21 outubro 2021

Em “Round 6”, a pergunta que fica é: vale tudo no jogo da vida?

Pessoas falidas são atraídas para um lugar misterioso e começam a participar de competições infantis e mortais (Fotos: Netflix)


Mirtes Helena Scalioni


Não se pode negar que “Round 6” ("Squid Game"), produção sul-coreana em cartaz no Netflix, seja uma obra instigante e curiosa. Praticamente um retrato do capitalismo selvagem que elimina os que não querem – ou não conseguem – fazer parte da engrenagem, a série de nove episódios é o maior sucesso mundial do streaming, capaz de levar espectadores mais atentos a uma necessária reflexão sobre o futuro da humanidade.


Embora repleto de cenas muito violentas – talvez propositadamente exageradas – a história tem sacadas geniais para deixar claro como funciona o jogo. Traições de quem parecia amigo, a eterna desvantagem das mulheres, a apologia da esperteza (“farinha pouca, meu pirão primeiro”) e a conclusão de que somos apenas um número no sistema recheiam o discurso da série que, se assusta no início, fisga o público até o final.


A sinopse é, por si só, esquisita: homens e mulheres falidos e sem esperança são atraídos para um lugar misterioso onde são catalogados com um número e, a partir daí, começam a participar de competições. Ao final, o vencedor vai receber uma fortuna em dinheiro. Interessante é que os jogos são todos infantis, alguns deles conhecidos no Brasil como “Batatinha frita 1,2,3”, bolinhas de gude e cabo de guerra, nos quais nem sempre a força se impõe. 

Muitas vezes, a sorte se sobrepõe e a injustiça pode sim sair vitoriosa. Assim como na vida. O grande susto da história é: quem perde, paga com a vida. O perdedor é sumariamente eliminado com um tiro na cabeça ou no peito.


Seong Gi-hun (Lee Jung-jae) é o protagonista de “Round 6”, que encanta e convence como o jogador 456, um malandro boa praça quase inocente que tem sua última chance de consertar uma vida cheia de erros. Jung Ho-yeon (Kang Sae-byeok) faz a jogadora 067, jovem amarga fugitiva da Coreia do Norte, que precisa da grana para resgatar a mãe e cuidar do irmãozinho. Cho Sang-woo (Park Hae Soo) faz o jogador 218, amigo de infância do 456, profissional brilhante que perdeu tudo no mercado financeiro. 


Representando a experiência, Oh Il-nam (Oh Young-soo) é o competidor 001, um idoso que tem um tumor no cérebro. Há outros personagens de destaque, como o vilão truculento, o médico que entra no esquema criminoso da organização, a moça que acaba de sair da cadeia depois de ter matado o padrasto, a espertinha metida a conquistadora... A fauna é rica e diversificada.


Não fica claro para o espectador quem são as pessoas que comandam aquele lugar e nem por que alguém se daria ao trabalho de criar uma organização tão esdrúxula quanto improvável. Os líderes parecem se divertir com o sofrimento e os apuros dos jogadores, cada um com seu pequeno – ou grande – drama. Claro que, num ambiente tão hostil e perigoso, ética e moral são ideias raras.


Pena que o final decepcione um pouco, como se o autor tivesse se perdido e inventado, de última hora, um desfecho inverossímil e incabível. O escritor Hwang Dong-hyuk tem dito em entrevistas que escreveu a série sem pensar em uma segunda temporada. Parece mais uma jogada de marketing, pois muitas tramas não se fecham e alguns nós não foram desfeitos. Por mais subjetivas que sejam as metáforas e parábolas, elas também carecem de um mínimo de coerência.


Ficha técnica:
Criação:
Hwang Dong-hyuk
Exibição: Netflix
Duração: 9 episódios (60 minutos cada)
País: Coreia do Sul
Gêneros: drama/ suspense / ação
Classificação: 16 anos

18 outubro 2021

Em "007 - Sem Tempo Para Morrer", Daniel Craig se despede de James Bond com um merecido final

Franquia do mais famoso agente secreto britânico completa 25 filmes com fôlego para arrastar milhares de pessoas de volta ao cinema (Fotos: Universal Pictures)


Maristela Bretas


Não poderia ser menos do que foi entregue. Daniel Craig deixa o personagem James Bond, após cinco filmes, com estilo, muita ação e um gran finale merecido em "007 - Sem Tempo Para Morrer" ("No Time To Die"). O longa, 25º da franquia, desta vez dirigido por Cary Joji Fukunaga que também participou do roteiro com Neal Purvis, Robert Wade e Phoebe Waller-Brodge, é adrenalina pura. E vem com muitas mudanças, especialmente com as mulheres ocupando mais espaço na trama, deixando de ser meramente "Bond Girls". 


Na trama temos a volta de Léa Seydoux vivendo Madeleine Swann, namorada de Bond, que tem um papel essencial na história e nas decisões dele. A primeira vez que seu personagem apareceu foi em "007 Contra Spectre" (2015) e o romance começou naquela época e leva Bond a se aposentar.

Já a vaga deixada no MI6 com a aposentadoria do famoso agente agora é ocupada por uma mulher forte e determinada - Nomi - papel de Lashana Lynch, que entrega uma boa agente, mas ainda precisa encarar muito chumbo e porrada (como aconteceu com Craig) para personificar o maior agente britânico de todos os tempos, criado pelo escritor Iam Fleming em 1953. Mas como fã, ainda sou da torcida organizada de Sean Connery como o melhor de todos.


Ana de Armas faz uma aparição infelizmente curta, mas arrasadora e letal como Paloma, parceira de Bond numa missão. Não menos importante temos também Naomie Harris, a nova Moneypenny, que sai de trás da mesa de secretária do diretor do MI6 para mostrar que pode ir a campo para ajudar um velho amigo. 


A volta com despedida do icônico espião já era suficiente para arrastar o público de volta ao cinema, com muita pipoca e refrigerante. Mas a campanha de marketing para divulgação do longa não deixou por menos e jogou pesado, com direito à realeza britânica e outros famosos na pré-estreia, o que ajudou a colocar o filme no topo das bilheterias de estreia em vários países, inclusive no Brasil.


No filme temos James Bond aposentado, vivendo uma fase romântica com sua namorada Madeleine Swann, longe da rotina perigosa do MI6. Até ser importunado por seu passado e sofrer uma desilusão amorosa. 

Isolado em sua casa na Jamaica, é procurado pelo velho amigo Feliz Leiter (Jeffrey Wright), agente da CIA, para encontrar e capturar o insano Lyutsifer Safin (Rami Malek), que planeja contaminar toda a humanidade com um produto tóxico que ataca o DNA das pessoas. 


O agente com licença para matar agora é alguém esquecido e vai precisar contar com a ajuda de amigos da antiga agência - Moneypenny (Naomie Harris) e "Q" (Ben Whishaw) para enfrentar o novo vilão. Para piorar, descobre que seu antigo chefe "M", diretor do MI6 (Ralph Fiennes) está envolvido na trama. Mas é um antigo inimigo quem vai fazer Bond voltar à ativa após cinco anos, desde "007 Contra Spectre" - Ernst Stavro Blofeld (papel de Christoph Waltz) que continua influente mesmo atrás das grades.


Por falar em vilão, os produtores deram dois tiros nos pés. O primeiro foi a escolha de Rami Malek para o papel. Mesmo com toda a competência do ator, o personagem ficou caricato, cheio de caras e bocas, lembrando o papel de Freddie Mercury, de "Bohemian Rhapsody" (2018). Sem força e expressão, Safin aparece pouco é previsível em todas as ações e totalmente esquecível. Até Blofeld tem mais presença.

O outro segundo erro foi a escolha da música-tema "No Time To Die", composta e interpretada por Billie Eilish. Totalmente 'deprê', sem impacto ou grandes arranjos, especialmente na finalização. Quebra o ritmo dos filmes de 007. Felizmente a trilha foi salva pelo grande Hans Zimmer, que incluiu até mesmo o sucesso "We Have All The Time in The World", com Louis Armstrong, do filme "007 - A Serviço de Sua Majestade" (1969). 


Mas estes dois "foras" não tiram o brilho do quinto e último filme de Daniel Craig a frente do famoso espião. "007 - Sem Tempo para Morrer" é ótimo do início ao fim, do tipo que não deixa o expectador sossegado na cadeira. Craig apanha e bate muito, mas muda a postura do "garanhão" para um agente aposentado, mas sem nunca perder a classe.


O público também tem a oportunidade de rever símbolos de antigos filmes da franquia que são a marca de James Bond. Nada como um "Martini seco batido, não mexido", ou a pistola semiautomática Walther PP e, claro, o charmoso Aston Martin, com suas metralhadoras e explosivos embutidos nos faróis. O diretor Cary Fukunaga ainda brinda os fãs incluindo em uma das cenas a famosa abertura dos filmes de 007, com o agente entrando num túnel, se virando e apontando a arma.

Para quem ainda não assistiu e é fã de "Bond, James Bond", "007 - Sem Tempo para Morrer" é imperdível. Soube dosar ótimas sequências de ação, emoção, suspense, belas locações e boas recordações. 


Ficha técnica:
Direção: Cary Joji Fukunaga
Produção: Metro Goldwyn Mayer (MGM) / Eon Pictures
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h43
Classificação: 14 anos
Países: Reino Unido / EUA
Gêneros: ação / espionagem/ suspense
Nota: 4 (0 a 5)

16 outubro 2021

Misterioso e instigante, “Convidado de Honra” confunde, desorganiza e atiça o espectador

Estrelado por David Thewlis, sob a direção de Atom Egoyan, longa está disponível apenas nas plataformas digitais (Fotos: Califórnia Filmes/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni

Há quem chame de “filme de festival” produções mais fechadas, intimistas, questionadoras e normalmente contadas em flashbacks – uma ferramenta que alguns diretores têm usado muito na tentativa de valorizar a obra. Se isso for verdade, pode-se chamar assim a mais recente direção de Atom Egoyan, responsável também pelo roteiro de “Convidado de Honra” ("Guest of Honour").

O longa está disponível para aluguel, compra ou assinatura apenas nas plataformas digitais Claro Now, Amazon Prime Video, iTunes /Apple Tv, Google Play, YouTube Filmes e Vivo Play. E tem tudo para agradar principalmente os cinéfilos de carteirinha. Não por acaso, foi apresentado ao mundo no Festival de Veneza de 2019.


Misterioso do começo ao fim, o filme fala da relação tumultuada e cheia de equívocos e culpas entre Jim (David Thewlis, de "Liga da Justiça - Snyder Cut" - 2021,  "Mulher Maravilha" - 2017 e "A Teoria de Tudo" - 2015 ) e sua filha Verônica (a atriz canadense-brasileira Laysla de Oliveira). 

Solitário e exigente inspetor de alimentos, Jim faz de tudo para tirar a jovem filha da prisão, pois todos sabem que ela é inocente, embora acusada de abuso sexual. Porém, há um grande problema: ela não quer sair da cadeia porque quer expiar outras culpas.


“Convidado de Honra” começa com uma conversa entre Verônica e o padre Greg (Luke Wilson, de "Zumbilândia - Atire Duas Vezes" - 2019), com o objetivo de preparar o funeral de Jim. Sabe-se, portanto, desde o início, que ele está morto. A partir daí, muitas idas e vindas e infinitos flashbacks vão revelando ao espectador partes da vida dos dois. Ele, fiscal de restaurante; ela, professora de música de adolescentes.


Embora cheio de mistérios e repleto de dúvidas – talvez exatamente por isso – o filme acaba por criar um certo suspense, mesmo que, por vezes, desorganize o raciocínio do público. A cena em que o espectador descobre, por fim, por que o título do longa é “Convidado de Honra” é, ao mesmo tempo, impagável, inteligente e sutil.

Enfim, é preciso dizer que David Thewlis carrega o filme nas costas, com uma atuação cheia de nuances que ajudam a confundir ainda mais o espectador. Impossível ficar indiferente depois de ver “Convidado de Honra”, por mais estranho que a produção possa parecer.


Ficha técnica:
Direção: Atom Egoyan
Exibição: Plataformas digitais Claro Now, Amazon Prime Video, iTunes /Apple Tv, Google Play, YouTube Filmes e Vivo Play
Duração: 1h45
Classificação: 14 anos
País: Canadá
Gênero: drama

10 outubro 2021

“Caminhos da Memória” mistura drama, futurismo, romance e investigação e ainda sim é um filme raso

Hugh Jackman e Rebecca Ferguson são as estrelas desta produção, que agora está em canais de streaming (Fotos: Warner Bros. Entertainment)

Jean Piter Miranda


Em um futuro não muito distante, a cidade de Miami, nos Estados Unidos, está submersa, por causa do agravamento do aquecimento global. É nesse mundo que o investigador particular da mente Nick Bannister (Hugh Jackman, de "O Rei do Show" - 2017) usa uma máquina para ajudar pessoas a reviverem suas memórias. O mesmo equipamento que o ajuda em suas investigações. 

Até que um dia, Bannister se envolve com uma cliente, que desaparece. Para reencontrá-la, ele terá que enfrentar a máfia e ainda resolver um misterioso assassinato. Essa é a história de “Caminhos da Memória” ("Reminiscence"), disponível nos canais HBO Max, Youtube Filmes e Google Play. 


Emily Sanders (Thandiwe Newton, de "Han Solo" - 2018) é a assistente de Nick e trabalham com a máquina de rever e gravar memórias. A pessoa é colocada deitada, parcialmente coberta por água, com fios ligados à cabeça. As memórias visitadas são projetadas em holograma, como numa tela de cinema. 

O trabalho requer muita privacidade, já que Nick e Emily assistem tudo, inclusive lembranças íntimas dos clientes. Tudo fica gravado em pequenas placas de vidro, para que a pessoa possa assistir em casa quantas vezes quiser.  


Certo dia, Mae (Rebecca Ferguson, de "Missão Impossível: Efeito Fallout"- 2018) vai até consultório para rever uma de suas memórias que vão ajudá-la a encontrar uma chave perdida. Motivo muito bobo, por sinal. Mae e Nick acabam se envolvendo, mas depois ela some. Ele fica desolado e passa a usar a máquina para reviver as lembranças desse relacionamento. O que é bem arriscado, já que ativar as mesmas memórias várias vezes pode corromper parte do cérebro.  

Tempos depois, durante uma investigação, Nick é chamado para acessar as memórias de um homem que está perto da morte. Nas lembranças do cliente, ele vê Mae. Com essa pista, ele percorre o submundo de Miami em busca de sua amada. Aí é que tudo se complica.  


O filme é, vamos dizer, uma "mistureba". Tem coisa demais na trama. Nick e Emily são ex-combatentes. Filme de herói sempre tem ex-combatente. E tirando os americanos, ninguém entende essa lealdade que os ex-militares têm uns com os outros. Se é que isso existe. Nick faz o papel de mocinho, bem clichê. Mae é a mocinha bonita que precisa ser salva. Emily é a amiga que se preocupa com Nick e faz de tudo por ele.  


E tem outros clichês. O mafioso é japonês. O policial corrupto tem cara de mexicano. Os bandidos e capangas são negros, orientais e latinos. Sempre há um bar onde a máfia se reúne, com bebidas, mulheres e drogas. A mocinha é obrigada a se envolver com criminosos. 

Tem troca de tiros que destrói o bar. As pistas do crime vão surgindo facilmente para Nick e para o público. A água que cobre Miami não interfere em nada na trama. O desfecho é previsível, sem muita emoção. Tudo muito raso, sem trocadilho com a inundação.  


O título original é “Reminiscência”, que significa imagem do passado, lembrança vaga que é memorizada de forma inconsciente. Até faz sentido, já que Nick colhe informações das imagens periféricas das lembranças de pacientes para pegar pistas. Mas "Caminhos da Memória" se perde. 

Esperava-se mais de uma das criadoras da série "Westworld", que poderia entregar um ótimo drama psicológico e, no entanto, vem com uma salada de trama policial rasa e cheia de clichês, até mesmo no romance. Os atores se esforçam em boas atuações, mas isso não salva o filme. É mais uma produção que desperdiça um bom elenco e boas ideias.  


Ficha técnica:
Direção, roteiro e produção: Lisa Joy
Exibição: HBO Max, Youtube Filmes e Google Play
Duração: 1h56
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: Ficção / Romance / Suspense

09 outubro 2021

“Encontro Marcado/300 Anos de Minas Gerais” realiza mostra cinematográfica gratuita na Escola de Design da UEMG

Exposição homenageia Fernando Sabino com exibição filmes, curtas e documentários (Foto: Antonio Araujo/Ascom Reitoria/UEMG)


Da Redação


Os apaixonados pela arte e pela cultura mineira terão uma programação especial na exposição "Encontro Marcado/300 Anos de Minas Gerais", que homenageia Fernando Sabino. Até amanhã, será realizada uma mostra cinematográfica na Escola de Design da UEMG. Serão exibidos quatro longas, 14 curtas de ficção, um documentário e 10 curtas sobre importantes autores nacionais dirigidos por Sabino. A exposição pode ser visitada das 13h às 19h, até 12 de outubro. A entrada é gratuita. 

Entre os destaques, está o filme “Faca de Dois Gumes”, baseado na obra homônima de Fernando Sabino. O longa surpreende do início ao fim. Um clássico do policial brasileiro, um gênero tão raro em nosso cinema. Ele levou o prêmio de melhor direção, som, fotografia e cenografia no Festival do Cinema Brasileiro de Gramado de 1989, melhor filme e montagem no III Festival de Cinema de Natal de 1989 e melhor filme, edição de som e trilha sonora no VI Rio-Cine-Festival de 1990. 

(Foto: Antonio Araujo/Ascom Reitoria/UEMG)

Já o filme “O Grande Mentecapto'', produzido pelo diretor brasileiro Oswaldo Caldeira entre 1986 e 1989, com roteiro de Alfredo Oroz, também coleciona premiações. O longa conquistou o prêmio Golden Metais como melhor direção, melhor roteiro, melhor música, melhor ator, melhor atriz. Levou o prêmio Melhor Música Golden Metais em 1991, como melhor filme do júri popular no Festival de Gramado de 1989, melhor ator do Rio Cine Festival em 1991 e no mesmo ano o prêmio de melhor atriz coadjuvante do Rio Cine Festival. 

No feriado do dia 12 de outubro, data que também é comemorado o aniversário de Fernando Sabino, o produtor Guilherme Fiuza, diretor do filme “Menino no Espelho” (2014) estará presente na exposição para um bate-papo especial. O filme se tornou sucesso de crítica no Brasil e exterior, sendo comercializado para 16 países da Europa. 

(Crédito: Divulgação)

Além disso, os artistas do Libertas Coletivo de Arte, parceiros e curadores da exposição, prepararam uma surpresa para os visitantes da mostra. Também é possível visitar as manifestações artísticas feitas pelo Libertas ao ar livre, no Circuito Cultural da Praça da Liberdade, todas elas inspiradas no livro "Encontro Marcado" de Fernando Sabino.

“A mostra cinematográfica é mais uma forma de valorizar a importante história de Fernando Sabino para a cultura e a literatura mineira. Inspirados em suas obras, produtores e cineastas deram vida a personagens e contos que marcaram a vida de muitos brasileiros. Convido toda a população a prestigiar esse evento e a se aprofundar nas obras deste renomado escritor, além de prestigiar o cinema e a arte brasileira”, destaca Luis Carlos Brito Lopes, diretor da Glória Comunicação, que há mais de 10 anos é a responsável pelo marketing, comunicação e promoção do Projeto Encontro Marcado.

A Exposição "Encontro Marcado/300 Anos de Minas Gerais" foi viabilizada com recursos da Lei Aldir Blanc de incentivo à cultura, Governo de Minas Gerais, com o patrocínio da Secretaria Especial da Cultura e Turismo de Minas Gerais e Circuito Praça da Liberdade, Ministério do Turismo e Governo Federal. 

(Crédito: Divulgação)

Sábado 09/10
10:30
"Jorge Amado - Na Casa do Rio Vermelho", de Fernando Sabino (duração: 9'32'' - Classificação: Livre)
"Conversinha Mineira", de Jorge Monclar (duração: 7'21'' - Classificação: Livre)
"O Grande Mentecapto", de Oswaldo Caldeira (Classificação: 12 anos)

15:30
"Vinicius de Morais - Poesia Música e Amor", de Fernando Sabino (duração: 9'0'' - Classificação: Livre)
"Dona Custódia", de Adriana Andrade (duração: 13'' - Classificação: Livre)
"O Grande Mentecapto", de Oswaldo Caldeira (Classificação: 12 anos)
Bate papo com Bernardo Sabino, filho do escritor e presidente do Instituto Fernando Sabino sobre as oportunidades profissionais na área do audiovisual

Domingo 10/10
10:30
"Guimarães Rosa - Veredas de Minas", de Fernando Sabino (duração: 10'51'' - Classificação: Livre)
"Como Nasce uma História", direção Emerson de Oliveira e William Marques (Classificação: Livre)
"O Homem Nu", de Hugo Carvana (Classificação: 12 anos)

15:00
"João Cabral de Melo Neto - O Curso do Poeta", de Fernando Sabino (duração: 9'55'' - Classificação: Livre)
"Vinicius de Morais - Poesia Música e Amor", de Fernando Sabino (duração: 9'20'' - Classificação: Livre)
"Galinha ao Molho Pardo", de Feliciano Coelho (duração: 9'30'' - Classificação: Livre)
"O Homem Nu", de Hugo Carvana (Classificação: 12 anos)
Bate papo com Bernardo Sabino, filho do escritor e presidente do Instituto Fernando Sabino sobre o sucesso das duas produções inspiradas no conto "O Homem Nu"

(Crédito: Divulgação)

Segunda- feira 11/10
15:00
"Érico Veríssimo - Um Contador de Histórias" - Direção: Fernando Sabino (duração: 9'42'' - Classificação: Livre)
"Apertadinho" – Jorge Monclar (duração: 7'33'' - Classificação: Livre)
"Faca de Dois Gumes" – Murilo Sales (Classificação: 16 anos)
Bate papo com Bernardo Sabino, filho do escritor e presidente do Instituto Fernando Sabino sobre as importantes premiações conquistadas pelos filmes de Fernando Sabino

Terça Feira 12 /10 – Aniversário de Fernando Sabino
10:30
"Érico Veríssimo - Um Contador de Histórias" - Direção: Fernando Sabino (duração: 9'42'' - Classificação: Livre) "Apertadinho", de Jorge Monclar (duração: 7'33'' - Classificação: Livre)
"Faca de Dois Gumes" – Direção de Murilo Sales (Classificação: 16 anos)

15:00
"Manoel Bandeira - O Habitante de Passárgada", de Fernando Sabino (duração: 9'28'' - Classificação: Livre)
"Galinha ao Molho Pardo", de Feliciano Coelho (duração: 9'30'' - Classificação: Livre)
"O Menino no Espelho" , de Guilherme Fiúza (Classificação: Livre)
Bate papo com o Guilherme Fiúza sobre a produção do filme e as perspectivas do Cinema Nacional pós-pandemia


Serviço:
Data: Até 12 de outubro
Local: Escola de Design da UEMG – Praça da Liberdade
Horário: das 13h às 19h
Entrada: gratuita

08 outubro 2021

Diabolicamente, "Lucifer" se despede provocando lágrimas nos fãs

Tom Ellis e Lauren German formaram uma dupla afinada em todas as situações (Fotos: Netflix/Divulgação)


Maristela Bretas


Confesso que chorei muito nesta sexta e última temporada de uma das melhores séries exibidas pela Netflix. "Lucifer", que conta a história do diabo mais charmoso, sensual e divertido, vai deixar saudades. Interpretado de forma carismática pelo ator britânico Tom Ellis, a série, estreou em janeiro de 2016 pela Fox, mas foi cancelada em 2018. No mesmo ano, atendendo aos fãs, ela teve sua produção assumida pela Netflix, que garantiu mais quatro temporadas.

Mas o diabólico protagonista Lucifer Morningstar não teria conquistado uma legião de seguidores se não tivesse ao seu lado uma fiel parceira. E coube a Lauren German o importante papel da detetive Chloe Decker, que a cada episódio foi conquistando mais força na tela e no coração do coisa ruim (mas nem tanto). Confesso que não via muita graça nos primeiros episódios e a presença de Tom Ellis bem mais marcante que a participação dela.


A partir da segunda temporada, no entanto, a atriz ganhou espaço e mostrou que era a pessoa certa para o papel da "detective". A química entre os dois se tornou evidente e o romance demorou, mas aconteceu, como era esperado, em meio a homicídios, a arrogância e a luxúria do Diabo e traumas dos personagens, especialmente Lucifer, que não se dava muito bem com seu pai (no caso, Deus).

O elenco sincronizado também foi outro ponto positivo que garantiu a renovação da série. Todos ganharam destaque a cada episódio: a terapeuta Linda Martin (Rachael Harris), o bondoso anjo Amenadiel (D.B.Woodside), irmão de Lúcifer, a perita forense Ella Lopez (Aimee Garcia), a demoníaca Mazikeen (Lesley-Ann Brandt) e o detetive Daniel Espinoza (Kevin Alejandro), além de outros que entraram, saíram ou tiveram apenas participações especiais.


A série "Lucifer", para quem não viu, conta como o senhor do Inferno, cansado de sua vidinha "lá embaixo", veio curtir umas férias em Los Angeles, acompanhado de sua serva Mazikeen. Ele abre a boate Lux, e após ajudar a desvendar um crime, se torna consultor da polícia e passa a trabalhar com a detetive Decker. Uma parceria que será garantia de muito humor, ação e paixão. E vai provocar uma reviravolta na vida de todos aqueles ao redor do casal.


Após seis anos de ação, diversão, tensão, mortes chocantes e muito romance, essa turma se despede provocando muitas lágrimas nos mais emotivos (como eu), especialmente nos dois últimos episódios da sexta temporada. 

A trilha sonora ajudou a aumentar o chororô, relembrando sucessos como "Unchained Melody", dos Righteous Brothers, tema do filme "Ghost"; "Hungry Like The Wolf", da banda Duran Duran; "The Lady is A Tramp", com Ella Fitzgerald; "Bridge Over Troubled Water", de Simon & Garfunkel"; "Welcome to the Black Parade", da banda My Chemical Romance, além de várias outras canções devidamente bem inseridas. 

Destaque para, "Champagne Supernova", do Oasis, na versão do coral feminino belga Scala & Kolacny Brothers, que entrega uma das cenas mais bonitas da última temporada.


O sucesso da série, que atraiu públicos de diferentes idades desde o início, também se deve ao ótimo trabalho dos roteiristas que, apesar de alguns momentos de mormaço, conseguiram reparar nas últimas temporadas com um clima mais intenso. Eles souberam entregar um final do tipo "abraço de urso", para mexer com todos os fãs que acompanharam "Lucifer" ao longo dos últimos cinco anos. Ofereceram momentos de diversão, de emoção e até de sofrimento a cada despedida de um personagem, até nas mais chocantes.


A equipe do showrunner Joe Henderson menciona inclusive elogios a filmes e séries de TV de sucesso do passado, como "Bones" (estrelada por David Boreanaz, como o agente Seeley Booth, e Emily Deschanel, como a dra. Temperance Brennan). Para Lucifer, um erro ter sido encerrada. 

Também criou as mais diversas e inesperadas situações, com episódios em formato de musical, ou de um filme noir, em preto e branco (com ótima interpretação de Lesley-Ann Brandt). Lucifer e Chloe foram até mesmo transformados em personagens de desenho no estilo "Looney Tunes". Tom Ellis também pode mostrar, além dos dotes físicos, sua bela voz em algumas cenas ao piano.


A série abordou tabus que desagradaram aos mais religiosos, como apresentar um Deus negro, uma Eva que vai escolher uma mulher como sua companheira, um Adão pra lá de machista que tomou um fora e vai precisar de analista, anjos que se tornam pais. Até mesmo uma guerra entre anjos e demônios acontece na produção. E o mais importante: mostrou um Diabo apaixonado.


Mas se o humor predominou em "Lucifer", também assuntos sérios foram abordados, como o racismo da polícia contra a população negra, o movimento Black Lives Matter, o debate sobre traumas do passado e como o abandono afeta o comportamento de um adulto, a relação entre pais e filhos, os desejos ocultos (que só Lucifer era capaz de fazer com que fossem revelados) e a força da mulher contra o preconceito de uma sociedade machista.


Chegamos a um final, apesar de previsível, preencheu boas madrugadas com humor, emoção e um carismático elenco.  "Lucifer" deixa saudades e a marca de uma série que valeu a pena assistir desde o início e, mais ainda, o fim. Para quem não assistiu, recomendo muito. Mas prepare algumas noites de sono perdidas maratonando as seis temporadas e o lencinho para o final.


Ficha técnica:
Criador da série: Tom Kapinos
Exibição: Netflix
Duração: 6 temporadas (93 episódios) - tempo médio de 43 minutos
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: drama / comédia / policial / fantasia
Nota: 4,5 (de 0 a 5)

03 outubro 2021

"A Menina que Matou os Pais" e "O Menino que Matou Meus Pais" - o caso Suzane von Richthofen

Amazon Prime Vídeo apresenta as duas versões do bárbaro crime que chocou o pais em 2002 (Fotos: Divulgação)


Jean Piter Miranda 


Em 2002, Daniel Cravinhos (Leonardo Bittencourt) e seu irmão Cristian (Allan Souza Lima), assassinaram o casal Manfred von Richthofen (Leonardo Medeiros) e Marísia (Vera Zimmerman), pais de Suzane von Richthofen (Carla Diaz). O crime foi planejado por Suzane e Daniel, que eram namorados. Essa é uma história que chocou o país e que agora é contada em dois filmes que estão disponíveis na Amazon Prime: "A Menina que Matou os Pais" e "O Menino que Matou Meus Pais".  

A primeira pergunta que todo mundo vai fazer é: Qual a diferença entre os dois filmes? É simples. Um mostra a história contada pelo ponto de vista de Suzane, com base no depoimento dela. O outro é contado por Daniel, sob a ótica dele, feito a partir do que ele relatou à Justiça. Daniel joga a culpa em Suzane e ela joga a culpa nele.  


Em "A Menina que Matou os Pais", Daniel conta que era apaixonado por Suzane. Eles se amavam e queriam ficar juntos. Só que os pais dela não aceitavam o namoro por ele ser de família humilde. Na versão que ele conta, os pais de Suzane faziam de tudo para separá-los. Suzane se sentia triste e sufocada em uma família que era cheia de problemas. 

Suzane não era tão boazinha quanto ele pensava, era fria e calculista. E logo ele se viu preso em um relacionamento abusivo. Suzane estava disposta a tudo pra ficar livre e assim ela planejou a morte dos pais e, segundo depoimento de Daniel, o induziu a cometer o crime.  


No outro filme, "O Menino que Matou Meus Pais", a história é contada por Suzane. Ela conta que era apaixonada por Daniel e que queria ficar com ele. Relata que tinha uma ótima relação com os pais, mesmo eles sendo contra o namoro dela com o rapaz. Nessa versão, Daniel é abusivo e ela está presa no relacionamento. E no fim, para poderem ficar juntos, Daniel planeja matar os pais dela e a teria induzido a participar do crime.  


O fim da história é o mesmo nos dois filmes. E não há spoiler nisso. Os pais de Suzane são assassinados por Daniel e seu irmão. Ela é cúmplice. O crime foi premeditado e os três são presos. Tudo isso já foi mostrado dezenas de vezes em várias reportagens. 

A novidade apresentada nos filmes é justamente esses dois pontos de vista sobre quem cometeu o crime. Não apenas o relato do dia do duplo homicídio e as motivações, mas como toda essa história começou. Desde o dia em que Suzane e Daniel se conheceram até o dia em que foram condenados pela Justiça. 


As produções não tentam humanizar Daniel e Suzane, nem mesmo justificar o que eles fizeram. É quase uma reconstituição baseada nos depoimentos de ambos, destacando as contradições de suas versões. Os filmes são bem produzidos, usam cenas comuns e conseguem reproduzir bem a ambientação dos anos 2000 nas roupas, músicas e cenários. 


Carla Diaz é sim o destaque. Ela faz uma ótima interpretação. Leonardo Bittencourt não vai mal, mas também não convence. Ele soa mecânico em diversos diálogos. Os demais personagens são bem discretos. Não há uma ordem de qual filme deve ser assistido primeiro. Isso tanto faz. Ao mesmo tempo em que são independentes, os dois longas se completam. São bons e merecem ser vistos. 


Ficha técnica (válida para os dois filmes)
Direção: Maurício Eça
Roteiro: Ilana Casoy e Raphael Montes
Exibição: Amazon Prime Video
Produção: Santa Rita Filmes / Galeria Distribuidora
Duração: 1h25
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gêneros: drama / suspense

01 outubro 2021

Beleza, cores, intimidade e leveza fazem de “O Jardim Secreto de Mariana” um filme poético e reflexivo

Andreia Horta e Gustavo Vaz são os protagonistas do longa-metragem filmado em Brumadinho e no Museu de Inhotim (Fotos: Mariana Vianna/Palavra Assessoria)


Mirtes Helena Scalioni


Depois de “O Homem da Capa Preta” (1986), “Guerra de Canudos” (1997), "Zuzu Angel" (2006), "Em Nome da Lei" (2015) e “O Paciente O Caso Tancredo Neves” (2017) - só para citar alguns sucessos -, fica difícil reconhecer Sergio Rezende como diretor de “O Jardim Secreto de Mariana”, um filme sutil, intimista e – por que não? – romântico. 


As idas e vindas de um casal em busca de reconciliação, acerto de contas e consolidação de um amor que teima em não acabar, fazem da produção um momento de leveza e reflexão, embora haja, desde o início, uma violência suspensa no ar.

A partir do momento em que João (Gustavo Vaz) pega sua bicicleta e decide pedalar uma longa distância para procurar Mariana (Andréia Horta) com o objetivo de reconquistá-la, o espectador começa a entender, aos poucos, que eles formavam um casal perfeito até cinco anos antes, quando romperam abruptamente após ressentimentos e a impossibilidade de terem um filho.


Antes da separação, viviam numa espécie de paraíso próximo a Brumadinho, em Minas, entre verduras orgânicas e flores que eles próprios cultivavam quando não estavam se amando por todos os recantos da casa, perdidamente apaixonados.

A história de amor entre a botânica Mariana e o economista João vai sendo lentamente revelada ao público em flashbacks, como convém aos filmes modernos. Por algum mérito da equipe, as idas e vindas na trama não são tão vertiginosas como às vezes acontece, dando algum fôlego para que o espectador curta – de certa forma – as lindas cenas de flores coloridas, os trechos de aulas sobre a sexualidade e reprodução das plantas e as muitas DRs do casal. 


Alguns mistérios só são desvendados quase no final do filme. Embora possa ser considerado um romance, “O Jardim Secreto de Mariana” não tem nada de água com açúcar. As atuações corretas e precisas de Andréia Horta e Gustavo Vaz dão o tom do naturalismo que permeia todo o filme.

Participações luxuosas dos experientes Denise Wenberg como Linda, mãe da protagonista, e de Paulo Gorgulho como Zé Cristiano, pai de João, colaboram para que a dramaticidade seja mantida em alto nível. Merecem destaque o papel e a interpretação de Gorgulho, veterano ator que valoriza, na trama, a mineiridade dos lugares onde tudo acontece.


Como não poderia deixar de ser em se tratando de botânica e flores, a fotografia é quase um personagem do filme. As cenas filmadas no Museu de Inhotim, em Brumadinho (MG) e em Nova Friburgo (RJ) chamam atenção pela profusão de cores e o requinte dos detalhes.

Diferentemente das plantas, os humanos continuam se perguntando por que os relacionamentos acabam, quem é o culpado pelo fim, se feridas podem ser cicatrizadas e se o perdão é possível para a reconstrução de um amor. As questões, claro, permanecem abertas, já que, segundo insinua o diretor, todos temos, dentro de nós, um certo jardim - secreto e imprevisível – sobre o qual não temos qualquer comando.


Ficha técnica:
Direção: Sérgio Rezende
Produção: Morena Filmes / Arpoador Audiovisual / Globo Filmes
Distribuição: H20 Films
Exibição: Una Cine Belas Artes - Sala 2 - sessão 18h30
Duração: 1h25
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gêneros: Drama / Romance