16 novembro 2021

"Duna" tem visual grandioso, mas ótimo elenco é pouco aproveitado

Ficção dirigida por Denis Villeneuve conta no elenco principal com Timothée Chamalet e Rebecca Ferguson (Fotos: Warner Bros. Pictures)


Maristela Bretas e Jean Piter Miranda


Como dividiu "Duna" ("Dune") em duas partes, resolvi fazer esta crítica do filme em dupla com meu amigo e colaborador Jean Piter. Afinal esta grandiosa ficção científica do premiado diretor canadense Denis Villeneuve ("A Chegada" - 2017) merecia, apesar de alguns pontos que deixaram a desejar. "Duna" é espetacular em visual, locações, fotografia e elenco. Certamente será indicado a diversas premiações, inclusive o Oscar. O longa tem estreia prevista na HBO Max no Brasil já no final deste mês.


O quesito locação é fantástico e se deve a uma exigência de Villeneuve de que as cenas fossem gravadas em locais reais para retratar o desértico planeta Arrakis. E a escolha ficou para os desertos de Wadi Rum, na Jordânia, e Rub' al-Khali, em Abu-Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, cujas areias douradas foram palco da maioria das cenas de dunas. 

O mesmo aconteceu com os fiordes de Standlander, na Noruega, para a locação das montanhas e praias onde a família Atreides vivia. Já as filmagens de estúdio foram feitas em Budapeste, na Hungria. Realmente um filme internacional.


Mas se a parte visual garante o sucesso de "Duna", o desenrolar da história é o ponto fraco. Dividido em duas partes - o segundo filme foi confirmado para 2023 -, o longa se arrasta em explicações e disputas de gabinete cansativas. O elenco caro e de primeira é pouco aproveitado, e até o casal principal - Timothée Chamalet ("Me Chame Pelo Seu Nome" - 2018 e "Adoráveis Mulheres" - 2020), como Paul Atreides, e Zendaya (“Homem-Aranha: Longe de Casa” (2109), como Chani, a guerreira do deserto de Arrakis - até o momento, não tem química nem graça). 


O personagem de Chamalet não mostrou a força esperada como herói. A expectativa é que o potencial de atuação para um filme de ação seja apresentado no segundo filme. Zendaya ficou para a segunda fase, uma vez que pronunciou uma meia dúzia de palavras e uns cinco minutos de rápidas aparições. Vai ter trabalho dobrado para mostrar a que veio. 


O destaque na atuação fica para sempre ótima Rebecca Ferguson ("Doutor Sono" - 2019) como Lady Jessica, mãe de Paul, que domina as cenas em com uma presença marcante. Outro que também está muito bem é Oscar Isaac ("Star Wars - O Despertar da Força" (2015), como o duque Leto Atreides, pai de Paul. Mas como ele, o talento de muitos integrantes do elenco caro e de qualidade é pouco explorado. 


Isso aconteceu com Javier Bardem ("Todos já Sabem" - 2019) como Stilgar, o guerreiro do deserto; Jason Momoa (“Aquaman” - 2018) e Josh Brolin ("Vingadores: Ultimato" - 2019), como os guerreiros do duque Atreides, Duncan Idaho e Gurney Halleck; Stellan Skarsgard ("Vingadores: Era de Ultron" - (2015), no papel do barão Harkonnen; Dave Bautista ("Guardiões da Galáxia” - 2014), como Rabban Harkonnen, que apesar de ser guerreiro, praticamente não luta) e Charlotte Rampling (“Assassin's Creed” (2107), interpretando a Reverenda Mohiam, entre outros atores.


A história de "Duna" se passa em um futuro distante, com planetas comandados por casas nobres que fazem parte de um império feudal intergaláctico. Paul Atreides é filho do duque Leto Atreides e de Lady Jessica. Sua família toma o controle do planeta Arrakis, também conhecido como Duna, produtor de uma especiaria alucinógena - o melange. Na disputa com outras famílias pela extração da substância, ele é forçado a fugir para o deserto com a ajuda de sua mãe e se junta às tribos nômades.

Não podemos esquecer a trilha sonora, outro ponto forte do filme, sob a responsabilidade do premiado compositor Hans Zimmer ("Blade Runner 2049" - 2017). São 41 músicas, com destaque para a versão de "Eclipse", da banda Pink Floyd, de 1973.


A avaliação de Jean Piter
O elenco é maravilhoso, bem estrelado, sendo que Rebecca Ferguson é a que mais destaca no quesito atuação. Timothée Chalamet "manda bem", uma vez que o papel pede que ele seja mais introspectivo para depois se tornar um herói, embora se espere muito dele no filme. Mas não brilha tanto quando se esperava. O mesmo acontece com Zendaya, que teve uma participação muito pequena, não permitindo que ela seja avaliada.


Outros no elenco que não estão em sua praia são Josh Brolin e Javier Bardem, que não está ruim, mas causa estranhamento vê-lo neste tipo de filme. Dave Bautista também muito pouco aproveitado no filme. Esperava muitas cenas de ação com ele e elas não vieram. Talvez venham no filme dois. Jason Momoa também está muito bem, mas a aparência dele ainda lembra muito o Aquaman, principalmente nas cenas de ação.


Sobre as cenas de lutas, elas têm muitos cortes e são muito distantes, deixando a desejar, especialmente nos combates corporais. Em "Duna", você sente que as lutas estão numa velocidade mais baixa, bem lentas, se comparamos a filmes como "John Wick", em que elas e mostram mais dinâmicas e reais, com a coreografia bem ensaiada.

Quanto ao filme, eu também tenho receio que, por terem deixado toda a solução para o segundo filme, a produção não queira acelerar demais e acabe ficando corrido e estragando alguma coisa.

Enfim, ficou para a continuação a narrativa com mais ação e o melhor aproveitamento dos personagens que sobreviveram às batalhas deste primeiro filme. Uma coisa é quase certa: o visual continuará sendo o maior destaque. Vamos aguardar.


Curiosidades de "Duna"
- O filme é uma adaptação da renomada obra da ficção científica homônima, escrita por Frank Herbert em 1965.

- Para suportar o calor de 50 graus dos desertos, os atores precisavam gravar durante a madrugada, com horário restrito.

 - "Duna" já ultrapassou a marca de US$ 300 milhões nas bilheterias de todo o mundo, sendo que no Brasil, mais de 520 mil pessoas foram ao cinema, arrecadando mais de R$10 milhões.


Ficha técnica
Direção: Denis Villeneuve
Produção: Legendary Pictures / Warner Bros. Pictures
Distribuição: Warner Bros Pictures
Gêneros: Ficção científica / Drama
Classificação: 14 anos
País: EUA
Nota: 4 (0 a 5)

13 novembro 2021

“Lacuna”, suspense nacional produzido durante a pandemia, estreia na Globoplay

Longa-metragem aborda a relação entre uma jovem e sua mãe, interpretadas por Lorena Comparato e Kika Kalache (Fotos: Rodrigo Lages/Cosmo Cine)


Da Redação


Já está em cartaz no catálogo exclusivo da Globoplay o filme “Lacuna”, um thriller embasado num intrigante drama familiar cercado de suspense. Produzido pela WeSayNo e Cosmo Cine, marca a estreia de Rodrigo Lages na direção de logas. Ele também escreveu o roteiro. O filme aborda a conturbada relação entre Sofia (Lorena Comparato) e sua mãe, Helena (Kika Kalache). 


Após um grave acidente, Helena passa a apresentar comportamentos estranhos. Ela e a filha passam a viver em um ambiente denso e fragmentado, tomado pela culpa que envolve um misterioso passado familiar. O elenco conta ainda com Laila Zaid, Guilherme Prates, Priscila Maria e Charles Fricks.


Segundo os sócios da produtora, fazer cinema é um esforço. “A gente preza muito que o coletivo esteja bem, que todo mundo se sinta incluído no processo. Assim, as pessoas se entregam mais e fazem acontecer, se lembram que filmar, além de ser trabalho sério, também é um prazer e um privilégio. Não importa o escopo ou o tamanho do projeto, nós tentamos imprimir esse clima no set e no produto final."

           

Projetos futuros 
Entre os novos projetos da Cosmo Cine que estão em andamento “Transe”, longa-metragem de Carol Jabor, um filme de ficção rodado durante as eleições de 2018, com previsão de lançamento em 2022 e “Cozinha”, longa de Johnny Massaro (uma coprodução com a Hipérbole Filmes), com previsão de ser lançado também no ano que vem. Outra novidade será a série “Só Sei Que Foi Assim”, uma coprodução com a Baracoa Filmes para o Canal Brasil, que acompanha a história de acontecimentos folclóricos da cultura pop brasileira.

Videoclipe no Grammy Latino
No próximo dia 18 de novembro o videoclipe brasileiro "Visceral", de Fran, Carlos do Complexo & Bibi Caetano, com produção da Cosmo Cine e da Sentimental Filmes, estará entre os indicados ao Grammy Latino. A premiação irá acontecer em Las Vegas, de forma presencial.

            

Ficha técnica
Direção: Rodrigo Lages
Produção: WeSayNo e Cosmo Cine
Duração: 1h31
Gêneros: Drama / Suspense 
País: Brasil

08 novembro 2021

DC fracassa com "Injustice" e desperdiça uma de suas principais sagas

Superman se torna um ditador, lutando inclusive contra os parceiros da Liga da Justiça (Fotos: DC Comics/Divulgação)

Jean Piter Miranda


Em uma terra alternativa, o Coringa engana o Superman e faz com que ele mate a própria esposa, Lois Lane. Isso desencadeia vários outros danos e perdas para o mundo. O Homem de Aço enlouquece, fica furioso e decide controlar o mundo. Ele se torna um ditador que age sem piedade contra vilões, governos e até mesmo contra seus antigos aliados. 

Essa á história de “Injustice”, nova animação da DC Comics. No Brasil, o longa recebeu o título de “Injustiça – Deuses Entre Nós”. A animação pode ser conferida nas plataformas Google Play, Apple TV, Microsoft Store, Playstation Store, Looke, NOW (Claro), SKY Play e Vivo Play.


A saga "Injustice" é um dos maiores sucessos da história da DC. Começou com um jogo de videogame em 2013 e no mesmo ano foi adaptado para os quadrinhos. A história foi desenvolvida ao longo de cinco anos, em mais de 30 volumes de HQs, envolvendo dezenas de personagens. Só aí já dá pra ter ideia da importância. Como eles conseguiram colocar tudo isso em apenas uma hora e 18 minutos? Não conseguiram. E isso compromete tudo. 


A animação segue fielmente o início da trama. Mas depois tem que dar uma acelerada, o que prejudica o desenvolvimento do Superman ditador. Dá a impressão de que ele ficou assim do dia pra noite. E não foi. Batman cria um grupo de resistência para enfrentar o Homem do Aço. Aos poucos, os heróis vão se decidindo se ficam do lado do regime ou da insurgência. É time Batman contra time Superman. 


Nessa guerra, muitos vão morrer tentando parar o impiedoso Super-Homem. A animação dá destaque para o androide Amazo, que se torna o principal vilão. Há um conflito com a tropa dos lanternas verdes e vários heróis vão sendo inseridos na trama. O problema é que tudo é muito corrido, pouco desenvolvido. Para quem conhece o jogo ou os quadrinhos, a decepção é grande. Falta muita coisa que podemos chamar de fundamental pra saga fazer sentido. 


Nas histórias em quadrinhos, os lanternas travam guerras que mudam o destino não só da Terra, mas do universo. Adão Negro, Shazam, Sinestro, Supergirl, Lex Luthor e vários outros têm papeis importantes no desenvolvimento da trama. Há heróis que mudam de lado, deuses do Olimpo fazem batalhas sangrentas com os mortais. Ninguém pode ficar neutro. Cidades são destruídas e há muitas baixas. Uma saga fantástica, provavelmente a melhor já feita pela DC. 


"Injustice" merecia uma série, de pelo menos uns 30 capítulos, para explorar tudo e ainda acrescentar novidades, para não ser uma mera reprodução das HQs e dos jogos. A pressa de colocar mais uma animação no mercado é um fracasso total para a DC. Dificilmente vai agradar algum fã. Parece que a empresa está sem rumo e sem criatividade. E até mesmo desesperada por ver o sucesso monstruoso da concorrente Marvel. Assim, mais uma boa história foi desperdiçada em uma adaptação muito fraca.  

Para maiores de 18 anos


Ficha técnica:
Direção:
Matt Peters
Roteiro: Ian Rodgers, Ernie Altbacker
Exibição: Plataformas digitais
Produção: Warner Bros. Animation e DC Entertainment
Distribuição: Warner Bros. Animation e DC Entertainment
Duração: 1h18
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: animação / ficção / fantasia / ação
Nota: 2,0 (0 a 5)

04 novembro 2021

16º Festival de Cinema Italiano retoma sessões presenciais e mantém formato online

(Fotos: Divulgação)


Da Redação


O 16º Festival de Cinema Italiano traz mais uma vez para o público o melhor do cinema italiano. Neste ano, o Festival retoma as sessões presenciais em salas de cinema, mantendo também o formato online, que fez tanto sucesso na edição de 2020. O evento será presencial entre 05 e 12 de novembro nas salas de cinema do Petra Belas Artes, em São Paulo, com exibição de 16 longas inéditos no país.

Já o formato online, com sessões gratuitas, acontecerá de 05 de novembro a 05 de dezembro, por meio do site do festival, com uma seleção de 16 filmes inéditos e 16 clássicos, este último com a retrospectiva “As mais belas trilhas sonoras do cinema italiano”.   

"Quanto Basta"

A mostra de filmes contemporâneos conta com trabalhos de veteranos, como Pupi Avati (“Ela Ainda Fala Comigo” - "Lei Mi Parla Ancora"), e jovens estreantes, como Stefano Sardo (“Uma Relação' - "UnaRelazione"). 

Os 16 filmes transitam em temas e gêneros, abordando questões como relações familiares, como “Deixe-me ir" ("LasciamiAndare")”, de Stefano Mordini, protagonizado pelos astros Stefano Accorsi e Valeria Golino; "Blackout Love", de Francesca Marino. 

"Lasciami Andare"

E comédias como "Os Nossos Fantasmas" ("I Nostri Fantasmi"), de Alessandro Capitani. Haverá uma apresentação especial da comédia "QuantoBasta (Tempero do Chef)", do diretor Francesco Falaschi, coprodução Itália/Brasil (92 min).

Ou releituras de personagens clássicos, como “Todos por 1 – 1 Por Todos” (Tutti Per 1-1 Per Tutti), que retoma os famosos mosqueteiros de Dumas, numa versão cômica, e trazendo Pierfrancesco Favino e Margherita Buy, no elenco. 

Também faz parte do festival “Com Todo O Coração” ("Con Tutto IlCuore"), de Vincenzo Salemm, um dos filmes mais vistos na Itália este ano. Os longas inéditos concorrem ao Prêmio Pirelli, concedido ao filme mais visto pelo público.

"La Terra Dei Figli"

O cinema de gênero também está no festival, como o apocalíptico “A Terra dos Filhos” ("La Terra Dei Figli"), dirigido por Claudio Cupellini, a partir da famosa HQ homônima de Gian Alfonso Pacinotti, um dos principais quadrinhistas italianos. Confira abaixo a lista dos longas do Festival

Mostra Contemporânea
- "Lasciami Andare" ("Deixe-me Ir"), de Stefano Mordini, 98 min., drama
- "La Terra Dei Figli" ("A Terra dos Filhos"), de Claudio Cupellini, 120 min., drama
- "Blackout Love", de Francesca Marino, 95 min., drama/comédia
- "Con Tutto Il Cuore" ("Com todo meu Coração"), de Vincenzo Salemm, 90 min., comédia
- "Una Relazione" ("Uma Relação"), de Stefano Sardo, 105 min., drama/comédia
- "Ezio Bosso - Le Cose Che Restano" ("As Coisas que Restam"), de Giorgio Verdelli, 104 min., documentário
- "Come un Gatto in Tangenziale - Ritorno a Coccia di Morto" ("Como um Gato na Marginal – Retorno a Coccia di Morto"), de Riccardo Milani, 110 min., comédia

"Lei Mi Parla Ancora"

- "Tutti Per 1-1 Per Tutti" ("Todos Por 1 – 1 Por Todos"), de Giovanni Veronesi, 90 min., comédia
- "Lei Mi Parla Ancora" ("Ela Ainda Fala Comigo"), de Pupi Avati, 100 min., drama
- "Il Silenzio Grande" ("O Grande Silêncio"), de Alessandro Gassmann, 106 min., comédia
- "Ariaferma" ("Ar Parado"), de Leonardo Di Costanzo, 117 min.
- "Governance" ("Governança"), de Michael Zampino, 88 min., drama
- "Welcome Venice" ("Bem-Vindo à Veneza"), de Andrea Segre, 100 min., drama
- "Morrison" (Morrison Café"), de Federico Zampaglione, 99 min., drama
- "I Nostri Fantasmi" ("Os Nossos Fantasmas"), de Alessandro Capitani, 105 min., comédia
- "Lovely Boy" ("Lovely Boy"), de Francesco Lettieri,, 105 min., drama
 
"L'uccello Dalle Piume Di Cristallo"

Já a retrospectiva exclusivamente online “As mais belas trilhas sonoras do cinema italiano” permitirá ao público de todo o país (re)visitar filmes e trilhas que se tornaram clássicas, compostas por Ennio Morricone, Nino Rota, Nicola Piovani, Ritz Ortolani, Andre Guerra, Valerio Vigilar e Piero Piccioni. 

O destaque da seleção deste segmento são obras de mestres como Federico Fellini (“Os Palhaços”), Sergio Leone (“Era Uma Vez na América”), Dario Argento (“O Pássaro das Plumas de Cristal"), Lina Wertmüller (“Mimi, O Metalúrgico” e “Amor e Anarquia”), e Damiano Damiani (“Advertência”). 

A mostra inclui um filme com acessibilidade, a comédia dramática "Viva La Libertà" ("Viva a Liberdade"), de Roberto Andò, com música de Marco Betta (94 min). Veja abaixo a lista da Mostra online, retrospectiva “As mais belas trilhas sonoras do cinema italiano”

"C’era Una Volta in America"

- "L'uccello Dalle Piume Di Cristallo" ("O Pássaro com Plumas de Cristal), de Dario Argento, música: Ennio Morricone, 1970, Itália/Alemanha Ocidental, 96 min, horror/suspense
- "C’era Una Volta in America" (Era Uma Vez na América), de Sergio Leone, música: Ennio Morricone, 1984, EUA/Itália, 229 min, crime/drama
- "Il Prefetto Di Ferro" ("O Prefeito de Ferro"), de Pasquale Squitieri, música: Ennio Morricone, 1977, Itália, 110 min, drama/suspense
- "Mimi Metallurgico Ferito Nell'Onore" ("Mimi, O Metalúrgico"), de Lina Wertmüller, música: Piero Piccioni, 1972, Itália, 121 min, comédia/drama
- "L’Avvertimento" ("Advertência"), de Damiano Damiani, música: Ritz Ortolani, 1980, Itália, 108 min, suspense/drama
 
"I Clowns"

- "I Clowns" ('Os Palhaços"), de Federico Fellini, música: Nino Rota, 1970, Itália, 92 min. comédia/pseudodocumentário
- "Respiro", de Emanuele Crialese, música: Andre Guerra, 2002, Itália, 95 min., drama
- "O’ Re" ("Rei de Nápoles"), de Luigi Magni, música: Nicola Piovani, 1989, Itália, 90 min. drama
- "Addio Fratello Crudele" ("Adeus, Irmão Cruel"), de Giuseppe Patroni Griffi, música: Ennio Morricone, 1971, Itália, 105 min., drama
- "Storie Di Vita e Malavita" ("Histórias do Submundo'), de Carlo Lizzani, música: Ennio Morricone, 1975, Itália, drama, 93 min
- "Speriamo Che Sia Femmina" ("Tomara que seja mulher), de Mario Monicelli, música: Nicola Piovani, 1986, Itália, 120 min., comédia
-
"Speriamo Che Sia Femmina"

- "Film D'Amore e D'Anarchia" ("Amor e Anarquia"), de Lina Wertmüller, música: Nico Rota, 1973, Itália, 125 min., comédia
- "Il Medico e Lo Stregone" ("O Médico e o Charlatão"), de Mario Monicelli, música: Nico Rota, 1957, Itália, 102 min, comédia/romance
- "Amori Che Non Sanno Steare Al Mondo" ("Histórias de Amor Que Não Pertencem a Este Mundo"), de Francesca Comencini, música: Stelvio Cipriani, 2017, Itália, 92 min., drama
- "L'Attentato" ("O Atentado"), de Yves Boisset, música: Ennio Morricone, 1972, França, 124min., suspense/thriller
- "Anonimo Veneziano" ("O Anônimo Veneziano"), de Enrico Maria Salerno, música: Stelvio Cipriani, 1970, Itália, 84 min, drama romântico


Serviço:
16º Festival de Cinema Italiano
Data: 05 de novembro a 05 de dezembro
Exibições: online e gratuitas
Site: https://festivalcinemaitaliano.com/

02 novembro 2021

Terceiro filme da fase 4 do Universo Marvel, "Eternos" se destaca pela diversidade, efeitos especiais e ótimo elenco

Dez super-heróis alienígenas se unem para proteger a Terra e seus habitantes, na produção dirigida por Chloé Zhao (Fotos: Marvel Studios)


Maristela Bretas

Sem dúvida, "Eternos" ("Eternals") é um filme que merece e deve ser assistido em uma sala especial, nada menos que 3D, de preferência Imax ou D-Box. Com estreia marcada para dia 4 de novembro, o longa tem como um de seus principais atrativos os efeitos especiais, especialmente nas batalhas, que não economizam imagens grandiosas. A diretora Chloé Zhao, ganhadora de dois Oscar por "Nomadland" (2021), usou e abusou de luzes, cores e CGI para entregar uma produção gráfica épica, associada às boas atuações do elenco.


A belíssima fotografia e as locações de "Eternos" também são destaque, além do trabalho de reconstituição de época, em especial na reprodução dos Jardins Suspensos da Babilônia, uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo. Coincidência ou não, além de Londres, o longa foi filmado no Arquipélago das Canárias, onde em setembro passado entrou em erupção o vulcão Cumbre Vieja, na ilha de La Palma. No filme há cenas bem semelhantes ao que ocorreu.


Além da parte visual, a Marvel Studios apostou na diversidade, com um elenco formado por asiáticos, negros e latinos. Mostra também outros diferenciais como a primeira super-heroína com deficiência auditiva (Lauren Ridloff), inseriu uma cena de sexo (mesmo que curta) e apresenta o primeiro super-herói gay (com direito a beijo), papel de Brian Tyree Henry. Isso inclusive está incomodando muitas pessoas, a maioria criticando antes mesmo de assistir ao filme. Conheça mais da produção clicando aqui.


Angelina Jolie atrai todas as atenções com sua beleza. Combinou bem com o papel de uma quase deusa - a guerreira Thena (da deusa grega Atena). Os outros Eternos são interpretados por Salma Hayek como Ajak, líder do grupo, que tem o poder da cura; Richard Madden é Ikaris (que na mitologia seria Ícaro), um dos mais poderosos, com capacidade para voar e lançar raios dos olhos e Gemma Chan, que faz o papel de Sersi, capaz de manipular materiais, mas é a parte emotiva do grupo.


Completando o grupo estão Kumail Nanjiani como Kingo, o mais engraçado e com o poder de soltar raios pelas mãos; Lauren Ridloff faz a heroína surda Makkari, que tem supervelocidade; Brian Tyree Henry é Phastos, um inventor de armas e tecnologia; Ma Dong-seok interpreta Gilgamesh, o mais forte de todos; Barry Keoghan vive Druig, cuja habilidade é manipular os pensamentos das pessoas; e por fim Lia McHugh como Duende, que apesar de parecer uma adolescente é tão velha quanto os demais e tem o poder de criar ilusões.


No elenco secundário (por enquanto) estão Kit Harington (de "Game of Thrones"), como Dane Whitman, namorado de Sersi, mas que na continuação da franquia deverá assumir seu papel de Cavaleiro Negro. Outro que vai ganhar destaque numa possível continuação é o cantor Harry Styles, que interpretará Eros (na mitologia grega, o deus do Amor), irmão de Thanos.

E se os super-heróis são bacanas com seus superpoderes, os vilões não ficaram para trás. Os Deviantes, uma criação dos Celestiais que não deu certo (não é spoiler, está nos quadrinhos), cumprem bem o papel de inimigos mortais dos Eternos e garantem ótimas batalhas, no estilo "Vingadores". O objetivo deles é eliminar toda a vida inteligente dos planetas por onde passam.


O figurino não foi esquecido, com destaque para os uniformes dos super-heróis que valorizam e dão poder aos personagens, como os de Salma Hayek e Richard Madden, nas cores azul e dourado, o branco com dourado de Angelina Jolie (que aparece de cabelo louro, como nos quadrinhos), o azul e cinza de de Brian Tyree Henry e Kumail Nanjiani e o vermelho e cinza com uma vespa no peito de Lauren Ridloff .

Há também momentos divertidos e citações a dois personagens famosos da concorrência: Superman e Batman. Sem contar que uma das super-heroínas é comparada à personagem Sininho, dos desenhos de Peter Pan. Até mesmo o cinema de Bollywood é lembrado no roteiro. Romance e emoção compõem os diálogos dos personagens e foram bem divididos com a ação.


Outro destaque é a trilha sonora, com a música-tema - "Eternals Theme", composta e produzida pelo vencedor de dois Emmy's, Ramin Djawadi (das séries "Game of Thrones" e "Westworld"). Vários outros sucessos, especialmente do passado, chamam atenção, como "The End of The World" (usada no trailer), na voz original de Skeeter Davis, e "Time", da banda britânica Pink Floyd. Sem esquecer participações como a do grupo pop sul-coreano BTS, com "Friends", das cantoras Lizzo ("Juice") e Celina Sharma ("Nach Mera Hero"). 


A história

Criados pelos Celestiais, os Eternos, formam um grupo alienígena com superpoderes, além da imortalidade, que é enviado à Terra com a missão de guiar os habitantes e proteger o planeta dos Deviantes, seus principais inimigos desde sempre. A história deles vai atravessando milhares de anos, desde a chegada em 5.000 a.C. até os dias atuais, com vários flashbacks que explicam as ações e o comportamento de alguns de seus integrantes.

Após muitas batalhas e acreditando que os Deviantes estavam extintos, eles se separaram e cada um seguiu sua vida, vivendo em segredo por séculos entre os mortais. Até que uma nova ameaça dos monstros, agora mais poderosos, voltar a colocar em risco a Terra e seus habitantes, forçando os dez Eternos a se reunirem para impedir a destruição da humanidade. 


Como aconteceu cinco anos antes (de acordo com a cronologia da MCU), quando Thanos (que também era um Eterno que não deu certo) estalou os dedos em "Vingadores: Guerra Infinita" (2018) e dizimou metade da população do planeta, situação revertida em "Vingadores: Ultimato" (2019). A conexão entre este filme e "Eternos" é citada numa das cenas, reforçando a entrada dos "novos" (mas nem tanto) super-heróis da Marvel, no lugar da turma comandada pelo Homem de Ferro e o Capitão América. 

História dos quadrinhos


Os Eternos foram criados por Jack Kirby nos quadrinhos, no ano de 1976. Desenhista arte-finalista, roteirista e editor de histórias em quadrinhos americano de ascendência austríaca, ele criou, em 1940 com Joe Simon, o personagem de HQ, Capitão América. Outro super-herói importante do Universo Marvel, o Pantera Negra, foi desenhado em 1966 por Kirby, com roteiro de Stan Lee.

"Eternos" é o terceiro longa-metragem lançado da Fase 4 do MCU, com uma abordagem bem diferente, contanto histórias dentro de uma história. O roteiro insere várias referências à mitologia greco-romana e de outros povos antigos, com uma linguagem de fácil compreensão. Não é o melhor da Marvel, mas abriu bem a nova fase no cinema e será importante para os próximos filmes.


Ficha técnica:
Direção: Chloé Zhao
Roteiro: Chloé Zhao e os irmãos Matthew e Ryan Firpo
Exibição: nos cinemas
Produção: Marvel Studios
Distribuição: Walt Disney Pictures
Duração: 2h37
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: ficção / fantasia / ação
Nota: 4,5 (0 a 5)

31 outubro 2021

História, ação e ideologia fazem de “Marighella” um filme imprescindível

Filme dirigido por Wagner Moura traz o cantor e ator Seu Jorge interpretando um dos maiores inimigos da ditadura militar brasileira (Fotos: Factoria Comunicação/Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni


Pode ser que uns e outros não gostem. Mas fica claro, desde o início, que no filme “Marighella", direção de Wagner Moura, o personagem é apresentado e conduzido como o grande inimigo da ditadura militar, valente defensor da democracia e da liberdade. A posição política do diretor é explícita e talvez venha daí a honestidade do longa que, em 2h35 minutos, narra os últimos cinco anos do líder da ALN – Ação Libertadora Nacional. 


A produção, filmada na Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro, estreia nos cinemas no próximo dia 4 de novembro, há exatos 52 anos do assassinato de Marighella. Passou por importantes festivais pelo mundo - Berlim, Seattle, Hong Kong, Sydney, Santiago, Havana, Istambul, Atenas, Estocolmo, Cairo -, além de cerca de 30 exibições em países dos cinco continentes, e terá pré-estreias a partir do dia 1º de novembro em todo Brasil.


O recorte da biografia do político, escritor e guerrilheiro baiano no filme vai do golpe militar de 1964 até 1969, quando ele foi assassinado numa emboscada nas ruas de São Paulo. Mostrado como aglutinador, inteligente, criativo e corajoso, Carlos Marighella é interpretado na medida por Seu Jorge, que tem se revelado, além de cantor, um ator de talento, sempre expressivo quando seu rosto é explorado em closes.

Carlos Marighella (esquerda) é interpretado por Seu Jorge (direita)

É impossível sair ileso do filme, que entra em cartaz nos cinemas do Brasil com dois anos de atraso, segundo consta, por problemas provocados pela Ancine – Agência Nacional do Cinema – que fez de tudo para barrar a exibição do primeiro trabalho do ator Wagner Moura na direção, mesmo depois dele ter sido aplaudido de pé no Festival de Berlim, em 2019. 


“Marighella” é essencialmente didático e nitidamente popular, capaz de prender e emocionar pessoas das mais diferentes idades e - quem sabe - ideologias. E pode até agradar os que apreciam filmes de ação e tiroteios. Veja o vídeo especial sobre quem foi Marighella clicando aqui.


Baseado na biografia escrita por Mário Magalhães em 2012, o roteiro do longa - de Felipe Braga e Wagner Moura - é enriquecido com uma sacada inteligente: como eram muitos os guerrilheiros liderados por Marighella, os atores que os interpretam no filme aparecem com seus próprios nomes, como se representassem todos eles. 

Assim, Humberto Carrão, por exemplo, é o jovem guerrilheiro Humberto; Bella Carneiro simboliza a presença feminina como Bella, Henrique Vieira marca a atuação da igreja no movimento como frei Henrique e assim por diante.


Estão também no elenco artistas experientes e brilhantes como Bruno Gagliasso, convencendo satisfatoriamente como o desprezível Lúcio, delegado e torturador; Herson Capri como o empresário de imprensa Jorge Salles, Luiz Carlos Vasconcelos como o militante maduro Branco, e Adriana Esteves (em papel pequeno, mas marcante) como Clara, a mulher de Marighella.


É preciso destacar ainda a perfeita reconstituição de época do filme. Impossível não perceber que todos se locomovem de Fusca ou de Rural Willys, por mais perigosa que seja a ação. Outro destaque é a trilha sonora que, desde o início, mostra a que veio com hip hops de letras engajadas.


Mesmo que pareça parcial, mesmo que seja uma homenagem a um homem que nem todos admiram e aplaudem, “Marighella” é um filme imprescindível por colocar nas conversas o nome de alguém que não entrou nos livros de História do Brasil, apesar de ter lutado e morrido pelo que acreditava. Não dá para desprezar a trajetória de alguém que vivia repetindo: “Não tenho tempo para ter medo”.


Ficha técnica:
Direção: Wagner Moura
Exibição: nos cinemas
Produção: O2 Filmes / Globo Filmes / Maria da Fé
Distribuição: Paris Filmes / Downtown Filmes
Duração: 2h35
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gêneros: Drama / Biografia

24 outubro 2021

"Maid": uma jornada contra o silenciamento

Nova minissérie trata sobre violência doméstica e exploração do trabalho (Fotos: Ricardo Hubbs/Netflix)


Carolina Cassese


“Você acha que eu não conheço esse tapete? Eu já estive nesse tapete. Perdi semanas minha vida nesse tapete. Você vai se levantar desse tapete, Alex, e vai revidar. Fique furiosa! Puxe essa fúria lá de dentro, mama. O que ele fez com você foi babaca. É melhor começar a ficar com raiva.” Centrada na luta de uma mãe que é vítima de violência doméstica estreou em 1º de outubro, na Netflix, a minissérie "Maid", idealizada por Molly Smith Metzler. 

A produção é adaptada do livro de memórias "Maid: Hard Work, Low Pay, and a Mother's Will to Survive", publicado por Stephanie Land em 2019. A série abarca discussões densas de temas como abuso psicológico, exploração do trabalhador e relações familiares conturbadas.

Nossa personagem principal é interpretada por Margaret Qualley, que entrega uma performance forte, cheia de personalidade. Sua dupla de cena é a adorável Rylea Nevaeh Whittet, que encarna a menina Maddie. As duas atrizes têm uma química impecável, o que propicia cenas bastante ternas e críveis.


Logo no primeiro capítulo, a série apresenta a discussão sobre o que pode ou não ser caracterizado violência doméstica. “Vou chamar a polícia e dizer o quê, que ele não me bateu?”, questiona Alex. Ela passa por uma verdadeira jornada até compreender que o abuso se manifesta de diferentes maneiras, inclusive por meio de gritos e socos na parede.

O problema é que nem sempre a lei e as principais instituições terão essa mesma leitura. A minissérie faz um uso interessante de recursos visuais e sonoros ao longo dos dez episódios. Um exemplo é a calculadora que aparece na tela quando Alex está pensando em suas finanças. Essa é uma forma de fazermos as contas junto com as personagem: será que dá para gastar com isso? Não é melhor optar por outro produto? Esse salário vai ser suficiente?


Quando a protagonista enfrenta um momento difícil, vemos ela literalmente afundar no sofá, uma metáfora bastante elucidativa acerca do transtorno depressivo. Outra boa cena é a primeira vez de Alex  no tribunal, quando ela escuta o advogado e a juíza falarem literalmente a palavra “juridiquês” a cada vez que se referem a algum termo específico da área do direito. Dessa maneira, nos sentimos tão confusos quanto a protagonista, num universo que parece fazer o possível para garantir que apenas uma seleta parcela especializada da população consiga compreender quais são seus direitos.

Um grande acerto de "Maid" sem dúvida diz respeito à complexidade dos personagens. Paula (Andie MacDowell), mãe de Alex, é um excelente exemplo de como as figuras da trama são decididamente repletas de nuances. Ela sem dúvidas ama a filha e a neta, ao passo que muitas vezes some do mapa, deixando as duas numa situação de absoluta necessidade. Em diversos momentos, Paula não parece acreditar no fato de que a filha foi vítima de violência por parte de Sean. 


Outra personagem carregada de facetas é Regina, a primeira patroa de Alex. É inevitável sentir raiva dela nos primeiros episódios, quando a mesma humilha a faxineira em mais de uma ocasião. No decorrer dos capítulos, porém, percebemos que ela carrega muitas dores e pode também ser generosa. O mesmo acontece com Sean, o ex da protagonista. Ele é inegavelmente um abusador, ao mesmo tempo que passa por dramas pessoais e, em alguns momentos, parece de fato ter boas intenções.

A produção da Netflix acerta ainda em trabalhar muito bem o arquétipo do nice guy, que é basicamente aquele cara que se sente desvalorizado, alegando que “as mulheres só gostam dos cafajestes”. Na trama, quem encarna essa representação é Nate, personagem interpretado por Raymond Ablack. Ele é sem dúvidas muito legal, romântico e prestativo. Mas isso não impede que seja também chantagista e mal intencionado em determinados momentos.


Nos personagens de "Maid", observamos a convivência de traços de personalidade que à primeira vista podem parecer contraditórios: como um homem abusador pode às vezes ter boas intenções e amar de verdade a própria filha? Como um cara legal como Nate pode ser aproveitador? Nosso vício em arquétipos pode nos fazer querer colocar um rótulo em cada personagem, mas a série nos desafia constantemente a respeito desses estereótipos preconcebidos.

A própria protagonista nos desafia. Ela usa a roupa da patroa às escondidas e abre o vinho da casa em que está trabalhando. Isso é errado, parte da nossa consciência pode dizer. Mas o que é certo? Trabalhar tanto em troca de pouquíssimos trocados e ainda ser humilhada?

Há também o fato de que a trajetória de cura de Alex não é linear, o que transmite uma mensagem muito importante. Assim como Sean tem recaídas no que diz respeito ao tratamento da sua dependência alcoólica, a personagem principal também tem suas recaídas. Esses pequenos retrocessos fazem parte do processo, até mesmo do progresso, e de forma alguma diminuem o mérito da protagonista.


Muitas vezes, nos pegamos sentindo raiva de personagens como Yolanda, a rígida chefe de Alex. A minissérie apresenta uma realista dinâmica entre ela e suas funcionárias: Yolanda explora, ao passo que também sempre foi (e continua sendo) significativamente explorada. 

Em determinada cena, ela diz: “Mesmo quando um cliente fala, olhando bem na sua cara, ele está falando sozinho. Faz dez anos que eu limpo essas casas e ainda sou chamada de Selena, Gordita. Não importa. Sou só um burrito que elas chamam quando o banheiro começa a feder”. 

No final das contas, todas fazem parte da mesma camada social, definitivamente da mesma classe trabalhadora, com a diferença de que a chefe da Value Maids consegue exercer algum tipo de pequeno poder intimidador sobre as empregadas.


"Maid" traz também uma importante reflexão acerca do quanto a sociedade impõe às mulheres a tarefa de cuidarem de homens - irmãos, pais, maridos, namorados. Sean constantemente evoca o fato de ter uma doença, o alcoolismo, que sem dúvidas merece muita atenção. 

No entanto, Alex também está doente. Por conta dos abusos de seu companheiro, ela desenvolve diversos quadros de transtornos psicológicos, que também a deixam debilitada, muitas vezes sem conseguir sair da cama. Seu ex, porém, não parece considerar a doença dela.

A partir da minissérie, podemos compreender melhor porque dizem que “mulheres amadurecem antes dos homens”. Elas cuidam da casa, dos filhos, quando necessário das mães e até mesmo de seus companheiros. As jornadas são duplas, triplas, quase infinitas. Isso por si só pode ser bastante adoecedor. Homens como Sean, no entanto, parecem ter mais direito de errar e, ainda, de não crescer.


Algumas observações sobre a produção apontaram que a realidade apresentada é privilegiada em relação ao que vemos no Brasil. Essa é sem dúvidas pertinente, já que a nossa pobreza, ou melhor dizendo, a nossa miséria, é inegavelmente mais cruel, nosso índice de feminicídios é maior, nossas taxas de violência doméstica, em especial contra mulheres negras, é assustadora. 

Além do mais, a cultura brasileira de exploração do trabalho doméstico é bastante particular e especialmente cruel. Afinal de contas, o “quartinho de empregada” não faz parte da arquitetura dos apartamentos em países mais igualitários. Devemos ter em mente que, de fato, a série apresenta um recorte específico de pobreza, muito típica do contexto estadunidense - mas claro, isso não é um demérito da produção.

Nem todas podem ser salvas. Essa é uma triste, porém verdadeira lição que podemos tirar da minissérie. Assim como Alex, nós desesperadamente queremos tirar a personagem Danielle da situação de opressão em que ela se encontra. Também sentimos a necessidade de salvar Paula desse ciclo de abusos que se perpetua ao longo de décadas.


“Elas voltam com mais frequência do que ficam. A maioria das mulheres precisa de sete tentativas para finalmente partir”, diz Denise, que administra o abrigo para vítimas de violência doméstica. De qualquer maneira, a possível salvação aqui não passa pelo príncipe encantado das histórias clássicas. Não precisamos de um homem, e sim de políticas públicas, solidariedade, autoconhecimento e diferentes tipos de amor (o romântico é apenas um deles).

É importante mencionar que, ao longo dos episódios, somos testemunhas de muitos sopros importantes de resistência. Em um dos últimos capítulos, Sean elogia a aparência de Alex e ela logo replica: “Não é para você”. Sua fala pode soar desnecessariamente direta, mas é bastante importante se considerarmos a história dos dois e, ainda, o fato de que homens parecem sempre acreditar que a beleza feminina é para a apreciação deles.

Também é muito forte quando, na “loja de mentira” do abrigo de violência doméstica, Alexse lembra exatamente de qual é sua cor preferida. Anteriormente, a funcionária da loja tinha dito que o abuso sistemático nos faz esquecer de quem somos, de quais são nossos verdadeiros gostos, do que é genuinamente nosso.


A narrativa evidencia a importância de um Estado presente, que dê assistência a essas mulheres desamparadas. A ampliação de creches gratuitas, por exemplo, é uma medida que pode melhorar significativamente a vida de mães que precisam trabalhar e não têm com quem deixar os filhos. Alex precisa enfrentar uma interminável burocracia para conseguir algum tipo de apoio, que mesmo assim é precário. É inaceitável também que um país rico e vasto como os Estados Unidos apresente um número expressivo de pessoas que não tem onde morar.

Quando observamos Alex mudar de casa tantas vezes (assim como sua mãe), é possível que nos lembremos de "Nomadland", o mais recente vencedor do Oscar. “Casa é só uma palavra ou algo que carrega com você?”, questiona uma personagem do filme de Chloe Zhao, parafraseando a canção "Home It’s a Question Mark". 


A casa de Alex em determinado momento é o abrigo para vítimas de violência doméstica, não apenas porque ela está de fato morando lá, mas principalmente porque a protagonista passa a sentir confiança em suas colegas e se sente segura ali. Para Paula, casa é onde ela pode ver o pôr do sol de algodão doce e as estrelas. Num momento de cansaço, Maddie questiona a mãe: “Quando vamos para casa?”.

Na maior parte das vezes, porém, a garota parece se sentir em casa com muita facilidade, especialmente por receber tanto carinho de Alex. Casa, para elas, é um processo. É uma road trip, uma temporada de dez episódios e, em cada parada, prendemos a respiração junto com a protagonista e sua filha, na ânsia de saber se elas serão acolhidas ali. 

No final das contas, casa, para Alex e Maddie, diz respeito a essa forte relação de mãe e filha, mesmo diante de uma sociedade que ainda é bastante hostil com as mulheres, em especial com as que não têm muitos recursos financeiros.


Ficha técnica:
Criação: Molly Smith Metzler
Produção e exibição: Netflix
Duração: 1a Temporada - 10 episódios (média de 60 minutos cada)
País: EUA
Gênero: drama
Classificação: 16 anos