Liu Yifei entrega uma ótima interpretação da guerreira chinesa que precisou se passar por homem para mostrar seu valor (Fotos: Jasin Boland/Disney)
Maristela Bretas
Sem perder a fantasia, o que é esperado de uma produção dos estúdios Disney, o remake de "Mulan" é a produção que mais se aproxima de um filme e menos de um live-action. Claro que a computação gráfica corre solta. E precisava ser assim para uma produção que destaca as lutas marciais e a cultura milenar chinesa, que apesar de rica, possui valores extremamente machistas.
O live-action expõe esses valores, tanto no casamento arranjado, quanto na vergonha dos pais por não terem filhos, apenas filhas. As mulheres só servem para servir. Esses são os maiores inimigos da guerreira.
No filme, Mulan recebeu o tratamento esperado para uma das mais marcantes mulheres do universo Disney. A personagem é apresentada ainda mais forte que no desenho de 1998 - uma jovem corajosa que prova ser capaz de lutar e defender seus ideais, mas que precisa se passar por um homem para mostrar seu valor.
Para o papel foi escolhida a atriz chinesa Liu Yifei, que dá conta do recado, interpretando a jovem rebelde, poderosa e destemida, que não se deixa dobrar, mesmo quando é menosprezada por causa de seu sexo. Yifei também consegue passar a fragilidade e a inocência da jovem descobrindo o mundo exterior e o amor.
Como na versão animada, Mulan se disfarça de homem e assume o lugar do pai para se tornar uma guerreira que deseja ajudar o exército do imperador a defender a China contra invasores que contam com a magia da bruxa Xian Lang (papel de Gong Li). Ela adota o nome de Hua Jun e terá de esconder de todos sua verdadeira identidade. Durante sua jornada de treinamento e batalhas, Mulan também irá descobrir os poderes que carrega de seus ancestrais.
Com um figurino impecável, semelhante também a muitas partes do desenho, "Mulan" explora muito bem as cores, tanto nas roupas usadas por mulheres, guerreiros e imperador quanto nas plumas da fênix e na decoração do castelo imperial. A fotografia é outro ponto forte, chega a ser uma obra de arte em alguns momentos, como a imagem de Mulan sozinha no deserto.
Outro destaque do filme é a trilha sonora, composta por Harry Gregson-Williams. Christina Aguilera arrasa na interpretação da clássica "Reflection", do desenho original, e da canção-tema "Loyal Brave True". Também ficou ótima a versão dublada em português da canção "Lealdade Coragem Verdade" interpretada por Sandy, que solta a voz numa bela performance. Clique nos links para conferir.
O elenco do filme ainda é formado por Jet Li ("Mercenários 3"- 2014), no papel do Imperador chinês; Donnie Yen ("Rogue One" - 2016), como o comandante Tung; Jason Scott Lee ("O Sétimo Filho" - 2015), como Bori Khan, além de vários outros atores chineses.
Quem assistiu o desenho vai sentir falta de dois importantes personagens na vida de Mulan: Mushu, que dá lugar a uma fênix colorida que representa os ancestrais da jovem e que vai protegê-la em sua jornada. E Grilo, substituído por soldados do batalhão da guerreira que serão seus grandes aliados.
Uma pena que, por causa da pandemia de covid-19 e das medidas de isolamento social "Mulan" precisou ter sido lançado. É um filme que merecia ser exibido nas telas de cinema por sua grandiosidade nas imagens e figurinos. Ele pode ser conferido na plataforma Disney+, apenas para assinantes.
Ficha técnica: Direção: Niki Caro Exibição: Disney+ Duração: 1h55 Classificação: 14 anos País: EUA Gêneros: Aventura / Ação / Fantasia Nota: 4 (de 0 a 5)
Série turca dirigida por Berkun Oya é um primor de criatividade e um prato cheio para psicanalistas (Fotos: Netflix)
Mirtes Helena Scalioni
É tão envolvente, inteligente e instigante a série “8 em Istambul” (“Bir Baskadir”, nome original), em cartaz no Netflix, que se torna impossível desistir dela, por mais que, no “inicinho”, a história possa parecer lenta demais ou estranha demais. A começar pelos créditos da apresentação, repleto de nomes que parecem bizarros, com cedilha no “S”, trema no “O” ou til no “G”, característicos do idioma turco. Puro engano.
Com roteiro criativo e edição bem amarrada, a trama que acaba ligando – ou seria interligando? – a vida de personagens diferentes, quase opostos, surpreende e fisga o espectador. O primeiro personagem apresentado é Meryem (Öykü Karayel), uma simplória e humilde faxineira. Ela trabalha na casa de Sinan (Alican Yücesoy), homem moderno, solteiro e, aparentemente mulherengo, que costuma receber mulheres em casa.
Para tentar se curar dos constantes desmaios que vem sofrendo, a jovem procura um hospital e é levada a uma psiquiatra, Peri (Defne Kayalar), que por sua vez, faz supervisão de casos com outra profissional da psicanálise, Gülbin (Tulin Özen).
O primeiro choque talvez seja cultural, embora dentro de uma mesma cidade. Enquanto a paciente é uma mulher muçulmana pobre e tradicional, com a cabeça sempre coberta, roupas típicas e fé inabalável em Alá, a médica é moderna, usa roupas ocidentais, faz ginástica e yoga numa academia, é fria e faz questão de manter uma distância profissional da sua cliente.
A partir dessa relação, vão sendo puxadas outras tramas, que falam de preconceitos, violência, fé, submissão, traições, traumas, hipocrisia, segredos, família, costumes. É como se Istambul tivesse não dois – Ásia e Europa, como se vê nos catálogos turísticos - mas muitos lados. E cada um com suas idiossincrasias e justificativas. Um verdadeiro quebra-cabeça, magistralmente dirigido por Berkun Oya. Um prato cheio para os psicanalistas.
Na medida em que os personagens vão entrando na história, mais encantado o espectador fica com a inteligente Meryem, que funciona como elo entre os demais. Além da psicanalista, ela contracena com o irmão irascível Yasin (Fatih Artman), com a cunhada deprimida Ruhlve (Funda Eryigit), com o rodja - líder espiritual da comunidade – Settar (Ali Sadi Hoca). Este, embora tradicionalíssimo, tem uma filha de hábitos modernos.
E mais: quando chega em casa do trabalho, a diarista acompanha, pela televisão, com muito interesse, uma série de muito sucesso da qual faz parte a atriz Melisa (Nesrin Cavadzade) que, em algum momento, também passa a fazer parte da história.
É como se Meryem puxasse o fio de um emaranhado novelo de linhas com cores, utilidades e texturas diferentes. E assim, de palavra em palavra, entre um chá e outro, os personagens e suas tramas são revelados. Quando se dá conta, o espectador nem se lembra mais da estranheza dos nomes, interessado em descobrir se o assistente do rodja, que se exibe falando de filosofia e de Jung, está mesmo interessado na moça.
Ao longo da série, também vão virando meros detalhes até a beleza das atrizes com seus olhos profundos e misteriosos, que tanta atenção chama no início, ou o som estranho das canções que, vez por outra, finalizam os episódios. O que fica, no final, é a constatação de que somos todos irremediavelmente humanos e incompletos.
Ficha técnica:
Direção e roteiro: Berkun Oya
Exibição: Netflix
Duração: 50 minutos em média (1ª temporada - 8 episódios)
Gal Gadot retorna a seu papel de super-heroína e entrega
outra grande produção (Fotos: Clay Enos/ DC Comics)
Maristela Bretas
Patty Jenkins e Gal Gadot provam mais uma vez que duas
mulheres inteligentes e engajadas fazem a diferença. "Mulher-Maravilha
1984" não é mais um filme de super-heroína, mesmo com toda a ação, efeitos
visuais fantásticos, ótimas batalhas e grandes vilões. A famosa personagem que
usa um maiô dourado, vermelho e azul entrega um filme que explora sentimentos,
medos e, principalmente, desejos. Coisas comuns dos seres humanos, mas que agora
atingem uma das maiores guerreiras de Themyscira.
A esperada produção apresenta um equilíbrio pouco visto nos
demais personagens da DC Comics, com a Mulher-Maravilha novamente interpretada
pela bela e carismática Gal Gadot, dividindo o espaço quase que em igualdade
com seus dois arqui-inimigos: Mulher-Leopardo (Kristen Wiig) e Max Lord (Pedro
Pascal). Difícil dizer quem está melhor.
Não espere ver apenas lutas da heroína contra os excelentes
vilões. O forte de todo o enredo é o desejo, para o bem ou para o mal, que move
o ser humano. Diana Prince, mesmo sendo uma semideusa não escapa de sucumbir a
seu mais profundo desejo - o de ter de volta seu grande amor, Steve Trevor
(Chris Pine), morto na 1ª Grande Guerra ("Mulher-Maravilha”- 2017).
E é assim que os fãs vão poder ver o belo e apaixonado casal
junto novamente. Mas como Superman, Trevor é a criptonita de Diana. O público
vai conhecer também a mulher fragilizada e quase sem poderes, capaz de sangrar
e de se ferir, mas nunca de deixar de amar seu piloto e a humanidade, por pior
que ela seja.
Se uma guerreira não resiste a ter um desejo realizado, não
seriam os pobres mortais como Bárbara Minerva (Kristen Wiig) e Maxwell Lord
(Pedro Pascal) que ficariam ilesos. E tudo isso graças a uma misteriosa pedra
do passado. E não só eles, mas todos que são expostos a ela.
Wiig (de "Perdido em Marte" - 2015 e
"Caça-Fantasmas" - 2016) arrasa na transformação de Bárbara, uma
pesquisadora desleixada e quase invisível ao mundo numa poderosa e atraente
mulher, mas sem sentimentos. Para depois se tornar a Mulher-Leopardo, com
poderes semelhantes aos da Mulher Maravilha. Ela está demais, sem ser caricata.
Mas é em Pascal que estão concentradas todas as ações do
filme e ele entrega um vilão excelente, sem ser caricato. O ator, conhecido por
papéis em sucessos como as séries "Narcos" (2015 a 2017), da
@Netflix, e "The Mandalorian", em exibição na @Disney+, interpreta o
empresário de boa lábia, mas falido que se torna o homem mais poderoso do
mundo. Ele muda comportamento e feições, sem alterar sua aparência ou usar
fantasia, como acontece com muitos vilões dos quadrinhos. Seu mal é interior,
faz parte da essência dos seres humanos - a ganância.
O filme traz de volta também duas grandes atrizes do
primeiro filme - Robin Wright, como Antíope, e Connie Nielsen, a rainha
Hippolyta, mãe de Diana. Apesar da participação apenas no início, elas
representam os valores que vão guiar Diana por toda a sua vida e fazer a
diferença na luta contra os inimigos.
Mas e os efeitos visuais? Claro que estão bem presentes e
como era esperado, excelentes e com muita destruição, mas sem matança e sangue
jorrando. Uma característica da Mulher-Maravilha que, como ela mesma diz, não
gosta de armas. O laço dourado é seu aliado contra os bandidos. Tudo se resolve
com charme, um sorriso, uma piscada ou uma boa briga. Tem também perseguição
com tanque, só para ficar diferente.
A ótima trilha sonora foi acertadamente entregue ao grande
Hans Zimmer, responsável por sucessos como "Batman vs Superman - A Origem
da Justiça" (2016), que conta também com a Mulher-Maravilha no elenco,
"Dunkirk" (2017), "O Rei Leão" (2019) e outros inúmeros
sucessos para o cinema. Não poderia ficar de fora a música tema.
Gal Gadot está mais madura, segura de seu papel como super-heroína
e símbolo da força das mulheres. E encontrou em Jenkins, também roteirista do
filme, a parceira ideal para apresentar esta personagem inspiradas nos quadrinhos
da DC Comics. As duas também são produtoras do filme, juntamente com Zack e
Deborah Snyder e Charles Roven.
"Mulher-Maravilha 1984", assim como a primeira, é
outra grande produção e merece ser assistida no cinema, tomando as devidas
medidas de segurança: use máscara durante toda a exibição e não esqueça o
álcool gel antes e depois da sessão.
Ficha técnica: Direção: Patty Jenkins Distribuição: Warner Bros. Pictures Duração: 2h30 Classificação: 14 anos País: EUA Gêneros: Ação / Aventura /Fantasia Nota: 5 (de 0 a 5)
Minisérie, em exibição na Netflix, está na 1ª temporada com
sete episódios e é ambientada entre as décadas de
1950 e 1960 (Fotos: Netflix)
Mirtes
Helena Scalioni
Desde que
foi lançada em outubro, tornando-se o maior sucesso da Netflix, o que mais se
ouve em relação a “O Gambito da Rainha” ("The Queen’s Gambit") é:
“não é preciso entender de xadrez para gostar da série”. Verdade. A trajetória
da órfã Elizabeth Harmon (Anya Taylor-Joy), desde que foi entregue a um
orfanato até se tornar uma campeã de xadrez, é capaz sim de despertar o
interesse dos espectadores, até porque não se trata de uma menina qualquer.
Deixada no
orfanato depois que sua mãe morreu em um acidente de carro quando ela tinha
nove anos, Beth Harmon sofre com lembranças e traumas. É neste período que ela
começa a aprender xadrez até se revelar uma criança-prodígio nesse jogo,
reservado praticamente só aos homens na década de 1950. Enquanto a menina – e
depois a jovem - revive seu passado, vai revelando ao público o que a faz ter
tantos problemas e feridas não cicatrizadas.
Para quem
não sabe, “gambito” é uma manobra de xadrez que consiste em driblar o
adversário entregando a ele uma peça importante do jogo para, logo à frente,
conseguir vantagens. Claro que o jogo é também uma metáfora da vida sofrida de
Beth que, além de ser única num universo dominado por homens, faz uma personagem
complexa e contraditória, cheia de vícios e, muitas vezes, disposta à
autodestruição.
Cenários e
locações deslumbrantes nos Estados Unidos, no México, na França e na União
Soviética, também ajudam, assim como os figurinos, impecáveis, que acompanham o
crescimento da personagem dos nove aos vinte e poucos anos, do sisudo uniforme
do orfanato à leveza dos godês de cinturinha fina até chegar às saias acima dos
joelhos. As décadas de 1950 e 1960 estão muito bem representadas no longa. Uma
curiosidade: o filme foi adaptado do romance homônimo escrito em 1983 por
Walter Tevis.
Além da
performance de Anya Taylor-Joy, que enfeitiça o público e cria mistérios com
olhares e uma expressão corporal perfeita, há que se destacar a atuação de
Marielle Heller como Alma Wheatley, a mãe adotiva de Beth, responsável pelos
momentos mais ternos, afetuosos e humanos do longa. Um truque talvez da direção
de Scott Frank e Allan Scott para aliviar o olhar do espectador cansado de
tantos tabuleiros, bispos, cavalos, torres e partidas.
Conta-se que
a produção de “O Gambito da Rainha” fez questão de contratar profissionais de
xadrez como consultores para garantir a realidade dos jogos. Nada, nenhum lance
ou deslocamento de peça no tabuleiro é aleatório. Pode ser. O que cansa, na
verdade, é o número exagerado de partidas. Quando não está jogando em torneios
e campeonatos, Elizabeth está treinando, lendo sobre o jogo ou brincando de
jogar com os amigos. Chega a ficar repetitivo.
É certo que,
como já foi dito, ninguém precisa entender de xadrez para apreciar a série. Mas
é certo também que parece inverossímil alguém levar a vida jogando ou só
pensando no jogo dia e noite. Beira o fanatismo. E vai ver que é.
Ficha técnica: Direção: Scott Frank e Allan Scott Exibição: Netflix Duração: média 60 minutos por episódio (1ª Temporada - 7 episódios) Classificação: 16 anos País: EUA Gêneros: Drama / Série
Produção será disponibilizada no Youtube e em breve exibida
no Planetário do Museu (Reprodução/Espaço do Conhecimento UFMG)
Maristela Bretas
Sob a direção do professor Maurício Gino, da Escola de Belas
Artes, e produção da equipe de Audiovisual do Espaço do Conhecimento UFMG, será
lançado nesta sexta-feira (11), no canal de Youtube, o documentário
"Inconfidências". O filme propõe uma reflexão sobre a atividade
mineradora no Estado de Minas Gerais e seus impactos ao longo dos anos.
Por causa da pandemia de Covid-19, o lançamento do
documentário será disponibilizado a partir das 18h30, como parte da comemoração
virtual dos dez anos do Espaço do Conhecimento UFMG, que se encerra no dia 12
de dezembro. A programação completa está disponível em
https://www.ufmg.br/espacodoconhecimento/acontece/10anos/
Foto: Valéria Amorim
A partir das 19h30 haverá uma roda de conversa sobre o filme
com a participação dos seguintes convidados: professoras Cláudia Mayorga,
Pró-Reitora de Extensão da UFMG e Sara del Carmen Rojo de la Rosa (FALE/UFMG);
professor Fabrício Fernandino, diretor do Centro Cultural UFMG, e Paulo
Henrique Silva, jornalista, crítico de cinema e ex-presidente da Associação
Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). A mediação ficará a cargo do
professor André Mintz (EBA/UFMG).
O filme e a roda de conversa estarão disponíveis no canal do
Espaço do Conhecimento UFMG no Youtube pelo link www.youtube.com/espacoufmg.
A produção
Sobre a parte técnica, o diretor Maurício Gino explica que
para a produção de algumas imagens de "Inconfidências" foi usada uma
lente olho de peixe, que dão o formato arredondado ao vídeo. As demais foram
feitas com câmera 360 e objetivas normais. Como na sequência de fotos de Bento
Rodrigues e Paracatu de Baixo.
Foto: Valéria Amorim
O vídeo contou com a colaboração da fotógrafa Valéria Amorim
que acompanhou por anos o desastre da Samarco e cedeu as fotos de seu trabalho.
A equipe de Audiovisual do Espaço do Conhecimento UFMG fez a adaptação para
fulldome. De acordo com o diretor, a escolha desse formato foi para que o filme
seja veiculado em telas hemisféricas como a do Planetário do Espaço do
Conhecimento UFMG.
Com o distanciamento social imposto pela pandemia de
Covid-19, o vídeo precisou ser adaptado para a mídia plana. "Assumimos a
deformidade da imagem, necessária ao planetário, mas por outro lado pudemos
trabalhar com a textura da tela plana e inserimos uma janela com interpretação
em Libras, o que não tem na versão do planetário", explicou Maurício Gino.
A produção começou no segundo semestre de 2019 com a
gravação dos depoimentos dos entrevistados. O cronograma previa a gravação das
imagens de cobertura de diversas localidades do Estado em janeiro e fevereiro
de 2020, com o lançamento do vídeo no final de março. As fortes chuvas no
início do ano atrasaram as expedições.
Mas foi a pandemia que mais dificultou a produção, adiando a
estreia no planetário neste ano. "Por outro lado, foi um desafio para que
pudéssemos editar com as imagens que tínhamos em mãos e nos instigou a pensar
em alternativas ao lançamento do filme no planetário, que está fechado em
decorrência das medidas sanitárias. Essa versão para qual pensamos o filme será
lançada quando possível, e contribui para a imersão do espectador não apenas no
tema do documentário, como também nas diversas paisagens representadas”,
concluiu o diretor.
O vídeo contou com o apoio do Sindicato dos Professores de
Universidades Federais (APUBH-UFMG), por meio do Edital Arte e Cultura, e foi
produzido no Espaço do Conhecimento UFMG para veiculação no Planetário do
Museu.
Jessica Chastain é a assassina profissional que passa a ser caçada por sua organização por causa de um erro (Fotos: Netflix)
Jean Piter Miranda
Uma agente super bem treinada no uso de armas e nas artes
marciais. Mais que isso. A melhor de todas. Que executa perfeitamente as
missões em que é ordenada. Até que um dia ela comete um erro e passa a ser
perseguida pelos integrantes da própria equipe. Parece familiar, não? Essa é
trama de "Ava", novo filme estrelado por Jessica Chastain, disponível
na Netflix.
Ela é Ava, uma assassina profissional sedutora que trabalha para
uma organização secreta. Ela recebe ordens para executar pessoas em troca de
dinheiro e não hesita, vai lá e faz. Assim ela fica “famosa” por ser a melhor de todas as
agentes. Mas claro, isso tem um preço: Ela precisou ficar distante da família
pra seguir essa “carreira” e usar o codinome Ava. Até que infringe as “regras
de conduta” do seu trabalho e passa a ser perseguida pelos próprios colegas.
Olhando assim, dá pra pensar em outros filmes com enredos
parecidos: "John Wick" (2014), com Keanu Reeves, "Jason
Bourne" (2002), com Matt Damon, e até alguns dos muitos 007 que tivemos.
Quando pensado em uma mulher como protagonista, saindo na porrada, num roteiro
semelhante, lembramos de "Salt" (2010), com Angelina Jolie,
"Atômica" (2017), com Charlize Theron, e "Operação Red
Sparrow" (2018), com Jennifer Lawrence. Sendo assim, "Ava" já
começa não trazendo nada de novo.
O roteiro também não apresenta novidade. A agente precisa
voltar para a cidade natal, reencontrar a família e tentar consertar os
problemas de relacionamento que ficaram para trás com a mãe e a irmã. É bem
legal rever Geena Davis em um filme. Ela é Bobbi, a mãe de Eve. Fica muito
naquela de “você sumiu e reaparece do nada”. A irmã Judy (Jess Weixler) é
ressentida com isso, a mãe é do tipo que apazigua as coisas, pois entende bem a
vida que a filha mais velha leva, mesmo não dizendo nada.
Tem o guru de Ava, Duke (John Malkovich), mais um veterano
que abrilhanta o elenco. Mas, a participação dele é bem clichê e previsível. É
o cara que recrutou e treinou a assassina, e meio que a considera como uma
filha, apesar de tudo. O que soa como algo bem forçado. O filme não mostra nada
que possa sugerir essa ligação afetiva entre os dois.
Ava começa a ser perseguida pela própria organização, que tenta matá-la. A razão pela qual vão atrás dela é de cair o queixo. Você pensa: estão querendo matar a melhor agente deles por esse motivo? É o maior furo no roteiro. Se ficar atento a isso, todo o resto da história fica sem sentido e muito forçado. Mas pelo menos, quando a ação ocorre ela garante boas cenas e muitos truques de câmera.
Vendo o trailer, o ponto alto do filme, o que normalmente se
espera, são as cenas de luta, porrada comendo. No trailer, tudo muito legal. Na
obra completa, a coisa não fica muito boa. As cenas são um tanto lentas.
Jessica Chastain dá o seu máximo e até vai bem. Mas certamente não convence aos
espectadores mais exigentes ou aqueles que fizerem comparações com outros
filmes de ação. Ou seja, o que era para ser o destaque se torna, com muita boa
vontade, a parte mediana da produção.
O elenco tem ainda Colin Farrell como vilão. Ele manda bem,
como é de costume. Nos diálogos, nas cenas de ação e em tudo mais. É até bem
pouco aproveitado. Quando aparece, cumpre muito bem seu papel. O melhor do
filme, por sinal. O ator Common, que
interpreta Michael, o ex de Eve, assim como Farrell, teve uma participação
quase dispensável, um desperdício de talento.
Para quem assistir "Ava" como mero entretenimento,
tudo bem, dá pra passar. É de mediano a igual a muitos outros. Com um olhar
mais crítico fica claro que se trata de uma produção fraca, melhor nem ver. Com
um grande detalhe: o filme deixa em aberto uma possível continuação. Pra quem
gosta do gênero e não é muito exigente, é uma boa pedida.
Ficha técnica: Direção: Tate Taylor Exibição: Netflix Duração: 1h37 Classificação: 16 anos País: EUA Gêneros: Ação / Suspense / Drama
Documentário mostra o belo trabalho de solidariedade que começou no século XVIII na antiga Hospedaria do Imigrante, em São Paulo (Fotos: Luca Meola)
Maristela Bretas
"Não é apenas uma história sobre uma casa de acolhimento,
mas um convite a refletir sobre amor, fraternidade e ajuda mútua". Esta é
a melhor definição para "Vidas (In)visíveis - Um Arsenal de
Esperança", da diretora Erica Bernardini. Um documentário emocionante
feito a partir da pandemia de Covid-19 que tomou conta do mundo em 2020. A
antiga Hospedaria do Imigrante, que um dia foi ponto de controle para evitar a
entrada de possíveis doenças na cidade de São Paulo trazida por quem chegava ao
país, retorna a suas origens para cuidar de um novo público.
A produção gira em torno do trabalho desenvolvido no Arsenal
da Esperança, uma casa de acolhimento fundada em 1996 por Ernesto Olivero e Dom
Luciano Mendes de Almeida, que começou em Turim, na Itália com o Arsenal da Paz
e hoje possui outra unidade italiana voltada para crianças e uma na Jordânia
para jovens deficientes. O abrigo paulista recebe diariamente uma média de
1.200 homens que se encontram em estado de vulnerabilidade.
Um ótimo documentário que deve ser assistido por italianos e
descendentes no Brasil e pelo público em geral. Ele aborda um pouco de como era
tratada a questão da saúde no início da imigração no final do século XVIII e o
importante papel da Hospedaria do Imigrante. Um local que reúne milhares de
histórias de imigrantes e daqueles que hoje também buscam este ponto para
recomeçarem suas vidas.
Por quase 25 anos mais de 64 mil dessas pessoas,
in(visíveis) para a sociedade, encontraram em sua jornada sofrida um ponto de
acolhida de amor, fraternidade, compaixão e ajuda mútua no Arsenal. Mas a
pandemia da Covid-19 mudou a realidade e fez com que o cuidado e a orientação
aos abrigados precisassem ser reformulados.
A partir daí surge a ideia de se fazer o documentário
mostrando como foi a orientação no Arsenal da Esperança a esses homens,
acostumados a viverem na rua, e que agora teriam de ficar em isolamento, usar
máscaras e manter afastamento de outras pessoas para evitarem a contaminação. O
registro da rotina diária dentro do abrigo foi feito por dois voluntários da
entidade: José Luiz Altieri Campos e o fotógrafo milanês Luca Meola.
Com depoimentos, fotos e vídeos do passado e em meio à
pandemia, o documentário conta como o Arsenal da Esperança foi criado, a rotina
de quem frequenta o local. Apresenta o trabalho realizado desde a fundação por
missionários italianos e que se transformou em referência em acolhimento e
solidariedade.
Ótimas imagens e narrações serenas e cativantes,
especialmente as do padre Simone Bernardi, missionário italiano do Sermig
(Serviço Missionário Jovem) - Fraternidade da Esperança, fazem da produção um
documentário histórico. Mostra como a pandemia afetou a todos - funcionários e
abrigados e como eles estão enfrentando a quarentena, suas angústias, medos,
sonhos e a vontade de recomeçar. E como a experiência do passado foi importante
para o trabalho presente. Histórias que fazem chorar e acreditar que as pessoas
querem e podem ser melhores.
Acesso online
O documentário está disponível no 15º Festival de Cinema
Italiano no Brasil, que acontece até esta terça-feira (08/12), em plataforma
online para todo público brasileiro pelo sitewww.festivalcinemaitaliano.com, em parceria com o Cine Petra Belas
Artes, de São Paulo. Os ingressos para assistir ao Festival têm valor fixo de R$
9,90 e dão direito ilimitado a toda a programação.
A produção tem o apoio do Consulado Geral da Itália em São
Paulo e da empresa de imigrantes italianos, Zini Alimentos. A diretora Erica
Bernardini é uma profissional que atua há 20 anos na promoção da cultura
italiana no Brasil, com diversos projetos e realizações na área.
Ficha técnica: Direção: Erica Bernardini Exibição: pelo site www.festivalcinemaitaliano.com Duração: 1h00 Produção: Arteon Classificação: Livre Países: Brasil /Itália Gêneros: Documentário / Drama