06 fevereiro 2021

"Em Busca de Ohana" reúne aventura, magia, paisagens paradisíacas e uma bela mensagem para a família

 Filmada na ilha de Oahu, no Havaí, produção atrai público dos 8 aos 80 anos (Fotos: Jennifer Rose Clasen e Colleen E. Hayes/Netflix) 


Silvana Monteiro 


"Em Busca de Ohana" ("Finding Ohana") é um filme de aventura, que marca a estreia de Jude Weng como diretora, tendo como roteirista Christina Strain. O título estreou na Netflix em 29 de janeiro de 2021 e desde então se mantém entre os dez mais vistos da plataforma. ‌

Com um roteiro que evidencia a previsibilidade, a obra é uma inspiração infantojuvenil no estilo Indiana Jones e lembra bastante sagas como "Jumanji" e "Viagem à Ilha Misteriosa". O elenco ainda é pouco conhecido, mas a fotografia das belas paisagens da Ilha de Oahu, no Havaí, onde foi gravado, supera os pequenos deslizes.


O filme conta a história de Pili (Kea Peahu), uma menina espoleta que vive com a mãe Leilani (Kelly Hu) e o irmão Ioane (Alex Aiono) em Nova Iorque. Nas férias, eles precisam ir ao Havaí para rever o avô Kimo (Banscombe Richmond) que não está nada bem em vários aspectos da vida. 


Descontentes, a menina e o irmão são sempre confrontados, vivem às turras e pressionados a reverem a cultura do lugar em que nasceram, mas de onde tiveram que mudar por causa de uma fatalidade familiar. 
 


Ao encontrar um velho objeto do avô, o senso de escoteira e o espírito aventureiro da menina que em Nova York praticava geocaching (*) vão falar mais alto. Ela vai começar a buscar pela mitologia havaiana e pela língua nativa que mal sabe balbuciar e descobrir segredos do passado de sua família.  


Enquanto o avô e a mãe tentam se ajeitar em meio às emergências do dia a dia, Pili e o amiguinho Casper (Owen Vaccaro) decidem explorar sozinhos uma montanha sagrada da região. Começa aí uma corrida rumo ao desconhecido que vai envolver também Ioane e Hana (Lindsay Watson) uma linda jovem nativa. 


Os quatro aventureiros vão viver momentos de desespero, medo, alegrias e magia e descobrir a força da união. Uma história para segurar pequenos e grandes aventureiros no sofá. ‌Reúna a família e aperte o play.   

(*) Geocaching é um passatempo e desporto de ar livre no qual se utiliza um receptor de navegação por satélite, como o GPS, para encontrar uma "geocache" (caixa, cache) colocada em qualquer local do mundo. 


Ficha técnica:
Direção: Jude Weng
Duração: 2h03
Exibição: Netflix
Classificação: 10 anos
País: EUA
Gêneros: Ação / Aventura / Família / comédia


30 janeiro 2021

Websérie "Parques de BH" traz de volta a beleza e o verde da nossa Cidade Jardim

O Parque Jacques Cousteau, no bairro Betânia, com sua variedade de plantas, foi o escolhido para abrir o projeto (Foto: Lilian Nunes/Coreto Cultural/Divulgação)


Maristela Bretas


Este 30 de janeiro foi a data escolhida para o lançamento da websérie "Parques de BH", produzida pela Coreto Cultural. E o primeiro cenário escolhido para abrir o projeto, de muito verde e plantas de cores variadas, foi o Parque Municipal Jacques Cousteau, localizado no bairro Betânia, Região Oeste da Capital. 

Com roteiro e direção de Lilian Nunes e Chico de Paula, que também assina fotografia e montagem, o público vai conhecer histórias, hábitos e personagens desse importante espaço público da cidade. A trilha sonora original é do músico Marcelo Dai,  com participação de Maurício Tizumba. Para acessar a websérie basta clicar no link ou acessar o site www.coretocultural.com.br.

(Crédito: Mônica Costa/Coreto Cultural)

Viabilizado com recursos do edital Quatro Estações da Belotur, o projeto consiste numa websérie para divulgar a beleza dos parques e ampliar o potencial turístico de Belo Horizonte, que já foi conhecida como Cidade Jardim. São 38 milhões de metros quadrados de áreas verdes, sendo 14 milhões deles formados por espaços públicos municipais - 75 parques, mais de 750 praças e jardins e cerca de 210 espaços livres de uso público.

(Crédito: Lilian Nunes/Coreto Cultural)

Mas por que a escolha do Jacques Cousteau para abrir o projeto? "Ele tem uma história singular, passou de lixão a viveiro de mudas e hoje é referência de paisagismo. Também é um dos preferidos pelos ciclistas, lugar de encontros e comemorações. Fica às margens do Anel Rodoviário, com fluxo intenso, e é pouco notado… A ideia era descentralizar e disponibilizar informação sobre um espaço rico mas pouco conhecido, para gerar interesse e intensificar a visitação", explica a idealizadora do projeto Lilian Nunes.

(Crédito: Mônica Costa/Coreto Cultural)

Chico de Paula conta como foi desnudar o espaço através da lente de sua câmera. "Descobrir o parque através das pessoas que o frequentam, das histórias e afetos ali contidos, revela uma personalidade que é daquela natureza - completamente integrada com as pessoas que ali convivem. É tudo só um elemento: as pessoas, os bichos, as árvores, o vento… O Jacques Cousteau tem uma personalidade admirável, delicada e ímpar”.

(Crédito: Lilian Nunes/Coreto Cultural)

Trabalhar uma produção cinematográfica como essa, em plena pandemia, foi um desafio prazeroso para a equipe. "Poder registrar e divulgar os parques, nesse momento, é mais que um projeto, é uma necessidade. Porque são fundamentais à manutenção da nossa sanidade, e são locais onde ainda se pode manter o distanciamento e usufruir de tudo o que eles podem oferecer. Se, por um lado, temos menos usuários, por outro a natureza se mantém deslumbrante e é um momento mais propício para registrar o espaço com todas as restrições e cuidados necessários. Nesse momento, os parques, por exemplo, estão mais limpos, mais bem cuidados, se renovando para receberem cada vez melhor os visitantes. E precisamos criar esse hábito de frequentar os belos parques que temos na cidade", afirmou o diretor.

(Crédito: Lilian Nunes/Coreto Cultural)

O que não faltam são historias para contar do Parque Jacques Cousteau. A bióloga e gerente de Parques do Barreiro e Oeste da Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica, Edanise Reis, passou quase toda a sua vida profissional no espaço. E ajudou a plantar jacarandás, paus-brasil, ipês e tantas outras espécies que hoje contempla sob copas monumentais. 

(Crédito: RNonato)
                                                                                                     

(Crédito: Bruno Castro/Coreto Cultural)

Histórias de filhotes resgatados, cujos pais confiam em alimentar a prole diariamente nas mãos da gestora. Pessoas que visitam o parque pela primeira vez e comumente escolhem colaborar ao retornar. Crianças que crescem orgulhosas por terem uma árvore para visitar e cuidar por toda a vida. “São lições eternas: plantios de afeto, colheitas de respeito”, orgulha-se a gerente do Parque.

Marcelo Dai, cantor e multi-instrumentista, foi convidado a criar a trilha original da websérie para traduzir o Jacques Cousteau através de suas próprias sonoridades: melodias, ruídos, cantos e batidas descobertos e registrados em cantos e recantos do parque. Para ele, a música e a natureza se entrelaçam. "Criar usando elementos da terra, da água e do ar possibilita uma conexão livre e repleta de leveza. Nos inspira a buscar sons genuínos, a voltar no tempo e, até mesmo, a mudar a perspectiva dele", diz o compositor.

(Crédito: Lilian Nunes/Coreto Cultural)

Sobre os próximos parques a serem mostrados pela Coreto Cultural no projeto "Parques de BH", Lilian Nunes explica que ainda estão sendo articulados, dependendo da captação de recursos. "O Jacques Cousteau já foi o espaço que alimentava toda a cidade de mudas. Hoje, é o Jardim Botânico, que fica no Zoológico. Pensamos em fazer um link entre essas histórias".

(Crédito: Lilian Nunes/Coreto Cultural)

"Qualquer contato que possamos ter com ambientes que nos aproximem de um conceito mais integrado de meio ambiente, nos deixa mais perto de um desejo de usufruto e, consequentemente, proteção. O audiovisual é uma ferramenta poderosa e múltipla em suas possibilidades, e pode ser um meio fundamental para que a gente se aproxime mais da natureza. Podemos abordar e focar em princípios, como a sustentabilidade, que são essenciais a esse desejo e necessidade de preservação. Ele nos aproxima e traz conhecimento sobre o que aborda, e te dá uma sensação de familiaridade com os ambientes a que te expõe. Isso é um pré-requisito pra que a gente crie vínculos com o mundo em que vive", concluiu Chico de Paula.

(Crédito: Lilian Nunes/Coreto Cultural)

Um pouco do Parque Jacques Cousteau

O Parque Jacques Cousteau surgiu de uma gleba de terreno de 468.500 metros quadrados que, por 20 anos, foi um dos maiores lixões de Belo Horizonte. Em 1971, transformou-se no Parque Vila Betânia e, em 1976, quando já era conhecido como Horto Municipal, foi transformado em Reserva Biológica e principal viveiro de produção de mudas da capital mineira.

(Crédito: ArquivoPúblico)

O Jacques Cousteau abasteceu ruas, praças e parques de Belo Horizonte com espécies arbóreas e ornamentais. Fundado em 1991, o Jardim Botânico da cidade funcionou por nove anos dentro do Parque Jacques Cousteau, até a construção de sua sede própria, na região da Pampulha. Em 2001, o Jardim Botânico foi transferido para sua localização atual, dentro da área onde funciona também o Jardim Zoológico, onde está concentrada a produção de espécies de grande porte para atender às necessidades de BH.

(Crédito: Mônica Costa/Coreto Cultural)

Hoje, com 335 mil metros quadrados, o Parque Jacques Cousteau conta com mais de 70 espécies arbustivas e ornamentais, além de ricos compostos orgânicos que contribuem tanto para a beleza do paisagismo quanto para a saúde dos pulmões da nossa eterna cidade jardim.

(Crédito: Lilian Nunes/Coreto Cultural)

Ficha técnica:
Direção: Lilian Nunes e Chico de Paula
Duração: 31 minutos
Exibição: pelo site https://www.coretocultural.com.br
Informações: @coretocultural
Classificação: Livre
País: Brasil
Gêneros: Documentário

Serviço:
Parque Municipal Jacques Cousteau

Localização: R. Augusto José dos Santos, 366 - bairro Betânia
Horário de Funcionamento: de quinta a domingo, das 8 às 17 horas
Entrada: Gratuita
Informações: (31) 3277-5972

27 janeiro 2021

"Unidas Pela Esperança" é um filme sobre amizade e família, embalado por uma ótima trilha sonora

Baseado em fatos reais, história conta como várias mulheres de militares britânicos formaram um coral de sucesso (Fotos: Sean Gleason/Califórnia Filmes)

Maristela Bretas


Kristin Scott Thomas e Sharon Horgan estrelam a agradável e divertida produção "Unidas Pela Esperança" ("Military Wives"), dirigida por Peter Cattaneo, inspirado em fatos reais. O filme conta a história de um grupo de mulheres de diferentes origens, cujos maridos, esposas e companheiros estão servindo no Afeganistão. Morando na base militar de Flitcroft, no Reino Unido, elas não encontram muita ocupação enquanto esperam a volta deles em seis meses.


Umas gastam muito em compras supérfluas, outras se entregam à bebida e há também aquelas que vivem 24 horas em função dos filhos. Elas deixam de lado seus desejos e prazeres da vida. Tudo é motivo para ocuparem o tempo e a cabeça. Assim tentam esquecer o medo de um dia receberem a cruel notícia da perda de seu ente querido em combate.

Foi pensando nisso e vivendo o mesmo problema, que duas delas - Kate (Kristin Scott Thomas), esposa do comandante, e Lisa (Sharon Horgan), a nova diretora do Comitê Social da base, resolveram criar o primeiro coral de esposas militares. Além de dar um objetivo para elas, o coral também se torna o ponto de apoio, nos bons ou maus momentos.


O projeto dá tão certo que elas se tornam conhecidas e passam a ser chamadas para eventos externos, incluindo uma apresentação no famoso Royal Albert Hall de Londres. O difícil, no entanto, é conseguir conciliar as diversas personalidades, especialmente a de Kate, que age como uma comandante guiando um exército, e tirando o lado prazeroso das mulheres se reunirem para soltar a voz e a angústia. 

A imposição e a soberba de Kate desagradam Lisa, idealizadora do projeto, que pensava em alguma coisa mais leve, regada a vinho, música e bate-papo.


O longa-metragem foi inspirado no primeiro Coral de Esposas de Militares, formado há dez anos na base do exército de Catterick, no norte de York - Reino Unido, que também virou série da BBC - "The Choir: Military Wives". A música composta e cantada por elas liderou as paradas do Reino Unido. 

Atualmente, 2.300 mulheres compõem 75 corais de esposas de militares em todo o Reino Unido e em suas bases militares no exterior, sob o lema "Juntas Somos Mais Fortes". Eles recebem, inclusive uma homenagem nos créditos finais.


E para criar uma produção que captasse bem o sentimento destas mulheres e a importância do projeto, nada melhor que um roteiro escrito a quatro mãos femininas - Rachel Tunnard e Rosanne Flynn. A primeira se encontrou e conviveu com um grupo de esposas para obter detalhes e histórias sobre o mundo delas, o que ajudou a dar mais realidade ao roteiro. 

Várias dessas esposas participaram como figurantes, especialmente na cena em que os soldados estão indo para a guerra. "São famílias reais de soldados dizendo adeus”, segundo o produtor Piers Tempest.


Além dos dramas familiares e pessoais de Kate, e Lisa, outras personagens se destacam do grupo: a jovem recém-casada de bela voz, uma cabeleireira cuja voz desafia os padrões e uma mãe que traz uma voz inesperadamente doce. 

Kristin Scott Thomas entrega uma ótima interpretação de Kate, uma mulher durona que tenta esconder o sofrimento da perda do filho em combate. Sharon Horgan também está muito bem como Lisa, que não consegue diálogo com a filha rebelde e se entrega à bebida.


Um ponto alto é a trilha sonora de primeira. A música-tema é "Home Thoughts From Abroad", composta pelo coral verdadeiro a partir de cartas escritas para os parceiros no campo de batalha. Mas a atração mais fica para sucessos como "Angels" (Robbie Williams), "Morning Has Broken" (Cat Stevens), "Don't You Want Me" (The Human League), "Only You" (Yazoo), "We Are Family" (Sister Sleadge, não poderia faltar, claro), "Shout" (Tears For Fears), "Time AfterTime" (Cindy Lauper), "Don't Go Breaking My Heart" (Elton John), "You've Got A Friend" (James Taylor), "Wannabe" (Spyce Girls) e vários outros sucessos.

Todo filmado no Reino Unido, "Unidas Pela Esperança" mostra belas locações, como a região onde estão as instalações do 4º Batalhão do Regimento Escocês usado nas filmagens e o centro de Londres e suas construções clássicas, como o prédio do Royal Albert Hall. Um filme feito como homenagem, em que se destaca a amizade e, a união. Ideal para uma sessão da tarde.


Ficha técnica:
Direção: Peter Cattaneo
Distribuição: Califórnia Filmes (em exibição nos cinemas)
Duração: 1h52
Classificação: 12 anos
País: Reino Unido
Gêneros: Drama / Comédia
Nota: 3 (de 0 a 5)

24 janeiro 2021

"Soul"´- Animação para adulto que discute o propósito da vida com excelente trilha sonora

Joe e 22 vivem grandes aventuras entre a vida terrena e uma existência espiritual (Fotos: Disney-Pixar/Divulgação)


Maristela Bretas


E se você tivesse uma segunda chance de viver, o que mudaria? Já parou para pensar se fez a escolha certa? Pois foi com esta abordagem e uma ótima trilha sonora que a animação "Soul", da Disney/Pixar foi lançada diretamente na plataforma de streaming Disney Plus.Enquanto "Divertida Mente" (2015) e "Toy Story 4" (2019) foram destinados à criançada, com muita cor e personagens divertidos, mas uma mensagem direta aos públicos jovem e adulto, "Soul" definitivamente foge deste padrão e não é para criança.
 

A animação trata do propósito da vida, as escolhas - certas ou erradas - que fazemos enquanto estamos vivos e que vão ser avaliadas quando passarmos para outro plano. Com direção de Pete Docter e Kemp Powers, "Soul" conta a história de Joe Gardner (voz de Jamie Foxx), um simpático pianista e professor de música do ensino médio que sonha em se tornar um músico profissional e brilhar como os grandes nomes do jazz. Uma paixão aprendida com o pai e que ele considera sua razão de viver.

 


Um passo em falso, no entanto, muda seus sonhos e ele precisará reavaliar tudo o que acreditava e aceitar o que virá pela frente. E ainda ensinar uma alma da pré-vida muito fofa e rebelde - a 22 (voz de Tina Fey) - a gostar e se adaptar à vida terrena. A pré-vida é um lindo e colorido lugar onde as novas almas conquistam suas personalidades, peculiaridades e interesses, antes de irem para a Terra e ocuparem novos corpos. As crianças poderão gostar das "alminhas" da pré-vida que estão esperando sua chance e aprontam todas. Mas só.
 
 


Joe não aceita a morte e menos ainda a incumbência de ser babá e fará de tudo para voltar ao seu antigo corpo. Ele só pensa em música e se cobra por não ter atingido o sucesso que o pai esperava e que a mãe (dublada por Angela Basset) preferia que não existisse. Ele não consegue se ver fazendo outra coisa e não abre seus horizontes, mas também é inconformado com o que conseguiu na vida. 

 
Já 22 é rejeitada por todos em sua dimensão e não consegue descobrir qual a sua missão. E será sua convivência com o mentor que irá lhe ajudar a descobrir respostas para perguntas importantes sobre sua existência.
 

 
Algumas abordagens são complicadas e geram dúvidas até mesmo em adultos.Uma animação boa para ser analisada por psicólogos e psicanalistas. Em meio a aventuras, corpos trocados e a descoberta de prazeres, delícias e também tristezas, Joe e 22 vão entendendo quais os seus propósitos na vida e quais podem ser deixados de lado, por não serem tão importantes quanto esperavam. 
 


"Soul" é bonito e sensível. A trilha sonora, especialmente formada por jazz, fazem o coração da gente bater forte. Mexe com o espiritual e o sentimento ao tratar a aceitação da morte. Oferece um show de sons, imagens e encantamento quando as notas começam a fluir do piano de Joe ou da banda que ele acompanha. Apesar de não provocar risadas ou choro, como alguns sucessos anteriores da Disney/Pixar, a animação é inspiradora e merece ser vista.

 

Ficha técnica:
Direção:
Pete Docter e Kemp Powers
Exibição: Disney+
Duração: 1h40
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: Animação / Aventura / Família
Nota: 4 (de 0 a 5)

22 janeiro 2021

"Batman: Alma de Dragão" poderia ser um pouco se não tivesse o Batman

 O Homem-Morcego se une a velhos amigos das artes marciais para impedir a dominação do mundo (DC Comics/Divulgação)

Jean Piter Miranda


Bruce Wayne e seus antigos companheiros de treino precisam unir forças para enfrentar uma organização secreta que tenta abrir um portal para outra dimensão. É basicamente isso a história de "Batman: Alma de Dragão", nova animação da Warner e da DC, que acaba de ser lançada em DVD e também na versão paga do YouTube.

A produção é ambientada nos anos 1970, em mais uma dessas histórias de universos paralelos da DC. Tudo começa quando Richard Dragon, personagem com muita semelhança ao Bruce Lee, vai atrás de Bruce Wayne para pedir ajuda. Ele descobriu que uma organização secreta está tentando abrir um portal para outra dimensão, conquistar um grande poder com isso e depois dominar o mundo. 
 

 
É claro, como é de costume, Wayne recusa na primeira tentativa. Mas logo acaba aceitando. Aí começam os flashbacks. Vêm as imagens do passado, de quando Bruce passou um tempo em uma espécie de mosteiro, em algum lugar remoto do Oriente, para treinar artes marciais. E foi lá que conheceu Richard Dragon, que também era aluno do mestre O-Sensei.

Os outros personagens também têm ligação com o passado de Wayne. Tigre de Bronze e Lady Shiva, que são introduzidos na história, foram companheiros de treino de Dragon e Wayne. Os quatro vão se unir para deter os vilões, que por sinal também fazem parte do passado de todos eles. E no meio disso tudo, a porrada come. Na mão e na espada. Violência sob medida, pra quem gosta, misturada com muita ação. Não é animação pra criança.
 

As cenas de ação deveriam ser o ponto alto da produção. Até por remeter muito aos filmes orientais antigos de artes marciais. Mas isso deixa a desejar para quem é mais exigente. Acontecem coisas que fogem completamente às leis da física. É claro que sempre são permitidos exageros na ficção. Isso é até esperado. Mas há um limite. E o filme erra a mão.


A animação vai caminhando de forma previsível, cheia de clichês. Faltou explorar a ligação entre o grupo de amigos. Algumas coisas são bem forçadas. Mas isso passa. O desfecho pode ser satisfatório ou bem decepcionante, vai depender do olhar de quem assiste. Parece que falta ação nas batalhas decisivas.


A verdade é que o Batman nem era necessário. Ele não é o líder, não tem planos geniais, não está dois passos à frente como sempre. Não tem essa essência de homem-morcego. Ele é só um do grupo. No fim, os quatro acabam dividindo o protagonismo. Mesmo o autor forçando um pouco a barra para o lado do Batman, dá pra imaginar a história sem ele. Não faria falta. O que leva a crer que ele está lá só pra ter o nome no título e alcançar mais público.


Ficha técnica:
Direção:
Sam Liu
Produção: Warner Bros. Animation / DC Entertainment
Exibição: DVD e Youtube
Duração: 1h23
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: Animação / Ação
Nota: 3 (0 a 5)

19 janeiro 2021

"Bridgerton" - Uma comédia com ares de folhetim novelesco que explora descendências e jogos de interesse

Trama tem como ponto de partida o casal Daphne e Duque de Hasting, que tenta disfarçar uma atração latente entre eles (Fotos: Liam Daniel/Netflix)
 

Silvana Monteiro


"Bridgerton" chegou na Netflix no Natal de 2020 e, deste então permanece entre as séries mais vistas da plataforma. De acordo com estatísticas divulgadas pela própria empresa, o título deve atingir 63 milhões de visualizações até o final do mês, tornando-se o quarto maior lançamento de série original da Netflix de todos os tempos. Alcançou o primeiro lugar no Top 10 da plataforma em 76 países, desde sua estreia e hoje ocupa a quarta posição no ranking da plataforma.


Criada por Chris Van Dusen, baseado na série de livros de mesmo nome escrita por Julia Quinn, a série é produzida pela roteirista, cineasta e produtora de TV Shonda Rhimes, responsável também por outros sucessos como as séries "Grey’s Anatomy" (2005 até hoje), "Private Practice" (2007-2013), "Scandal" (2012-2018) e "How to Get Away With Murder" (2014-2020).


‌Com ares de folhetim novelesco, o enredo tende a agradar a várias idades. A trama se desenvolve a partir da história de Daphne (Phoebe Dynevor) filha mais velha da família Bridgerton que é incentivada pela mãe e pela maioria dos irmãos, especialmente Anthony (Jonathan Bailey), a conquistar um casamento com algum jovem rico e poderoso. 
 
Ao conhecer o Duque Simon de Hasting (Rége-Jean Page), um solteiro convicto, os planos mudam. Ambos decidem fazer um jogo pra enganar a alta sociedade e a família. Esse jogo vai render muitas confusões e, surpreendentemente, paixão e desejo.


A partir daí, a trama revela o trauma familiar que pesa a vida do Duque e, paralelamente, vai intrigando o telespectador com a atração entre ele e a jovem Daphne. Mais que isso, a curiosidade pelos escândalos e fofocas envolvendo a sociedade londrina do século XIX é alimentada pela narração de uma personagem misteriosa. Gravidez indesejada, relacionamentos extraconjugais, separações e possíveis casais.
 

O ponto alto da trama é o desenrolar de histórias a partir da visão de Lady Whistledown (voz de Julie Andrews). Ela é uma espécie de colunista de fofoca que, além de publicar acontecimentos, acaba por manipular e pressionar decisões na moralista sociedade local. Mas quem é ela? Tanto os personagens quanto o público vão ser instigados por essa dúvida.


Aspectos importantes relacionados à diversidade chamam a atenção em "Bridgerton". Os personagens negros são representados fora da senzala e dos papéis de serviçais, o que não é muito comum em produções que retratam a nobreza.

‌Na produção de Shonda Rhimes, eles ocupam cargos importantes na sociedade e até a rainha é negra. Além disso, por mais pressionadas e sob imposição de uma sociedade machista, as mulheres da série, sobretudo as mais jovens, são representadas a partir de suas inquietações e insatisfação com a sociedade da época.


Embora Daphne seja a protagonista da série, a excelente interpretação, mais do nunca a exploração do corpo negro, viril e sensual do Duque de Hasting acabou por torná-lo a estrela da serie. Cenas dos personagens em momentos íntimos e sensuais acabaram se espalhando pelas redes e levando homens e mulheres a buscarem pela obra.

A própria Netflix vem explorando esses aspectos em publicações nas redes sociais. ‌Destaque também para a linda fotografia e as bem escolhidas locações, além da harmoniosa trilha sonora. E, se der, encante-se pelo Duque e pela Duquesa de Hasting. A segunda temporada da série já foi confirmada, mas deverá estrear somente no final deste ano ou início de 2022.


Ficha técnica:
Direção:
Chris Van Dusen / Shonda Rhimes
Exibição: Netflix
Duração: média de 60 minutos por episódio (1ª Temporada - 8 episódios)
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: Drama / Romance / Série de TV

17 janeiro 2021

“Borgen” mostra uma sociedade civilizada e evidencia os bastidores da política e da imprensa dinamarquesas

Série é dividida em três temporadas com dez episódios cada (Mike Kollöffel / DR Fiktion /Netflix)


Mirtes Helena Scalioni

 
Um único prédio monumental no centro de Copenhague abriga o Parlamento, os gabinetes dos líderes partidários e do Primeiro-ministro, além da Suprema Corte. Esporadicamente, quando necessário, abre as instalações específicas para receber também a Rainha Margarida II. É nesse lugar, o chamado Palácio de Christiansborg, que se desenrola a maior parte da série “Borgen”, tendo como pano de fundo a trajetória da primeira mulher a assumir o cargo de primeira-ministra da Dinamarca.


Dirigida por Soren Kragh-Jacobsen e Rumie Hammerich, a série "Borgen" tem argumento fictício, mas revela com clareza o modo de vida de um país civilizado, onde a primeira-ministra anda de bicicleta e de táxi, busca os filhos na escola, cozinha e lava a louça junto com o marido (já que não têm empregada), participando ativamente da vida doméstica. As mulheres têm os mesmos direitos que os homens e os encontros casuais de sexo são vistos com normalidade e sem preconceitos.
 
 
 
Além do modo de vida do povo dinamarquês, a série mostra como funciona a política por lá, com seus acordos, trocas e conchavos entre os partidos. Tudo muito claro e natural. São tantas as reuniões, conversas e jogos que, por vezes, o público pode ficar em dúvida se o objetivo da política é sempre o bem comum ou se, algumas vezes, os que militam nela buscam apenas o poder.

 
Essa pergunta pode ser feita em várias ocasiões e o mérito da dúvida é todo de Sidse Babett Knudsen, atriz que conquistou o Prêmio Emmy Internacional de Melhor Atriz pelo seu papel de Birgitte Nyborg, a primeira-ministra. Carismática, ela transita muito bem entre o Parlamento e a vida doméstica, entre as intermináveis reuniões e os encontros afetivos ou sexuais com o marido Philip, interpretado na medida por Mikael Bir Kjaer.

 
Entranhada à trajetória de Birgitte, corre a trama do núcleo da imprensa, que notícia praticamente tudo o que acontece ou envolve o Palácio de Christiansborg. Nessa turma, estão, principalmente, os jornalistas Kasper Juul (Johan Philip Asbalk) e Katrine (Birgitte Hjort Sorensen), cada um com sua história familiar, sua vida, seus problemas e seus amores. Há momentos em que cabe perguntar: é a imprensa que vive em função da política ou a política que vive em função da imprensa? 


Ao longo da série, o público aprende também como funciona, por exemplo, o coração de uma TV, com a correria habitual dos jornalistas, as censuras, a busca pela audiência, as brigas internas e os dilemas éticos tão peculiares à profissão.

Com tantos bons temas, é lamentável que “Borgen” tenha se perdido a partir da última temporada. São três etapas de 10 episódios cada, mas a terceira parece ter sido escrita por outro roteirista. O perfil psicológico dos personagens não obedece nenhuma coerência, alguns têm sua participação inexplicavelmente reduzida, outros simplesmente desaparecem. Uma ou outra trama também fica sem desfecho. Seria melhor ter terminado na segunda temporada. Uma pena.


 Ficha técnica:
Direção:
Soren Kragh-Jacobsen e Rumie Hammerich
Exibição: Netflix
Duração: 58 minutos (está na 3ª temporada, com 10 episódios cada)
Classificação: 14 anos
País: Dinamarca
Gêneros: Drama / Série de TV