Argentina/EUA) - drama
- Bacurau (Brasil) - suspense /drama
- Cafarnaum (Líbano) - drama
- Dor e Glória (Espanha) - drama
- História de Um Casamento (EUA) - drama
- Parasita - (Coreia do Sul) - suspense
- Toy Story 4 (EUA) - animação / aventura


Carol Cassese
- Bacurau (Brasil) - suspense / drama
- Dois Papas (Reino Unido / Itália / Argentina / EUA) - drama
- No Coração do Mundo (Brasil) - drama
- Parasita - (Coreia do Sul) - suspense
- História de Um Casamento (EUA) - drama
- Entre Facas e Segredos (EUA) - suspense / drama 
- Dor e Glória (Espanha) - drama 
- Democracia em Vertigem (Brasil) - documentário
- Rocketman (Reino Unido) - musical / biografia
- O Professor Substituto (França) - suspense


Maristela Bretas
- Vingadores Ultimato (EUA) - Ação / Aventura / Fantasia
- Nós (EUA) - terror / suspense
- Bacurau (Brasil) - suspense /drama
- Entre Facas e Segredos (EUA) - suspense / drama 
- Coringa (EUA / Canadá) - drama
- Toy Story 4 (EUA) - animação / aventura
- Ford vs Ferrari (EUA) - biografia / drama
- Crime Sem Saída - (EUA) - suspense / ação
- Rocketman (Reino Unido) - musical / biografia
- O Farol (Canadá / EUA) - Terror / Suspense / Drama




Mirtes Helena Scalioni
- Parasita - (Coreia do Sul) - suspense
- Todos Já Sabem (Espanha / França / Itália) - suspense / drama
- Tudo o Que Tivemos (EUA) - drama 
Bacurau (Brasil) - suspense /drama
Dor e Glória (Espanha) - drama 
- O Professor Substituto (França) - suspense
Era uma Vez em… Hollywood (EUA) - drama / comédia
A Odisseia dos Tontos (Argentina / Espanha) - drama / aventura / comédia
- Assunto de Família (Japão) - drama
- Querido Menino (EUA) - drama


Nossa seguidora Patrícia Cassese também quis dar sua colaboração aos leitores do blog e mandou sua lista. Confira abaixo:

- Parasita - (Coreia do Sul) - suspense
Bacurau (Brasil) - suspense /drama
- A Vida Invisível (Brasil) - drama
Coringa (EUA/Canadá) - drama
- O Irlandês (EUA/Canadá) - drama
No Coração do Mundo (Brasil) - drama
Democracia em Vertigem (Brasil) - documentário
Dor e Glória (Espanha) - drama
- História de Um Casamento (EUA) - drama
Nós (EUA) - terror / suspense

Tags: #MelhoresFilmesDe2019, #Parasita, #VingadoresUltimato, #OIrlandes, #Bacurau, #HistoriasdeUmCasamento, #ToyStory4, #Coringa, #Nós, #Rocketman, @cinemaescurinho, @cinemanoescurinho

28 dezembro 2019

Com fotografia excepcional em preto e branco, "O Farol" é um dos melhores filmes do ano

Willem Dafoe e Robert Pattinson interpretam dois faroleiros que vivem isolados numa ilha na Nova Inglaterra, nos anos de 1890 (Fotos Universal Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


Fotografia, diálogos, locações e duas excelentes atuações merecedoras de prêmios - Willem Dafoe e Robert Pattinson - "O Farol" ("The Lighthouse") é uma obra que já nasceu para ser muito premiada por todo seu conjunto. Filmado todo em preto e branco, o diretor Robert Eggers, responsável também por outra obra prima moderna de terror, "A Bruxa" (2016), envolve o expectador aos poucos, com poucos diálogos no início que vão ganhando volume, agilidade e agressividade no decorrer da trama. Todo filmado em preto e branco, a fotografia, que contou com direção de Jarin Blaschke, é outro grande destaque, depois das atuações. Usando textura antiga, mais acinzentada, ela proporciona uma imagem ainda mais sombria e angustiante.


As duas atuações foram excelentes, mas Dafoe está excepcional, o próprio retrato da loucura e merece demais um Oscar e todos os prêmios que conquistar na temporada de festivais que se inicia em 2020. Pattinson está cada vez melhor e provou que seu personagem da saga "Crepúsculo" é coisa do passado e assume lugar de destaque nas produções independentes, o que já vinha ocorrendo desde 2014, quando estrelou "The Rover: A Caçada".



A produção mistura drama, terror psicológico, suspense e alusões à mitologia e deuses, numa crescente paranoia que vai dominando os personagens e criando um ambiente sufocante, que incomoda, mas prende o expectador. Mesmo quando, em alguns momentos, a narrativa fica monótona, para em seguida ganhar força e surpreender. A solidão do isolamento na ilha leva à loucura e consome os dois faroleiros, que dividem seu tempo entre alucinações, bebedeiras e segredos. Somente as centenas gaivotas e o mar bravio e misterioso são testemunhas da convivência entre os dois estranhos que terão de habitar o local por um mês, cuidando do farol.



Robert Eggers conduz toda a trama com perfeição, reunindo elementos que mostram a que ponto pode chegar uma mente perturbada, aliada ao consumo desenfreado de álcool para aplacar a solidão. Thomas Wake (Willem Dafoe) e Ephraim Winslow (Robert Pattinson) são dois faroleiros em uma ilha remota na Nova Inglaterra, nos anos de 1890. Eles criam uma relação de dependência e submissão, recheada de ofensas, agressões e bebedeiras, enquanto aguardam a chegada do navio que irá buscar Ephraim após um mês de trabalho no local.


Sereias e deuses mitológicos fazem parte da insanidade dos dois personagens. A tensão vai crescendo a tal ponto que o expectador chega a ter dúvidas se o que está acontecendo é verdade ou fruto da loucura de ambos. Há até mesmo uma referência à história do titã Prometeu, condenado a ficar amarrado a uma rocha e ter seu fígado comido diariamente durante anos por abutres, como punição por ter roubado o fogo dos deuses do Olimpo.



A estreia mundial de "O Farol" ocorreu na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes 2019, e o filme levou o prêmio de Melhor Filme da Federação Internacional de Críticos de Cinema (FIPRESCI). Também recebeu cinco indicações ao Film Independent Spirit Awards: Diretor, Ator (Pattinson), Ator Coadjuvante (Dafoe) - discordo, ele é o Melhor Ator -, Fotografia e Montagem. A cerimônia desta premiação será realizada no dia 8 de fevereiro de 2020. 

A A24, responsável também pelo filme "Joias Brutas" ("Uncut Gems"), com Adam Sandler, outro forte concorrente a vários prêmios, está dominando no Spirit Awards com 18 indicações. São também da produtora sucessos vencedores do Oscar como "Moonlight: Sob a Luz do Luar" (2017), "Lady Bird: A Hora de Voar" (2018) e "Artista do Desastre" (2017). "O Farol" é uma produção imperdível, um dos melhores filmes do ano.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Robert Eggers  
Produção: Focus Features / A24 / New Regency Pictures / RT Features 
Distribuição: Vitrine Filmes
Duração: 1h49
Gêneros: Terror /Suspense / Drama
Países: Canadá / EUA
Classificação: 16 anos
Nota: 5 (0 a 5)

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22 dezembro 2019

"Star Wars" encerra 40 anos de saga aparando pontos e emocionando ao conectar passado e presente

Rey, Poe, Finn, Chewbacca e os robôs C3PO, BB8 e R2D2 retornam a jornada para encontrar e derrotar o Imperador Palpatine (Fotos: Walt Disney Studios/Divulgação)

Maristela Bretas


Como falar de uma saga que marcou parte da minha vida, inspirou gerações e se encerra deixando uma sensação de que o dever foi quase cumprido? "Star Wars - A Ascensão Skywalker" ("Star Wars - The Rise of Skywalker") é um bom filme, bem ágil, com muita ação e esclarece várias dúvidas surgidas ao longo da saga, além de ótimos efeitos visuais, como era esperado de uma produção dirigida por J.J. Abrams. No entanto, o nono e último episódio da terceira fase e também de toda a franquia, iniciada em 1977 com "Guerra nas Estrelas - Uma Nova Esperança", é o menos impactante desta trilogia, apesar de ter um ritmo frenético.


Os momentos de emoção surgem quando alguns personagens e locações de filmes anteriores retornam à saga, conectando passado e presente na luta entre o lado bom e o lado sombrio da Força. As eletrizantes batalhas espaciais não ficaram de fora, assim como o local escolhido como palco para a derradeira disputa entre Rey e Kylo Ren - a destruída, mas não esquecida Estrela da Morte, do Episódio IV.


Também foi muito boa a ideia de utilizar cenas inéditas da General Leia Organa feitas para o episódio VII - "O Despertar da Força" (2015), inserindo as falas e trabalhando a parte técnica. Funcionou bem para compor uma das mais importantes personagens desta nova fase e permitir que ela participasse da história que encerra a saga, como estava previsto. Mas a morte prematura da atriz Carrie Fisher em dezembro de 2016, antes da estreia do Episódio VIII, exigiu uma modificação completa nas partes em que ela deveria aparecer.


A trilha sonora original, especialmente a música-tema composta por John Williams, é sempre um prazer à parte e ainda causa arrepios quando tocada. Daisy Ridley (Rey) está ótima, segura e é a melhor do trio principal. É em cima do mistério da história de Rey que gira quase toda a trama. Adam Driver também foi melhorando a cada filme e compõe bem o vilão Kylo Ren, que jurava que poderia superar o insuperável Darth Vader, seu avô. E são eles os responsáveis por uma das batalhas mais empolgantes deste filme.


Outro vilão que faz uma volta triunfal é o Imperador Palpatine, com boa interpretação do ator Ian McDiarmid, outro veterano da franquia. John Boyega (Finn) e Oscar Isaac (Poe Dameron) entregam bons papéis, mas nada excepcional. Ficou a impressão de que o trio de heróis, apesar de mais unido, não estava mais com a mesma emoção e euforia nesse encerramento como em "O Despertar da Força" quando contracenaram pela primeira vez com seus ídolos do passado.


Muito bom rever Billy Dee Williams pilotando a Millennium Falcon como Lando Calrissian ao lado de Chewbacca, que ficou mais conhecido na saga interpretado por Peter Mayhew e hoje é vivido pelo jovem ator finlandês Joonas Suotamo. Destaque também para C3PO (o robô dourado eternizado pelo ator Anthony Daniels), cuja atuação foi essencial neste episódio. Também foram inseridos novos personagens, o que ajudou a não deixar a história repetitiva.


Neste último episódio da saga, com o retorno do Imperador Palpatine, todos voltam a temer seu poder e, com isso, a Resistência toma a frente da batalha que ditará os rumos da galáxia. Mesmo com todo o treinamento recebido de Leia e Luke para se tornar uma Jedi, Rey ainda quer respostas sobre seu passado e o porquê de ter sido abandonada pelos pais. Sua ligação com Kylo Ren está cada vez mais forte e a coloca em dúvida sobre qual lado da Força deve seguir.

A franquia

Criada e dirigida pelo grande George Lucas, a franquia Star Wars foi sucesso desde o primeiro episódio, que na verdade é o quarto - "Guerra nas Estrelas - Uma Nova Esperança". E se superou com o excelente "Episódio V: O Império Contra-Ataca" (1980), encerrando a primeira trilogia com o "Episódio VI: O Retorno de Jedi" (1983). Foi o suficiente para criar e arrastar uma legião de fãs, que acompanhou a saga de Luke Skywalker, Princesa Leia, Yoda, Chewbacca, Han Solo, mestres Jedi como Obi-Wan Kenobi, os robôs R2D2 e o tagarela C3PO, as forças do mal comandadas pelo assustador Imperador Palpatine e o mais insuperável vilão de todos os tempos, Darth Vader.


O sucesso foi tão grande que inspirou seu criador a retomar a saga 16 anos depois, invertendo a ordem da história para contar, a cada três anos, a origem de tudo numa segunda trilogia, começando com o "Episódio I: A Ameaça Fantasma" (1999), seguida pelo "Episódio II: Star Wars: O Ataque dos Clones" (2002) e o "Episódio III: A Vingança dos Sith" (2005).


Dez anos se passaram até que a saga retornasse com o Episódio VII - O Despertar da Força". Era a vez de Rey, Finn e Poe Dameron se tornarem os novos heróis e Darth Vader dar lugar a um sucessor no lado sombrio - seu neto Kylo Ren. Mas foram as marcantes figuras de Han Solo (Harrison Ford), Princesa Leia Organa (Carrie Fisher), Luke Skywalker (Mark Hamill), Chewbacca (Peter Mayhew) que levaram às lágrimas fãs como eu, cada vez que surgiam na tela.


Entre spin-offs, alguns muito bons, como "Rogue One" (2016) e outros bem fracos, como "Han Solo" (2018), nasceu a terceira trilogia que, como as demais, conquistou uma nova geração e também as passadas. Em 2017 foi a vez de Rey iniciar seu treinamento com o mestre Luke, ao mesmo tempo que Kylo Ren ganhava força e poder em "Os Últimos Jedi". Com "A Ascensão Skywalker" a saga se encerra, mas vai sempre permanecer na lembrança do milhões de fãs que "Há muito tempo, em galáxias muito, muito distantes..." seguiram com paixão o mundo de Star Wars.


Ficha técnica:
Direção: J.J.Abrams
Produção: LucasFilm / Walt Disney Studios
Distribuição: Disney Buena Vista
Duração: 2h22
Gêneros: Ficção / Aventura /Ação
País: EUA
Classificação: 12 anos
Nota: 4 (0 a 5)

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