17 setembro 2020

"Espírito de Família" é uma boa oportunidade pra aprender a gostar de comédia francesa

  Alexandre e o pai Jacques precisam acertar os erros do passado, mesmo após a morte do segundo (Fotos: A2 Filmes/Divulgação)


Jean Piter Miranda


A história é bem simples. Alexandre Vient (interpretado por Guillaume de Tonquédec) acaba de perder o pai. E como já dá pra imaginar, o próximo passo é o velório, o enterro e o reencontro com a família para dividir os bens. Sim. Mas não é tão previsível assim. O corpo foi e o espírito ficou, pelo menos para Alexandre, que vê e fala com pai. O que não é nada normal. E claro, isso preocupa o restante da família. Isso resume bem o que é “Espírito de Família” ("L'Esprit de Famille").


O novo filme do diretor e roteirista Éric Besnard, de "O Sentido do Amor" (2016) e "Cash: O Grande Golpe" (2008), está disponível a partir desta quinta-feira para aluguel e compra, com cópias nas versões dublada e legendada, nas  plataformas digitais: NOW, Looke, Microsoft, Vivo Play, Google Play, iTunes e Sky Play.



Alexandre é o protagonista. Escritor. Um cara que ao que parece está sempre ocupado, sem tempo para a família. Só se preocupa com suas obras. Não dá atenção a ninguém, por isso é visto como uma pessoa muito egoísta. Até o dia que seu pai Jacques (papel feito sob medida para François Berléand) morre e a ficha cai. 


Tem os processos burocráticos para formalizar a morte do pai e a divisão dos bens com a mãe (Josiane Balasko) e os irmãos, interpretados por Jérémy Lopez e Marie-Julie Baup. É um misto de luto com revisão do passado, já que seu pai está ali, o tempo todo, conversando com ele. E ainda acertar os ponteiros com a esposa Roxane (Isabelle Carré).



Nem precisa dizer que o filme propõe uma vaga reflexão sobre ser ocupado demais e não aproveitar a vida, a família, os amigos. É bem isso e tudo já fica claro logo nas primeiras cenas. Não há quebra-cabeças, não há mistérios nem pontos pra se ligar. É isso. Alexandre sempre se dedicou a escrever livros, foi bem-sucedido nisso e pagou o preço sendo ausente com as pessoas que amava. Amava e não se dava conta, até que o pai morreu.


Tem a volta pra casa da infância, algumas poucas memórias e alguns diálogos que mostram como foi a relação entre pai e filho. Não é fácil rir do que se vê. Os diálogos entre Alexandre e seu pai, as situações constrangedoras que passa por isso, entre outros momentos. É um outro tipo de comédia. Quem está acostumado com o gênero estadunidense pode estranhar e até mesmo nem achar graça.



Se comparada com comédias dos EUA, o filme tem semelhanças e diferenças. Lembra de “Click”, de 2006, que tem Adam Sandler no papel principal? Ou de “Um Homem de Família”, com Nicolas Cage como protagonista? Então. O Alexandre, de “Espírito em Família”, não é tão carismático nem tão engraçado. Dá até pra achar que o caminho será igual, mas não é. O filme francês não força essa barra pra fazer com que o personagem seja amado. É tudo mais natural.


“Espírito em Família” tem cenas que podem ser vistas como bem bobas e até mesmo incompreensíveis. Cenas que, ao que parecem, o diretor tentou que fossem engraçadas ou até memoráveis, como o piquenique em família na praia. São momentos que não estão prontos e não são fáceis de se capturar à primeira vista. O humor é cultural e não se absorve do dia pra noite. Está ali, mas não é qualquer um que vai pescar.



As lembranças mostradas são bem poucas. As dicas dadas pelo diretor vão formar uma ideia de como foi a infância de Alexandre, a relação com os pais e os demais familiares. Isso torna um tanto difícil sentir empatia pelo protagonista, pra quem está acostumado com comédias norte-americanas, que exploram bem esse recurso para provocar emoções nos expectadores. “Espírito de Família” só indica o caminho e deixa o resto com o imaginário do público.


Não há grandes conflitos na história nem pico de emoção, reviravolta ou coisa do tipo. É até meio previsível tudo o que vai acontecer. Tem a beleza das paisagens, a poesia da volta pra casa dos pais, o acerto de contas com as pessoas que ama e mais alguns clichês. Sim, tem clichês. Uns mais sutis, outros mais notáveis, e estão todos ali, bem à vista. Numa história leve de se digerir, com trilha sonora americana e personagens bem franceses. É um bom aperitivo pra aprender a gostar de cinema francês.




Ficha técnica:
Direção e roteiro:
Éric Besnard
Distribuição: A2 Filmes
Duração:1h30
País: França
Gêneros: Comédia / Drama

Tags: #EspiritoEmFamiliaFilme, #LEspritDeFamille, #comediafrancesa, #A2Filmes, #filmeemstreaming, #plataformadestreaming, @cinemanoescurinho, #CinemaEscurinho

13 setembro 2020

"Fratura" - Uma verdade tensa e quase irreal que se recusa a ser exposta

Sam Worthington é o protagonista desse suspense psicológico (Netflix/Divulgação) 

Maristela Bretas


Um acidente, um homem tentando ser o herói da família e uma sequência de fatos tensos que levam o expectador a ter dúvidas, durante toda a narrativa, do que é real ou imaginário. Essa é a abordagem de "Fratura" ("Fractured"), um ótimo suspense psicológico em exibição na Netflix. O filme é dirigido por Brad Anderson, que consegue prender o expectador do início ao fim por colocar sempre em dúvida qual a verdadeira história que envolve o protagonista Ray Monroe. O personagem é muito bem interpretado por Sam Worthington, que tem entre seus sucessos os filmes "A Cabana" e "Até o Último Homem" (ambos de 2016), "Evereste" (2015) e o megacampeão de bilheteria "Avatar", de 2009, do diretor James Cameron.


A trama é centrada em sua busca por verdades, que ele mesmo se recusa a ver ao criar uma realidade paralela que agrada sua mente perturbada por fatos passados. Os closets no rosto do personagem, que tem um olhar morto e sem vida, demonstram bem a apatia e o distanciamento dele da realidade, especialmente quando um fato lhe desagrada. Como se aquele mundo não fosse o dele. Isso fica claro em cenas, como a da espera pelo atendimento no hospital. 


Essa apatia e falta de iniciativa mudam após um acidente com a filha durante uma viagem da família. Ray e a esposa Joanne (Lily Rabe) correm com a menina para um pronto-socorro próximo. As duas são levadas para exames e desaparecem, assim como os registros da visita ao hospital. O pai e marido ausente dá lugar a um Ray que passa o filme todo tentando provar que é capaz de ser o herói da família e não uma pessoa com problemas provocados pelo consumo de álcool. 

Ele embarca em uma jornada solitária e desesperada para encontrar sua família e descobrir o que aconteceu. O personagem vai deixando que fatos do passado, como a morte da primeira esposa, também num acidente, tomem conta de sua mente e conduzam seu comportamento, que vai se tornando cada vez mais agressivo e deixando o espectador mais tenso.


Suspeitando de tudo e de todos, já que as horas vão passando e ele não consegue informações sobre a família, Ray começa a desconfiar que integrantes do hospital e até da polícia local possam estar envolvidos numa quadrilha de tráfico de órgãos humanos. Ele precisa fazer de tudo para localizar as duas, antes que se tornem as novas vítimas dos criminosos. A trama em que se vê envolvido faz com que Ray tome atitudes desesperadas, já que não pode contar com mais ninguém para ajudá-lo, mesmo quando alguns fatos comprovem que ele está falando a verdade. 


O roteiro de Alan B. McElroy provoca o público, a todo o momento, sobre a sanidade de Ray e a realidade dos fatos. O personagem vê aquilo que lhe interessa e reforça sua tentativa de ser o salvador, mas os flashes de memória indicam o contrário. Afinal, o que realmente aconteceu com Ray e suas duas famílias? Uma estrada deserta com neve, um acidente com a filha envolvendo um cão assustador, hospital com recepção e corredores escuros e até sombrios, funcionários e médicos alheios ao problema do pai desesperado. Todo esse suspense é reforçado pela boa trilha sonora composta por Anton Sanko. 

A reviravolta no final de "Fratura" é bem interessante, apesar de não surpreender tanto, pelos indícios que foram sendo apresentados ao longo do roteiro. Mas nem por isso o longa deixa de ser impactante pela maneira como foi sendo conduzido até aquele ponto, deixando sempre a dúvida sobre o que realmente aconteceu. Vale a pena ser conferido na Netflix.


Ficha técnica:
Direção: Brad Anderson
Exibição: Netflix
Duração: 1h40
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: Drama /Suspense
Nota: 4 (0 a 5)

Tags: FraturaOFilme, Fractured, SamWorthington, thrillerpsicologico, suspense, realidadedistorcida, Netflix, cinemanoescurinho, cinemaescurinho

03 setembro 2020

"Cobra Kai" - A rivalidade do passado está de volta ao tatame

Johnny Lawrence e Daniel San se reencontram 36 anos depois da luta que marcou suas vidas   no primeiro Karatê Kid (Fotos: Netflix/Divulgação)

Silvana Monteiro


A notícia é animadora para os amantes das artes marciais. Lançada originalmente em 2018 no YouTube Premium, "Cobra Kai" estreou as duas primeiras temporadas no catálogo da Netflix no dia 28 de agosto e já é a segunda série mais vista da plataforma. A história é a continuação da trilogia Karatê Kid, iniciada em 1984, e conta com os atores originais nos seus respectivos papéis: Ralph Macchio - Daniel LaRusso/Daniel San - e William Zabka - Johnny Lawrence. Entre os roteiristas e produtores está ninguém menos que Will Smith, cujo filho, Jaden Smith, fez uma versão em 2010 com Jack Chan, filmado na China.


Fatos e personagens novos e intrigantes vão compor a nova disputa entre os velhos inimigos. O mote da história é o retorno dos personagens principais, já adultos.  Daniel LaRusso, vencedor da luta de 1984 é também um vencedor na vida. Tornou-se um empresário rico e bem sucedido, dono de uma revenda de carros de luxo.

Johnny Lawrence é um homem que vive os conflitos do passado e o fracasso como pai de um adolescente que o odeia. O clímax da história é o reencontro dos dois lutadores e a imersão no passado, para a construção do presente. Johnny resolve reabrir o dojô Cobra Kay pra ensinar um caratê americano baseado na filosofia do "ataque sem compaixão".


Enquanto isso, LaRusso reabre o dojô Miyagi-Do, inspirado pela filosofia tradicional asiática, seguindo os ensinos do mestre Miyagi sobre "equilíbrio e defesa". Infelizmente, a série não contará com o grande sensei, interpretado por Pat Morita, que foi indicado ao Oscar de ator coadjuvante por "Karatê Kid". O ator faleceu em 2005 de insuficiência renal, mas deixou sua marca e estilo em toda a trilogia e que são lembrados nas duas temporadas de "Cobra Kai".
 

Karatê Kid - A Hora da Verdade (Foto: Reprodução Internet)

O dojô Cobra Kay vai atrair uma legião de meninos fracassados e vítimas de bullying do colégio West Valley que fica na região, enquanto LaRusso vai ter bem menos alunos, mas um deles vai mexer profundamente com o equilíbrio de Lawrence. O filho de Johnny vai usar o caratê ensinado pelo rival, para literalmente, atacar o coração do pai.

A rivalidade entre os dois e a autocrítica sobre suas verdadeiras motivações de vida são as grandes sacadas do enredo. Johnny Lawrence quer tentar consertar os erros do passado, mas vai reencontrar um antigo mestre cheio de más intenções, enquanto LaRusso tenta se reafirmar em seu suposto equilíbrio. Volta e meia vai ter um "mano a mano" pra resolver as paradas.


série traz muitas lições.  É uma ótima pedida para ver em família. A trilha sonora é excelente, tem muito rock, pop antigos e atuais e, eventualmente, canções românticas da década de 1980. Entre elas, "Glory of Love" (1986), música-tema de "Karatê Kid II - A Hora da Verdade Continua", interpretada por Peter Cetera.

Embora disponível na Netflix, o conteúdo continua no YouTube, assim como a trilogia de Karatê Kid para quem quiser matar saudade ou conhecer a origem de "Cobra Kai". A terceira temporada da série está em produção, agora pela Netflix e tem estreia prevista para 2021 na plataforma. Cerrem os punhos: a luta vai começar!


Ficha técnica:
Criação, produção e direção: Josh Heald, Jon Hurwitz, Hayden Schlossberg
Exibição: Netflix
Duração: 2 temporadas com 10 episódios cada de 30 minutos
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: Ação, Série de TV, Lutas marciais, Drama


Tags: CobraKaiSerie, Netflix, KarateKid, RalphMacchio, YouTubePremium, WilliamZabka, XoloMariduena, artesmarciais, lutas, ação, drama, caratê, cinemanoescurinho

31 agosto 2020

Fãs de Harry Potter embarcam nesta terça-feira no primeiro Expresso Hogwarts virtual

Saída na plataforma 9¾ da Estação King’s Cross, em Londres, será virtual para evitar aglomerações (Fotos: Wizarding World/ Divulgação)

Da Redação


Neste ano, o retorno às aulas em Hogwarts no dia 1º de setembro será diferente. Os fãs de Harry Potter, que se reúnem na estação King’s Cross, em Londres para, precisamente às 11 horas, erguerem suas varinhas para a saída do Expresso da Plataforma 9¾ em direção à lendária escola de bruxaria farão a celebração no mundo virtual. De todas as partes do mundo eles poderão participar ao vivo no "De Volta à Hogwarts". Para evitar aglomerações por causa da pandemia da Covid-19, o Mundo Bruxo está pedindo aos fãs que se reúnam virtualmente. Este evento digital é aberto, totalmente gratuito e foi desenvolvido para ajudar a manter todos seguros - e no conforto de suas casas.

Com muitas surpresas e diversão, incluindo aparições de convidados especiais, como James e Oliver Phelps (Fred e Jorge Weasley), Jason Isaacs (Lúcio Malfoy) e Bonnie Wright (Gina Weasley), o evento digital acontecerá entre as 6h30 e as 7h30 da manhã - horário de Brasília - (ou das 10h30 às 11h30 - horário de Londres). Para participar, basta acessar www.wizardingworld.com para acompanhar a transmissão ao vivo.


"Estou tão animado por fazer um papel no primeiro De Volta à Hogwarts digital. 2020 foi, definitivamente, um ano estranho e é muito importante que todos façamos tudo o que estiver ao nosso alcance para nos proteger, incluindo ficar em casa. Espero que os fãs se juntem a nós para as comemorações virtuais", disse James Phelps. Oliver Phelps acrescentou: "Os fãs do Mundo Bruxo são os melhores. Ter a chance de compartilhar esse dia especial com pessoas de todo o mundo será brilhante. Estou realmente ansioso por tudo que este De Volta à Hogwarts digital tem guardado e é um bônus todos nós podermos fazer isso do sofá".

Os fãs podem chegar ainda mais perto do Mundo Bruxo ao enviar fotos para se juntar ao De Volta à Hogwarts - turma de 2020. As fotos serão adicionadas a um mosaico digital que crescerá ao longo do dia para dar vida à comunidade. Esta é uma chance para fãs brasileiros mostrarem seus melhores cosplays e demonstrarem o orgulho de suas casas. Os membros do Fã Clube Harry Potter também receberão uma lembrança desse dia, já que o mosaico estará disponível para download.


As imagens enviadas pelos fãs também serão exibidas dentro da estação King’s Cross, dando aos participantes presença virtual durante todo o dia - não há necessidade de ir até a estação para conferir, pois estará disponível para visualização nas redes sociais.

Programação


Os potterheads podem conferir o hub De Volta à Hogwarts no www.wizardingworld.com, onde se juntarão ao Fã-Clube Harry Potter e se preparar para comemorar a data com uma incrível seleção de conteúdo, incluindo:

- Ouvir alguns dos produtores responsáveis por trazer a magia à vida (incluindo o genial coreógrafo de varinhas Paul Harris, que demonstrará e ensinará a arte do combate com varinhas);


- Viajar do mundo trouxa para o bruxo, com a Journeys to Hogwarts Soundscape - uma experiência auditiva imersiva com todos os sons que você ouviria nessa jornada icônica. Precisando apenas fechar os olhos e deixar sua imaginação trabalhar;

- Assistir a uma apresentação do CineConcerts com orquestras de todo o mundo tocando seleções musicais memoráveis de cada um dos oito filmes de Harry Potter;

- Acompanhar uma prévia da novíssima "House of MinaLima" no dia da inauguração, com Miraphora Mina e Eduardo Lima, além de uma obra de arte de comemoração ao De Volta à Hogwarts - turma de 2020, criada especialmente para a ocasião e também disponível como uma arte para impressão em edição limitada;

- Voltar para onde a mágica começou com as leituras feitas por celebridades de Harry Potter e a Pedra Filosofal (acessível exclusivamente para membros registrados do Fã Clube Harry Potter);

- Aprender uma série de ideias de artesanato inspiradoras com o tema de Hogwarts e tutoriais criativos para todas as idades.

Os fãs terão a opção de fazer uma doação durante o evento digital para a Lumos, organização fundada por J.K. Rowling que apoia crianças em situação de abandono parental. 


Para estar entre os primeiros a receber atualizações, não se esqueça de acessar www.wizardingworld.com e se inscrever no Fã-Clube Harry Potter. Lá, você também pode verificar o Hub De Volta à Hogwarts para receber informações adicionais sobre o que estará acontecendo no evento, enquanto o Mundo Mágico busca trazer a magia para casa com segurança.

Sobre o Wizarding World

Mais de duas décadas atrás, um jovem Harry Potter foi levado para a Plataforma 9¾ na Estação King's Cross, e leitores de todos os lugares foram "arrastados" com ele para um universo de magia, criado por J.K. Rowling. Nos anos seguintes, os sete best-sellers de Harry Potter inspiraram oito filmes de sucesso, uma peça teatral premiada e, mais recentemente, o início da série de cinco filmes Animais Fantásticos. Pessoas de todas as idades ficaram fascinadas por essas aventuras extraordinárias, ambientadas em um universo em expansão, inspirado pela visão de J.K. Rowling. Para a crescente comunidade mundial de fãs de hoje e para as gerações que virão, o Wizarding World dá as boas-vindas a todos para explorar mais esse universo bruxo.

Primeira viagem do trem para Hogwards



Tags: HarryPotter, DeVoltaAHogwarts,Turmade2020, Estação KingsCross, plataforma9¾, ExpressoHogwarts, MundoBruxo, FaClubeHarryPotter, wizardingworld, cinemanoescurinho

30 agosto 2020

9ª Mostra Ecofalante de Cinema - Povos indígenas e Amazônia em cena


Quase 100 filmes, entre curtas e longas, estão em exibição online gratuitamente (Fotos: Mostra Ecofalante de Cinema/Divulgação)

Carolina Cassese


Dentro da 9ª Mostra Ecofalante de Cinema, o blog Cinema no Escurinho indica outras duas produções do catálogo que tratam sobre a causa indígena e o meio ambiente. Na primeira parte desta crítica, indicamos "Acqua Movie", um road movie que explora a relação entre mãe e filho e a natureza maltratada, num retrato importante do Brasil contemporâneo.

A Mostra, que está sendo online e totalmente gratuita, reúne títulos que abordam não apenas as questões indígenas e ambientais, mas também a luta pelo direito dos negros, das mulheres e dos LGBTQ+s. São 98 filmes na disputa de duas competições, além de debates e exibição de clássicos, que estarão disponíveis gratuitamente até 20 de setembro. Os participantes poderão também contribuir para causas sociais e ambientais.


Enquanto "Acqua Movie" é uma ficção, o curta "Território: Nosso Corpo, Nosso Espírito" e o longa "Amazônia Sociedade Anônima", ambos de 2019, se debruçam sobre a causa indígena a partir de um olhar documental. O primeiro, dirigido por Clea Torres e João Paulo Fernandes é um dos concorrentes do concurso Curta Ecofalante. Ele acompanha principalmente a luta das mulheres A’uwe Xavante, enquanto o segundo, de Estevão Ciavatta, apresenta um panorama mais geral da questão.

“Território: Nosso Corpo, Nosso Espírito"

Logo no início do curta, escutamos falas de jornalistas e também do atual presidente do Brasil. O contexto, portanto, é bem atual: a produção exibe imagens do Acampamento Terra Livre 2019, que teve como lema “Sangue indígena. Nas veias, a luta pela terra e pelo território”. As cenas que mostram debates entre mulheres indígenas e homens brancos de terno em assembleias são bastante impactantes - muitos dos políticos parecem não prestar atenção no que está sendo dito.


No acampamento, as mulheres indígenas entoam o lema: “território, nosso corpo, nosso espírito”. Uma delas explica: “Quando falamos de espírito, estamos falando também de ancestralidade. Quando nós, mulheres, gritamos essa frases, estamos falando do nosso corpo como tomada de decisão. O nosso corpo também é uma defesa da nossa cultura e da nossa sociedade”.

Ao longo da produção são exibidos diversos depoimentos de representantes dos coletivos. Há uma clara preocupação em retratar a diversidade de línguas que existem nessas comunidades, assim como os diferentes pontos de vista. Não há uma fala que abarque todas as demandas das tribos indígenas, cada uma com suas especificidades. Há as que não falam português, as que estudam, as que se dedicam especialmente a trabalhos manuais, as que cuidam dos filhos quase o tempo inteiro.

O que une a maior parte das falas é de fato o desejo das mulheres em terem suas vozes legitimadas, suas forças reconhecidas. Assista o curta clicando aqui

Ficha técnica - Território: Nosso Corpo, Nosso Espírito
Direção, roteiro, produção, fotografia e edição: Clea Torres Guedes e João Paulo Fernandes
Duração: 27 segundos
Classificação: Livre


 
“Amazônia Sociedade Anônima”


Assim como "Acqua Movie", "Amazônia Sociedade Anônima" disputa a Competição Latino-Americana. O longa-metragem, é muito eficiente em mostrar como o processo de grilagem acontece. São tocados diversos áudios de escutas telefônicas, com conversas que revelam o caráter predatório dessas ações.Há frases absurdas ditas com a maior naturalidade, como: “Aí, você faz um rodízio de gado no pasto e toca fogo quando é época. No outro ano, toca fogo de novo. Então, uma área boa lá é onde já passaram uns três fogos" e “faz isso quando você for resolver o negócio lá do trabalho escravo”.


Os tenebrosos áudios são intercalados com lindas imagens (do que ainda resiste) da Amazônia, além de falas de índios e especialistas em questões ambientais. Muitos momentos exibidos são fortes e bonitos, como a cena em que alguns índios conseguem realizar o processo de autodemarcação de terras. Diante da ausência do Estado, os próprios grupos precisam lutar bravamente pelos direitos mais básicos.


Em um dos depoimentos para o longa, o antropólogo Viveiros de Castro declara: “Os índios podem nos ensinar muito. A terra não é dos grileiros, mas também não é deles. Eles é que são da terra. Nós somos da terra. A terra pode viver sem nós. Como planeta, existe sem nós. Por outro lado, nós não podemos existir sem a terra”.

Está claro que existe uma urgência: em buscarmos outros modos de vida, maneiras que não sejam destrutivas - e, especialmente, que não enxerguem a natureza como mercadoria. Ideias, como defende Ailton Krenak, para adiarmos o fim do mundo.

Leia também:
Acqua Movie - Mostra Ecofalante de Cinema aborda as dificuldades dos indígenas e grupos minoritários


Ficha técnica - Amazônia Sociedade Anônima
Direção, roteiro e produção: Estêvão Ciavatta
Produção: Pindorama Filmes
Duração: 1h50
Gêneros: Ficção / drama
Classificação: Livre

SAIBA MAIS:
9ª Mostra Ecofalante de Cinema
Período: até 20 de setembro
Confira a programação completa no site: https://ecofalante.org.br/


Tags: #MostraEcofalanteDeCinema, AcquaMovie, LirioFerreira, longametragem, florestaamazonica, mundoindigena, Amazonia, AlessandraNegrini, cinemanoescurinho

9ª Mostra Ecofalante de Cinema aborda as dificuldades dos indígenas e grupos minoritários


Estarão disponíveis online e gratuitamente, até 20 de setembro, 98 filmes nacionais e internacionais (Fotos: Mostra Ecofalante de Cinema/Divulgação)


Carolina Cassese


“Temos que aprender a ser índios antes que seja tarde. O encontro com o mundo indígena nos leva para o futuro, não para o passado”. A frase de Eduardo Viveiros de Castro, renomado antropólogo brasileiro, foi dita em 2017, na Flip. Desde então, a situação dos povos indígenas no Brasil se tornou ainda mais crítica.Com a agenda do atual governo federal, as invasões de terras por garimpeiros e madeireiros se intensificaram, enquanto órgãos como a Funai e o Ibama, que deveriam garantir a proteção dos índios e do meio ambiente, estão sendo desmontados. Nos primeiros quatro meses de 2020, o desmatamento na Amazônia brasileira atingiu um novo recorde - dado extremamente preocupante considerando que em 2019 diversos incêndios se proliferaram na região.


Diante deste contexto, agravado por uma pandemia que escancarou as desigualdades e colocou em xeque o sistema predatório em que estamos inseridos, a Mostra Ecofalante de Cinema, apresenta sua nona edição, que desta vez será online, reunindo títulos que abordam não apenas as questões indígenas e ambientais, mas também a luta pelo direito dos negros, das mulheres e dos LGBTQ+s. São 98 filmes na disputa de duas competições, além de debates e exibição de clássicos, que estarão disponíveis gratuitamente até 20 de setembro. Os participantes poderão também contribuir para causas sociais e ambientais.

O Cinema no Escurinho contará em duas partes um pouquinho sobre três filmes do catálogo que abordam a causa indígena e o meio ambiente - além de outras pautas caras à sociedade contemporânea. O primeiro será "Acqua Movie", de 2019, que disputa com "Amazônia Sociedade Anônima" o prêmio na categoria longa-metragem Competição Latino-Americana. Leia sobre as outras duas produções na sequência 9ª Mostra Ecofalante de Cinema - Povos e territórios em cena.


Acqua Movie

Dirigido por Lírio Ferreira, o longa acompanha a viagem realizada por Duda (Alessandra Negrini) e seu filho, Cícero (Antonio Haddad Aguerre). O percurso foi proposto pelo garoto, que quer levar as cinzas do pai, Jonas (Guilherme Weber), falecido recentemente, para o sertão de Pernambuco, sua terra natal. Além de ser um road movie que explora a relação entre os dois, "Acqua Movie" é um retrato importante do Brasil contemporâneo.

Duda é uma documentarista etnográfica, que trabalha especialmente filmando a Floresta Amazônica. Ela precisa dar uma pausa nas filmagens para realizar a viagem com seu filho. Durante o trajeto (de São Paulo até Pernambuco), Duda para na estrada para falar com alguns moradores da região e procura Zé Caboclo (Aury Porto), um índio que ela quer entrevistar. Em seguida, Cícero comenta: “Não sei o que você vê nos índios. Eles vivem pedindo esmola, atrapalhando a vida dos outros”.


A protagonista replica: “Onde você aprendeu esse absurdo? Espero que não tenha sido na escola, né?”. Em seguida, a câmera se direciona para um animal que está comendo um caderno. O diretor coloca em questão um ensino que, muitas vezes, conta a história a partir do ponto de vista hegemônico, sem abordar o fato de que tribos indígenas precisam atualmente resistir, com bastante dificuldade, a uma matança provocada pelos poderosos.

Pouco se aprende ainda sobre as funções da Funai e a importância do processo de demarcação de terras. Ao chegarem ao sertão, Duda e Cícero se reencontram com a família de Jonas, que comanda a região. O tio, Múcio (Augusto Madeira), é o prefeito de Nova Rocha. Ele, que defende uma política assassina contra os índios da região, logo presenteia Cícero com um canivete (que ainda tem um adesivo verde e amarelo colado). Considerando a força do discurso do “patriota cidadão de bem”, que precisa se defender dos “bandidos” com armas, o objeto é extremamente simbólico.

É preciso destacar a primorosa direção de fotografia, realizada por Gustavo Hadba, que dialoga muito bem com a narrativa. A água é um elemento presente desde a primeira cena do filme e é consideravelmente impactante quando vemos que a antiga cidade de Rocha atualmente se encontra submersa. Ao longo da produção, é possível notar processos violentos em diferentes dimensões.


Assustada depois de alguns acontecimentos, Duda precisa urgentemente ir embora de Nova Rocha. Do meio para o final, a produção ganha fôlego e ficamos apreensivos, torcendo pela personagem principal. Quando a documentarista e seu filho finalmente encontram Zé Caboclo, o índio profere uma frase emblemática: “Quando perceberem que não se come petróleo e não há mais ar puro para respirar, talvez seja tarde”.

Do começo ao fim, o longa comove, prende a atenção e consegue, ao mesmo tempo, ser sutil e passar a importância do tema. Há ainda, reflexões sobre o luto, o lugar da família e os diferentes tipos de conhecimento existentes. Longe de querer apresentar uma solução única para tantos problemas, "Acqua Movie" coloca questões - de maneira poética e sensível.

Leia, na sequência, a crítica dos filmes “Território: Nosso Corpo, Nosso Espírito” e “Amazônia Sociedade Anônima” em 9ª Mostra Ecofalante de Cinema - Povos indígenas e Amazônia em cena


Ficha técnica - Acqua Movie
Direção: Lírio Ferreira
Produção: Chá Cinematográfico
Duração: 1h45
Gêneros: Ficção / drama
Classificação: Livre

SAIBA MAIS:
9ª Mostra Ecofalante de Cinema
Período: até 20 de setembro
Confira a programação completa no site: https://ecofalante.org.br/

Tags: MostraEcofalanteDeCinema, AcquaMovie, LirioFerreira, longametragem, florestaamazonica, mundoindigena, Amazonia, AlessandraNegrini, cinemanoescurinho

22 agosto 2020

"Power" aposta em droga que dá superpoderes para salvar roteiro sem novidades

Nova produção da Netflix tem o premiado Jamie Foxx no elenco como um ex-soldado buscando vingança (Fotos: Netflix/Divulgação)

Silvana Monteiro


Um filme de muita ação policial, efeitos visuais e uma mensagem sobre o poder da mulher negra e a força da amizade. Este é "Power" ("Project Power"), uma das mais recentes produções originais da Netflix. O título, que ocupa o primeiro lugar entre os mais vistos desde sua estreia, em 14 de agosto, é centrado especialmente em três atores, dois neles negros - Jamie Foxx e Dominique Fishback.

Ela é Robin, uma adolescente pobre, ótima em criar letras de rap, que vive entre o dilema de estudar e encontrar uma forma de ganhar dinheiro para levar comida pra casa e comprar remédios para a mãe. Nessa busca pela sobrevivência, como acontece com muitos jovens de periferia, ela é "adotada" pelo tráfico e passa a vender pelas ruas de Nova Orleans uma pílula misteriosa - a Power.


Robin conta com o apoio do primo Newt, vivido pelo rapper Machine Gun Kelly.  Mas o que a menina trafica não é uma droga qualquer.  A pílula é capaz de dar superpoderes diferentes a cada pessoa durante 5 minutos. O usuário pode adquirir desde uma superforça a se transformar numa tocha humana, ficar invisível, congelante ou ter uma pele impenetrável por balas de revólver ou que muda como a de um camaleão. Mas esses poderes também podem ser fatais. 

O ator branco que completa o trio principal é Joseph Gordon-Levitt (que também está em "7500" - confira a crítica no blog). Ele interpreta Frank, um policial amigo da menina que usa a Power para adquirir poderes que vão ajudá-lo na captura dos traficantes da droga e a reduzir a criminalidade e mortes na cidade provocadas por ela.


O roteiro de Mattson Tomlin (também responsável pela nova versão de Batman, com Robert Pattinson, prevista para estrear em 2021), deixa a desejar pela desconexão em pontos cruciais da história. A entrada de Art, vivido pelo ganhador do Oscar Jamie Foxx, minimiza um pouco essa lacuna. Ele é um ex-soldado que passou por experiências em laboratório e teve a filha Tracy, interpretada por Kyanna Simpson, sequestrada pela máfia do Project Power. Este é o mesmo grupo que o usou como cobaia em experimentos para criar supersoldados, assim como fizeram com o Capitão América (2011).


Art encontra em Robin uma forma de descobrir o paradeiro da filha e acabar com os responsáveis pelo projeto. Os pontos altos da produção são a conexão entre os dois, a descoberta do quartel do Project Power e a maravilhosa interpretação de Dominique Fishback. A jovem tem um desenvolvimento espetacular no filme e segura boa parte da trama, com representatividade forte do poder da mulher negra.


O ator brasileiro Rodrigo Santoro entrega um vilão caricato, mas convincente. Ele é Biggie, uma espécie de marqueteiro do Project Power, e protagoniza o grande embate da história contra os "não tão mocinhos" Foxx e Gordon-Levitt. É no encontro dos três que ocorre uma das grandes transformações provocadas pela pílula e onde a computação gráfica faz todo o trabalho.


Os efeitos especiais garantem a agilidade que o filme precisa para quebrar o clima criado pelos dramas do trio principal, que envolvem abandono, perdas e vícios. Mas pode frustrar o telespectador que espera a grandiosidade de uma superprodução, como as encontradas nas franquias da Marvel Studios e DC Comics. Descubra quais são os verdadeiros poderes revelados em "Power" e tire suas próprias conclusões.Mas o final deixa a entender que poderá haver uma continuação.


Ficha técnica:

Direção: Henry Joost e Ariel Schulman
Exibição: Netflix
Duração: 1h53
Classificação: 16 anos
Gêneros: Ficção / Policial / Suspense / Ação
País: EUA

Tags: PowerTheMovie, ProjectPower, Netflix, forçadamulhernegra, superpoderes, JamieFoxx, JosephGordon-Levitt, DominiqueFishback, ação, policial, ficção, cinemanoescurinho, cinemaescurinho