23 junho 2021

Irresistível e nostálgico, “Os Melhores Anos de Uma Vida” presta merecida homenagem ao icônico “Um Homem, Uma Mulher”

Jean-Louis Trintignant e Anouk Aimée retornam 50 anos depois para reviver sua grande história de amor (Fotos: Pandora Filmes/Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni


Logo no início do longa, uma voz in off declara que “os melhores anos das nossas vidas são aqueles que ainda não vivemos”. A frase é atribuída a Victor Hugo, mas não é exatamente essa a ideia que Claude Lelouch quer passar. Diretor do eterno e icônico “Um Homem, Uma Mulher”, o primeiro filme da trilogia, agora, aos 82 anos, ele promete encerrar o ciclo com “Os Melhores Anos de Uma Vida” (“Les Plus Belles Années d’une Vie”). 

O filme entra em cartaz a partir de desta quinta-feira (24) em cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília, Salvador e Florianópolis. Ainda não há previsão de reabertura das salas de Belo Horizonte.


Somente quem nasceu a partir do final da década de 1940, e tinha, portanto, os necessários 18 anos impostos pela censura para assisti-lo em 1966, sabe o que significou “Um Homem, Uma Mulher”, representante típico da nouvelle vague. (Parênteses para lembrar que essa “nova onda” do cinema francês surgiu como uma espécie de oposição às superproduções de Hollywood, apostando em obras mais intimistas e pessoais).

O longa ganhou muitos prêmios na época e arrebatou plateias mundo afora com uma história relativamente simples: o piloto de corridas Jean-Louis Duroc vive um caso de amor intenso e tórrido com a roteirista de cinema Anne Gauthier, mas o romance não tem final feliz. Os protagonistas, belos e charmosos, eram Jean-Louis Trintignant e Anouk Aimée. 


Entre o primeiro filme e o atual, houve um segundo, em 1986, que pouca gente viu: “Um Homem, Uma Mulher 20 Anos Depois”. Passou quase despercebido. Já o terceiro tem tudo para matar as saudades dos mais nostálgicos e dos admiradores de Lelouch. 

Eis a sinopse: preocupado com seu velho pai (Trintignant, com 89 anos), que começa a perder a memória, Antoine (Antoine Sire) procura Anne (Aimée, com 88 anos), com quem Jean-Louis viveu um grande amor há 50 anos. Ele tem esperança de que esse encontro possa, de alguma forma, amenizar a solidão do pai, que vive numa confortável casa de repouso, mas não interage com os outros moradores.


As cenas que se passam, a partir do momento em que Anne se encontra e tenta dialogar com um confuso Jean-Louis, são puro deleite, com passeios de carro, paisagens lindas, recordações, diálogos estranhos, delírios e – por que não – alguma sensualidade. 

Até porque, “Os Melhores Anos de Uma Vida” acaba se transformando num filme dentro de outro filme, tamanho o número de lembranças e citações à obra de 1966 que, não por acaso, levou, entre outros, a Palma de Ouro e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Dificilmente o longa atual vai interessar a alguém que não viu o primeiro.


Pode ser que alguém enxergue, em “Os Melhores Anos de Uma Vida”, uma espécie de homenagem a “Um Homem, Uma Mulher”. Pode ser. E não há nada de negativo nisso. Rever o casal em longas cenas na Normandia tem o poder de levar o espectador a um outro lugar. 

Há canções lindas costurando as cenas e a música tema é quase um personagem da história. Impossível não viajar no tempo e ficar arrepiado ouvindo a inesquecível “sabadabadá” uma quase Bossa Nova composta por Francis Lai especialmente para o filme. Clique aqui para ouvir a trilha sonora completa de "Um Homem, Uma Mulher".


Além de Antoine Sire, o filme traz também Souad Amidou como a filha de Anne, Françoise, com atuações pequenas e discretas já que todos os holofotes estão concentrados na dupla de protagonistas em situações, poses e semblantes alternando hoje e ontem. As inevitáveis comparações, principalmente baseadas nos quesitos beleza e juventude, não fazem sentido nenhum diante do que se pretende contar.

Outro ponto alto, também reproduzido de um dos mais belos momentos de “Um Homem, Uma Mulher”, é o longo passeio de carro por Paris, às seis horas da manhã, a 100 km por hora, filmado para dar a sensação ao espectador de que ele está no volante. São esses detalhes que fazem de “Os Melhores Anos de Uma Vida” em um filme irresistível.


Ficha técnica:
Direção: Claude Lelouch

Roteiro: Claude Lelouch e Valérie Perrin
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas, sem previsão para exibição em plataformas de streaming
Gênero: Romance
Duração: 1h30
País: França
Classificação: 12 anos


19 junho 2021

No mês da diversidade, "Quem Vai Ficar Com Mário?" é uma comédia para refletir

Letícia Lima, Daniel Rocha e Felipe Abib formam o triângulo amoroso da produção que aborda questões LGBTQIA+ (Fotos: Paris Filmes/Divulgação)


Robhson Abreu
Editor da Revista PQN e Jornal de Belô


Junho, mês da diversidade e de um olhar mais atencioso para as questões LGBTQIA+. O período não poderia ser mais propício para o lançamento nos cinemas da comédia "Quem Vai Ficar Com Mário?", do diretor Hsu Chien Hsin ("Ninguém Entra, Ninguém Sai" - 2017).

O longa é uma adaptação abrasileirada da comédia italiana "O Primeiro Que Disse" ("Mine Vaganti" - 2010), do cineasta Ferzan Özpetek. Feito para as telonas, o filme ainda não está sendo exibido em BH, já que os cinemas continuam fechados devido à pandemia de Covid-19. Também não há previsão de estreia nas plataformas de streaming.

Daniel Rocha, Rômulo Arantes Neto e o diretor Hsu Chien Hsin 

O roteiro escrito por Stella Miranda, Luis Salém e Rafael Campos Rocha é brilhante e flui naturalmente, nos aproximando de uma história, contada por meio do ponto de vista de uma década atrás, mas com uma pitada de temas atuais e muita representatividade para todas as cores da bandeira LGBTQIA+.

De forma leve, trilha sonora inspiradora e encorajadora, a história começa quando Mário, um jovem escritor interpretado por Daniel Rocha ("Recife Assombrado" - 2019) decide voltar para Nova Petrópolis, sua cidade natal, no interior do Rio Grande do Sul. Ele vai contar para o pai, Antônio (Zé Victor Castiel), e para a família, que é homossexual.


"Quem Vai Ficar Com Mário?" explora a insegurança do protagonista de se afirmar para a família, assim como acontece com milhares de gays que querem ser aceitos e respeitados. E isso vai gerar uma grande identificação com os espectadores.

Assim começa a confusão

Há quatro anos ele mora no Rio de Janeiro com o namorado, o diretor de teatro Nando, interpretado por Felipe Abib ("Faroeste Caboclo" - 2013). Mas a família acredita que ele está na Cidade Maravilhosa fazendo um MBA em Administração de Empresas. Ledo engano!


Durante um almoço em família, Mário decide contar sua condição, mas é surpreendido pelo irmão mais velho, Vicente, personagem de Rômulo Arantes Neto ("Depois a Louca Sou Eu" - 2021), que revela a todos que é gay. Com a notícia, o pai homofóbico põe o filho para fora de casa e tem um piripaque. No hospital, ele pede a Mário que tome conta da Brüderlich, a tradicional cervejaria artesanal da família.


Indeciso, Mário dá a notícia para Nando que acaba aparecendo de surpresa na mansão dos Brüderlich, provocando muitas piadas homofóbicas e trocadilhos machistas. Mas que, mesmo assim, não tiram o brilho das ótimas interpretações e entrosamento entre os atores.

Com a decisão de ficar, Mário conhece a coach contratada por Vicente para dar um novo rumo à empresa. Entra em cena a feminista Ana, vivida pela atriz carioca Letícia Lima ("Cabras da Peste" - 2021). E ela mexe com o coração e a cabeça de Mário, que acaba experimentando sensações que ele jurava improváveis de acontecer em sua vida.


Enquanto isso, no Rio, a glamourosa Lana (Nany People), Kiko (Victor Maia) e Xande (Nando Brandão), componentes da companhia teatral “Terceira Força”, da qual Nando é o diretor, estão afoitos para saber o que está acontecendo em Nova Petrópolis. As ótimas sequências protagonizadas por eles, quando se passam pela mãe e irmãos de Nando – diante da família Brüderlich – são as que mais fazem o público rir de verdade. Nany está ótima no papel.

Quem fica com quem?

As coisas vão ficando cada vez mais complicadas para Mário. Os ciúmes de Nando, as investidas de Ana, o medo que a família o rejeite por saber de sua opção sexual e que o pai o trate com indiferença, são as suas principais aflições.


"Quem Vai Ficar Com Mário?" mostra o leque de possibilidades de relacionamentos amorosos nos dias de hoje, de forma natural e sutil. Assim como Mário diz em uma das cenas: “Não importa o rótulo. O que importa é o conteúdo”. Meio chavão, mas cai bem no contexto cervejeiro da história para explicar que não importa a opção sexual e sim o respeito, o caráter e a dignidade de cada um. Uma das principais lutas da comunidade LGBTQIA+.

E como diz a letra da música tema composta por Hsu Chien Hsin e cantada pela Pabllo Vittar, “Tenha coragem de ser feliz”, o longa é isso: diversão, aceitação, amizade, família, redenção, respeito diversidade e amor. Mas afinal, quem ficou com Mário? Acho que todos nós, que aprendemos um pouco mais com a mensagem de amor dessa comédia tão atual e que nos faz rir.


Ficha técnica:
Direção: Hsu Chien Hsin
Produção: Sincrocine Produções / Warner Bros. Pictures /Tietê Produções
Distribuição: Paris Filmes / Downtown Filmes
Exibição: somente nos cinemas (sem previsão para estreia em plataformas de streaming)
Gênero: Comédia
Duração: 1h54
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Nota: 3,5 (0 a 5)

17 junho 2021

Comédia francesa "A Boa Esposa" tem ótimo elenco, mas roteiro perde o fio da meada no final

Interpretações de Juliette Binoche, Yolande Moreau e Noémie Lvovsky são a ponto alto da produção (Fotos: California Filmes)


Maristela Bretas


A proposta era ótima, uma comédia crítica, passada às vésperas dos protestos de maio de 1968 que transformam a sociedade francesa. Mas o que vemos em "A Boa Esposa" ("La Bonne Épouse") são 89 minutos abordando os costumes machistas da época, representados pelo ensino numa escola de formação de adolescentes. Os dez minutos restantes são de correria, muitos furos e uma canção final sobre liberdade feminina. Faltou equilíbrio na abordagem entre o que existia e o que precisava ser mudado.


"A Boa Esposa", com estreia nesta quinta-feira (17) nos cinemas, começa bem. Apresenta a escola Van Der Beck para jovens sem fortunas que são enviadas pelos pais para se tornarem boas esposas e mães. Assim elas poderão ser escolhidas (como gado) por futuros pretendentes - em geral homens muito mais velhos. Logo na primeira aula, a diretora apresenta para as adolescentes as sete regras básicas que devem ser seguidas “por quem não quer ser uma solteirona".

No entanto, o roteiro perde a ideia inicial, que seria explorar a revolução dos hábitos, a sexualidade e, especialmente, a descoberta da força e do poder das mulheres. A sinopse anuncia isso, mas não acontece desta forma. 


Do nada, “A Boa Esposa” vira um filme comum, com direito a romances adolescentes e secretos, perde a parte cômica e aborda superficialmente a tal mudança esperada. Ficou parecendo que sofreu uma tesourada para encerrar logo porque não sabiam como tratar a questão da emancipação das mulheres.

Da noite para o dia (exatamente isso!), tudo muda: as personagens descobrem que podem ser donas de suas vidas, os conceitos ensinados caem por terra, as regras mudam e todo mundo sai cantando numa estrada a caminho de Paris. Só faltou alguém gritar "Vivre La Révolution!". 


O ponto positivo foram as atuações. Juliette Binoche está bem como Paulette Van Der Beck, esposa do proprietário da escola que segue à risca e pratica o que ensina às alunas. Inclusive na hora de fazer sexo com o marido, por quem não tem qualquer desejo. 

O lado cômico fica por conta de Yolande Moreau, como Gilbertte, cunhada de Paulette, uma solteirona de meia idade retraída, louca para encontrar o amor, que dá aulas de gastronomia e bons modos à mesa. 

Já Noémie Lvovsky faz o papel da engraçada freira Marie-Thérèse, mesmo quando está tentando doutrinar as alunas com hábitos ultrapassados. Ao mesmo tempo em que prega moral e rigidez, ela fuma escondido e olha os outros pela fechadura.


No comando desta falsa casa de boas maneiras está Robert Van Der Beck (François Berléand), marido de Paulette, que cuida das contas e paga as despesas da casa. Um homem muito mais velho que a esposa, mas bem safado e com hobbies caros, que gosta de espiar as alunas por buracos nas paredes. 

A morte súbita de Robert expõe a verdadeira condição financeira da família e da escola. Paulette terá de aprender a gerenciar a instituição que está à beira da falência e descobrir que é capaz de várias coisas que lhe eram proibidas, como dirigir e amar. 


O elenco conta ainda com Edouard Baer, como o gerente de banco André Grunvald, que poderá ajudar com as finanças. Como pano de fundo da história, os noticiários anunciam os protestos pela revolução que já tomam as ruas de Paris.

Enquanto isso, na escola as alunas estão mais interessadas em quebrar regras e resolverem dilemas típicos das jovens da época - primeira menstruação, casamento arranjado sem amor e sexualidade reprimida. A proposta de "A Boa Esposa" é bem bacana, mas o roteiro foi mal conduzido para o final, penalizando o trabalho apresentado na maior parte do filme. 


Ficha técnica:
Direção: Martin Provost
Exibição: Nos cinemas e sem previsão nas plataformas digitais
Distribuição: California Filmes
Duração: 1h49
Classificação: 14 anos
País: França
Gênero: Comédia

16 junho 2021

Homenagem do diretor às artes cênicas, o filme “Veneza” é pura poesia

Produção conta com grande elenco e atores de renome internacional como a espanhola Carmem Maura, ao centro sentada (Fotos: Mariana Vianna/Imagem Filmes)


Mirtes Helena Scalioni


Há pelo menos duas inspirações claras no filme “Veneza”, de Miguel Falabella, que entra em cartaz nos cinemas de todo o Brasil nesta quinta-feira (17). A alusão a matriarcas sofridas vem nitidamente de Almodóvar, mas há cores, sombreados e cenas que remetem ao cinema italiano com suas divas de seios fartos e decotes generosos. Ou seja: o diretor acertou em cheio ao construir um filme poético que, ao final, não deixa de ser um elogio aos sonhos, à esperança e à arte de representar.


“Veneza” é, antes de tudo, um filme de mulheres. O roteiro foi adaptado por Falabella a partir da peça teatral "Venecia", do argentino Jorge Accame. Criativo e sensível, o ator e diretor usou o melhor da peça e ainda a enriqueceu com histórias paralelas, todas elas envolventes e emocionantes. Junte-se a isso um elenco estelar e eis uma pequena obra-prima que tem tudo para comover plateias país afora.


Gringa é dona de um bordel localizado em algum lugar desse imenso Brasil. Está velha, demente e cega, mas ainda alimenta o desejo de conhecer a cidade de Veneza onde, acredita, vai se encontrar com seu único e grande amor, a quem precisa pedir perdão por um erro do passado.

Acontece que Gringa é vivida por Carmem Maura, atriz espanhola preferida de Almodóvar e isso faz toda a diferença. A artista está inteira no papel e fisga o espectador desde suas primeiras aparições.


Na gerência do bordel está Rita, interpretada pela sempre talentosa Dira Paes, que comanda com afeto, carinho e sororidade as meninas Jerusa (Danielle Winits), Madalena (Carol Castro) e Janete (Maria Eduarda de Carvalho), entre outras, cada uma carregando sua história de abandono e solidão. Lindas em seus figurinos clássicos de profissionais do sexo, elas esbanjam sensualidade.

Como uma espécie de figura masculina que protege as prostitutas, está Tonho, feito por Eduardo Moscovis totalmente desprovido de vaidades e em bela atuação. Numa das histórias paralelas, aparece Júlio, feito pelo jovem ator Caio Manhente, que vive um romance nada convencional com a romântica Madalena.


Completam o elenco de "Veneza" a bela uruguaia Camila Vives, que faz a Gringa jovem, e Magno Bandarz, interpretando seu amado Giácomo, além de participações internacionais da argentina Georgina Barbarossa (Madame) e da colombiana Carolina Virgüez (Dora). A produção conta ainda com a música-tema "Pecado", clássico bolero de Andrés Carlos Bahr, Enrique Francini e Armando Francisco Punturero, interpretada em espanhol pela cantora Ludmilla, a convite de Miguel Falabella.

Para fazer com que Gringa chegue até Veneza, o pessoal do bordel se une à trupe de um circo que está passando pela cidade. O plano é tão bonito quanto mirabolante, tão improvável quanto poético. Surpreendente como sempre, Miguel Falabella brinda os amantes das artes cênicas com uma história inesquecível e comovente.


O longa-metragem foi filmado em Montevidéu, no Uruguai, e em Veneza, na Itália, sendo premiado com os Kikitos de melhor direção de arte (Tulé Peake) e melhor atriz coadjuvante (Carol Castro) no Festival de Gramado. Recebeu quatro troféus no Los Angeles Brazilian Film Festival – melhor direção de fotografia (Gustavo Hadba), melhor ator (Eduardo Moscovis), melhor ator coadjuvante (André Mattos) e melhor atriz coadjuvante (Carol Castro), além de melhor roteiro (Miguel Falabella) no Brazilian Film Festival of Miami.


Ficha técnica:
Direção: Miguel Falabella
Exibição: nos cinemas (sem previsão de exibição nas plataformas de streaming)
Produção: Ananã Produções / Globo Filmes / FM Produções
Distribuição: Imagem Filmes
Duração: 1h31
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gênero: Drama

13 junho 2021

"O Informante" garante muita ação, suspense e roteiro bem amarrado

Thriller de suspense conta com Joel Kinnaman, Rosamund Pike, Clive Owen, Ana de Armas e Common no elenco (Fotos: Road Thunder Pictures/Divulgação)


Maristela Bretas


Com um elenco conhecido e entregando boas interpretações, "O Informante" ("The Informer") é uma das produções em exibição na Netflix que vale a pena conferir. A estrela é Joel Kinnaman, no papel de Pete Koslow, um ex-detento e informante da agente Wilcox, do FBI, interpretada por Rosamund Pike, que desta vez não faz o gênero psicopata cruel, como no excelente "Garota Exemplar" (2014), mas não deixa cair a qualidade.

Joel Kinnaman ("Noite Sem Fim" - 2015 e "Esquadrão Suicida" - 2016) está muito bem no papel, é mal quando precisa e um pai e marido amoroso quando não está fugindo da polícia. Desde o início seu personagem conquista o público, mesmo quando mata para sobreviver e defender sua família.


A parceria funciona bem com Rosamund Pike, até melhor do que com Ana de Armas ("Entre Facas e Segredos" - 2019), que faz o papel de Sofia Hoffman, mulher dele, mas que na trama ficou apagada. A trama, que começa mais lenta, ganha vigor na segunda metade, graças ao roteiro bem amarrado e ágil de Matt Cook ("O Dia do Atentado" - 2017) e Rowan Joffe. 

O elenco conta ainda com o premiado Clive Owen ("Projeto Gemini" - 2019) como o agente Montgomery, e Common (detetive Grens), que trabalhou com Joel Kinnaman em "Esquadrão Suicida".


Na esperança de fazer sua última missão como informante do FBI, Pete Koslow já faz planos para mudar para algum lugar com a família, longe do perigo. Mas tudo dá errado e ele é abandonado pelos agentes, tendo que se virar para não ser pego pelos bandidos. 

Com a família ameaçada e um policial da Delegacia de Homicídios na sua cola, Koslow é forçado a continuar trabalhando para o FBI para desbaratar uma quadrilha de traficantes, agora infiltrado na penitenciária onde passou os últimos anos.


As melhores cenas são as de luta, em especial as que acontecem na penitenciária. Uma dela, no entanto teve uma sequência tão rápida que chega a deixar o espectador perdido. Mas nada que comprometa o resultado final. 

Para quem gosta de um bom thriller de suspense, "O Informante" entrega o que propõe: tem boas atuações do elenco, muita ação, clichês em abundância que nunca faltam numa produção do gênero e o final esperado, mas que convence e prende a atenção.


Ficha Técnica:
Direção: Andrea Di Stefano
Produção: Thunder Road Pictures
Exibição: Netflix
Gêneros: Suspense / Policial
Duração: 1h53
Classificação: 16 anos
Nota: 3,5 (0 a 5)

08 junho 2021

Aos 40 anos, "Indiana Jones" retorna de cara nova

Os quatro filmes estão disponíveis para Apple TV e plataformas digitais (Crédito: Paramount Home Entertaiment/Divulgação)


Da Redação


Quarenta anos depois, os fãs de Indiana Jones vão poder curtir novas versões do herói de chapéu e chicote nos quatro filmes da franquia. Sucesso desde 12 de junho de 1981 quando "Os Caçadores da Arca Perdida" ("Raiders of the Lost Ark") estreou no cinema, Indiana Jones, interpretado por Harrison Ford, continua cativando e atraindo novos seguidores. 

Em homenagem à data, o clássico e suas sequências estão sendo relançados, a partir desta terça-feira (8), em 4K na Apple TV com Dolby Vision e HDR-10 para qualidade ultra-vivid picture. Já a versão remasterizada será disponível para as plataformas digitais Google Play, Net Now e Sky.


Cada filme foi meticulosamente remasterizado a partir dos negativos originais com um trabalho extenso de efeitos visuais para garantir uma imagem na mais alta qualidade. Todo o trabalho foi aprovado pelo diretor de todos os filmes, Steven Spielberg.

Os quatro filmes foram também remixados na Skywalker Sound sob a supervisão do designer de som Ben Burtt, para criar a trilha sonora. Os elementos de som originais foram usados para alcançar um completo e imersivo mix Dolby Atmos e ao mesmo tempo manter toda intenção criativa original do filme.


Os filmes na Apple TV terão sete horas de conteúdo extra:
No set com os Caçadores da Arca Perdida
- Da Floresta ao Deserto
- Da Aventura para Lenda

Criando os Filmes
- Criando os Caçadores da Arca Perdida (documentário de 1981)
- Criando os Caçadores da Arca Perdida
- Criando Indiana Jones e o Templo da Perdição
- Criando Indiana Jones e a Última Cruzada
- Criando Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (HD)
 

Bastidores
- Os dublês (stunts) de Indiana Jones
- O Som de Indiana Jones
- A Música de Indiana Jones
- A Luz e Magia de Indiana Jones
- Caçadores: A Cara Derretida!
- Indiana Jones e as criaturas rastejantes (com pop-ups opcionais)
- Viaje com Indiana Jones: Locações (com pop-ups opcionais)
- As mulheres de Indy: The American Film Institute Tribute
- Amigos e Inimigos de Indy
- Props icônicos (Reino da Caveira de Cristal) (HD)
- Os efeitos de Indy (Reino da Caveira de Cristal) (HD)
- Aventuras na pós-produção (Reino da Caveira de Cristal) (HD)

Uma verdadeira viagem de volta ao mundo do herói em alta qualidade, digna dos fãs da franquia, que agora está sendo disponibilizada pela Paramount Home Entertainment.


Ficha Técnica
Direção: Steven Spielberg
Produção: LucasFilm
Filmes: "Indiana Jones e Os Caçadores da Arca Perdida", "Indiana Jones e O Templo da Perdição" e "Indiana Jones e A Última Cruzada"
Classificação: 14 anos
"Indiana Jones e O Reino da Caveira de Cristal"
Classificação: 12 anos

07 junho 2021

"Cruella" reúne uma dupla espetacular de Emma´s e a melhor trilha sonora do ano

Emma Stone está perfeita como uma das mais famosas vilãs da Disney no novo live-action (Fotos: Disney Enterprises/Divulgação)

 

Maristela Bretas


Sem dúvida, "Cruella", é o melhor live-action da Disney até o momento, com a dupla principal dando show de interpretação - Emma Stone ("La, La, Land" - 2016), no papel de Cruella DeVil, e Emma Thompson ("MIB: Homens de Preto: Internacional" - 2019) como a Baronesa foi uma escolha excelente para esta nova produção da Disney, em exibição nos cinemas e para aluguel na plataforma Disney+ para assinantes, com o valor salgado de R$ 69,90 pelo Premier Access.


E se o elenco da produção dirigida por Craig Gillespie não for motivo suficiente, a trilha sonora, que ficou a cargo de Nicholas Britell, convence qualquer um a assistir esse filme. A começar pela música-tema, "Call Me Cruella", interpretada por Florence + The Machine, que aparece nos créditos finais.


Mas são outros grandes sucessos usados com precisão em cada cena que fazem a gente arrepiar. A playlist traz "Stone Cold Crazy", do Queen; "Perhaps, Perhaps, Perhaps", com Doris Day; "Whisper Whisper", do Bee Gees; "Bloody Well Right", com Supertramp; "Felling Good", com Nina Simone; "Living Thing", com Electric Light Orchestra; "Five To One", The Doors; "Whole Lotta Love" e "Come Together", com Ike & Tina Turner,  e vários outros.


"Cruella" tem como pano de fundo o universo da moda e, claro, o figurino não poderia ser menos que exuberante e exótico, tanto da parte de Cruella quanto da Baronesa. A figurinista Jenny Beavan abusou na criatividade e nas cores usadas nos modelos apresentados, ultrapassando as passarelas e ganham vida nas batalhas entre as duas estilistas. O figurino e o design de produção são fortes candidatos a disputar um Oscar em 2022.


A nova produção da Disney está batendo recordes apesar da pandemia - quase US$ 50 milhões em todo mundo desde a sua estreia simultânea nos cinemas e na Disney+ em 28 de maio. Ambientada nos anos 1970, apresenta Estella (Emma Stone) em sua infância rebelde, a mudança do interior para Londres, a paixão desde pequena pela moda e o trauma pela morte da mãe num acidente. Excelente no traço e na criatividade, ela sonha em trabalhar na Casa da Baronesa, a mais famosa grife londrina.


É nessa relação com a cruel e assustadora Baronesa Von Hellman (Emma Thompson) que Estella descobre coisas do seu passado que vão levá-la a buscar vingança e se tornar a primeira e única, Cruella DeVil. A vilã, de estilo extravagante e extremamente criativo, vai criar o caos e ganhar as manchetes de jornais, abalando o império de sua inimiga com elegância e maldade.

O elenco conta ainda com nomes conhecidos como Mark Strong ("Kingsman: Serviço Secreto" - 2015), como Boris, assessor da Baronesa; Joel Fry ("Yesterday" - 2019) e Paul Walter Hauser ("O Caso Richard Jewell" - 2019), como Jasper e Horádio, parceiros de Cruella; Emily Beecham (a mãe de Estella) e John McCrea (Artie). A conexão com a história original "101 Dálmatas" será feita por Kirby Howell-Baptiste (Anita) e Kayvan Novak (Roger), mas isso fica para as cenas pós-créditos.


Além de Emma Stone, a produção executiva conta também com Glenn Close. A atriz interpretou a vilã, considerada uma das mais marcantes de sua carreira e uma das maiores da Disney, no remake "101 Dálmatas" (1996), e na sequência, "102 Dálmatas" (2000).

Se no live-action "A Dama e o Vagabundo" (2020) a computação gráfica foi o forte para dar vida aos cãezinhos do título, em "Cruella" ela deixa a desejar com os dálmatas, mas não compromete a qualidade da produção. E são exatamente os famosos cães com pintas pretas que vão abrir espaço para uma possível continuação. 

Mas o brilho deste live-action fica mesmo para a atuação impecável das duas Emma´s - a Stone e a Thompson, que disputam em vilania. Glenn Close ganhou uma concorrente à altura. “Cruella” é ótimo e merece muito ser conferido.


Ficha técnica:
Direção: Craig Gillespie
Exibição: nos cinemas e no Disney+ para assinantes pelo Premier Access
Produção: Walt Disney Company
Distribuição: Walt Disney Pictures
Duração: 2h14
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: Drama / Família / Comédia
Nota: 4,8 (de 0 a 5)

02 junho 2021

“Cine Marrocos”: quando a decadência pode virar esperança e arte

Bonito e melancólico, documentário prende a atenção do espectador até o final (Fotos: Loiro Cunha/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


A princípio, é preciso dizer que Ricardo Calil, que roteirizou e dirigiu o documentário “Cine Marrocos”, teve uma sacada genial: transformar – ou tentar transformar – um grupo de sem-teto em atores e atrizes, talvez fazendo-os viver, por momentos, como reis, rainhas, milionários, saltimbancos, divas e vilões e, a partir daí, compreenderem suas próprias vidas. 

O filme, que estreia nesta quinta-feira (03/06) nos cinemas, é mais do que isso quando se sabe que essas pessoas eram invasores e ocupavam, há algum tempo, o charmoso e chique cinema Marrocos, ícone das artes nos anos de 1950 no centro de São Paulo e que completou 70 anos em janeiro último.


Quem acompanhou o noticiário da época vai se lembrar da rumorosa invasão do Cine Marrocos, em 2013, por mais de dois mil sem-teto de 17 países, moradores de rua, imigrantes, refugiados e toda sorte de gente que, de alguma forma, perdeu o vínculo com a família ou com a vida. De latino-americanos a africanos, de franceses a nordestinos, cada um tem sua história para contar e é essa diversidade que enriquece o filme. 

Capitaneada por um líder do MSTS - Movimento dos Sem-Teto de São Paulo - essa turma viveu ali entre cadeiras quebradas, pedaços de filme, tapetes rasgados, refletores e velhos projetores até 2016, quando a prefeitura da capital ganhou a reintegração de posse na Justiça.


Talvez para juntar o real com a ficção, Ricardo Calil tratou de organizar uma espécie de oficina de artes cênicas entre os moradores, levando-os a interpretar partes de filmes que foram sucesso naquele velho cinema. O Cine Marrocos chegou a ser o melhor e mais luxuoso da América Latina e o primeiro a sediar o festival internacional de cinema do Brasil, com a participação de astros famosos de Hollywood. Diferentemente do que sempre acontece, esse cinema não virou igreja sabe-se lá por quê. 


Com a ajuda de dois preparadores de elenco – Ivo Müller e Georgina Castro – o diretor ensinou, ensaiou, repetiu e filmou aquelas pessoas em cenas de filmes como “Crepúsculo dos Deuses”, de Billy Wilder; “A Grande Ilusão”, de Jean Renoir; “Noites de Circo”, de Ingmar Bergman; “Júlio César”, de Joseph L. Mankiewicz e “Pão, Amor e Fantasia”, de Luigi Comencini.

E é assim, entre depoimentos dos moradores contando suas próprias histórias e insistentes ensaios e filmagens, que transcorrem os pouco mais de 70 minutos de “Cine Marrocos”, que vai, devagar, ganhando humanidade. 


Os motivos que levaram aquelas pessoas até aquele lugar são tão tristes quanto diversos. Na edição do longa, a ligação entre os depoimentos parece ser feita pelo líder do MSTS, que faz tudo o possível para convencer que tudo naquele lugar transcorre às mil maravilhas, onde tudo funciona, todos se comportam bem e a organização é nota 10. Ele é também o responsável pela arrecadação do dinheiro dos moradores para, segundo diz, manter o local habitável e pagar o advogado na intensa batalha judicial travada com a prefeitura de São Paulo.


Por mérito da direção, o documentário prende a atenção do espectador até o final, bonito e melancólico, mesmo que, às vezes, se torne um pouco arrastado. Parênteses para dizer que quem não é cinéfilo de carteirinha não consegue identificar todos os clássicos do cinema citados no longa sem uma colada no Google. Talvez fosse mais prático ter colocado, na tela, o nome dos filmes, seus diretores e épocas em que foram exibidos. Soltos, sem identificação e aos pedaços, essas obras-primas acabam perdendo um pouco o valor. 


Outra ressalva: faltou contextualizar datas. O público pode não se lembrar de quando foi que a ocupação do cinema aconteceu e quanto tempo ela durou. Mais uma vez, quem se interessar em saber, tem que recorrer ao Google. 

O longa venceu a Mostra É Tudo Verdade em 2019. Também foi premiado com o Golden Dove na categoria Next Master no DOK Leipzig, festival de documentários mais antigo do mundo, na Alemanha, em 2018; Melhor Documentário no FICG - Festival Internacional de Cinema de Guadalajara, no México, em 2019; e selecionado para o Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano, em Havana, e o DocAviv – Festival Internacional de Documentários de Tel Aviv, em Israel, em 2019.   


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Ricardo Calil
Produção: Muiraquitã Filmes / Olha Só / Globo Filmes / GloboNews / Canal Brasil
Distribuição: Bretz Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h16
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gênero: Documentário

31 maio 2021

"Army of the Dead" tenta inovar em filme de zumbis e falha monstruosamente

Mercenários precisam roubar um cassino e fugir dos milhares de mortos-vivos que invadiram Las Vegas (Fotos: Netflix/Divulgação)


Jean Piter Miranda


Dave Bautista deixa de ser um guardião da galáxia para se tornar o mercenário Scott Ward  em "Army of the Dead: Invasão em Las Vegas", novo filme do diretor Zack Snider, que está entre os dez mais assistidos na Netflix. Ele terá de arrombar o cofre subterrâneo de um cassino de Las Vegas e pegar uma fortuna de 200 milhões de dólares. 

Se isso não é difícil o suficiente, imagine em uma cidade tomada por zumbis e super zumbis inteligentes, rápidos e fortes. Para piorar, ele e seus amigos deverão entrar e sair com vida e com a grana, correndo contra o tempo, já que a o local vai ser bombardeado por armas nucleares para tentar exterminar os mortos vivos. 
 

Tudo começa quando Las Vegas é tomada por zumbis. Mas não são do tipo comum que se vê em outras produções. Esses são tão velozes e fortes quanto um super-herói, além de muito inteligentes. O governo faz um muro em volta da cidade e deixa os seres, de certa forma, presos. E assim, a terra dos cassinos se torna o reino dos super zumbis. 

Do lado de fora, Ward, um herói de guerra, vive da venda de hambúrgueres. Ele é procurado por Bly Tanaka (Hiroyuki Sanada), um empresário de cassinos que faz a seguinte proposta: formar uma equipe, entrar em Vegas, arrombar um cofre, pegar o dinheiro e sair sem ser pego pelos zumbis. Missão arriscadíssima, mas que ele topa. Aí começa a ação. 


Você vê o trailer e pensa que o filme vai ser muito bom. Mas, aos poucos, os problemas vão aparecendo. É tudo muito corrido para mostrar como a cidade foi tomada. Ward é sobrevivente e herói da grande batalha contra os zumbis. Um ex-combatente sem grana, que leva uma vida simples e cheia de dificuldades. Um clichê já visto em muitos filmes. Um cara durão que vai ser procurado para uma missão que só ele é capaz de realizar. Um homem que tem traumas de guerra. Que recusa, mas depois acha um motivo pra aceitar.

Ward vai formar a equipe. Claro que seus antigos parceiros mercenários aceitam participar da ação. E também vão achar gente nova. Cada um com suas características, um time bem diversificado. Ele tem que procurar uma pessoa específica pra ajudar a penetrar na cidade e que já tenha conseguido entrar e sair de lá. No grupo há conflito familiar e desconfiança entre os membros. Como era de se esperar, tem ainda aquela fórmula incorreta de roteiro: o “vilão” é sempre asiático, árabe, russo, latino ou alemão. É um pacotão de clichês. 


Zack Snyder que já mandou muito bem em “300” (2006), “Watchmen” (2009) e recentemente em “Liga da Justiça – Snyder Cut (2021) agora derrapa. Ao tentar fazer um filme de ação que não fosse raso, ele erra pelo excesso. Roubar o cofre, sair com vida e ter uma vida melhor. 

Exterminar os super zumbis que ameaçam a humanidade. Resgatar gente em uma cidade tomada por monstros. Salvar o mundo e reconciliar com alguém que se ama. São pontos que, normalmente, sozinhos, funcionam. Mas tudo junto é complicado. 


É inegável que as cenas de ação, maquiagem e efeitos visuais são muito bons. Quem viu Bautista na época de WWE, no pró-wrestling, vai pegar algumas referências nas cenas de luta. É um presente para os fãs, bem entregue. Tem muito tiro, explosões e mortes, se é que pode chamar de morte matar um morto-vivo. 

Dá para divertir. Mas não se deve esperar muito. Não há nada de novo no filme. Tudo começa e termina sem muita surpresa. A história fica aberta. Se tiver boa aceitação, pode haver, em breve, uma continuação. 


Ficha técnica:
Direção: Zack Snyder
Exibição: Netflix
Duração: 2h28
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: Ação / Aventura / Terror
Nota: 3 (de 0 a 5)

26 maio 2021

Melancólico e intimista, “Alvorada” mostra os últimos dias de Dilma na presidência

Documentário estreia simultaneamente nos cinemas e nas plataformas de streaming dia 27 de maio (Fotos: Vitrine Filmes/Divulgação)

Jean Piter Miranda


Como foram os dias que antecederam a votação do “impeachment” no Congresso Nacional? Mais especificamente, como foram os últimos dias da presidenta Dilma Rousseff no Palácio da Alvorada? Isso é o que podemos ver em “Alvorada”, documentário dirigido por Anna Muylaert, de “Que Horas Ela Volta”(2015), e Lô Politi. A produção estreia nesta quinta-feira (27), nos cinemas e nas plataformas de streaming Now, Oi e Vivo Play. 

Que foi um golpe todo mundo sabe. O ex-presidente Michel Temer confessou. A autora do pedido de “impeachment”, Janaína Paschoal, também admitiu. Tem o áudio da conversa entre o ex-senador Romero Jucá (MDB) e o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, admitindo que havia um “grande acordo nacional, com o Supremo, com tudo”. Vários outros deputados, dirigentes partidários, juristas e cientistas políticos disseram o mesmo. 


A então presidenta Dilma Rousseff não caiu por problemas de contabilidade (pedaladas fiscais), nem por ter cometido algum crime. Foi tudo uma farsa, um teatro para fingir que tudo estava sendo feito dentro da lei. 

Diferente de outros documentários em que há um narrador, em "Alvorada", as imagens vão sendo conduzidas por si só. A sensação é de que são os olhos de alguém dentro do Palácio da Alvorada, a residência oficial do presidente ou presidenta da República. O filme acompanha o dia a dia no Alvorada, com Dilma, seus assessores, ministros e apoiadores. Tudo é passado de um ponto de vista de dentro do Palácio. 

Ao longo do filme são apresentados trechos de diálogos entre ministros, assessores e a presidenta. Mas não há nenhuma conversa do tipo secreta que mostre estratégias de defesa ou articulações políticas para evitar o golpe. A grande novidade é o ambiente, o clima dos últimos dias de Dilma no governo. Algo que não foi exibido em outros documentários e reportagens especiais sobre o tema. 


“Alvorada” mostra os cozinheiros e faxineiros em suas rotinas. O povo da manutenção, os guardas e as secretárias. Os rostos anônimos de pessoas comuns sem os quais o Palácio não funciona. E só assim é que o expectador realmente se dá conta de que se trata literalmente de um Palácio, em proporções e dimensão. São centenas de pessoas trabalhando todos os dias no local. 

Outro ponto alto de “Alvorada” são as visitas que Dilma recebe, em atos de solidariedade. São muitos e muitos amigos, artistas, deputados, senadores, dirigente partidários, lideranças de movimentos sociais e sindicalistas se encontrando com a presidenta. O que mostra que embora ela tenha sido julgada individualmente, em momento algum ela esteve sozinha.

Muitos rostos conhecidos passam pelo Alvorada. Lula, Boulos, Chico Buarque e vários outros. A pessoa que acompanha a política mais de perto vai reconhecer as deputadas Maria do Rosário e Jandira Feghali, a senadora Kátia Abreu, os então ministros José Eduardo Cardozo e Aloizio Mercadante, e até mesmo os líderes sindicais e de movimentos sociais. 


Por vezes, Dilma conversa com a câmera. Fala de tudo um pouco. Inclusive sobre a sensação de estar sendo filmada o tempo todo. Conta histórias. Sorri. É uma produção, de certa forma, bem intimista. É muito sobre a presidenta e mais ainda sobre o Palácio. Até os acontecimentos externos são mostrados a partir de algum ponto do Alvorada, visto por TVs. 

O documentário não procura explicar como o golpe aconteceu, nem como a defesa de Dilma foi construída. Não fala sobre articulações políticas, negociações ou alianças. Mostra um misto de tensão e melancolia. Sensações que não passam, uma vez que todo mundo sabe o desfecho dessa história. E é por isso que ele é bom. Por mostrar os fatos sob um outro ângulo que as pessoas ainda não tinham visto.


Ficha técnica:
Direção: Anna Muylaert e Lô Politi
Exibição: cinemas e plataformas Now, Oi e Vivo Play
Produção: África Filmes / Dramática Filmes / Cup Filmes
Distribuição: Vitrine Filmes
Duração: 1h20
Classificação: 10 anos
País: Brasil
Gênero: Documentário