16 abril 2021

"Mank" é um filme Cult muito superestimado, feito para meia dúzia de pessoas

 Produção conta a história do roteirista da obra "Cidadão Kane", Herman J. Mankiewicz (Fotos: Netflix/Divulgação)

Jean Piter Miranda


O filme com mais indicações ao Oscar 2021 - dez no total -, dirigido por David Fincher, com Gary Oldman como protagonista. Todo produzido em preto e branco para retratar parte da Era de Ouro de Hollywood. Mais que isso, para mostrar um pouco dos bastidores do filme “Cidadão Kane” (1941), considerado uma obra-prima de Orson Welles e uma das maiores produções da história do cinema. 

Partindo disso, dá pra imaginar que “Mank” (2020), disponível na Netflix, é de muito bom pra ótimo. Mas não é. É bem fraco, pra não dizer ruim, para decepção da maior parte dos amantes da sétima arte.


Mank (Gary Oldman) é o apelido de Herman Mankiewicz, um roteirista bem conhecido de Hollywood. Ele recebe a missão de escrever um roteiro para o diretor Orson Welles, uma das grandes estrelas do momento. Mank é meio que um alcoólatra, viciado em aposta e ainda tem alguns traumas. E o tempo que ele tem para entregar as centenas de páginas escritas é bem curto. 


Quando o filme começa, a impressão é de que Mank é um tipo de anti-herói. Parece que vai ser uma corrida contra o tempo para escrever o roteiro do que viria a ser o filme “Cidadão Kane”, um dos grandes clássicos da história do cinema. E pelo tanto que ele é conhecido e reconhecido, o roteirista vai colocar sua genialidade e talento em prática. A expectativa é de o filme mostre os bastidores de todo o processo criativo, com momentos e diálogos épicos. Mas não. Não tem nada disso.


Mesmo com muita boa vontade, não dá pra ter simpatia por Mank. É um personagem chato. Muito chato. O processo de escrita não aparece e não dá pra entender porque ele é tão conceituado na indústria do cinema. Ele é antipático e sem carisma algum. 

O filme é um amontoado de momentos desconexos, com diálogos que não parecem fazer sentido. É só um monte de frases de efeito soltas e algumas até meio bobas. Lembram programas de comédia, em que um ator levanta a bola para o outro cortar. Tem também várias citações de nomes de artistas e políticos da época que poucos vão entender e localizar. Do tipo, quem pegar pegou. 


Ao que parece, David Fincher fez “Mank” pra impressionar a Academia e ganhar indicações ao Oscar. Se for isso, deu certo. Hollywood adora essas homenagens. Obras sobre os bastidores e as grandes estrelas do cinema. É uma produção feita também para os cinéfilos mais extremistas. Aqueles que amam filmes alternativos, cults e não comerciais. Os que ficam procurando referências e curiosidades em cada uma das cenas, e que vão dizer que entenderam tudo quando quase ninguém compreendeu nada. 


O longa também foi feito para Gary Oldman. O ator já havia se destacado por interpretar Winston Churchill em “O Destino de Uma Nação” (2018), quando levou pra casa o Oscar de Melhor Ator, por uma caracterização impressionante em outra produção bem fraca. Em “Mank”, o protagonista está quase sempre com olhos bem arregalados, fazendo falas meio bêbadas e desviando olhar nas conversas. Como Herman Mankiewicz não é uma figura comum, bem conhecida, não dá pra saber se a interpretação é realista ou exagerada. 

Falando no elenco, Amanda Seyfried e Lily Collins estão desperdiçadas. São talentosas demais para papéis tão fracos como os que receberam em "Mank". Amanda aparece um pouco mais, quase que só pra enfeitar as cenas. Lily passa despercebida. 


“Mank” foi indicado ao Oscar de: Melhor Filme, Melhor Ator para Gary Oldman, Melhor Atriz Coadjuvante para Amanda Seyfried, Melhor Fotografia, Melhor Figurino, Melhor Direção para David Fincher, Melhor Cabelo e Maquiagem, Melhor Trilha Sonora, Melhor Design de Produção e Melhor Som. E pra não dizer que tudo é ruim, as indicações técnicas são bem merecidas. 


A fotografia de “Mank” é maravilhosa. Um filme em preto e branco de altíssima qualidade, com luzes e sombras muito bem acertadas. É como voltar no tempo para ver cinema nos anos 1930. As roupas, os cenários, cabelos, maquiagem... Tudo remete bem à Era de Ouro do Cinema. Uma ambientação perfeita. Só faltou uma boa história. Mas, ao menos uma meia dúzia de pessoas com certeza irá gostar.


Ficha técnica:
Direção: David Fincher
Exibição: Netflix
Duração: 2h12
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: Drama / Biografia

08 abril 2021

Anthony Hopkins sofre com a velhice e o abandono de Olivia Colman em "Meu Pai"

Adaptado da peça teatral homônima, o filme se destaca pelas excelentes interpretações e recursos visuais (Fotos: California Filmes/Divulgação)

 

Maristela Bretas


Só quem viveu uma situação semelhante como a de Anthony Hopkins e Olivia Colman sabe o que a demência é capaz de fazer a uma pessoa e com aquelas que convivem com ela. Mesmo sem citar qual das variações da doença, a produção "Meu Pai" ("The Father") faz um recorte na convivência desta dupla de pai e filha, sem definir tempo e espaço de quando os momentos tratados ocorreram. E se ocorreram.

O roteiro de Christopher Hampton e Florian Zeller, que também dirige o filme, leva a várias interpretações e dúvidas: até que ponto Anthony (papel de Hopkins) está vivendo a situação retratada? Seria tudo uma alucinação de um cérebro já desgastado pela senilidade ou um plano bem arquitetado por quem deveria cuidar dele, para parecer que tudo não passa de loucura de um velho?


A narrativa de "Meu Pai" passeia pelos poucos ambientes de uma mesma casa - do quarto para a sala, depois para a cozinha, de volta à sala - que mudam de posição e cores de acordo com cada momento que Anthony está vivendo. Também as pessoas não são as mesmas, as aparências e os comportamentos se alteram num simples mudar de cômodo. O público consegue sentir a confusão mental que Anthony esta enfrentando cada vez que isso ocorre e sofre com ele.


Anthony é um homem de 81 anos, mora sozinho em seu apartamento em Londres e recusa todos os cuidadores que a filha Anne (Olivia Colman) tenta lhe impor. Os problemas ficam maiores quando ela avisa ao pai que conheceu um homem e vai se mudar com ele para Paris. E não poderá mais visitá-lo com frequência, como sempre fez. A ideia de se mudar para um lar de idosos é rebatida veementemente por Anthony, que não quer deixar sua casa, seu porto seguro.


A todo o momento, pai e filha questionam sua relação em vários níveis, importantes ou não, desde o frango comprado para o almoço a quem seria a filha preferida do pai. Entrecortando os diálogos dos dois protagonistas surgem personagens diferentes que se apresentam como familiares em alguns momentos e em outros não passam de completos desconhecidos para Anthony. Ele já não sabe mais o que é verdadeiro e o que é fruto de sua mente cansada da realidade.


Fatos estranhos começam a acontecer isoladamente aumentando a angústia de Anthony, que teme perder sua liberdade ao ser taxado de louco e não poder contar mais com a presença da filha. Uma jovem cuidadora semelhante a sua filha caçula que ele não vê há anos, um estranho dizendo que o apartamento onde ele vive não é dele, outra mulher se passando por sua filha.

Anthony Hopkins está excepcional (não dava para esperar menos) e entrega uma interpretação digna do Oscar como Melhor Ator na edição deste ano. Ele é pura emoção, vai da gargalhada e da dança alegre aos momentos de pura angústia e tristeza por medo da solidão e do abandono. Um homem forte em suas convicções, mas que se entrega ao choro incontrolado nos braços de uma estranha. Até que ponto sentimentos como estes podem alterar a realidade de uma pessoa? Faz o coração da gente doer.


Olivia Colman também tem uma atuação excelente de Anne, a filha de meia idade que sofre ao ver o pai que ela ama, mesmo com rancores do passado, se deteriorando com a senilidade. Cansada de tudo, ela agora quer tentar recomeçar a vida e ser feliz com o homem que conheceu - Paul (Rufus Sewell) -, em outra cidade, distante da obrigação que lhe coube de cuidar do pai na velhice com a falta da irmã. Mas como abandoná-lo?


A doença de Anthony não é citada, mas os estranhos que surgem a cada mudança de cenário fazem questão de lembrá-lo que ele não é bem-vindo ali, que deveria ir para um lar de idosos, dar paz para a filha. Até mesmo uma possível agressão é questionada numa das cenas - ilusão ou fato? Tudo isso vai levando o público a um final que não chega a ser surpreendente, mas que mexe profundamente com o emocional e nos faz pensar o que é envelhecer.

"Meu Pai" é uma adaptação da peça teatral "Le Père", do diretor Florian Zeller, que soube trazer para as telas temas profundos - velhice, paternidade, rancores do passado, senilidade, abandono. Para conseguir essa transposição, ele empregou diversos recursos visuais com mudanças de cenários do mesmo espaço físico,  aproveitando bem as cores e as luzes, que são alternadas de acordo com o estado emocional de Anthony. Tudo isso completado com a excelente interpretação da dupla principal (ambos dignos de Oscar).


Uma obra para ser lembrada e comentada, especialmente por especialistas no estudo da mente humana. Vale destacar também a belíssima trilha sonora com clássicos de Bizet, Vincenzo Bellini, Henry Purcell e composições com violino e piano de David Menke. 

Com distribuição da Califórnia Filmes, "Meu Pai" está disponível para compra nas plataformas digitais Now, iTunes (Apple TV), Google Play e Belas Artes A La Carte. A partir do dia 28 de abril ficará também disponível para aluguel nessas plataformas e também na Sky Play e na Vivo Play.


Ficha técnica:
Direção: Florian Zeller
Exibição: Plataformas digitais
Duração: 1h38
Classificação: 14 anos
Países: Inglaterra / França
Gênero: Drama
Nota: 5 (de 0 a 5)

01 abril 2021

Plataformas digitais apresentam, pela primeira vez, títulos da coleção "Cores de Almodóvar"

Pacote reúne dez filmes remasterizados do aclamado diretor espanhol (Fotos: Divulgação)

Da Redação


A partir desta quinta-feira (1º de abril) o público poderá conferir em diversas plataformas digitais a coleção "Cores de Almodóvar". São dez títulos do aclamado diretor espanhol Pedro Almodóvar ainda inéditos para aluguel e compra. A seleção conta com “Má Educação”, “Maus Hábitos”, “De Salto Alto”, “Kika”, “A Lei do Desejo”, “Carne Trêmula”, “Fale com Ela”, “A Flor do meu Segredo”, “O Que Fiz Eu para Merecer Isso?” e “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos”. Os filmes estão disponíveis no Now, Vivo Play, iTunes / Apple TV, Google Play e YouTube Filmes individualmente.

Com mais de 30 anos de carreira e dezenas de longas aclamados pelos fãs e pela crítica, o premiado cineasta espanhol dirigiu, em filmes sempre provocadores e muitas vezes polêmicos, estrelas do cinema como Antonio Banderas, Javier Bardem, Carmem Maura, Penélope Cruz e Gael Garcia Bernal. Algumas dessas parcerias podem ser conferidas na coleção lançada pela Synapse Distribution, empresa do Grupo Sofa Digital.

Confira a lista completa:

Maus Hábitos (Foto: Divulgação)

“Maus Hábitos” (1983)
Sinopse: Procurada pela polícia após a morte de seu namorado por overdose, uma cantora de boate se esconde em um convento. Aos poucos, ela percebe que as freiras são mais excêntricas do que imaginava.
Elenco principal: Marisa Paredes, Carmen Maura, Julieta Serrano, Chus Lampreave.

“O Que Fiz Eu para Merecer Isso?” (1984)
Sinopse: Gloria mora com o marido motorista de táxi em um prédio multifamiliar com os filhos e uma sogra folgada. Ela trabalha limpando a casa de outras pessoas enquanto tenta manter sua sanidade tomando anfetaminas.
Elenco principal: Carmen Maura, Verónica Forqué, Chus Lampreave, Luis Hostalot.

“A Lei do Desejo” (1987)
Sinopse: Um diretor de cinema sofre com o fim de um relacionamento e envolve-se com o filho de um importante político. Mas o novo amante revela uma perigosa personalidade controladora e tudo fica mais complicado.
Elenco principal: Antonio Banderas, Carmen Maura, Eusebio Poncela, Miguel Molina e Rossy De Palma.

Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (Foto: Divulgação)

“Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos” (1988)
Sinopse: Nesta comédia clássica da filmografia de Pedro Almodóvar, uma famosa atriz de televisão é abruptamente largada por seu amante e não descansará até descobrir o verdadeiro motivo desse abandono.
Elenco principal: Carmen Maura, Antonio Banderas, Verónica Forqué, Julieta Serrano, Rossy De Palma e María Barranco.

“De Salto Alto” (1991)
Sinopse: Depois de anos focada na carreira, a famosa cantora Becky del Páramo volta para casa para se reunir com sua filha. Para sua surpresa, a jovem está casada com seu ex-amante. Quando ele aparece morto, o caos se instala.
Elenco principal: Victoria Abril, Marisa Paredes, Miguel Bosé e Javier Bardem.

“Kika” (1993)
Sinopse: Kika é uma maquiadora muito doce e otimista que se envolve com o fotógrafo Ramón. Ele é um cara muito fechado, mas eles se apaixonam. O único problema é que Kika era amante do padrasto de Ramon.
Elenco principal: Verónica Forqué, Rossy de Palma, Peter Coyote, Victoria Abril e Àlex Casanovas.

“A Flor do meu Segredo” (1995)
Sinopse: Cansada de escrever livros sem sentido e prestes a se separar do marido, uma escritora famosa vai trabalhar em um jornal. Lá, ela é convidada a criticar seu próprio romance.
Elenco principal: Marisa Paredes, Juan Echanove, Carme Elias e Rossy de Palma.

Carne Trêmula (Foto: Divulgação)

“Carne Trêmula” (1997)
Sinopse: Victor é um adolescente que acaba na prisão após uma briga na rua. Ao ser solto, ele quer se vingar dos policiais que o trancaram, mas descobre que a garota que ama casou-se com um dos agentes.
Elenco principal: Javier Bardem, Francesca Neri, Penélope Cruz e Liberto Rabal

“Fale com Ela” (2002)
Sinopse: Um enfermeiro se apaixona por uma dançarina que acaba sob seus cuidados após um acidente. No hospital, ele conhece um homem que também está acompanhando a mulher que ama e os dois começam uma estranha amizade.
Elenco principal: Javier Cámara, Darío Grandinetti, Leonor Watling e Rosario Flores.

“Má Educação” (2004)
Sinopse: Um cineasta recebe um roteiro de um amigo de infância, escrito com base na adolescência que passaram juntos. Ele começa a lembrar dos tempos no internato católico e entender os abusos e a repressão sexual que sofreu.
Elenco principal: Gael García Bernal, Fele Martínez, Daniel Giménez Cacho e Lluís Homar.


31 março 2021

“Respiro”: para matar a saudade de um típico - e ótimo - filme italiano

Valeria Golino é a estrela desta obra de 2002 dirigida por Emanuele Crialese (Fotos: Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni

 
O jeito de contar é escandalosamente italiano – e não apenas pelas paisagens exuberantes da ilha de Lampedusa, na Sicília. Mas a história é tão antiga quanto universal: sufocada pelo ambiente onde vive, mulher é considerada louca por almejar espaço e liberdade. Até Freud, dizem, criou a Psicanálise com base nos sintomas desse conflito. É nesse diapasão que transcorre “Respiro”, filme de Emanuele Crialese de 2002, que passa a integrar o catálogo do Belas Artes a La Carte a partir desta quinta-feira (1º de abril). 

Outros três filmes que também estreiam na plataforma de streaming são “Sonho Sem Fim”, que marca a estreia de Lauro Escorel como diretor; o clássico “O Grande Motim” (1935), dirigido por Frank Lloyd, e a comédia “O Palhaço do Batalhão” (1950), de Hal Walker.

"O Grande Motim" (Divulgação)

Vencedor do Grande Prêmio da Semana da Crítica e do Público no Festival de Cannes de 2002, “Respiro” traz a bela Valeria Golino como Grazia, mãe de três filhos com idades próximas a 15, 11 e 8 anos: Marinella (Veronica D’Agostino), Pasquale (Francesco Casisa) e Filippo (Filippo Pucilo).

Casada com Pietro (Vincenzo Amato), ela, assim como todas as mulheres do lugar, trabalha na limpeza de peixes trazidos do mar pelos homens da ilha. A vila de pescadores, aliás, é quase um personagem do filme, com seu mar translúcido, praias paradisíacas e penhascos de perder o fôlego.

"Respiro" (Divulgação)

Quando se fala em jeito de contar história, registre-se que “Respiro” talvez demore um pouco para engrenar por se ocupar muito da construção do clima do lugar: um maravilhoso e pacato litoral mediterrâneo, pescadores trabalhando, brincadeiras maliciosas – e até perigosas – de meninos, lambretas correndo em estradinhas pedregosas, almoços e jantares de famílias saboreando suas indefectíveis massas e molhos.

"Respiro" (Divulgação)

O público começa a entender que Grazia não é uma mulher como as outras daquela ilha quando ela decide, entre outras coisas, defender seus filhos contra tudo e todos, nadar nua e boiar ao sabor das ondas, sair de lambreta com a filharada toda a bordo ou libertar os cães presos num porão à espera do abate. 

Quando contrariada, avança sobre as pessoas, esperneia, se debate, num show que chamariam de histeria, e só sossega quando lhe aplicam uma injeção calmante. É de se esperar que tamanha rebeldia e mau comportamento resultem na decisão coletiva de internar Grazia numa clínica de Milão.

"Respiro" (Divulgação)

Como outros diretores italianos, Crialese também usa moradores da ilha como atores e atrizes coadjuvantes, o que enfatiza o clima de realidade e naturalidade do filme. Apenas Valeria Golino (ela foi a namorada de Tom Cruise em “Rain Man”) e os componentes de sua família no filme são profissionais. 

Estão todos impecáveis em seus papéis, do marido afetuoso que tenta compreender a mulher, aos filhos que querem protegê-la de suas atitudes libertárias, mas não conseguem esconder o sangue machista. A ideia só enriquece “Respiro”, cujo final, belo e surpreendente, o diretor foi buscar na tradição das festas religiosas italianas. Poesia pura.

"RESPIRO"
Ficha técnica
Direção: Emanuele Crialese
Exibição: Belas Artes a La Carte
Duração: 1h35
Classificação: 14 anos
País: Itália, 2002
Gênero: Drama


Fichas técnicas:
"SONHO SEM FIM"
Direção: Lauro Escorel
Exibição: Belas Artes a La Carte
Duração: 1h33
Classificação: 14 anos
País: Brasil, 1986
Gênero: Biografia 
Sinopse: A história de um dos pioneiros do cinema brasileiro, o gaúcho Eduardo Abelim, desde o início da carreira, no Rio de Janeiro, até as filmagens da Revolução de 1930. Para divulgar seus filmes, Abelim até fazia acrobacias de carros, dava aulas de ocultismo e dava orientações sobre assuntos místicos. "Sonho Sem Fim" levou o troféu Kikito em cinco categorias no Festival de Gramado 1985: Prêmio Especial do Júri, Melhor Figurino, Melhor Direção de Fotografia, Melhor Atriz para Marieta Severo e Melhor Atriz Coadjuvante para Imara Reis. "Sonho sem fim" também recebeu o prêmio de melhor filme do ano de 1986 da crítica cinematográfica do Rio de Janeiro.


"O GRANDE MOTIM" ("Mutiny On The Bounty")
Direção: Frank Lloyd
Exibição: Belas Artes a La Carte
Duração: 2h12
Classificação: 14 anos
País: EUA, 1935
Gênero: Aventura
Sinopse: O primeiro imediato Fletcher Christian lidera uma revolta contra seu comandante sádico, Capitão Bligh, nesta clássica aventura marítima, baseada no motim de 1788 da vida real. Indicado ao Oscar 1936 em oito categorias venceu apenas como Melhor Filme. Este foi o único filme a receber três indicações ao Oscar de Melhor Ator (Clark Gable, Charles Laughton e Franchot Tone), e, por causa disso, logo depois a Academia criou o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, para garantir que essa situação não se repetisse.
 

"O PALHAÇO DO BATALHÃO" ("At War With The Army")
Direção: Hal Walker
Exibição: Belas Artes a La Carte
Duração: 1h33
Classificação: 12 anos
País: EUA, 1950
Gênero: Comédia
Sinopse: Alvin Corwin é o homem inferior no totem e vai de um acidente a outro em um campo de treinamento do exército na Segunda Guerra Mundial. Terceiro filme estrelado por Jerry Lewis e Dean Martin. Comédia de Hal Walker, que dirigiu Jerry Lewis e Dean Martin em outros sucessos, entre eles "O Marujo Foi na Onda".
 

Serviço:
Planos de assinatura com acesso a todos os filmes do catálogo em dois dispositivos simultaneamente.
Assinatura mensal: R$ 9,90 // Assinatura anual: R$ 108,90
Belas Artes a La Carte está disponível na Google Play, App Store e dispositivos Roku

30 março 2021

"A Despedida" faz chorar de emoção com boas interpretações, bela fotografia e trilha sonora com clássicos

Susan Sarandon e Kate Winslet são os destaques no drama sobre vida e morte dirigido por Roger Michell (Fotos: California Filmes/Divulgação)


Maristela Bretas


Prepare o lencinho para a estreia nesta quarta-feira (31/03) nas plataformas digitais do drama "A Despedida" ("Blackbird"), que reúne um elenco com interpretações envolventes, uma fotografia que encanta e uma trilha sonora perfeita. Dirigido por Roger Michell, o filme tem em seu elenco principal as premiadas com o Oscar Susan Sarandon e Kate Winslet dando show cada vez que aparecem. Não são poucos os momentos que levam as pessoas a ficarem com os olhos marejados graças a essas duas atrizes, que receberam um bom suporte com as atuações dos demais integrantes do grupo. 


Susan Sarandon é a peça chave do filme, no papel de Lily, uma mulher de quase 60 anos inteligente e espirituosa, que tem uma doença terminal. Ela se acha perfeita e por ter sido controladora a vida inteira decide quando e como será seu fim. Não quer que a família tenha pena de seu estado e que permaneça estruturada (o que nunca foi) após sua partida. Até na vida de sua melhor amiga Liz (Lindsay Duncan) ela interfere.


Lily e o marido Paul (Sam Neill) se preparam para um fim de semana com as filhas, o neto e companheiros das filhas, além de Liz.  Apesar de sua mobilidade prejudicada, Lily insiste em preparar tudo sozinha, numa comemoração de despedida, já que pretende antecipar sua morte com a ajuda do marido médico para não sofrer com a degeneração do corpo e da mente. Entre jantares, jogos de adivinhação e passeios na praia, a família vai tentando fingir que tudo aquilo é "normal".


Mas, à medida que as horas avançam, os dramas vão surgindo, assim como os segredos do passado e do presente. E é aí que entra o outro peso-pesado do filme, Kate Winslet, no papel da filha mais velha, Jennifer. Tentando sempre ser reconhecida pela mãe e um retrato dela, controla o marido e filho (ou pelo menos acha isso) e tem sérios conflitos com a irmã caçula Anna (Mia Wasikowska). 


Jennifer é uma mulher insatisfeita emocionalmente e sexualmente e no fundo, apesar de ter concordado com a morte prematura da mãe, não aceita e não se sente segura com a perda. Winslet está ótima no papel, quase irreconhecível com grossos óculos e usando roupas que a deixam com aspecto de uma mulher bem mais velha - está mais para irmã de Lily que para sua filha.


Outra que se sai bem no papel é Mia Wasikowska, uma mulher frágil, insegura, cheia de mágoas, que mantém uma relação instável com Chris (Bex Taylor-Klaus), uma jovem de comportamento adolescente, mas que segura a barra da companheira mesmo nos momentos difíceis. Mia e Winslet também entregam bons diálogos, especialmente quando Anna e Jennifer discutem a relação entre elas e com a mãe. 

Chama a atenção o fato de o pai sempre ficar de fora quando o assunto é relacionamento. Como se ele fosse apenas um coadjuvante da família. A força toda do filme está nas mulheres da família, especialmente nos conflitos, e os homens da trama são deixados de lado. Isso fica claro na postura de Paul, no casamento de Jennifer com Michael (Rainn Wilson) e na relação dela com o filho Jonathan (Anson Boon). Eles só ganham mais espaço no final, em parte por interferência de Lily, como sempre.


Sam Neill especialmente merecia mais destaque, uma vez que interpreta o marido apaixonado pela esposa, mas resignado por sua decisão, que o coloca como o responsável por planejar todo o procedimento médico. Sofre calado pelos cantos da casa, ao mesmo tempo em que tem de parecer seguro para dar o suporte à família para o que está por vir. 

O certo é que à medida que o fim de semana vai chegando ao final, o clima se torna cada vez mais tenso. O que antes era um acordo familiar passa a ser descartado pelas filhas e a despedida de Lily pode não ser tão pacífica como ela planejou.


Outro destaque de "A Despedida" é a bela trilha sonora, que conta com clássicos de Bach e Mozart, além de solos de violino e piano. Também a fotografia é um ponto alto. Apesar de ter poucas locações, com a maioria das cenas feitas dentro da casa, as externas são numa região a beira-mar com lindas praias e caminhos de pedra pela encosta que garantem boas imagens, inclusive do pôr do sol. 

Encantador e envolvente trata-se de um filme que faz pensar sobre morte e o que se leva dessa vida. Recomendo demais. "A Despedida" estará disponível para locação, no Now, iTunes, Google Play, Youtube Filmes, Vivo Play e Sky Play.


Ficha técnica:
Direção: Roger Michell
Exibição: Plataformas digitais para locação
Distribuição: California Filmes
Duração: 1h37
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gênero: Drama
Nota: 4 (de 0 a 5)

26 março 2021

"Relatos do Mundo" explora belas paisagens e diálogos de poucas palavras

Atriz alemã Helena Zengel divide o brilho da produção com Tom Hanks em faroeste dirigido por Paul Greengrass
 (Fotos: Universal Pictures / Divulgação)


Maristela Bretas


Filme com Tom Hanks, até mesmo se for mediano, é chamariz para o público. Não seria diferente com "Relatos do Mundo" ("News of The World"), produção que está em exibição na Netflix. Mas a novidade desta vez é que o astro divide o estrelato (e em alguns momentos perde) com uma jovem atriz alemã de 12 anos - Helena Zengel. Com apenas quatro produções em sua carreira - duas ainda por estrear - já se destacou em seu país com o filme "System Crasher" ("Transtorno Explosivo") de 2019, e indicações para o Globo de Ouro e SAG Awards deste ano na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante.


Hanks e Zengel dividem o assento de uma carroça pelas estradas poeirentas do Oeste dos EUA no filme dirigido por Paul Greengrass, responsável por "Capitão Phillips" (2013), também com Tom Hanks, "22 de Julho" (2020 - Netflix) e a franquia "Jason Bourne" com Matt Damon, inclusive o último, de 2016.

A produção concorre a quatro estatuetas no Oscar 2021 - Melhor Trilha Sonora, Melhor Design de Produção, Melhor Som, Melhor Trilha Sonora e Melhor Fotografia. Esta última indicação muito merecida. O diretor fez uma escolha perfeita de luz, cor e locações que garantem um dos principais destaques do filme. As cenas mais bonitas são exatamente as do deserto, pela manhã ou ao entardecer.
 

A narrativa é lenta, acompanhando o ritmo do trotar dos cavalos, representando bem a jornada do solitário capitão Jefferson Kyle Kidd (papel de Tom Hanks), um veterano de duas guerras que viaja pelo Texas, parando de cidade em cidade para ler as notícias do mundo para seus habitantes. 

Um homem sereno, de poucas palavras - no estilo Tom Hanks de atuar. Pelo caminho, um encontro inesperado vai mudar sua rotina. Johanna (Helena Zengel), uma menina alemã criada pela tribo Kiowa após a morte dos pais, é encontrada perdida no deserto, não fala inglês, apenas um dialeto que mistura as duas línguas.


Apesar da hostilidade da criança, Kidd decide levá-la em seu trajeto, enquanto busca familiares. No percurso, a agressividade da jovem passageira de poucas palavras vai se desfazendo com a atenção e a proteção que recebe do capitão. Um forte vínculo passa a unir os dois. E é esta amizade que vai também ajudá-los a enfrentar os perigos do percurso. Apesar de solitário, ele é um contador de histórias que encanta seu público e à jovem Johanna.


A história de "Relatos do Mundo" é adaptada do livro escrito por Paulette Jiles e se passa em 1870, pouco depois da Guerra de Secessão. E claro, não podia deixar de citar, mesmo que superficialmente em algumas falas, o fim da escravatura que não era aceita no sul do país e a violência contra as tribos indígenas. Mas é pelas notícias narradas como um conto de fadas que os habitantes passam a saber mais sobre o progresso que está chegando. Mesmo que isso desagrade alguns.


Além da fotografia, o filme também entrega um figurino de época bem elaborado e fiel e uma trilha sonora composta por James Newton Howard ("Operação Red Sparrow" - 2018, "Animais Fantásticos e OndeHabitam" - 2016, "Malévola" - 2014 e muitos outros sucessos), que justifica a indicação ao Oscar 2021.


Não espere um faroeste no estilo John Wayne. "Relatos do Mundo" é mais um drama que se passa no Velho Oeste e já no encontro dos personagens principais é possível prever o final. Mas não tira o interesse pelo filme que, como um bom bang-bang tem tiros, brigas de bar, tocaias no morro e ataques. E tem Tom Hanks com sua jovem parceira Helena Zengel, um quase par romântico - Mrs. Gannett (Elizabeth Marvel) - e uns vilões razoáveis. Vale a pena conferir.


Ficha técnica:
Direção: Paul Greengrass
Exibição: Netflix
Produção: Universal Pictures
Duração: 1h59
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: Drama / Faroeste
Nota: 3,8 (de 0 a 5)

23 março 2021

"Uma Noite em Miami" - Um encontro pelos direitos civis dos negros nos EUA

Através de quatro líderes sociais, diretora expõe a segregação racial nos anos 1960 (Fotos: Amazon Prime Video/Divulgação)

Silvana Monteiro


A premiada atriz Regina King marca sua estreia como diretora de cinema com "Uma Noite em Miami" ("One Night in Miami"), produção original da Amazon Prime Video. Embora já tenha experiência na direção de séries de TV, King abraçou o desafio de dirigir um roteiro adaptado da peça teatral de mesmo nome, de autoria de Kemp Powes, responsável também pelo roteiro do filme, indicado ao Oscar 2021 nas categorias de Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Canção Original.

O enredo prima pela humanização absoluta de quatro líderes sociais da luta pelos direitos civis dos afro-americanos. Nesse quesito, é bem possível que o telespectador fique tentado a fazer uma comparação entre as condutas e diálogos retratados no filme à luta antirracista dos dias atuais. É pulsante na trama a tentativa de individualizar e desmitificar as personalidades.

 

O filme retrata o encontro real entre o pugilista Cassius Clay (que mais tarde mudaria o nome para Muhammad Ali) interpretado por Eli Goree; o cantor de soul, Sam Cooke, vivido por Leslie Odom Jr.; o jogador de futebol americano Jim Brown, representado por Aldis Hodge, e Malcolm X, um dos defensores do Nacionalismo Negro nos Estados Unidos, fundador da Organização para a Unidade Afro-Americana, de inspiração separatista, aqui encenado por Kingsley Ben-Adir .


Esta análise é importante porque transmite uma mensagem social, que parece óbvia, mas que é ainda muito necessária no combate à visão racista. Mesmo que impulsionados por um mesmo ideal, ainda que ativistas na mesma batalha, pessoas negras não são objetos, e muito menos são produtos de uma escala industrial. Cada indivíduo pensa, age, luta e se movimenta de modo diferente ante aos conflitos e gatilhos provocados pelo racismo.

O filme é extremamente discursivo e, por isso, pode cansar o telespectador indisposto a longos e complexos diálogos. São praticamente duas horas de uma imersão psicossocial e histórica na vida dos quatro ídolos, desenvolvida a partir da interlocução entre os personagens retratados.
 

Depois de Cassius Clay (Muhammad Ali) vencer o campeão dos pesos pesados Sonny Liston, no Miami Convention Hall, ele se reúne com Sam Cooke, Jim Brown e Malcolm X no quarto do Hampton House Motel, no bairro de Overtown, em Miami para uma comemoração intimista. 
 
O encontro num local privado não foi uma escolha pura e simples, mas um instinto de sobrevivência. Afinal, por causa das chamadas "leis de Jim Crow" de segregação racial, Cassius Clay não podia ir aos clubes ou bares da região comemorar a vitória nos ringues, por isso o melhor foi se refugiar na hospedagem.

 

Ao mostrar virtudes e fraquezas dos personagens, o autor nos remete a uma experiência de observação e, ao mesmo tempo, à compreensão das marcas deixadas pela segregação e o ímpeto de se manterem vivos na luta contra o preconceito racial.
 
Uma dica para as pessoas mais jovens que desconhecem a história desses ícones, é pesquisar um pouco sobre cada um deles antes de assistirem ao drama, uma vez que o filme se passa no ano de 1964. Sam Cooke foi assassinado 10 meses mais tarde, em incidente suspeito e, no ano seguinte, em fevereiro de 1965, Malcolm X levou 13 tiros enquanto discursava no Harlem. Muhammad Ali morreu em 2016, aos 74 anos, de problemas respiratórios. Jim Brown está vivo e fez 85 anos em fevereiro.


Terence Blanchard ("Destacamento Blood") é o responsável por uma primorosa trilha sonora recheada de black music, sobretudo blues e soul, com destaque para a belíssima canção "A Change Is Gonna Come" e, claro, para “Speak Now”, faixa original escrita por Leslie Odom Jr. e Sam Ashworth. 
 
A fotografia também chama a atenção ao provocar no telespectador a sensação de que está empunhando a câmera e observando os fatos ocorridos naquele encontro noturno de 1964.
 
 

Mais do que nunca, "Uma Noite em Miami" é um filme necessário e mesmo tendo se passado há quase 60 anos daquela reunião, sua temática é real e urgente. E nos leva a desejar tantas noites mais como a mostrada na obra, seja em Miami, Nova York, BH ou em qualquer lugar em que o racismo ainda se mostra uma ameaça sufocante e letal. 
 
Claro, sem romantizar o fato de que ao invés de simplesmente comemorarem livres, leves e soltos, esses homens foram levados a pensar sobre um futuro que mal sabem eles, embora com muitas conquistas, ainda não aconteceu de forma plena.

Ficha técnica:
Direção:
Regina King
Exibição: Amazon Prime Video
Duração: 1h54
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gênero: Drama

22 março 2021

Apesar dos senões, “Filhas de Eva” cumpre, com talento e beleza, seu papel de celebrar o mês das mulheres

Giovana Antonelli, Renata Sorrah e Vanessa Giácomo estão nos papéis principais da nova série da Globoplay (Fotos: Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Ao assistir, exibidos num telão, aos vídeos antigos da sua própria vida na celebração das Bodas de Ouro, Stella, que é casada com um homem muito rico, se descobre insatisfeita. E, cheia de coragem, aos 70 anos de idade, decide ali mesmo acabar com a festa e pedir o divórcio. 
 
É esse o pontapé inicial do roteiro escrito por Adriana Falcão, Jô Abdu, Martha Mendonça e Nelito Fernandes para “Filhas de Eva”, série de 12 episódios em cartaz no Globoplay. A partir daí, entrelaçam-se outras tantas histórias de mães, amantes, esposas, amigas e namoradas em diferentes fases da vida, todas buscando espaço, independência, reconhecimento e liberdade.

 
 
Lançada com algum estardalhaço para celebrar o Dia Internacional da Mulher, “Filhas de Eva” faz jus tanto ao alarde quanto à data que almejou celebrar. Dirigida por Leonardo Nogueira, a série traz Renata Sorrah como Stella, Giovana Antonelli como sua filha Lívia, e Vanessa Giácomo como Cléo nos papéis principais. E como se trata de um tema fundamentalmente feminino, outras grandes atrizes brilham no elenco, como as veteranas Cecília Homem de Melo e Analu Prestes, além da jovem Débora Ozório, que interpreta a adolescente feminista Dora.



Apresentada como uma comédia dramática, “Filhas de Eva” procura dar leveza a temas normalmente ligados às mulheres, como a dependência financeira ou afetiva, virgindade, amamentação, traição, envelhecimento, solidão. E mostra também o outro lado da história, quando fala de amor na maturidade, amizade e, principalmente, do que se convencionou chamar hoje de sororidade – a solidariedade entre mulheres. 
 
 Os personagens são ricos, da corajosa Stella, feita sob medida para Renata Sorrah, à Lívia e sua psicologia de almanaque, em atuação também certeira de Giovana Antonelli. Fora da família, Vanessa Giácomo, que só entra na história por um desses acasos do destino, se sai muito bem como a suburbana Cléo, que vive na corda bamba entre um irmão malandro e uma mãe demente. A estreante Débora Ozório, como Dora, mereceria um troféu revelação tamanha a graça.


Embora não cheguem a comprometer, dois senões tiram o brilho total de “Filhas de Eva”. O primeiro deles: com honrosas exceções, os personagens masculinos são fora da curva. Tem covarde, mesquinho, invejoso, aproveitador, mentiroso, mau-caráter, bandido. Fica parecendo que, para falar bem da luta das mulheres, é preciso falar mal dos homens. 
 
Cacá Amaral (Ademar), Erom Cordeiro (Júlio), Stenio Garcia (o deputado Sampaio), Dan Stulbach (Kleber), Jean Pierre Noher (o vizinho argentino) e Marcos Veras (o jornalista Fábio) se viram como podem para não cair no estereótipo da vilania. Legal mesmo, no rol dos machos, só Juliano Lobreiro, que faz o maduro e compreensivo adolescente Gui.


O segundo senão da série fica por conta de uma cena linda, em que todas as mulheres da história se encontram numa manifestação feminista contra, entre outras coisas, a objetificação do corpo feminino. A certa altura, a mulherada levanta ou tira suas blusas e exibe os seios. Todas as coadjuvantes e figurantes ficam com os peitos à mostra porque isso faz parte do discurso. Menos as três protagonistas, que se abraçam para despistar, deixando aparecer apenas as costas nuas. Por que? Atrizes consagradas não podem se despir mesmo que o gesto tenha significado imprescindível para a obra? Pareceu incoerência.


Ficha técnica:
Direção:
Leonardo Nogueira
Exibição: Globoplay
Duração: 1ª temporada (12 episódios)
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gênero: Drama