17 agosto 2020

"7500" aposta na fórmula tensão e suspense durante o sequestro de um avião

Joseph Gordon-Levitt é o negociador que tenta evitar o sequestro de seu avião e a morte de passageiros e tripulação (Fotos: Universum Film/Divulgação)

Maristela Bretas


Centrado no drama claustrofóbico vivido pelo copiloto Tobias Ellis, papel de Joseph Gordon-Levitt ("Entre Facas e Segredos" - 2019 e "A Travessia" - 2015), "7500" é um suspense de pouco mais de 90 minutos de duração, mas que parecem horas, tamanha a tensão. Especialmente por toda a ação ocorrer na cabine de um voo entre Berlim e Paris, envolvendo apenas três personagens na maior parte do tempo. A produção também não tem uma trilha sonora impactante e os efeitos visuais são limitados, além de atores pouco conhecidos (exceto Gordon-Levitt).


A produção original da Amazon Prime Video é boa, mas o ambiente pequeno e fechado incomoda profundamente a quem assiste. Talvez tenha sido a forma encontrada pelo diretor Patrick Vollrath para envolver mais o espectador na trama. Logo após decolar de Berlim, um grupo de radicais islâmicos consegue dominar a tripulação e matar o piloto antes que a porta da cabine fosse trancada pelo copiloto.


Em seu pequeno espaço, por meio do código aéreo internacional 7500 (sequestro de avião), Tobias avisa às autoridades o que está ocorrendo e é orientado a levar a aeronave para um aeroporto próximo. E, em hipótese alguma, deve abrir a porta da cabine. Ao mesmo tempo, ele é pressionado pelos terroristas para que os deixe entrar e dominar o avião ou pessoas serão mortas. Pela tela do monitor de segurança dentro da cabine, o copiloto assiste os sequestradores cumprirem a promessa, matando passageiros e tripulantes.



O filme foca no drama de Tobias: aceitar as condições dos terroristas e entregar o avião ou salvar centenas de pessoas, pousando a aeronave em segurança e deixando a polícia cuidar de tudo? "7500" lembra em situações mostradas em sucessos como "Voo United 93" (2006), dirigido por Paul Greengrass (o mesmo de "22 de julho" e a franquia Bourne), porém sem o mesmo impacto emocional do atentado do 11 de setembro.




Levitt entrega uma boa interpretação do copiloto americano que trabalha para uma companhia aérea alemã e é casado com uma tripulante. O elenco conta ainda com Omid Memar, que faz o jovem terrorista Vedat, Aylin Tezel (comissária Gókce), Carlo Kitzlinger (piloto Michael Lutzmann), Murathan Muslu (sequestrador Kinan) e outros ainda menos conhecidos.


No início paciente e usando um tom de voz pacificador, Tobias tenta negociar com os sequestradores, mas à medida que a tensão vai crescendo, ele precisa tomar uma decisão. Até então bem tensa, a história sofre uma mudança e cai na solução clichê que o cinema já explorou muito - o copiloto explora a fraqueza de Vedat, o mais assustado dos sequestradores, que não está muito convicto de que é certo o que os demais querem fazer.

Tudo o que vem a partir daí é bem esperado, mas não tira o mérito do filme. Para quem não se incomoda com ambientes reduzidos e fechados, "7500" é um bom filme, bem tenso, mas sem grandes novidades ou surpresas.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Patrick Vollrath
Exibição: Amazon Prime Video
Duração: 1h32
Classificação: 14 anos
Países: Alemanha e Áustria
Gêneros: Drama / Suspense
Nota: 3 (0 a 5)

Tags: #7500Movie, #JosephGordon-Levitt,  #drama, #suspense, #sequestroaereo, #AmazonPrimeVideo, #cinemaescurinho, @cinemanoescurinho

13 agosto 2020

“Maudie – Sua Vida e Sua Arte” revela com sensibilidade a força da pintora canadense

Sally Hawkins apresenta uma artista sofrida por seus defeitos físicos e limitações, mas de grande talento (Fotos: Sony Pictures/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Quando querem ser muito edificantes, exagerando nas tintas na hora de focalizar o sofrimento do personagem, histórias de superação costumam ser óbvias e até chatas. Talvez até para valorizar mais o momento em que ele ou ela alcançam algum êxito ou reconhecimento, filmes e livros com esse tema acabam caindo nessa armadilha. Esse não é o caso de “Maudie – Sua Vida e Sua Arte”, cinebiografia conjunta de Irlanda e Canadá sobre a artista plástica Maudie Dowley. Com direção de Aisling Walsh, o longa, em exibição na Netflix, emociona e envolve, apesar dos muitos e difíceis obstáculos vividos pela protagonista.


Estrelado por Sally Hawkins, muito elogiada por “A Forma da Água” (2018), ela faz uma Maudie sofrida por seus defeitos físicos e limitações, mas ao mesmo tempo honrada. O filme permite um bate-bola produtivo e comovente da atriz com Ethan Hawke, que interpreta o brutamonte Emery Allen, com quem ela vive. A história praticamente se resume ao encontro dos dois, que tentam construir uma vida juntos apesar das muitas barreiras que os separam. Além do casal, estão no elenco, em papéis menores, Gabrielle Rose como a Tia Ida e Kari Matchett como Sandra.


A artista plástica Maudie Dowley nasceu em 1903 na Nova Escócia, no Canadá, teve uma vida de muita pobreza e dificuldades, e tinha um talento para a pintura que não cabia dentro dela. Mesmo sofrendo de uma artrite reumatoide que limitava seus movimentos de mãos e pernas, a arte pulsava no seu corpo de uma forma quase compulsiva. E essa força, esse desejo irrefreável de desenhar, retratar, pintar, dar cor e vida a pássaros, peixes e paisagens é que fazem diferença no filme, prendendo o espectador com muito interesse até o fim. É como se a arte fosse um sopro de esperança.

Pode até acontecer de alguém ficar incrédulo diante de tanta força, apesar da pobreza, das dificuldades e do abandono. Mas a mão certeira do diretor e as atuações convincentes dos atores não deixam dúvidas sobre o poder da arte na vida dessa mulher que morreu em 1970. Ao final do filme, é inevitável uma busca na internet para pesquisar o nome de Maudie Dowley. Só isso vale o filme.


Ficha técnica:
Direção:
Aisling Walsh
Exibição: Netflix
Duração: 1h56
Produção: Sony Pictures
Classificação: 12 anos
Países: Irlanda / Canadá
Gêneros: Biografia / Drama / Romance


Tags: #MaudieSuaVidaESuaArte, Netflix, MaudieDowley, EthanHawke, SallyHawkins, SonyPictures, drama, romance, biografia, cinemanoescurinho

12 agosto 2020

Em "The Banker", Samuel L. Jackson e Anthony Mackie arrasam como os primeiros banqueiros negros dos EUA

Para conquistar o mercado, dupla precisa de um branco para ser o teste de ferro dos negócios (Fotos: Apple TV+ /Divulgação)

Maristela Bretas


Com ótimas atuações de Anthony Mackie e Samuel L. Jackson, "The Banker" expõe o racismo na década de 1950. O primeiro longa-metragem produzido pela Apple TV+ merece ser conferido. Ele mostra duas visões da mesma questão racial, que é tão forte no interior do Texas quanto numa cidade grande como Los Angeles. Apesar da capacidade de identificar boas oportunidades de negócios e de investir dinheiro, Joe Morris (Samuel L. Jackson) e Bernard Garrett (Anthony Mackie) não passam de dois empresários afro-americanos que são vistos com preconceito pelo mercado.


Garret é de origem pobre, nascido numa cidade pequena do Texas que ainda vive sob a bandeira confederada e que não aceita que negros tenham direitos. Genial em cálculos desde pequeno, ele passa a juventude aprendendo tudo o que pode sobre mercado imobiliário e investimentos financeiros. E promete a si mesmo que vai vencer e construir seu império numa grande cidade. Mackie está ótimo no papel, do negro batalhador, mas arrogante, que não aceita o subemprego, nem mesmo quando sua empresa está em risco.

Samuel L. Jackson, com seu jeitão fanfarrão e a risada que é marca registrada, entrega, como sempre, uma ótima interpretação de Joe Morris, o dono de um clube noturno que, com muito jogo de cintura, fez sua vida e fortuna em Los Angeles. 


Apesar de trancos e barrancos do primeiro contato, ele e Garret acabam formando uma sólida sociedade numa corretora imobiliária para depois partirem para um voo mais ousado: se tornarem os primeiros banqueiros negros dos Estados Unidos, em um dos piores períodos de segregação racial do país.

Mas para terem sucesso e entrarem "no mundo dos brancos", eles precisavam "ser brancos". Para isso, tiveram que contar com mais um integrante na equipe que era um fracasso total em fazer negócios e que tinha pouco tempo para aprender como se tornar um empresário de sucesso e ser o testa de ferro da dupla para negociar no preconceituoso mercado. 


E foi usando a cor e a aparência de Matt Steiner (Nicholas Hoult, que também entrega uma boa atuação e consegue acompanhar a dupla) que Garrett e Morris conseguiram, por muitos anos, contornar as limitações raciais da época e se tornarem os primeiros proprietários de imóveis negros mais ricos e bem-sucedidos do país. Hoult também entrega uma boa atuação e consegue acompanhar o ritmo da dupla principal.


A todo o momento, a questão racial é lembrada, tanto na hora de fechar um negócio usando Steiner de fachada, quanto na relação de Garrett com as pessoas de sua cidade natal. Numa época em que negros eram vistos como raça inferior, um segredo como este ia acabar sendo descoberto. O enredo é bom, mas é na interpretação da dupla principal que o filme se sustenta muito bem. Também a reconstituição de época ficou muito boa


Baseada em fatos reais, "The Banker" teve seu lançamento adiado por causa de uma acusação de abuso sexual infantil cometido por Bernard Garrett Jr. contra as irmãs do segundo casamento do pai quando todos moravam na mesma casa. Ou seja, no período abordado pelo filme. O acusado é um dos produtores do filme e aproveitou para contar apenas sua versão da história do pai, quando vivia com sua mãe, Eunice. No filme ela é interpretada por Nia Long, cujo talento merecia mais destaque.

A madrasta e as meias-irmãs de Garrett Jr. foram ignoradas completamente por ele na história, provocando revolta na família. Os abusos foram denunciados às vésperas da estreia no cinema, em novembro de 2019, provocando seu adiamento. Somente em julho deste ano, a Apple TV+ lançou a produção diretamente em seu canal de streaming.


Ficha técnica:
Direção e roteiro:
George Nolfi
Exibição: Apple Tv+
Produção: Romulus Entertainment
Duração: 2 horas
Classificação: 14 anos
Gênero: Drama
Nota: 4,5 (0 a 5)


Tags: TheBanker, AppleTV+, AnthonyMackie, SamuelLJackson, NicholasHoult, NiaLong, drama, banqueiros, racismo, segregaçãoracial, cinemaescurinho, @cinemanoescurinho

06 agosto 2020

"Difícil É Não Brincar" é selecionado para o Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo

Produção mineira registra a infância em três distritos do interior de Minas Gerais (Fotos: Eliane Gouvêa/Divulgação)


Da Redação


A produção mineira "Difícil É Não Brincar", da diretora Papoula Bicalho, foi selecionada para o 31º Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, que acontece entre 20 e 30 de agosto, na Mostra Infanto-Juvenil. O filme é dos seis mineiros selecionados entre 3.056 inscritos na premiação.

O curta registra a infância em três distritos do interior de Minas Gerais pertencentes aos municípios de Congonhas e Ouro Preto, onde a produção de minério é a principal atividade econômica. Entre minas e minérios, crianças brincam e revelam seus sonhos e pesadelos, apostando que até nas adversidades, difícil mesmo é não brincar.

Dar voz às crianças é o principal objetivo do filme. “Meu desejo era torná-las protagonistas, narradoras e produtoras das sequências. A brincadeira foi o modo de obter isso de forma espontânea e criativa”, conta Papoula Bicalho, que concebeu e dirigiu o filme. “Quando as crianças brincam, liberam o seu imaginário e mostram de forma sensível os desejos, sonhos e pesadelos que as animam ou afligem. Você passa a ver a criança sem as máscaras impostas por certa cultura ou religião, pela família, por hábitos e costumes. Elas estão ali, inteiras, inventivas”.


Ambientado nesse universo lúdico das brincadeiras da infância, o enredo traz à tona várias nuances desta fase da vida e levanta questões pessoais e sociais que as crianças enfrentam: as inseguranças, a adaptação a diferentes realidades das comunidades, os sonhos que dividem espaço com incertezas do futuro e as delícias de ser criança e poder, mesmo nas adversidades, inventar mundos possíveis, brincando.

Participaram das filmagens mais de 90 crianças de Miguel Burnier e Comunidade do Mota (distrito e sub-distrito de Ouro Preto) e Lobo Leite (distrito pertencente a Congonhas). Os pontos de partida para a construção do enredo foram provocações e desafios que pudessem resultar em brincadeiras e depoimentos significativos para desvendar anseios, intimidações, prazeres e desejos que se apoderam dessas crianças no dia-a-dia. “O narrador do filme é a ação delas em meio aos colegas, amigos e à paisagem dos locais onde vivem”, explica Papoula Bicalho.


O curta contou com direção de produção de Janice Miranda, apoio institucional do Museu de Congonhas, parceria com a comunidade escolar dos distritos onde foram feitas as filmagens e realização da Luz Comunicação, com patrocínio da Gerdau.

Link para o teaser:

Ficha técnica:
Direção, concepção, roteiro, trilha e montagem
: Papoula Bicalho

Assistência de direção: Bruno Madeira, Zé Paulo Osório
Direção de produção: Janice Miranda
Produção: Fabrício Kent, Nathália Rezende Santos, Valdirene Andrade
Captação de imagem e som: Eliane Gouvêa, Papoula Bicalho, Rodrigo Gouvêa, Zé Paulo Osório
Tratamento e masterização de som: André Cabelo
Transporte: Edgard Magalhães, João Batista De Magalhães

Tags: DifícilÉNãoBrincar, FestivalInternacionalDeCurtasMetragensDeSãoPaulo, curta-metragem, produçãomineira, Papoula Bicalho, OuroPreto, Congonhas, crianças, brincadeiras, cinemanoescurinho

05 agosto 2020

"Okja" - Uma porca tamanho família que vale ouro

Filme mostra a amizade pouco comum entre uma criança e um animal e a luta pela preservação dele (Foto Netflix/Divulgação)

Silvana Monteiro


Se você ama animais e é ao menos simpatizante da luta em defesa e proteção deles, "Okja" vai te encantar. O filme é dirigido pelo premiado Bong Joon-Ho (de "Parasita" - 2019) e coescrito por Bong e Jon Ronso. O elenco conta com estrelas como por Jake Gyllenhaal, Tilda Swinton, Paul Dano, Giancarlo Esposito e a jovem e talentosa atriz sul-coreana Ahn Seo-hyun, que faz toda a diferença, A produção competiu pela Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes, em 2017. 

Mija (Ahn Seo-hyun) é uma camponesa órfã que vive com o avô em uma fazenda isolada. Eles criam uma porca gigante, tratada pela menina como um membro da família. É a única companhia fiel e ideal para o banho no lago, para a pesca, o soninho da tarde, ou simplesmente deitar e rolar sobre a grama. É no doce e penetrante olhar que Okja transmite ao público seus sentimentos mais profundos desde a amizade sincera ao medo por seu futuro.


Entretanto, mal sabe ela que por trás daquele animal fofo e molengo feito gelatina há uma realidade dura e cruel. Uma empresa norte-americana, comandada por Lucy Mirando/Nancy Mirando (Tilda Swinton interpreta dois papéis), explora, altera geneticamente e vende até a alma de cada animal. A gigantesca porca carrega no corpo um chip rastreador com todo o seu histórico de vida e saúde, e vai ser usada como o troféu desse projeto.

A fotografia do filme é muito impactante. As cenas em que Mija vira uma leoa para defender seu bichinho de  estimação e viaja sozinha para a sede da empresa são as mais fortes do filme. 


Outro ponto crucial do enredo é quando a menina e a porca sofrem um rapto do bem, comandado pelos ativistas da Animal Liberation Front (em tradução livre "Frente de Libertação Animal"). A partir desse ponto, tudo pode mudar. Mija ainda vai sofrer um duro golpe até entender que o que vale para os empresários é dinheiro. E pela vida de sua tão amada Okja ela está disposta a tudo, até mesmo trocar um valioso tesouro.


Jake Gyllenhaal tem uma atuação brilhante como o Dr. Johnny Wilcox, um falso amante dos animais e capacho de Lucy Mirando. A trama tem um desfecho surpreendente, daqueles que fazem qualquer um se emocionar. Se prepare para ver de cenas fofas, bem humoradas a momentos dolorosos, de fazer soluçar e inchar os olhos. Dê um start e veja até onde vai a força feminina de uma garotinha que parece, só parece, indefesa.


Ficha técnica:
Direção e roteiro:
Bong Joon- Ho
Exibição: Netflix
Duração: 1h58
Classificação: 14 anos
Países: Coréia Do Sul / EUA
Gêneros: Aventura / Ficção / Drama


Tags: Okja, Netflix, BongJoon-Ho, JakeGyllenhaal, TildaSwinton, sensibilidade, família, exploração animal, consciência ambiental, veganismo, defesa animal, força feminina, ativismo socioambiental, cinemanoescurinho, cinemaescurinho

31 julho 2020

“El Presidente”, a minissérie da Amazon que desnuda os bastidores do futebol que muitos fingem não ver

Usando a ficção, o diretor mostra o desrespeito dos dirigentes de times pelos torcedores (Fotos: Amazon Prime Video/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Gente que gosta muito de futebol talvez perdoe – e até releve as inacreditáveis falcatruas que vêm à tona na minissérie “El Presidente”, da Amazon Prime Video. Por mais que a verdade tenha se juntado à ficção para tentar dourar a pílula, não deixa de ser um espanto o relato de corrupção na FIFA, a maior instituição representativa do mais querido e popular esporte do mundo: o futebol.


É correta – mas poderia ser mais contundente – a produção que juntou Chile, Argentina e Estados Unidos para falar, mesmo que vestido de ficção, de um caso tão rumoroso que acabou com a prisão de figurões conhecidos. Interessante descobrir que, enquanto levavam alegria aos torcedores nos estádios e aos telespectadores mundo afora, esses senhores enchiam malas de dólares, manipulavam sorteios e se esbaldavam em noitadas de bebedeira e mulheres.


Sem dúvida, um atrativo da série é reconhecer personalidades e figuras carimbadas que o público se acostumou a ver nos noticiários. Estão lá João Havelange, Joseph Blatter, J. Hawilla, Ricardo Teixeira, José Maria Marins... O escândalo, que veio à tona em 2015, mostrou a roubalheira que envolveu mais de 150 milhões de dólares. Teve gente que foi para a cadeia, outros até já saíram e alguns morreram.

O caso, que ficou conhecido como Fifagate, assusta principalmente pelo requinte das narrativas das manobras, um claro desrespeito aos pobres inocentes que vestem camisas, gritam, suam, brigam e gastam o que não têm para defender seu time. Na verdade, os dirigentes zombam do torcedor.


O futebol é uma festa, parece enfatizar o diretor da série, Pablo Larrain, que encontrou um jeito quase imparcial e distante para contar sua história. Recorreu à visão de Julio Grondona (vivido pelo ator Luis Margani), grande líder do futebol argentino entre 1979 e 2014, que narra tudo o que sabe a partir da sua confortável posição de morto.

Outro recurso até certo ponto útil é acrescentar uma trajetória paralela, a de Sergio Jadue (interpretado pelo colombiano Andrés Parra), o inexpressivo presidente de um clube de segunda divisão chilena, alçado à conveniente condição de dirigente da Associação Nacional de Futebol do Chile - ANFP - e da Conmebol. Quase um inocente útil.


Como é narrada em idas e vindas, passado e presente, o início de “El Presidente” pode cansar e confundir. Principalmente os menos interessados no assunto podem até desistir antes de chegar ao final dos oito episódios. Mas é importante dizer que, embora confusa, a história do bizarro anti-herói Jadue é mais interessante do que parece e acaba prendendo a atenção.

Uma polêmica investigadora do FBI, Rosário (Karla Souza), e a onipresente e poderosa esposa de Jadue, Nené (Paulina Gaitán), são outros personagens que ajudam a dar cor a essa história rica, cheia de nuances e verdades.


Ficha técnica:
Direção:
Pablo Larrain

Exibição: Amazon Prime Video
Duração: Média de 55 minutos cada episódio
Classificação: 18 anos
Gêneros: Série de TV / Esportes / Ação / Drama
Países: Chile / EUA / Argentina

Tags: #ElPresidente, #AmazonPrimeVideo, #CorrupçãoNaFifa, #Fifagate,  #drama, #seriedetv, #futebol, #crime, #esporte, #cinemaescurinho, @cinemanoescurinho

29 julho 2020

"Oferenda à Tempestade" chega à Netflix e completa a instigante "Trilogia do Baztán"

Terceiro filme e seus antecessores estão disponíveis somente na plataforma de streaming (Fotos: Netflix/Divulgação)

Maristela Bretas


Uma das postagens que mais despertou interesse dos seguidores do blog @cinemanoescurinho nos últimos dias ganha uma sequência. Já está em exibição na @Netflix, "Oferenda à Tempestade" ("Ofrenda a la Tormenta"), filme que encerra a ótima "Trilogia do Baztán", adaptada dos best-sellers homônimos da escritora espanhola de sucesso, Dolores Redondo.

Novamente, o diretor Fernando González Molina conduz de maneira envolvente este terceiro suspense policial, tão bom quanto seu antecessor, "Legado nos Ossos" (2019), apresentado na postagem do blog do dia 4 de junho, juntamente com o primeiro filme da trilogia, "O Guardião Invisível" (2017). As três produções estão disponíveis e merecem ser conferidas seguindo a sequência.


A estreia de "Oferenda à Tempestade" era aguardada desde meados de junho, mas somente no dia 24 de julho o filme foi colocado no catálogo da plataforma. Para surpresa de vários fãs, que esperavam ansiosamente o desfecho das investigações da inspetora Amaia Salazar (muito bem interpretada por Marta Etura) sobre os diversos assassinatos e suicídios ocorridos na província de Navarra, no norte da Espanha.

A história do terceiro filme se passa um mês após a policial ter solucionado os crimes de "Legado nos Ossos". Sem acreditar na morte da mãe Rosário (vivida por Susi Sánchez), cujo corpo nunca foi localizado, Amaia ainda está atrás dos integrantes de uma seita, da qual a mãe fazia parte, que sacrifica bebês em rituais macabros.


Enquanto tenta desvendar os casos, a inspetora precisa dividir as atenções dentro de casa com o filho bebê e o marido, e ainda evitar a aproximação, cada vez maior, do juiz Markina, papel de Leonardo Sharaglia. Repetindo a participação no elenco estão Carlos Librado (policial Jonan Etxaide), Patrícia Lopez Arnaiz (Rosaura Salazar), Elvira Minguez (Flora Salazar) e Paco Tous, como o médico forense Dr. San Martín.


"Oferenda à Tempestade" encerra muito bem a "Trilogia do Baztán", mantendo uma duração muito próxima de seus antecessores. Novamente as locações na cidade e redondezas de Elizondo são uma atração à parte, menos exploradas neste longa que em "O Guardião Invisível". O período chuvoso, mesclado com a neve do inverno e as matas fechadas rodeando as estradas completam o cenário ideal para a trama.



São poucos os momentos de menor suspense e mesmo dando dicas claras do desfecho, este thriller psicológico prende até o final e é tão bom quanto o segundo. Mas os três filmes merecem ser vistos. Para saber mais, confira a crítica e os trailers no post do blog. E tem mais: há informações de que "Oferenda à Tempestade" pode ter uma continuação. Mas só assistindo para saber o que ficou sem solução que merece mais investigações de Amaia Salazar.


Ficha técnica:
Direção: Fernando González Molina
Classificação: 16 anos
Duração: 2h19
País: Espanha
Gêneros: Policial / Suspense


Tags: #OferendaATempestade, #OGuardiãoInvisível, #LegadoNosOssos, #Netflix, #DoloresRedondo, #FernandoGonzálezMolina, #suspense, #policial, #TrilogiaDoBaztán, #cinemaescurinho, @cinemanoescurinho

26 julho 2020

"Desejo Sombrio" - A vingança é um prato que se come bem devagar

Alma Solares e Darío Guerra vivem um tórrido romance na nova série da Netflix (Fotos: Netflix/Divulgação)

Silvana Monteiro


"Desejo Sombrio" ("Oscuro Deseo") é uma série mexicana produzida pela Argos Comunicación que estreou, dia 15 de julho, a 1ª Temporada no catálogo da Netflix. O suspense dramático já está entre os títulos mais assistidos do momento. A fotografia da série é impecável. As locações são perfeitas e rendem quadros maravilhosos. Alma Solares (Maite Perroni, ex-integrante do grupo musical RBD) é uma mulher bem sucedida, professora universitária de Direito, mãe de Zoe (Regina Pavon), uma jovem irreverente e cheia de conflitos internos, e esposa fiel do famoso e incorruptível juiz Leonardo Solares (Jorge Poza).

O casamento, até então perfeito, começa a dar sinais de alerta. A professora aproveita uma viagem do marido como um vale night. Ela vai chorar as mágoas com  Brenda, sua melhor amiga há décadas. São cúmplices, confidentes e parceiras. Mas será que essa amizade é isso tudo mesmo? Nessa saída noturna, ambas conhecem Darío Guerra (Alejandro Speitzer), um jovem estudante de Direito. Alma passa a noite com ele, mas apesar de ter se deliciado do corpo viril e ardente do moço, ela quer que o fato seja esquecido.


Ah! Mas o destino é traiçoeiro. Na manhã seguinte, a Dra. Solares não vai ter que lidar só com a culpa da infidelidade. Ela terá também que conviver com o fato de que sua amiga está morta e que, de alguma forma, o rapaz nunca antes visto, pode estar ligado ao crime. A partir daí, uma trama cheia de suspense vai se desenrolar.

Brenda cometeu suicídio? Foi morta? Por quem e por quê? Quem é Darío Guerra? Um amante apaixonado ou um sociopata? Essas perguntas são parte do clímax da série. E mesmo atormentando a todos, a Dra. Solares estará loucamente apaixonada pelo misterioso e onipresente estudante. 


Traições, crimes, verdades, mentiras, muito sexo, amor e ódio. Histórias e mortos do passado serão desenterrados. Mais mortes podem acontecer e verdades ocultas virão à tona. Qual a ligação entre Darío Guerra e Brenda e casos investigados no passado pelo juiz Leonardo Solares e seu irmão Esteban?

O enredo é ultra envolvente e tem conexões perfeitas que fazem o telespectador não querer se desligar. É o tipo de história que faz querer ver tudo, sem parar nem mesmo para comer. Ah! Mas de água você vai precisar, pois fogo é o que não falta, tanto no sentido literal, quanto no sentido figurado. Abasteça o squeeze!


A outra parte do clímax da série é o envolvimento de Darío com a família Solares, sobretudo com a jovem Zoe. A dúvida que paira sobre a honestidade do Sr. Juiz e de seu irmão, membro da polícia judicial, faz o telespectador coçar a cabeça e roer as unhas. Se você gosta de tramas forenses, casos policiais, romances proibidos e passionais, provavelmente vai suar com "Desejo Sombrio". Beba muita água e respire fundo: nada é o que parece ser.



Ficha técnica:
Criação:
Leticia López Margalli
Exibição: Netflix
Duração: 35 minutos em média cada episódio
Classificação: 16 anos
País: México
Gêneros: Suspense / Erótico / Série de TV


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21 julho 2020

"Greyhound - Na Mira do Inimigo": um ótimo filme de guerra digno de uma tela de cinema


Tom Hanks brilha como o comandante de um navio de guerra que enfrenta submarinos alemães (Fotos: AppleTv+/Divulgação)

Maristela Bretas


Com mais uma grande atuação de Tom Hanks, que também participa como roteirista, "Greyhound - Na Mira do Inimigo" é um dos lançamentos que chegam diretamente para o streaming e está em exibição na plataforma Apple TV+. Um ótimo filme de guerra, com combates do início ao fim, mas que, devido à pandemia do coronavírus, perdeu parte do impacto das batalhas com a exibição transferida para a tela de TV. Merecia estar no cinema, como aconteceu com outros do gênero, como "Pearl Harbor" (2001), "Midway - Batalha em Alto Mar" (2017), "Dunkirk" (2018) e o recente "1917" (2020).

A produção da Sony Pictures, em parceria com a FilmNation, Bron Studios e a Playtone Pictures (do próprio Tom Hanks) é tensa e prende o espectador com muita ação e boas batalhas no mar. São poucos os momentos de paz do capitão Ernest Krause, vivido por Hanks, e sua tripulação. 

Poderia ser somente mais um filme ambientado na 2ª Guerra Mundial - ele se passa em 1942, no Atlântico Norte. Mas a riqueza de detalhes e a atuação de todo o elenco, especialmente do protagonista, além de Stephen Graham (como o imediato Charlie Cole) e de Rob Morgan (o marinheiro Cleveland) fazem a diferença. Elizabeth Shue faz pequena participação, mas é sempre bem vinda. Também o filho caçula de Hanks, Chet Hanks, participa do elenco como Bushnell, o especialista em radar.


Um amigo colecionador de objetos da 2ª Guerra e estudioso do período gostou muito do filme e foi quem me indicou. Ele e outros colecionadores ficaram surpresos com a preocupação do diretor com os detalhes. As imagens internas e externas do navio foram feitas em um destróier classe Fletcher de verdade, que está em um museu nos EUA e foi todo reformado para o filme, inclusive os canhões. Eles também elogiaram o figurino, que seguiu fielmente os uniformes e armamentos da época.


Ele só alertou para o símbolo dos lobos nos submarinos alemães - os originais eram bem pequenos. Eles foram aumentados, possivelmente, para uma melhor visualização nas cenas travadas entre as embarcações no ambiente escuro do oceano.

Tom Hanks entrega um personagem sério, de poucos sorrisos,  mas sempre simpático, extremamente religioso e preocupado com a vida humana, até mesmo do inimigo, mesmo estando em combate. Em sua primeira missão comandando um comboio, o capitão Krause deverá, junto com outros três destróieres, escoltar 37 navios aliados com cargas de mantimentos e soldados pelo Atlântico Norte, sem apoio aéreo em um longo trecho.


Eles se tornam alvo fácil dos submarinos alemães, chamados Lobos Cinzas, que fazem uma verdadeira caçada. As cenas do cerco no mar agitado são semelhantes a uma matilha ao redor de sua presa. Por quase 48 horas, o comandante luta contra os inimigos, o sono, a fome e a dor de horas em pé sem abandonar o posto, sempre à espera de um novo ataque.


"Greyhound" tem alguns furos no roteiro, mas nada que comprometa o resultado final. Adaptado do romance "The Good Shepherd", de CS Forrester, o longa dirigido por Aaron Schneider soube aproveitar bem a computação gráfica nas cenas de batalhas, especialmente quando navios e submarinos ficam emparelhados. Vale a pena conferir.


Ficha técnica:
Direção: Aaron Schneider
Roteiro: Tom Hanks
Exibição: Apple TV+
Produção: Sony Pictures / FilmNation Entertainment / Playtone Pictures
Duração: 1h31
País: EUA
Classificação: 12 anos
Gêneros: Guerra / Ação / Drama

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