Curta com Alessandra Maestrini e Eduardo Moreira integra a seleção Orizzonti Short Films (Fotos: Primeiro Plano/Divulgação)
Da Redação
A atriz e diretora Bárbara Paz está de volta ao Festival de Veneza, dessa vez com o curta “Ato”, estrelado por Alessandra Maestrini e Eduardo Moreira. O filme foi selecionado para a categoria Orizzonti Short Films. Em 2019, Paz conquistou o Leão com o Melhor Documentário - "Babenco: Alguém Tem Que Ouvir o Coração e Dizer: Parou".
A diretora conta que é uma grande honra voltar ao Festival de Veneza, especialmente com seu primeiro filme de ficção. "Um pequeno "Ato" de silêncio e solidão”, explica. Em um mundo suspenso e solitário, Dante se encontra em um processo de travessia e sua única companhia é Ava, uma "profissional do afeto”.
A solidão foi a maior protagonista, com palcos vazios e o medo constante da morte. "O afeto é o Ato, a fuga, o desejo fundamental da sobrevivência.”, comenta Bárbara Paz.
E cita Tartovsky: ‘“A função atribuída à arte não é, como frequentemente se presume, apresentar ideias, propagar pensamentos, servir de exemplo. O objetivo da arte é preparar a pessoa para a morte, arar e fustigar sua alma, tornando-a capaz de se voltar para o bem”.
Para a produtora Tatyana Rubim, “o curta estar presente no Festival de Veneza representa, neste momento tão adverso mundialmente, a força da arte e da cultura e a capacidade do diálogo existente entre o teatro e o audiovisual”.
“Ato” é produzido pela Rubim Produções e BP Filmes. Tatyana Rubim e Bárbara Paz assinam a produção. Cao Guimarães (“O homem das Multidões”) assina o roteiro e a montagem fica a cargo de Renato Vallone (“Cinema Novo”). Azul Serra (“Ninguém Tá Olhando”) assina a direção de fotografia.
Ficha técnica
Direção: Bárbara Paz Roteiro: Cao Guimarães Produção: Rubim Produções // BP Filmes
Após meses, os sobreviventes da família Abbott continuam lutando para escapar da infestação de monstros que dominou sua cidade (Fotos: Jonny Cournoyer/Paramount Pictures)
Carolina Cassese
A aguardada sequência de "Um Lugar Silencioso" (2018) foi mais uma das produções que encontrou dificuldades para estrear nos cinemas por conta da pandemia. O primeiro filme, centrado na família Abbott, que precisa se manter em silêncio para sobreviver, fez bastante sucesso e conquistou fãs ao redor do mundo inteiro.
Esses espectadores, é claro, não viam a hora de conferir “Um Lugar Silencioso II - Parte II” ("A Quiet Place - Part II), também assinado por John Krasinski. Após o lançamento ter sido adiado duas vezes, a produção finalmente chegou às telas brasileiras nesta quinta-feira (22), incluindo cinemas de Belo Horizonte.
Três anos atrás, no lançamento do primeiro filme, muitos espectadores reforçavam a importância de assistir "Um Lugar Silencioso" no cinema, pois o fantástico trabalho de som é melhor percebido nesse ambiente.
Para a continuação, o mesmo segue sendo bastante verdadeiro: faz toda a diferença assistir o filme na tela grande e poder diferenciar (ou se deixar impactar por) cada ruído. No entanto, como no Brasil a situação sanitária ainda não está controlada, não é sempre possível fazer essa recomendação.
Logo na primeira cena, somos levados de volta para o momento da invasão alienígena, quando tudo começou. Além de servir como uma boa introdução para aqueles que por acaso não viram o primeiro longa, o prólogo introduz informações relevantes e garante excelentes cenas de ação.
É evidente que, após mais de um ano de pandemia, nosso olhar para filmes pós-apocalípticos é outro. Por mais que a realidade de "Um Lugar Silencioso" ainda pareça consideravelmente improvável, podemos nos identificamos com a sensação de presenciar a chegada do desconhecido, de um elemento externo que nos amedronta e nos obriga a alterar o cotidiano.
Após termos uma amostra de como aquela invasão rapidamente alterou a vida de todos, “Um Lugar Silencioso II” avança para o dia 474, quando o primeiro longa termina. Evelyn (Emily Blunt), Regan (Millicent Simmonds), Marcus (Noah Jupe) e o recém-nascido, membros sobrevivente da família Abbott, estão lutando para escapar da infestação de monstros.
Confira os que John Krasinski e Emily Blunt falam sobre o que os fãs podem esperar do filme.
Dessa vez, o diretor escolhe separar a história em dois fios narrativos, que dialogam bastante entre si. Nos pegamos torcendo bastante pelos membros da família e também por novos personagens, que encaram ameaças diversas.
Se o primeiro filme já consegue nos deixar bem apreensivos, o segundo cumpre essa missão com ainda mais primor. O longa apresenta muitos momentos de tensão, brilhantemente bem executados.
As ótimas atuações dos membros da família, especialmente de Millicent Simmonds e Noah Jupe, e de Cillian Murphy, como Emmet, sem dúvida nos auxiliam a acreditar naquela realidade e a torcer por todos aqueles personagens, que agora estão muito mais maduros e preparados para as adversidades.
O ritmo da produção é outro ponto positivo a ser destacado. Há sem dúvidas primordiais momentos de respiro, mas estamos o tempo inteiro conectados e engajados com a história. Não vemos o tempo passar e até mesmo tomamos (mais um) susto quando a tela escurece, anunciando o fim do filme. O que fica é um significativo gosto de “quero mais”.
A confirmação do terceiro filme da franquia é, portanto, uma excelente notícia para todos nós que nos envolvemos com o drama da família Abbott, que agora se une a novos personagens.
Ficha técnica:
Direção e roteiro: John Krasinski Distribuição: Paramount Pictures Duração: 1h37 Exibição: Nos cinemas Classificação: 14 anos País: EUA Gêneros: Suspense / Terror
Filme solo da super-heroína da Marvel faz lembrar dos bons filmes da franquia "Vingadores" (Fotos: Marvel Studios/Divulgação)
Maristela Bretas
Ação, ação e mais ação. Com ritmo acelerado de tirar o fôlego e apenas algumas cenas para dar uma explicação ou outra e momentos família, "Viúva Negra" ("Black Widow") está em cartaz nos cinemas e para assinantes do Disney+ pelo Premier Access, ao preço de R$ 69,90. Um preço salgado para apenas uma pessoa, mas que acaba ficando em conta se mais pessoas forem dividir a exibição em casa. E quase o equivalente a duas entradas inteiras, sem combo de pipoca e refrigerante.
Pena que chegou com pelo menos cinco anos de atraso. A super- heroína Natasha Romanoff, mais conhecida como Viúva Negra, merecia ter seu filme solo apresentado na sequência certa dos fatos da franquia "Vingadores". A história se passa entre "Capitão América - Guerra Civil" (2016) e "Vingadores - Guerra Infinita" (2018), quando o grupo se divide e os aliados do Capitão América passam a ser caçados pela organização S.H.I.E.L.D.
Mas somente agora, depois da morte da Viúva Negra em "Vingadores - Ultimato" (2019), ele é exibido, o que tira o impacto do longa e causou frustração em muitos fãs da Marvel. Para compensar, a produção em ótimas lutas, perseguições e ação alucinantes do início ao fim. Além das cenas pós-crédito (não saia do cinema) que vão abrir o caminho para a fase 4 dos "Vingadores".
Isso mesmo. Alguns heróis morreram em "Ultimato", mas os que ficaram estão ganhando mais sequências e séries solo. É o caso de Wanda, Vision, Falcão, Soldado Invernal e até Loki. Sem contar produções como "Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa", que deve chegar em dezembro deste ano, "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura", previsto para estrear em março de 2022, e "Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania", que pode ser lançado em 2023.
Mas voltando à "Viúva Negra", durante sua adolescência, Natasha tem uma família "tipicamente norte-americana", só faltou um Golden Retriever. Com poucos minutos de filme, o bicho pega, com direito a uma fuga espetacular e locações de encher os olhos. Tirada dos pais junto com a irmã pequena, Yelena, ambas são treinadas na Sala Vermelha para se tornarem espiãs e assassinas russas.
Natasha, já adulta consegue escapar, deixando a irmã para trás. Tempos depois, ela conhece o Gavião Arqueiro e se junta aos Vingadores, até se tornar uma foragida. Apesar de se isolar do mundo, ela vê seu passado em Budapeste bater à porta e trazê-la a momentos sofridos e à descoberta de figuras que julgava não existirem mais. Aos trancos e barrancos, com muita briga e rancor, ela precisará se unir à sua antiga família e derrotar um inimigo comum. Pena que Ray Winstone entregue um vilão mediano e pouco convincente.
Trabalhar o lado emocional da super-heroína é resultado da boa direção de Cate Shortland, que soube construir bem os personagens, especialmente femininos, que predominam no filme. Scarlett Johansson arrasa na interpretação do papel principal. Mais madura e segura em sua personagem, ela divide o centro das atenções com outras estrelas que aumentam o brilho da produção e ajudam a formar uma família "bem diferente".
A jovem atriz Florence Pugh, de "Adoráveis Mulheres" (2019) é Yelena Belova. A bela britânica é simpática, briga muito, está ótima e tem tudo para ser uma nova "Vingadora" no lugar da irmã. Outra britânica que não deixa por menos é Rachel Weisz ("A Favorita" - 2019), como- a espiã russa Melina Vostokoff, que também é a mãe de Natasha e Yelena.
O longa recupera dos quadrinhos personagens conhecidos apenas pelos fãs. O grandalhão e ex-herói russo Guardião Vermelho, inimigo do Capitão América, que é interpretado por David Jarbour ("Hellboy" - 2019). Coube a ele o lado cômico da produção e o papel de pai das garotas.
Além no atraso em contar a história da Viúva Negra, outro ponto negativo do filme foi o pouco destaque ao personagem Taskmaster ou Treinador (Olga Kurylenko), vilã quase robótica que persegue Natasha o filme inteiro. Como curiosidade, a adolescente Ever Anderson, que faz o papel de Natasha jovem, é filha da atriz Milla Jovovich.
Filmado no Caribe, Noruega e, especialmente, em Budapeste, o roteiro mal dá tempo de tomar um fôlego entre as lutas e perseguições. Ótima produção que reúne ação, emoção e humor na medida. Sem grandes monstros alienígenas e guerras em outros mundos, "Viúva Negra" segue se forma correta a linha espionagem que compôs a vida da personagem, sem perder a conexão com o Universo Marvel.
O filme merece ser conferido pelo público que curte a famosa franquia dos super-heróis, não importando em qual opção de exibição - no cinema ou em casa -, mas sempre com pipoca.
Ficha técnica: Direção: Cate Shortland Produção: Marvel Studios / Walt Disney Pictures / Zak Productions Duração: 2h14 Distribuição: Walt Disney Pictures Exibição: Nos cinemas e Disney+ (assinantes pelo Premier Access) Classificação: 12 anos País: EUA Gêneros: Ação / Espionagem / Aventura Nota: 4,5 (de 0 a 5)
O astro LeBron James se une a Pernalonga numa partida lunática de basquete virtual (Fotos: Warner Bros. Pictures/Divulgação)
Maristela Bretas
"O que é que há, velhinho?" Essa famosa pergunta
será ouvida várias vezes em "Space Jam: Um Novo Legado" ("Space
Jam: A New Legacy"), que estreia nesta quinta-feira (15) nos cinemas e em
breve na HBO Max. Para alegria dos fãs dos Looney Tunes e de quem curtiu o
primeiro filme - "Space Jam: O Jogo do Século", de 1996.
Depois de
jogarem com a estrela do Chicago Bulls na época, Michael Jordan, a turma
aloprada do Pernalonga volta com toda disposição e maluquices ao lado agora de
outro astro do basquete, LeBron James, do Los Angeles Lakers.
A nova produção repete a fórmula do primeiro filme,
combinando animação e live-action, com um diferencial bem importante e muito
positivo para a Warner - o elenco é quase todo negro. O diretor Malcolm D. Lee
soube montar um time de estrelas dentro e fora da quadra, incluindo até mesmo
ganhadores e indicados ao Oscar.
LeBron se sai bem como ator, é simpático, carismático e pode
até pensar em seguir carreira no cinema como outros astros dos esportes com um
pouco de experiência. Neste filme dá os primeiros passos como o ator principal
e produtor executivo. "Space Jam", na verdade é uma grande vitrine da
vida do atleta e de sua patrocinadora de tênis.
A tecnologia é a bola da vez, com um videogame sendo o palco da nova disputa e um vilão que é um algoritmo desonesto de inteligência artificial, o AI-G Rhythm. O personagem - virtual e real caiu muito bem para o também premiado Don Cheadle ("Capitão América: Guerra Civil"- 2016), que dá show de vilania em
meio a tantos personagens animados. A tecnologia atinge também os Looney Tunes que passaram por uma reformulação e agora são em 3D, mais adequadas a um mundo digital.
Mas são os Looney Tunes que vão deixar LeBron James de
queixo caído com a forma como "jogam basquete". Afinal, ter um time
formado por Pernalonga, Patolino, Taz, Beep Beep, Coiote, Vovó, Gaguinho,
Ligeirinho, Piu Piu e Frajola é para enlouquecer qualquer um. A única
personagem sensata e que sabe jogar é Lola (voz de Zendaya), a linda e charmosa coelhinha que
balança o coração do coelhão famoso.
O pano de fundo da história é a relação conturbada entre LeBron James e o filho Dominic (Cedric Joe), que prefere desenvolver games a se tornar um astro nas quadras. O enredo aprofunda na questão do legado que o pai acha ser o melhor para o filho e, por isso, não consegue ver outro futuro que não seja o basquete e o que o jovem deseja realmente para sua vida.
Na vida real, o filho mais velho de LeBron James, Bronny James (que participa do filme interpretando ele mesmo) seguiu os passos do pai e é armador no time de sua escola, em Los Angeles, nos EUA.
AI-G se aproveita disso para sugar pai e filho para dentro de um supercomputador e colocar um conta o outro, jogando em lados opostos numa partida de vida e morte, sem regras e pra lá de trapaceada.
Se o Tune Squad perder, LeBron, sua família e todos que
foram raptados para o mundo virtual não poderão mais voltar ao real. Para
piorar, AI-G formou, a partir do game criado por Dominic, um time de astros do
basquete reprogramados e com poderes especiais, o Goon Squad, o Esquadrão
Valentão.
Se dentro das quadras a rivalidade e as jogadas fazem o espetáculo, nas torcidas o clima não é diferente, para delírio dos fãs, que poderão rever dezenas de personagens de filmes e animações da Warner Bros. Pictures e Hanna Barbera: Os Flintstones, Zé Colmeia, Batman e Robin e seus inimigos Coringa, Pinguim, Charada; Homens de Preto; King Kong; o palhaço Pennywise (It – A Coisa); as gêmeas de "O
Iluminado" e por aí vai.
O resultado de "Space Jam: Um Novo Legado"? Muita
diversão, boas gargalhadas, ótimas trapalhadas e a possibilidade de matar a
saudade da mais famosa turma de lunáticos do cinema que nunca envelhece. Vale a
pena conferir, é tão bom quanto o primeiro, que é lembrado pelos personagens em várias situações.
Ficha técnica:
Direção: Malcolm D. Lee Distribuição: Warner Bros. Pictures Exibição: Nos cinemas e, em breve, na HBO Max Duração: 1h55 País: EUA Classificação: Livre Gêneros: Animação / Comédia / Família Nota: 3,5 (0 a 5)
História é contada em três épocas distintas, empregando os mesmos atores principais - Joana de Verona e Diogo Amaral (Fotos: Pandora Filmes/Divulgação)
Jean Piter Miranda
Paixão que nem o tempo separa. Essa é a história de “Pedro e
Inês, O Amor Não Descansa”, coprodução entre Portugal, França e Brasil que entrou em cartaz nos
cinemas nessa semana em várias cidades brasileiras (exceto Belo Horizonte). O
longa conta a história do casal que luta para ficar junto em três épocas
distintas - passado, presente e futuro. A obra, uma adaptação do romance “A
Trança de Inês”, de Rosa Lobato Faria, foi a mais vista pelos portugueses este
ano.
Para começar a entender é bom recorrer a uma história real
muito conhecida em Portugal sobre Dom Pedro I. Ele tinha uma amante, Inês de
Castro, com quem não pode se casar, quando ainda era príncipe. Ao assumir o
trono, o rei ordenou que Inês, já morta, fosse desenterrada e, postumamente,
colocada no trono e coroada rainha.
A história de Dom Pedro I, passada na Idade Média, é uma das
que são contadas no filme. A outra, embora futurista, é ambientada em uma
pequena comunidade cheia de regras rígidas. E a narrativa vivida no presente é
bem urbana e pode se dizer que se passa nos dias atuais. Em todas elas, Pedro e
Inês se encontram, se apaixonam, mas não podem ficar juntos.
Ou melhor. Eles podem ficar juntos. Não sem problemas. Não
sem enfrentarem as consequências. As leis, os costumes, a família e,
principalmente, o fato de que Pedro sempre está de certa forma comprometido.
Ele nunca está livre quando encontra com Inês. E a separação trágica parece sempre inevitável, por mais que
se tente fugir disso. Destino? Predestinação?
O ponto de destaque do filme é que, nas três histórias, os
atores são os mesmos - Diogo Amaral (Pedro) e Joana de Verona (Inês). Mudam os
cenários, as roupas e as falas. Mas os rostos são mantidos. Isso facilita a
ligação. Há um Pedro narrador, sempre melancólico, fazendo reflexões sobre sua
vida, suas dores e sua amada.
Uma narrativa poética acompanhada de fundos musicais que dão
uma ambientação especial a cada cena. E sim, as imagens são muito bonitas. O
filme foi rodado no verão de 2017 em quatro concelhos do distrito de Coimbra
(Cantanhede, Montemor-o-Velho, Lousã e Coimbra), em Portugal.
As cenas são quase todas em ambientes fechados. E as
histórias vão se intercalando, caminhando para o desfecho. Tem um pouco daquela
lenda japonesa, do cordão vermelho que liga duas pessoas. Que faz com que, mais
cedo ou mais tarde, elas se encontrem. Em "Pedro e Inês" é como se essa ligação
ultrapassasse vidas.
É um filme, de certa forma lento. Se considerarmos o quão
acelerado está o mundo. Em tempos de tuites e textos curtos. De fazer tudo ao
mesmo tempo. Logo, parar por duas horas para ver uma história de amor é poesia
e pode ser uma experiência que cause estranhamento a muitos. Mas é uma obra
necessária, que chega na hora certa. Quem quiser tirar um tempo, vai ver que
vale a pena.
Ficha Técnica: Direção e Roteiro: António Ferreira Produção: Persona Non Grata Pictures Países: Portugal, Brasil e França Distribuição: Pandora Filmes Duração: 2 horas Classificação: 16 anos Nota: 3,5 (0 a 5)
Série tem como pano de fundo a investigação do assassinato de uma jovem numa pequena cidade da Pensilvânia (Fotos: HBO/Divulgação)
Carolina Cassese
“Neste drama policial original da HBO, a vencedora do Oscar,
Kate Winslet ("Titanic" - 1997 e "A Despedida" - 2021), interpreta Mare Sheehan, uma detetive de uma pequena cidade da
Pensilvânia que deve investigar um violento assassinato local”. A partir dessa
premissa presente na descrição oficial da série, poderíamos facilmente
classificar "Mare of Easttown" como mais uma produção do estilo “quem
matou”.
No entanto, a HBO apresenta mais uma vez (assim como fez em "Big
Little Lies", "Sharp Objects" e, mais recentemente, com
"The Undoing") uma trama complexa, repleta de camadas e dramas
humanos.
A minissérie também está disponível no serviço HBO Max, que
estreou no Brasil em 29 de junho. Como já explicitado, os acontecimentos da
série são desencadeados a partir do assassinato da jovem Erin McMenamin (Caille
Spaeny). A detetive encarregada do caso é Mare Sheehan (Kate Winslet, principal
nome por trás da série), que ainda sofre com o luto pela morte de seu filho,
Kevin. Na medida em que conhecemos os núcleos familiares dos moradores da
cidade, observamos que todos estão lidando com questões complicadas. Todos são
suspeitos.
"Mare of Easttown" quebra uma velha premissa de muitas produções de
suspense - a de que “absolutamente tudo que o diretor escolhe mostrar precisa
ser relevante para a resolução do mistério”. Diversos acontecimentos da
história são, na verdade, pistas falsas (a técnica de misleading, bastante
utilizada pela rainha do crime Agatha Christie) ou informações que contribuem
consideravelmente para a construção dos personagens, mas não para o desenlace da
investigação.
Até mesmo o personagem Richard Ryan, par romântico de Mare
interpretado pelo ótimo Guy Pearce, não tem aquela função clássica de amor
romântico da protagonista. “Não é preciso ser para sempre para significar
algo”, destaca a namorada da personagem Siobhan Sheehan (Angourie Rice), filha
de Mare.
O produtor-executivo da série reforça que a trama é pouco
centrada em homens ou no amor romântico. “A maioria dos personagens masculinos
nesse programa são maus. Não quero dizer todos, mas a maioria. Assim que
comecei a escrever o roteiro, queria escrever sobre a minha casa e eu cresci
rodeado de mulheres. Foi essa força e essa solidariedade entre elas que me
inspirou”, declarou Brad Ingelsby ao podcast Still Watching.
As relações de amizade e de família são mais do que
suficientes para sustentar a série e contar excelentes histórias. Temos de fato
a sensação de que os moradores da pequena cidade já se conhecem há bastante
tempo e são verdadeiramente familiarizados uns com os outros. Os sentimentos,
tanto os de amor quanto os de ódio, parecem ter raízes.
Tal percepção se deve muito ao excelente elenco da produção.
É inclusive uma tarefa difícil destacar apenas um nome, ao passo que é
necessário citar o maravilhoso trabalho de Winslet, encarregada de interpretar
nossa adorável (“pero no mucho”) protagonista. “Pero no mucho” pelo simples
motivo de que Mare é real: comete erros, muitas vezes é seca com a mãe (que
também pode ser bem direta com ela), nem sempre dá a devida atenção para sua
filha, se recusa a cumprir ordens do chefe. Em meio a todas essas contradições,
Mare pode ser adoravelmente desagradável ou desagradavelmente adorável. Ela é
crível, quase existe, quase tem vida própria.
Além dos excelentes veteranos James McArdle (Deacon Burton),
Jean Smart (Helen) e Robert Tann (Billy Ross), o elenco mais jovem de "Mare of Easttown" também não deixa a
desejar e protagoniza momentos carregados de dor. Prepare-se: seu emocional
provavelmente não ficará intacto com o fim que leva um dos personagens jovens.
Outro nome responsável por dilacerar nossos corações é o de Julianne Nicholson
(Lori Ross), excelente atriz que entrega muito em cenas difíceis.
O último episódio da minissérie, intitulado
"Sacrement", é um show de duas atrizes que, justamente por serem tão
espetaculares, nos fazem esquecer que Winslet e Nicholson estão em cena.
Naquele momento, vemos apenas Mare e Lori, duas amigas que sofrem, se protegem
e se amam. A emocionante cena final é um lembrete importante de que muitas
vezes precisamos de tempo (e também de escuta) para lidarmos com nossos
machucados e encararmos sótãos empoeirados.
Levando em conta o fato de Damon Lindelof, produtor da série
"Watchmen", ser fã assumido de "Mare of Easttown" (há ainda
uma gratificante piscadela da série para o Dr. Manhattan), é válido pegar carona
numa frase dessa outra excelente produção da HBO. Afinal de contas, “feridas
precisam de ar, não de máscaras”.
Ficha técnica: Direção: Craig Zobel Criação: Brad Ingelsby Exibição: HBO e HBO Max Duração: média de cada episódio de 60 minutos (1ª Temporada - 7 episódios) Classificação: 16 anos País: EUA Gêneros: Drama / Policial
Animação da Disney/Pixar tem aventura, amizade e a descoberta de um novo mundo (Fotos: Walt Disney Company/Divulgação)
Maristela Bretas
Seria apenas mais uma animação se não fosse feita pela Pixar, estúdio que gosta de mexer com nossas emoções. Várias lágrimas desceram desses olhos com "Luca", em exibição na plataforma Disney+ para assinantes (sem taxa extra), é uma história cheia de aventuras e descobertas, que está arrebatando crianças e adultos, com uma linguagem simples e envolvente.
Como sempre, a Pixar pega a gente pelo coração e "Luca" não poderia ser diferente. Vale lembrar de "Divertida Mente" (2015), "Soul" (2021) e a franquia "Toy Story", iniciada em 1995 e encerrada com "Toy Story 4" em 2019 com muitas lágrimas. Em todos, a abordagem trata de família, transições, incertezas, abandono, sentimentos e, principalmente, amizade.
A nova animação trata de tudo isso, distribuindo os sentimentos entre todos os personagens, especialmente o protagonista Luca Paguro, um garoto de 13 anos que começa a descobrir a adolescência, mas precisa esconder um grande segredo. Com voz de Jacob Tremblay (de "O Quarto de Jack" - 2016, "Extraordinário" - 2017 e "Doutor Sono" - 2019), o jovem que sempre morou com os pais, quer conhecer o mundo da superfície.
Para isso vai contar com a ajuda de um novo amigo, Alberto Scorfano (voz de Jack Dylan Grazer, de "It - A Coisa" - 2017 e "Shazam! "- 2019), um garoto que vive sozinho numa ilha, sempre cheio de histórias e que não tem medo de se aventurar.
Assim como Luca, Alberto também esconde um segredo - ambos são monstros marinhos que adquirem aparência humana quando saem da água. Maior que o medo de serem descobertos é ganhar o mundo na garupa de uma Vespa e a curiosidade de conhecer como vivem os humanos de verdade que habitam a pequena e colorida vila de Portorosso.
Para isso, Luca terá de abandonar a família no fundo do mar e ganhar o mundo ao lado do melhor amigo e conhecerão pessoas "normais" e especiais, como Giulia Marcovaldo (Emma Berman), uma jovem valente, criada pelo pai, um pescador local, que é excluída pelas pessoas da vila. Ela se unirá aos dois amigos, sem conhecer a verdadeira identidade deles.
Mas a vila também tem seu lado cruel e graças às histórias de ataques de monstros marinhos nas redondezas, os dois amigos terão de fazer de tudo (especialmente fugirem da água) para esconderem seu segredo e não caírem nas redes dos pescadores. Isso sem contar a perseguição dos famosos “valentões”.
Entre passeios de uma motoneta improvisada, mergulhos escondidos, fartos pratos de uma bela massa ou casquinhas de sorvetes e noites sob a luz do luar, a história de "Luca" traz de volta a infância. Para completar, a história é ambientada nos anos 1970 e teve locação inspirada numa colorida vila na costa da Riviera Italiana, uma das regiões mais atraentes do país.
Tudo isso embalado por uma nostálgica e bela trilha sonora, composta por Dam Romer. Destaque para "Your are my sunshine" (Antonio of Italy), "Mambo italiano" (Dean Martin), "II gatto e la volpe" (Edoardo Bennato), "Never gonna give you up" (Rick Astley), “Viva la pappa col pomodoro” (Rita Pavone), “Andavo a cento all’ora” (Gianni Morandi), entre outros.
O elenco de "Luca" conta ainda com as vozes de Maya Rudolph e Jim Gaffigan, como os pais de Luca, Peter Sohn (Ciccio), Sacha Baron Cohen (tio Ugo) e até mesmo a do diretor Enrico Casarosa, dublando dois personagens. No Brasil, as dublagens de Luca foram feitas por Rodrigo Cagiano (Luca), Pedro Miranda (Alberto) e Bia Singer (Giulia). Claudia Raia, que empresta a voz para a Signora Mastroianni, trabalha ao lado da filha, Sophia Raia, que dubla a personagem Chiara.
Assim como outra animação, "A Pequena Sereia" (1989, dos estúdios Disney) e o longa "Splash - Uma Sereia em Minha Vida" (de 1984, com Tom Hanks e Daryl Hannah), a nova produção Pixar mostra como a superfície pode ser atraente, mas também perigosa e cruel para quem é "diferente". Mesmo assim, vale ganhar pernas e descobrir o mundo e o amor. Encante-se com "Luca" e não esqueça o lencinho para o emocionante final.
Ficha técnica:
Direção: Enrico Casarosa Produção: Pixar Animation Studios / Walt Disney Pictures Exibição: Disney + Duração: 1h36 Classificação: Livre País: EUA Gêneros: Animação / Fantasia / Aventura Nota: 4 (de 0 a 5)
Edição reúne 26 curtas e homenageia bares saudosos da cidade (Fotos: Beth Freitas)
Da Redação
A Mostra Cinebitaca está de volta de hoje ao dia 27 de junho. O evento, idealizado pela fotógrafa Beth Freitas e pela produtora cultural Tamira Abreu, foi originalmente pensado como mostra de cinema independente no boteco, e agora é retomado nessa segunda edição em versão online.
Com programação gratuita e diversa de filmes mineiros, o público poderá conferir a mostra no canal do Youtube (https://www.youtube.com/c/CinebitacaMostradeCinema). São 26 curtas que abordam a pandemia de Covid-19 e a quarentena a partir de pontos de vista singulares, compondo um mosaico de experiências, angústias e imaginação do contexto pelo qual passamos.
Na impossibilidade de estar no boteco vendo filmes e conversando, a Mostra vai homenagear bares saudosos da cidade. Cada um dos quatro dias de programação leva o nome de um dos bares: Bar do Lulu, Pastel de Angu, Social Bar e Restaurante e Bar Aqui, Ó.
Curta "Eu Tô Morrendo" (Crédito: Milca Alves)
A primeira edição do Cinebitaca aconteceu em abril de 2019, no Bar Brasil 41 (Santa Efigênia). Inicialmente concebida para acontecer em bares da capital mineira e agora tornada online devido à pandemia, a mostra se estrutura em quatro sessões, que são abertas por um debate com diretores e seguidas pelos filmes, com uma duração média de 50 minutos. Os filmes selecionados para a Mostra Cinebitaca concorrerão à premiação por votação do júri popular, que será realizada também online.
Os filmes
Foram mais de 130 filmes vindos de todas as regiões do estado, de gêneros, abordagem, linguagens e duração variados. Desses, foram selecionados 26 curtas, com duração de 47 segundos a 15 minutos, numa amostra que manteve a marca da diversidade.
O processo de escolha dos filmes contou com a curadoria da cineasta, produtora e professora de cinema Cristiane Ventura e a pesquisadora, mestre em Estudos de Linguagens e cineclubista Renata Oliveira.
Curta "Morde & Assopra" (Crédito: Brota Cria)
As produções foram realizadas durante a pandemia, no período de confinamento e distanciamento social que configuram uma Mostra em que a pluralidade estética dos curtas se faz presente.
Neles o público poderá perceber repertórios de gestos e imagens que já se cristalizaram na experiência e imaginário da quarentena: dançar em casa sozinho, se embriagar, fazer a própria festa, olhar pela janela e para dentro, trabalhar frente à tela, conversar pela tela, se reunir e produzir entre a tela e a câmera; cuidados com a casa de si, a busca pela luz solar, imagens do tédio e do trabalho doméstico que parece não ter fim.
Curta "Telaraña" (Crédito: Carolina Correa)
Os curtas produzidos no contexto da pandemia revelam os dramas do isolamento social, a dificuldade de se adaptar, os transtornos causados pelo trabalho remoto ou a ausência dele. Mas também apresentam brechas nas quais se criam espaços para revisão da própria vida, outras formas de habitar o espaço, a relação com o corpo e tentativas de imaginar possíveis futuros.
Beth Freitas e Tamira Abreu (Crédito: Beth Freitas)
Beth Freitas é publicitária, fotógrafa e videomaker. Atua como fotógrafa de eventos culturais, festivais, músicos, bandas, teatro, projetos sociais, além do trabalho autoral e artístico. Tamira Abreu é produtora cultural em Belo Horizonte há mais de 15 anos, atua em produções nas áreas de audiovisual, música, teatro e literatura.
Programação:
Bar do Lulu – dia 24/06 às 19h - Morde & Assopra (10’18’’) - Stanley Albano - Memórias de resistência (14’) - Felipe Nepomuceno - Desabafo (3’48’’) - Karen Suzane - Pulmões da Casa (1’47’’) - Sarah Queiroz - Espectra 1 (3’19’’) - Carolina Correa e Thembi Rosa - Silêncio (3’48’’) - Maria Leite - Breath (3’20’’) - Julia Baumfeld, Paola Rodrigues, Randolpho Lamonier, Sara Não Tem Nome, Victor Galvão - Todos, um (47’’) - Daniel Rabanea e Jackson Abacatu
Aqui-ó – dia 25/06 às 19h - Eu tô Morrendo (8’50’’) - Milca Alves - Sapatão: uma racha/dura no sistema (12’) - Dévora Mc - Dois (10’) - Guilherme Jardim e Vinícius Fockiss - Alô, quem fala? (9’15’’) - Luciano Correia - Plano Geral 8 (1’44’’) - Luiz Malta - Sisyphus (1’) - Bernardo Silvino
Crédito: David Martins
Pastel de Angú – 26/06 às 19h
- Vou ali no mercado e já volto (4’54”) - Fernanda Junqueira - O Corpo que Habito (10’14’’) - Brisa Marques e Carolina Correa - AM PM (8’43’’) - Jean de Jesus - 999 (8’) - Carolina Correa - Concentração (6’04’’) - Jhê - Z: Crônicas de um cotidiano insólito (4’47’’) - David Martins
Bar Social – dia 27/06 às 17h - Disneyloka 2093 (4’46’’) - Erick Ricco - Não subestime (11’35’’) - Lipe Veloso - Aqui nem eu (6’) - Gustavo Aguiar, Gustavo Koncht, Maria Flor de Maio, Raiana Viana - Ator a granel (15’) - Fabiano Persi - Telaraña (2’) - Carolina Correa - Retratos de uma jovem em quarentena (2’12’) - Iago de Medeiros
Serviço: Mostra Cinebitaca: filmes de quarentena Data: De 24 a 27 de junho, a partir das 19h Onde assistir: As sessões acontecerão no canal do Youtube da Mostra Cinebitaca: https://www.youtube.com/c/CinebitacaMostradeCinema